Dragões Dourados escrita por Gwen Sweetlux


Capítulo 1
Capítulo 1 - Rozan, a terra das águas




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Já havia algum tempo que a Guerra Santa entre os deuses Hades e Atena tinha chegado ao seu fim. Os Cavaleiros de Ouro partiram de maneira honrada, deixando atrás de si um vazio que jamais seria preenchido, por mais honrados que seus sucessores pudessem ser. Aos de Prata, restou continuar a guarda do Santuário e sua reconstrução, pois a batalha travada entre as doze casas do Zodíaco deixara marcas tanto na estrutura devastada, quanto nas tumbas maculadas dos guerreiros que partiram antes do último levante de Hades.

Os Cavaleiros de Bronze alçaram o status de lendários, devido ao seu importante papel na derrota do deus do Mundo Inferior. Porém, cada um seguiu seu caminho, carregando consigo muitos questionamentos, ferimentos e novas responsabilidades. Haviam amadurecido, era fato, mas o custo para tal fora alto, talvez alto demais. As armaduras divinas eram um peso grande para os então garotos levarem e o que fora a experiência de queimar o Cosmo a níveis nunca antes vistos, além da perda de seus tutores e amigos tornava a volta para casa uma viagem dolorosa. Seria possível considerar o que antes eram seus refúgios como lares?

Era o que perturbava Shiryu, enquanto caminhava de volta para Rozan, sabendo que seu Mestre Ancião, agora revelado como Dohko, o Cavaleiro de Libra, não estaria lá. Não haveriam mais palavras de conselho, suas costumeiras repreensões que tanto o fizeram crescer e nem mesmo seus gracejos que o forçavam a rir, mesmo durante os mais extenuantes exercícios.

Estaria só agora, a não ser pela amiga de longa data, Shunrei. Como ela estaria? Não conseguira comunicar-se com a irmã de criação desde que o Grande Eclipse de Hades se dissipara do céu. Sabia e sentia suas orações ao longe, porém agora havia apenas silêncio. Shiryu refletia em como dizer a ela que o Mestre estava morto. Ele mal conseguia admitir tal pensamento e externa-lo em palavras parecia igualmente impossível. Não seria fácil para o jovem Dragão.

Shiryu mal sentia os pés tocarem o chão, estava entorpecido pela dor. Contudo, conforme se aproximava, sentiu a brisa úmida das cachoeiras tocar seu rosto. Era uma sensação tão familiar, tão acolhedora, que se misturou com suas lágrimas emocionadas. Sua armadura carregada nas costas retinia. Também sentia que estava de volta a sua casa.

O Cavaleiro de Dragão começou a descer as pedras escorregadias de uma das montanhas dos Cinco Picos Antigos. Era quase no sopé do grande monte que se encontrava o chalé que dividia com o Mestre e Shunrei. Aos poucos, foi avistando a pequena habitação, com seu estilo oriental, marcada por toques de vermelho, toques do Mestre Dohko.

Enfim, chegou até a frente da casa. Shiryu tirou a caixa contendo sua preciosa armadura das costas e repousou-a no chão. Não conseguia entrar. O vento soprava forte naquele dia, trazendo consigo muitas gotículas da Cachoeira. Aquela que Dohko o ensinara a reverter o fluxo. Ele simplesmente sentou-se no pequeno jardim da entrada e deixou que a água encharcasse seu cabelo, rosto e todo o corpo. Era como se ela, Rozan, o consolasse, mesmo sabendo que a ferida daquela perda nunca seria fechada por completo.

Em posição de meditação, Shiryu deixou a respiração lenta e profunda. Logo, ternas lembranças de seus amigos Ikki, Hyoga, Seiya e Shun começaram a permear sua mente. Lembrou-se de Shura e de seu tão valioso presente, a Excalibur que ainda ardia em seu braço, recordou-se de como Saga, com toda sua maldade, ainda tinha um lado bom que se revelou mesmo em seu derradeiro momento. Um leve sorriso esboçou-se em seu rosto. Tinha sido uma longa e árdua jornada, mas poderia dizer que agira com honra e que lutara ao lado de seres honrados, mesmo quando enganados por entidades malignas.

Shiryu entendia os motivos de Shun, que não queria ferir ninguém. Contudo, não fora ensinado a fugir de uma batalha, principalmente se dela dependia a segurança de pessoas inocentes ou seus amigos. Ele sentia uma pontada de dor ao lembrar que Seiya estava muito ferido e que, mesmo com Atena tendo colocado Pégaso sobre seus cuidados, ainda não se sabia o destino que seu companheiro de luta teria. Mesmo assim, tinham voltado, Todos vivos, juntos, mas não prontos para falar sobre o que acontecera, ou engajar-se em novas missões. Pelo menos, por enquanto.

Ali, com as gotículas acariciando seu rosto, ele imaginava como seria se decidisse abandonar a vida de Cavaleiro. Como seria levar uma vida comum, talvez ajudando Shunrei com o plantio de vegetais, conservando a casa que fora de Dohko e envelhecendo como um homem qualquer. Ele abriu os olhos e fitou sua armadura. Repreendeu imediatamente esse pensamento. Não seria algo digno, abandonar tudo o que o Mestre o ensinara com tanto empenho e carinho, por um motivo egoísta, por um desejo que ele abrira mão ao tornar-se Cavaleiro.

Ainda haveriam muitas batalhas para lutar. Apenas, não agora. Somente aqueles minutos de paz se faziam necessários.

Meditando e acalmando seu coração e mente, Shiryu não notou quando a noite caiu sobre ele. Do mesmo modo, quando a manhã chegou o sol veio encontra-lo na mesma posição, mas com o vento diminuído, apenas lágrimas secas marcavam sua face.

Como último momento de seu pequeno retiro espiritual, Shiryu respirou fundo, enchendo os pulmões até sua capacidade máxima. Ele expirou, colocando para fora todo o pesar.

Reunindo novamente seu Cosmo, queimando a força de sua vontade e com a ajuda de sua constelação, mexeu os braços com os movimentos característicos e golpeou o ar:

- Rozan Sho Ryu Ha! (Cólera do dragão)! – gritou, com a voz renovada.

Aves assustadas levantaram voo e algumas pedras rolaram de sobre as montanhas. A voz do Dragão se fez ouvir por toda a região de Rozan. Ele estava de volta.

***

Com passos lentos e cheios de recordações, Shiryu adentrou a casa. Acomodou suas coisas e tratou de ocultar sua armadura. Havia algumas ervas curativas, certamente colhidas por Shunrei, à beira do fogão rudimentar da cozinha. Ele as ferveu e fez um chá, algo que a amiga sempre lhe oferecia nos momentos de recuperação dos sangrentos combates. Enquanto sorvia a bebida quente, ele observava que os móveis estavam cobertos por uma fina camada de pó, e aqui e ali, se formavam teias de aranha nos cantos do teto e nos umbrais das portas. Aquilo era estranho, pois eles sempre mantiveram seu pequeno lar impecável.

O sol já estava alto no céu, e Shiryu ainda estava sozinho no chalé. Algo estava errado. Sua tão querida amiga nunca ficava fora por tanto tempo. Desesperado, ele decidiu agir e sair à procura dela.

***

Se passaram e com eles, as estações. O Dragão viu as cachoeiras ficarem caudalosas com o verão chuvoso, quente e úmido. Observou as folhas amarelarem com o outono. Protegeu a casa e a pequena plantação do frio do inverno e colhia flores para uma pessoa ausente durante a primavera. Flores. Ainda se lembrava das flores mortais de Afrodite e de como ele se redimiu dando a vida no Muro das Lamentações. Assim como as flores de Shaka e sua mensagem de sangue. Porém, lembrava-se ainda mais de colher flores para Shunrei e sempre adornar seu rosto meigo colocando uma repousada sobre sua orelha, ladeada por seus cabelos negros.

Shiryu tomou por hábito subir ao local onde o Mestre repousava e vigiava o covil de Hades e seus espectros. Ali, meditava e procurava entender o que poderia ter acontecido com Shunrei. Com o tempo, suas esperanças de reencontra-la diminuíam. Esperava que ela tivesse apenas partido, não suportando a tristeza de permanecer ali e, que onde estivesse, a felicidade tivesse retornado ao seu coração sofrido. Não queria pensar no pior. Não poderia ou talvez sucumbisse para sempre.

Ele repeliu todo e qualquer pensamento, esvaziando a mente até ouvir apenas as batidas do próprio coração. Entretanto, algo perturbou seu estado contemplativo. Passos. Muitos e pesados passos vinham em direção a Grande Cachoeira. Seriam traidores do Santuário? Algum antigo rival buscando uma revanche covarde trazendo capangas consigo?

Pela quantidade de pisadas e a reverberação que causavam, tratava-se de um pequeno exército se aproximando. Antecipando uma grande batalha, Shiryu chamou sua armadura, que veio sem hesitar.

Do alto da pedra do Mestre, o Cavaleiro se posicionou, pronto a defender o legado de seu mentor e o lar que o acolhera desde a infância.


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Notas finais do capítulo

Próximos capítulos em breve!



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