Counting Stars escrita por BlueBoxInSpace
Depois que o vídeo acabou eu não tive muito tempo para conversar com o Doutor sobre aquilo, porque Anne disse que precisávamos começar o quanto antes.
- Bom, o que nós vamos fazer, de início, é simples: vamos cuidar dar crianças.
- E depois? - pergunto.
- Depois nós precisamos ver se os idosos precisam de alguma coisa e por hoje é só. Pelo menos para o nosso grupo.
- Como assim?
- É que nós mulheres nos dividimos em dois grupos. Um dia um grupo cuida das crianças e dos idosos e o outro cuida das coisas como lavar e passar. Depois nós trocamos.
- Ah.
Ela me leva para um playground improvisado, que me lembrava um pouco o da TARDIS.
Quando entramos várias crianças correm em nossa direção gritando e pulando.
- Tia Anne, olha! - uma garotinha de cabelo castanho curto aponta para a próprio boca que faltava um dente.
- Parabéns, Jo! Seu primeiro deite de leite!
- E a fada do dente ainda me deixou algumas moedinhas!
- Isso é demais! Agora vá brincar como seus amigo, OK?
- Eles parecem gostar muito de você - digo.
- É, eu não sei porque...
- É sério?
Ela ri.
- Eles me dizem isso todos os dias!
Rio também.
Nós ficamos ali por várias horas, vendo e ajudando as crianças a brincar, correr, desenhar, comer e, quando necessário, cuidar dos seus machucados ao caírem.
Quando deu 18:00 horas nós levamos as crianças para seus pais e cada uma de nós mulheres recebemos um papel com o nome de um idoso que nós seríamos responsáveis. O meu era um velho comandante da marinha chamado Bruce Salmers, que estava no quarto 16.
Quando entro a primeira coisa que percebo é a música. Com certeza aquela música era da Terra, eu só não consegui saber qual era, provavelmente uma do futuro.
Bruce estava deitado na cama com os olhos fechados e um sorriso no rosto.
- Hã... senhor Salmers? - chamo.
Ele abre os olhos e me encara sem desfazer o sorriso do seu rosto.
- Oh, a senhorita deve ser a novata, não é? Clara Oswald se me lembro bem...
- Isso mesmo, senhor - sorrio de volta.
- Ah por favor, me poupe dessa coisa de "senhor", eu cansei de ser chamado assim, me chame só de Bruce - ele pareceu irritado, mas depois relaxou - Desculpe a grosseria.
- Não, está tudo bem, sen... Bruce.
- Assim é bem melhor!
- Humm... você precisa de alguma coisa, Bruce?
- Se eu preciso? Sim, sim preciso.
- Tudo bem. Do que você precisa.
- De alguém para me fazer companhia.
- Para?
- Para eu não morrer sozinho.
Entro em um pânico interno.
- C-como assim morrer?
- Este é o ciclo final de um Senhor do Tempo, querida, tenho certeza de que sabe como é, afinal de contas, o seu amigo também é um, não é?
Fico pálida.
- Mas como...
- Eu reconheceria um Senhor do Tempo de longe. Também sei que ELE é o Predador dos Daleks não é? Já ouvi várias histórias sobre o Doutor.
Eu estava completamente sem reação. Como ele podia saber de tanta coisa?
- Mas se você é um Senhor do Tempo, porque dizer que era da marinha?
- Disfarce. Se eu dissesse qual a minha raça original com certeza coisas ruins iriam acontecer. Por isto o seu amigo está mentindo.
Fico horrorizada.
- Mas se você é um Senhor do Tempo... como você pode estar morrendo?
- As minhas regenerações acabaram, minha querida, todas elas.
Ele tosse alto.
- Bem... a minha hora está chegando. Pode abrir aquela gaveta e pegar um pergaminho e lê-lo para mim?
Faço o que ele pede e me sento na beirada de sua cama. Ao fazer isso ele imediatamente toma a minha mão livre na sua e a segura firme. Abro o pergaminho e começo a ler:
"O tempo está sempre correndo, mas o seu, infelizmente, já parou. Está na hora de se reencontrar com amigos, parentes e amores que se foram e serem felizes no paraíso. O seu relógio está mudando e é hora de voltar para o um. Feche os olhos e se entregue ao sono infinito e que todos os santos e Deuses de Gallifrey ilumine o seu caminho. Adeus, bravo guerreiro, e boa noite para sempre."
Olho novamente para Bruce e vejo que seus olhos estavam fechados. Sinto a sua mão fraquejar e soltar a minha bem no momento do seu último suspiro.
Encaro o corpo sem vida do velho Senhor do Tempo. Se eu não estivesse ali ele morreria sozinho, sem amigos ou família e fico me perguntando aconteceria o mesmo com o Doutor.
Balanço a cabeça afastando aquele pensamento horrível.
Alguns minutos depois seu corpo começa a brilhar em dourado e um clarão me deixa atordoada por uns segundos. Quando minha visão volta ao normal vejo que o corpo dele havia desaparecido. Fico olhando com os olhos arregalados, por um breve momento, o lugar onde estava um corpo à 5 segundos atrás.
Desligo a música, vou até a porta e saio. Eu não tinha muito mais a se fazer ali.
Ouço alguém gritar. Provavelmente foram no quarto de Bruce e não o viram lá.
- SALMERS SUMIU! - alguém grita e eu confirmo minha teoria.
Uma gritaria começou e eu simplesmente ignoro caminhando de volta para o meu quarto.
Quando chego me jogo na cama e tento organizar meus pensamentos sobre o que houve.
Ouço a porta ranger e o Doutor entra.
- Clara! Como foi seu dia? - ele pergunta.
Não respondo. Me levanto e corro em sua direção, envolvedo-o em um forte abraço. Meus pensamentos voltam à como poderia ser o final do Doutor, sozinho, e começo a chorar.
Ele se afasta de mim e segura meu rosto com as duas mãos.
- Ei, olhe para mim - levanto o olhar para seus olhos verdes - Oque houve?
Tento contar a ele oque aconteceu, mas eu não consigo, as lágrimas não deixavam.
Então ele simplesmente se inclina sobre mim e me beija.
Não foi um beijo apaixonado, como eu esperava que fosse, foi mais um beijo terno, calmo e relaxante.
Olho para ele confusa.
- Porque você fez isso?
- Não interessa, Agora me conte oque houve - a calma dele me assustava.
Conto a ele tudo oque aconteceu com Bruce e a expressão dele era indecifrável. Era uma mistura de horror, surpresa e arrependimento.
- Um Senhor do Tempo? Aqui? Você tem certeza?
- Eu sei oque eu vi e ouvi.
- Esse dia não pode melhorar...
- Porque?
- Eles querem conversar comigo. Acho que já sabem que eu sou o Predador.
- E você vai?
- Eu tenho outra opção?
- Nós podemos ir embora
- Sem a TARDIS fica difícil...
- Tudo bem e se...
- Não. Olha eu vou, vai ficar tudo bem, não precisa se preocupar, eu vou voltar - ele sorri.
- Tudo bem
Eu não parecia confiante sobre aquilo. Com certeza algo ia dar errado. E ele também sabia disso.
Sinceramente, eu não sei como eu consegui dormir tão bem naquela noite.
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