As mãos da Nessie estavam incontroláveis, e as minhas apenas resistiam a vontade de puxá-la contra o meu corpo e beijá-la ardentemente. Não era a presença dos seus parentes que me impedia, mas sim o fato de que ela não estava decidida e não me amava o suficiente. Ela ainda gostava do cachorro, e esse fato talvez nunca mudaria.

Todavia, o desejo que consumiu o meu corpo, o calor que se expandiu por este, tomou conta das minhas ações, fazendo-me puxá-la contra o meu corpo. Não fora preciso palavras: estavam subentendidas. O fervor em nossos olhos deixou claro o que ambos queriam. A razão, por um momento, fora dispensada. Eu precisava sentir, novamente, aqueles lábios nos meus, com as nossas línguas movendo freneticamente, enquanto correntes elétricas se espalhassem no meu corpo.

Rocei os nossos lábios, sentindo aquele sabor na minha boca. Eu queria mais, eu precisava de mais... Não podia, todavia. Eu estava lá, dormindo sobre o mesmo teto dela, enquanto ela ainda estava pensando no maldito cão. Eu sabia que seria muito difícil aguentar as provocações de sua pele perfeita, assim como o seu corpo; porém eu sentia que ela ainda amava o cachorro.

Por mais que eu tivesse escutado ela dizendo que amava duas pessoas, não sabia se ela me amava o suficiente para esquecer o outro. Eu não podia forçá-la a tomar uma decisão, por isso a afastei, fitando o chão.

- Po-Por quê? - Ela simplesmente perguntou, e pude perceber o tom embargado de sua voz. Não a fitei, por medo de que as suas feições fizessem-me dizer a verdade.

- Porque eu não quero. - Murmurei, traindo a mim mesmo com aquelas palavras tão sujas, que enojaram-me. Tamanha hipocrisia que eu possuía fizera-me achar imundo, como se eu não merecesse nem mesmo o nome que eu carregava.

Saí da cozinha, passando despercebido na sala, aonde Emmett e Rosalie beijavam-se. Resolvi sair dali, esclarecer os pensamentos e tomar um ar fresco. Ao descer as escadas da casa, pude ouvir um barulho de choro, seguido pela pergunta de Rosalie que pareceu distrair-se, finalmente:

- O que aconteceu, Ness? Você está chorando?

A indignação na sua voz era extremamente perceptível, fazendo com que a minha cara contorcesse-se de dor. Se eu pudesse, estaria chorando apenas de imaginar o fato de fazer a minha amada chorar.

Corri o mais rápido que podia para longe dali. Fui sem rumo e acabei por encontrar uma espécime de caverna. Era como se fosse uma gruta, que não era muito profunda, mas agradável para refletir.

Ao rever os acontecimentos, percebi que não vi o Edward mais na casa. Ele deveria estar entretido com a Isabella. Porém era estranho a Jane não estar lá também.

Repentinamente, uma brisa trouxe um cheiro ruim, com um aroma enjoativo.

- Alec? - Uma voz amigável perguntou; era apenas Seth.

- Ah, oi. - Respondi, jogando uma pedra sobre um pequeno e raso lago que possuía ali na gruta.

Reparei que ele era um ótimo meio de eu conseguir notícias do Black. Se ele já tivesse superado a Nessie, eu poderia, sem medo, partir para a "caça". Ri do meu pensamento.

- O que houve? - Perguntou o outro, curioso.

- Nada. Como anda o... Jacob? - Tentei não fazer nenhuma careta a pronunciar o nome dele, porém não pareceu funcionar. Com o meu fracasso, Seth riu.

- Sexy. - Arqueei uma sobrancelha, e os meus olhos esbugalharam-se.

- Olha, Seth. Nós não jogamos no mesmo time. Não que eu tenha algum pre... - Me apressei a dizer, entretanto ele apenas gargalhava, acabando por ficar corado, como se fosse vermelho de tanto gargalhar, só que naquela pele morena dos Quileutes.

- Não é nada disso! O Jacob anda com um papo de "aumentar a sua sensualidade". Agora parece até gay de tanto se vestir e fazer pose. - Seth disse, esclarecendo tudo. Quem caíra na gargalhada, dessa vez, fora eu. O cachorro inventava cada uma... - Mas e a Nessie? Ela está bem? - As marcas visíveis de preocupação, em sua testa, mostravam o quanto ele realmente se preocupava com ela.

- Não sei te dizer. Ela anda um pouco reclusa; talvez devesses conversar com o Edward. Ele deve ser o único no momento que a compreende.

Ele apenas assentiu, dizendo em seguida que era por esse motivo que estava aqui. O Jacob havia pedido a Seth para saber como a Renesmee estava; se ainda, muito enfraquecida. Revirei os olhos, vendo o quão patético ele era.

- Bem, então eu volto com você para a casa. Eu não posso fugir dela por muito tempo também... - Murmurei, resmungão. Levantei-me e comecei a caminhar ao lado do Seth. Até que ele era uma boa companhia, por mais que não cheirasse muito bem.

- Fugir de quem?

- Da casa. Eu não posso fugir dela. - Respondi a pergunta do Seth, que perguntou quem era "a casa" em seguida. - O Edward. Aquele leitor de mentes tinha que ter logo esse dom?

Seth me olhou de soslaio, provavelmente, imaginando o que eu não podia pensar ao estar perto do Edward. Porém eu não podia dizê-lo, então apenas apressei o passo.

Ao chegarmos na casa dos Cullen, senti o meu coração acelerar. Pude sentir o cheiro doce e mesclado da Nessie no ar. Suspirei, e entramos no local.

Edward me encarou, apenas apontando com um sinal para sairmos. Imediatamente, pensamentos nada educados ocuparam a minha mente; iam desde "puta merda" até "quem foi o filho do caralho que contou?". Pus as duas mãos na cabeça, transtornado; entretanto apenas pude obedecê-lo, para que nada piorasse.

Ao passar por Seth, ele apenas me encarou curioso, assim como o resto da família Cullen. Me aliviei ao perceber que mais ninguém sabia o que tinha acontecido. Todavia, provavelmente, o Edward sabia que eu mentira; ele sabia que eu a amava.

- Vamos para um lugar mais afastado. - Disse, mirando algo ou alguém dentro da casa, que deveria estar prestando atenção em cada passo que dávamos na relva. Talvez esse alguém fosse o Emmett, que não perdia uma briga. Mas será que eu e o meu sogrinho querido brigaríamos?

Assim que chegamos em uma clareira com um matagal alto, beirada de um precipício, notei que não deveria ser algo bom. Senão nós dispensaríamos o precipício. Engoli seco.

- Edward, eu posso explicar... Eu não queria beijar a Ness, eu apenas agi por impulso... E aquilo não foi realmente um beijo, foi apenas... Um, um... - As palavras fugiam da minha boca, ao mesmo tempo que eu gaguejava e falava rapidamente. Minha testa estava franzida, demonstrando arrependimento. Mas o seu rosto estava imparcial, e uma risada melodiosa tomou a clareira.

- Não é sobre isso que eu quero conversar seriamente com você. - Tudo bem, por essa eu não esperava.

- Como assim?

- Eu sei o quão atraído você se sente pela Renesmee, porém quero saber quais são as suas verdadeiras intenções com ela. - Murmurou pacificamente, até me apavorando com tanta serenidade.

- Eu amo a Ness; eu não faria nada de ruim para prejudicá-la... Nem que isso fosse vê-la com o cachorro. - Murmurei entredentes, sentindo um fervor de ódio ao imaginá-la nos braços daquele cão.

- Alec, eu não estou bravo com você; pois eu já estive no seu lugar. Também disputei com o Jacob o amor de uma mulher, entretanto não acho que a Ness esteja certa do que quer. Vou lhe avisar que a confusão na sua mente me perturba, e acho que você não deveria mentir para ela. - Edward afirmou, causando o sentimento de arrependimento em mim. Eu não queria ter mentido; não queria mesmo. Mas as circunstâncias imploraram aquela ação.

- Eu prometo que não irei mais mentir para ela, Edward. Aquilo não se reptará. - Confirmei sério, sem ao menos piscar os olhos. Eu não queria voltar a fazer aquilo. Nós sabemos que estamos amando quando não conseguimos mentir para aquela pessoa; ou seja, esse sentimento tão enlouquecedor, arrebatador e impiedoso, era amor. Isso era amor. Não havia dúvidas.

- Eu confio em você, Alec. Eu também menti para a Bella; disse que não a queria mais, fugi para longe, pensando que era para o bem dela... E você não sabe o quanto eu arrependi depois. - Seus olhos escureceram, e a sua voz morreu no fim da sentença. Engoliu à seco e prosseguiu: - Saiba que não apoio que você beije a minha filha, mas é melhor do que o cheiro daquele cachorro impregnado na sua roupa, na sua boca... - Sua careta fora imperdível. Nunca percebi o quão legal Edward era...

- Espero que isso tenha sido um elogio. - Respondeu ao meu pensamento. Assenti, confirmando que era.

- Mas como está a Ness? Ela está muito magoada? - Perguntei, temeroso ao lembrar do estado que a deixei quando saí de casa.

- Digamos que se distraiu com a companhia da Alice. Todavia a sua tristeza está clara em sua face. Nunca pensara que poderia receber palavras tão duras de alguém. - Edward esclareceu, com um sorrisinho no canto dos lábios, como se soubesse de alguma coisa e não pudesse contar para mim.

- Ah. - Murmurei simplesmente, imaginando o que eles deveriam estar aprontando, até que ouvi um rosnado surgir do peito de Edward. - O que houve? - Perguntei prontamente.

- Jacob. - Essa única palavra era suficiente para retirar qualquer vestígio de bom humor dele, pelo visto.

Ele começou a voltar para casa; e apenas o segui. Chegando lá, pude sentir, de longe, o cheiro do cachorro impregnado no ar. Uma ânsia de vômito se instalou no meu intestino, me surpreendendo, pois eu não sabia que vampiros possuíam ânsia.

Entramos na casa; e Edward, em um rompante, correu até o Jacob. Sussurrou algo tão inaudivelmente que não consegui ouvir, mesmo com a minha super audição; porém, ali, na frente de todos, algo bom não podia ser.

Jacob me encarou, e apenas dei de ombros, enquanto ele fitava o meu figurino. Bufei ao ver o que Seth comentara. Realmente, ele estava ridículo com uma calça preta jeans e uma camisa da mesma cor toda rasgada, que mostrava partes do seu abdômen. Tudo para "apetecer" a Nessie. Que sem noção.

Renesmee não se encontrava na sala; e, assim que pensei nisso, Jacob perguntou por ela.

- Está vindo, - Alice declarou, descendo as escadas com a Ness em seus calcanhares.

Não pude acreditar na visão paradisíaca que tive ao mirar as escadas. A Renesmee era a garota mais deslumbrante que eu já havia visto, incluindo todas as vampiras que eu conhecera.

Ela vestia uma blusa preta simples, com um escrito, em inglês, na frente. Porém as suas longas pernas estavam descobertas através da saia de cintura alta, demonstrando a sua pele lisinha e branca, perfeita para receber uma série de beijos, enquanto a deitasse na cama. Em resposta, Edward apenas rosnou para mim, censurando-me. Sorri amarelo, ao mesmo tempo que a Nessie corava, olhando para os próprios pés enquanto terminava de descer as escadas.

Jacob estava totalmente hipnotizado pela visão na sua frente, assim como eu. Entretanto não queria deixá-la desconfortável e acabei indo para a cozinha, a fim de respirar um pouquinho e fingir pegar alguma coisa. Era nessas horas que eu me maltratava mentalmente por não gostar de comida humana. O que eu poderia fazer em uma cozinha? Ao pensar, uma ideia me veio em mente.

- Ó, cachorro. Um guardanapo para você segurar a baba. - Dei para ele o guardanapo que eu havia pego na cozinha. Sorri torto, enquanto todos caíam na risada na sala, enquanto a Nessie corava mais ainda.

- Mas aonde vocês vão assim, tão arrumadas? - Edward perguntou, e todos o fitaram, revirando os olhos. Era óbvio que ele sabia o lugar, afinal ele lia mentes. Porém, se ele queria que elas dissessem em voz alta, então que o fizessem.

- Eu vou levar a Nessie para passear com a Claire no Parque de Diversões que está aqui perto. - Alice comunicou.

- Aquele mesmo que nós fomos? - Perguntei, confuso. Por que ela iria duas vezes no mesmo lugar?

- Como assim "aquele mesmo que nós fomos"? - Jacob perguntou, bravo, sem entender o que se passava e imitando uma voz feminina, como se a minha fosse. Revirei os olhos pela décima vez naquele dia.

- Ninguém te deve satisfações aqui. - Murmurei, birrento, mas era verdade.

- Alec queria distrair a Ness depois do que aconteceu entre vocês dois, e eles foram ao parque. - Edward interrompeu a fala não pronunciada de Jacob, que estava prestes a dizer algo.

- Afinal, o que isso tem demais? Eu só estava ajudando a Ness. - Dei de ombros ao completar a fala do Edward. Porém isso pareceu irritar o Jacob.

- Não a chame de Ness, seu sanguessuga. - Disse, tremendo. Apenas bufei, dando uma pequena risadinha, e sentei em uma poltrona branca da sala.

- Acalme-se, Jacob. - Renesmee pediu, tocando-o no braço que tremia compulsivamente.

Imediatamente, ele parou de tremer e a fitou, puxando-a para um beijo ali, na frente de todo mundo. Pôs uma mão na sua cintura e a outra, na sua nuca, não dando a ela outra alternativa que não fosse corresponder o seu beijo. Sua boca, afinal, estava entreaberta de susto, oferecendo passagem para a língua daquele cachorro.

Talvez eu estivesse com ciúmes; talvez isso fosse o aperto no meu coração ao vê-la aos beijos com aquele cão. De qualquer jeito, para sentir ciúmes, era preciso amar. Agora não havia nenhuma dúvida do que eu sentia pela Ness.

Mais uma vez, a sensação de enjoo tomou conta do meu corpo e era tamanha que eu precisava sair daquele ambiente. Porém, ao perceber a cara de Rosalie, percebi que aquele abuso não duraria muito; afinal, a sala estava cheia de vampiros raivosos e a única que se divertia era Jane. Sorri com esse pensamento - o cachorro se daria muito mal.