Contando Segredos

Andei percebendo que Santana estava meio estranha. Parecia com raiva o tempo todo e até um pouco dispersa. O que será que teria acontecido com ela? Eu não poderia simplesmente ir lá e perguntar. Só a deixaria mais incomodada. Melhor deixá-la em paz com seus pensamentos.

Mas, eu estava mesmo morrendo de curiosidade. Ela não ficaria assim por nada. Sempre foi meio grossa, mas nunca daquele jeito. Estava estranhamente quieta. Sem falar que andava tão avoada que nem ao menos ouvia quando os professores chamavam a sua atenção. Aliás, aquela tal de Brittany também parecia meio… Com medo de Santana? Ela quase não ficava no mesmo lugar que ela, e já vi Santana tentando chamá-la, mas sem sucesso. Algo ruim estava acontecendo.

Comecei a pensar nas possibilidades do que poderia te acontecido, quando Quinn — a melhor amiga da Corvinal de Santana — passou por mim. Ela até conversava comigo às vezes, mas não éramos tão amigas assim. Porém, se Santana fosse contar o que aconteceu para alguém, seria pra ela. Resolvi chamar a sua atenção para ver se conseguia arrancar alguma coisa.

— Olá, Quinn. – me aproximei, e comecei a caminhar ao lado dela, ignorando completamente que a sala que eu deveria estar indo era no sentido contrário.

— Oi, Rachel. Tudo bem? – ela perguntou. Provavelmente estava achando estranho que eu comecei a falar assim com ela do nada. Isso nunca acontecia.

— Lindo dia, não é? – comecei. Essa era a básica enrolada antes de falar o assunto de verdade.

— Sim. – um silêncio desconfortável caiu sobre nós. – Você queria falar alguma coisa comigo...ou?

— Tá, tudo bem, você me pegou. O que anda acontecendo com a Santana, hein? Você não acha que ela está um pouco diferente?

Decidi ir logo ao ponto, já que eu não queria me atrasar pra aula.

— Estranha? Não. Não notei que ela andava estranha. – Quinn estava claramente escondendo alguma coisa. Não foi nada discreta.

— Vamos, por favor! Me conta! Eu sei que você sabe alguma coisa. – comecei a sacudir o braço dela freneticamente, parecendo mais uma filha pedindo um brinquedo pro pai.

— Eu já disse, não sei de nada. E mesmo se soubesse, não é da sua conta.

— Quinn. Você já me viu contando o segredo dos outros? Nunca! E, por favor, está óbvio que Santana não está sendo a mesma nesses dias. E a tal da Brittany também não. É claro que algo aconteceu.

— Droga Rachel, não vou te contar. Dá pra você parar de insistir? – ela conseguiu soltar o meu aperto de seu braço, mas continuei persistindo.

— Por favor, por favor, por favor! Só estou preocupada com a minha amiga. Quero saber se ela está bem ou não. São motivos inocentes. Não é como se eu fosse contar para escola inteira, além do mais, quase não tenho nenhum amigo. Meus únicos amigos são Kurt e Santana. Os outros são apenas pessoas que converso. E, mesmo assim, não confiaria um segredo importante à eles, você sabe que não sou idiota. Eu não poderia contar para Santana, pois ela já sabe, e eu consigo guardar alguns segredos do Kurt. Isso já aconteceu várias vezes antes. – tinha dito aquilo tudo quase sem respirar, e parei para retomar meu fôlego.

Quinn parecia irritada, assim como todas as pessoas quando eu começo a falar demais. Ela revirou os olhos.

— Santana iria me matar se eu te contasse pra você. Não.

— Por que logo pra mim? Eu nunca fiz nada pra vocês. Sei que já briguei com Santana, mas realmente me importo com ela, e a considero uma boa amiga. Só que ambas temos temperamento forte, o que acaba causando algumas discussões.

— Você não pode calar a boca nem por um segundo? – era surpreendente o quanto já me falaram isso.

— Não. Na verdade, vou continuar tagarelando até você me contar. E mesmo que eu tenha que ir correndo para a minha aula agora, irei te encontrar de novo. Nas refeições, nos corredores, na biblioteca. Você não vai querer isso. É melhor acabar com a tortura de uma vez.

— Acho que consigo te aguentar, obrigada.

— Tem certeza? Eu consigo ser bem irritante. Sempre, é o que dizem.

— E o que você acha? – perguntou. Fiquei meio surpresa, e não entendi a pergunta.

— Como assim?

— Você se acha irritante?

— Claro que não! Me acho brilhante. Um gênio. As pessoas apenas não compreendem a minha genialidade. – ela começou a rir. Percebi que tínhamos mudado de assunto. – Então… Vai me contar o que aconteceu com a Santana?

— Não. E agora você vai ter que sair, pois estamos do lado da sala de Feitiços e você não irá para essa aula. Adeus.

Ela ia entrando, mas eu a puxei de novo.

— Me conte. Você pode até colocar um feitiço para que eu não abra a boca nunca mais ou sei lá.

— Não acho que você aguentaria um dia sem falar.

— Quinn. Por favor.

— Por que diabos você quer tanto saber? Isso é só porque não consegue ficar de fora das fofocas da escola?

— Você sabe que eu não sou assim. Estou curiosa e preocupada, tudo ao mesmo tempo.

— Você me surpreende a cada dia, Rachel. – falou, secamente. Ela ia virando novamente para entrar na sala, mas eu tinha que impedir.

— É algo muito sério, não é? Algo importante. Tudo bem, eu entendo. Mas, então, não irei contar o que o Puck anda fazendo.

— O que você quer dizer com isso?

— Quer dizer, achei que fosse óbvio. Ele sempre sai cantando as outras garotas. O tempo todo. Até fez isso comigo, um dia desses. Eu sei que ele é pegador, mas é seu namorado, e não devia deixá-lo fazer isso. Aliás, ele até beija alguma daquelas meninas.

— Eu não acredito em você. – mesmo assim, ela pareceu considerar a situação. Eu realmente não estava mentindo.

— Tem certeza?

— Tá, tudo bem, eu conto para você.

Fiquei chocada ao descobrir que Santana era lésbica, e que era apaixonada pela garota da Lufa-Lufa. E ainda teve toda aquela briga. Não acho que tenha sido culpa da Santana, foi apenas um acidente, e Brittany estava levando muito a sério. Mas, fiquei satisfeita em estar finalmente sabendo das coisas.

Larguei do pé da Quinn e voltei a andar pelos corredores. Então, ouvi umas garotas da Corvinal conversando.

— Você ouviu o que aconteceu? Brittany Pierce e Sam Evans terminaram. Ainda bem que ele está solteiro agora.

Elas deram umas risadinhas e começaram a cochichar. Ah não, eu precisava contar isso para Santana.

Amor a primeira vista  

Santana tinha acabado de conversar com um lufano e saído correndo para os terrenos de Hogwarts. Ele parecia ofendido. Provavelmente não gostava dela. Mas, agora já havia voltado a conversar alegremente com os amigos dele.

Comecei a observá-lo, e meu coração acelerou. Ele era muito bonito. Tinha cabelos negros penteados com gel e um sorriso maravilhoso. Resolvi tomar um pouco de coragem e falar com ele. O que eu tinha a perder?

— Desculpe pela minha amiga, Santana. Ela consegue ser bem vaca quando quer. Mas, no fundo, tem um bom coração. – ele ficou surpreso ao ver que eu estava falando com ele.

— É, geralmente consigo lidar com vacas. Mas ela é um tipo bem único.

— Daquelas bem insistentes, não é? Eu entendo. Sobre o que vocês estavam conversando?

— Nada demais. Ela só queria saber onde estava a minha amiga, Brittany.

— Ah, certo. – ele começou a me encarar com aqueles olhos castanhos e eu quase morri. – Sou Kurt Hummel.

— Blaine Anderson. – apertamos as mãos, e quase não soltava mais.

Conversamos a conversar sobre várias coisas. Pude ver que tínhamos muito em comum. Até combinamos de nos encontrar em Hogsmeade e eu mal podia esperar. Isso foi quase como amor a primeira vista. Sei que parece idiota, mas eu gosto de ser romântico às vezes.

Talvez conversar com pessoas de outras casas não seja tão ruim assim. O nome Blaine não saiu mais da minha cabeça pelo resto da noite.