#MASTSCOMESOFTREES escrita por blue devil


Capítulo 5
05.




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– Não vai demorar, juro. - Nico disse para Reyna, tentando se auto convencer. - Eu só... Erhm.

– Tudo bem, Nico. - os olhos de Reyna o encaravam com sagacidade. - Você pode fazer quantas ligações quiser enquanto arrumamos a estátua com os pégasos.

– Obrigada. - Nico soltou uma respiração que não havia notado que segurava. Reyna deu um sorrisinho, dando um tapinha no seu ombro e o deixando sozinho em seguida. Nico olhou para o bosque.

Enquanto procurava o pequeno riacho que Hedge havia falado sobre, Nico não conseguia acreditar que ia fazer isso. Como chegara naquela decisão? Sinceramente... E se fosse sincero por um instante, diria que precisava falar com Leo. Que ele podia ajudá-lo naquele momento tão confuso.

Por mais bem intencionados que Rachel ou Grover fossem, eles ainda não sabiam agir inteiramente com Nico, afinal era difícil. Tentavam não discutir coisas muito pessoais, para não espantar o Filho de Hades. Então Nico nunca se sentiu próximo de alguém, nunca sentiu que alguém entendia.

Alguém como eu.

Acontecia que Leo entendia. De todas as pessoas, ele entendia a dor, o medo, a vergonha. E os dois se conectavam, Nico acabando por confiar nele sem perceber. Era irritante. Não gostava de dizer coisas sem pensar, por que o assunto o empolgava, não gostava de estar aberto para alguém sem saber o que essa pessoa pensava totalmente.

Mas gostava de Leo. Gostava de como ele vivia coberto de coisas que só mecânicos sabiam de verdade, gostava do esforço que ele fazia para deixar as pessoas felizes, gostava do seu sotaque espanhol, do seu cabelo que parecia ter vida própria e sempre armava dependendo dos seus sentimentos, gostava da sua teimosia, da sua inteligência e das piadinhas sem graça.

Céus, Nico havia caído feio.

Nico queria entender quando isso havia ocorrido. Antes de começar a falar com o latino, de todas as pessoas do mundo achava que ele seria o último que entenderia Nico e vice versa.

Os dois tinham um gosto por piadas ruins, os dois tinham um péssimo timing para quase tudo, os dois sentiam-se afastados e desconectados de alguma forma, os dois diziam menos e pensavam mais, porém ninguém sabia. Ninguém queria saber de verdade. E, de repente, eles se encontraram e a vontade nasceu.

A vontade de entender. De tentar. De criar algo melhor. Era esmagador e Nico estava convicto que não podia ser julgado por ter medo daqueles sentimentos. Com Percy, ele não precisava passar por muita coisa: Era uma queda fadada ao fracasso desde o começo. Os dois não eram próximos, na verdade Nico se esforçava para mantê-los o mais distante possível.

Então a relação com Leo estava sendo uma sequência tortuosa de “primeiras vezes” onde ele não fazia ideia de onde estava para indo e onde ia chegar. Mas era uma tortura doce, viciante. Urgh. Nico estava realmente parecendo um masoquista assim. Mas o amor... Ele fazia isso, não fazia? Ele deixava alguém mudo surdo e cego.

Nico respirou fundo enquanto esperava a mensagem de íris... Pegar? Não, não podia falar como se fosse tecnologia. Quando a imagem aparecesse. Não que ele estivesse querendo que fosse rápido. Se Leo aparecesse de repente na sua frente, Nico iria surtar e—

– Hey Leo! Gelato! – Percy soou meio distante na mensagem de íris que mostrava a sala de máquinas no navio e o comecinho de uma cabeça repleta de cachos castanhos escuros, quase pretos.

– Ah, já vai, pera—

Leo tentou se levantar muito rápido e acabou batendo a cabeça no cano de uma máquina que ele mexia. Ele xingou alto em espanhol, porém a batida foi o que fez notar a mensagem de íris de Nico. Quando os olhos dos dois se cruzaram, ele soltou um: “Woah”.

Nico deu um aceno constrangido.

– Cara, o que rolou ai?! – a voz de Percy soou bem mais próxima e alta. Leo pigarreou, olhando de Nico e para as suas costas, costas e Nico, parecendo desesperado.

– Nada! Nada de mais, quer dizer. Escuta Percy, eu vou tomar sorvete depois.

Depois?! – Percy pareceu extremamente ofendido. Nico revirou os olhos. Claro que ele também tinha que ter uma fixação por sorvete. – Quem deixa sorvete para depois? Você precisa sair dessa sala, dude. Vai mofar aqui dentro.

Leo grunhiu.

– Não agora! Deixa o sermão sobre o meu bem estar para depois--!

Leo foi interrompido quando Percy o empurrou para ver o que ele escondia. A temperatura de Nico caiu. Ele pensou em desfazer a mensagem na hora, porém quando os olhos verde-água se cruzaram com o seu Nico ficou completamente sem reação, mais do que já estava.

Então ele soltou outro: “Woah”. E Nico queria entender o que havia visto naqueles dois.

– Dude, você tá... – a boca de Percy não podia cair mais. – Você tá aqui. – com certeza não era isso que ele queria falar, mas sendo Percy, ele podia ter esquecido.

– Percy, eu estou bem longe do navio. – Nico revirou os olhos, Percy pareceu que ia articular, porém Leo o interrompeu:

– Percy! Vai tomar o bendito sorvete antes que derreta.

– Espera aí, desde quando o Nico só liga para você e mais ninguém?

Ambos Leo e Nico grunhiram ao mesmo tempo. Desde quando eu me apaixonei por Leo e ele não foi um babaca heterossexual. Nico pensou com veneno, mas obviamente ficou quieto. Leo olhou para ele, perguntando pelo olhar se ele ia dizer alguma coisa para dispensar Percy – e tinha que ser algo eficaz.

– É a primeira vez que eu mando mensagem Percy. – Nico respirou fundo, remexendo-se. – E eu tenho que ser rápido. Prometi à Reyna que não ia passar de um instante.

– Certo, pode dizer. – Percy ergueu as sobrancelhas. Leo não se controlou e bateu no próprio rosto, seu cabelo pegando fogo de leve por conta da frustração. Nico não conseguiu evitar um sorriso ao lembrar que ele sempre pegava fogo nas horas erradas, e seu cabelo armava, como um balãozinho inchando após ser preenchido com sentimentos.

Percy olhou para Leo, depois para Nico. Isso tirou o sorriso do filho de Hades, com medo que Percy interpretasse mais coisas do que já estava interpretando. Afinal Nico e Leo não eram nada discretos e a namorada que fazia os cérebros de Percy funcionarem já sabia dos dois, então... Eles não estavam seguros.

– Eu estou interrompendo alguma coisa?

– Sim! – Leo exclamou. Nico não teve coragem de desmentir. – Eu liguei para Nico, ok? E não foi por saudade do Treinador Hedge. O que tem de tão improvável em nós dois?

Leo não havia dito “nós dois como amigos” ou “nós dois conversando”. Ele havia dito: “Nós dois juntos”. E Nico nunca achou que ia gostar de ter alguém o defendendo, sem vergonha por isso, como se Leo não pensasse nem por um segundo que era antinatural. Isso aqueceu seu peito. Leo não parecia estar segurando remorso contra Nico, enquanto tudo que Nico fazia era fugir e ignorá-lo.

– Calma cara, eu não quis ofender ninguém. – Percy ergueu as mãos. – Eu só... Bem, acho que ninguém esperava que vocês dois virassem amigos, ainda mais tão próximos.

– Percy. – Nico o alertou. Percy abriu a boca para protestar, porém Nico o sorriu ao interrompê-lo: - Não se preocupe. Se der tempo, podemos conversar depois. Eu realmente queria resolver algo com Leo. – Nico pigarreou, tentando disfarçar o rosa que estava se espalhando pelas bochechas. Admitir era bem mais difícil.

Percy ficou surpreso. Leo não pareceu muito melhor. Nico arqueou a sobrancelha, sem entender a reação dos dois. Havia feito algo errado? Não seria a primeira vez que ele achava que estava lidando bem com algo e então notava como estava errado. Aquele silêncio estava ficando insuportável. Nico desviou os olhos, fazendo Leo se ligar.

– Certo, tem razão. – Leo piscou, olhando para Percy brevemente. – E seria bom se você não saísse gritando à Gaia e os Gigantes que eu e Nico estamos conversando. Eu pretendia contar eu mesmo, na hora certa.

– Por que tanto mistério? – Percy entortou o nariz. Nico deu uma risadinha nasalada, achando-o tão fofo como um filhote de foca. Mas ainda não passava Leo pegando fogo. Era algo que Nico poderia ver o tempo todo, já a cara de foca de Percy o cansaria alguma hora.

Ambos Percy e Leo caíram num silêncio que deixou Nico desconcertado mais uma vez. Qual era o problema, sinceramente? Nico ficou carrancudo, incomodado com a estupidez do primo e do tipo-possível-pretendente-bastante-capaz-namorado.

– Sai daqui, Perseu. – Nico resmungou baixinho. – E fique quieto sobre isso.

Percy finalmente se rendeu.

– Tá, tá! Mas eu não vou prometer nada sobre não falar, não sou um cara de segredos.

– Percebemos. – Leo e Nico disseram em uníssono. Os dois se encararam sorrindo por um instante. – Okay, okay. – Leo assentiu, observando Percy enquanto ele saía resmungando. Leo soltou uma respiração que Nico não sabia que ele estava segurando. – Eu não devia esperar muito dele.

– Seja mais flexível. – Nico rebateu sarcástico, recebendo uma careta de Leo. Nico apoiou o rosto sobre a mão, sorrindo. Leo coçou a nuca, onde havia se machucado. – Está doendo?

– Hã? – ele parou de coçar. – Ah. Não. Cabeça de ferro. – Nico pode notar que ele forçava o sorriso enquanto dizia isso.

Mais uma vez silêncio. Mas agora Nico sabia o motivo: Não sabiam o que dizer. Os dois queriam tanto ficar sozinhos, e quando conseguiam não sabiam o que fazer. Bem, Nico não tinha a menor experiência nisso, e tinha certeza que Leo também não. Essa coisa de ligar para falar com alguém... Isso só acontecia em relacionamentos com compromisso, que ele normalmente não estava.

Mas a determinação de Leo parecia ser fazê-lo passar por essas experiências que reviravam sua mente.

Nico respirou fundo. Não podia desistir agora. Abriu a boca para dizer algo quando Leo fez o mesmo, parando ao notar que ele ia falar.

– Você primeiro. – Leo pediu. Nico balançou a cabeça negativamente.

– Eu fui da última vez. Sua vez.

Leo engoliu a seco.

– Eu senti sua falta. – ele murmurou com o rosto baixo, mexendo com a ferramenta que estava usando para consertar seja lá o que fosse antes de Nico mandar mensagem. Nico se arrependeu de ter o deixado falar primeiro.

– Você não pode fazer isso.

– Isso o que?

– Essa... Essa pressão! Eu disse que precisava pensar, mas quando você fica me contatando e assombrando os meus sonhos

– Você sonhou comigo?

– Isso não importa! – Nico quase gritou. – Leo... Eu preciso de tempo, e você não tem me dado isso.

– Espera quê? Está me culpando por que tem sonhado comigo?

Nico corou completamente.

– Não! Quer dizer, sim! Arrrgh! – ele bagunçou os cabelos. Leo começou a rir de verdade.

– Nico, se acalma cara. – Leo disse após as risadas terem diminuído, ainda com o sorriso gigante. Nico fez algo parecido com um bico, mas ele nunca admitiria que emburrava como uma criança. – Você quer saber por que eu te liguei, afinal?

Nico não respondeu, então Leo continuou:

– Não foi sem motivo. Eu entendo o seu espaço, apesar de ser uma experiência bem bosta para mim. – ele levantou as mãos para o alto, seu tom dizendo que não sabia mentir. Pelo menos, não naquele assunto. – Eu preciso te contar uma coisa, mas estava desistindo, e por isso não te liguei mais.

Nico se remexeu.

– O que você tem que me contar?

Leo deu um sorriso triste, quebrado. Nico surpreendeu-se com aquela reação. O que havia de errado?

– Quando eu parei em Ogígia... Como você se sentiu?

– Que pergunta é essa, Leo?

– Por favor... – Leo fechou os olhos por um instante, sem conseguir encarar Nico nos olhos. – Só me responda.

– Eu... – Nico mordeu a língua sem querer. O que eu senti, Nico se questionou. A raiva o queimou como se estivesse dentro de si todo aquele tempo. Desolação, ausência, medo. Era o pior pesar emocional que Nico experimentou desde Bianca. Só o motivo de ele não ter se recuperado ainda provava isso. – Eu não quis acreditar. Mas o pior de tudo foi sentir você vivo em algum lugar, e não saber como, ou quando, ou qualquer coisa. Como tentar sair de um túnel sem luz. Você sabe que tem uma saída, mas não sabe que vai achar.

– Nico. – a voz de Leo saiu tensa. Nico o encarou num instinto. O olhar dele segurava muitas emoções para Nico contar ou entender de uma vez. Sentiu-se intimidado, mas confortado ao mesmo tempo. – Nico eu sei, acredite, eu sei muito bem o que é perder em todas as oportunidades. E mesmo que seja assim para você agora, consigo ver o total potencial que tem para melhorar. Você merece muita coisa, Nico. Mesmo que eu não esteja por perto pra te segurar no caminho certo, quero que se lembre disso.

– Por que está dizendo isso tudo? – Nico sentiu uma agitação gelada, algo próximo do terror. Leo não estava agindo de uma forma normal. Não era isso que Nico esperava ao mandar mensagem. Ele não sabia como reagir, só sabia que não podia ser bom. E Leo... Leo era importante. Nico não queria piscar e perdê-lo.

– Você está com uma cara de bosta, ou seja: “Preciso de conselhos de autoajuda”. – Leo forçou humor. Nico sentiu vontade de desviar os olhos que ardiam quando viam seu sorriso quebrado, porém em vez disso, ele o observou com mais atenção: O cabelo de Leo estava realmente bagunçado, seu rosto parecia pálido e ele tinha as bolsas de baixo dos olhos, mas ainda não tão profundas quanto as de Nico. Seus ombros estavam encolhidos e seus dedos eram frenéticos, porém fracos, frágeis.

Leo não estava bem.

– Você também.

– Não somos um par perfeito? – Leo deu um sorriso mais sincero dessa vez. Nico não evitou a risadinha. Eles eram. – Você está fazendo muito isso.

– Isso o quê? – Nico arqueou as sobrancelhas.

– Rir. – Leo aproximou o rosto da mensagem, como se isso fosse deixa-los mais próximos. Nico corou pensando se o latino não tentaria beijá-lo naquele instante. – Eu não sei o que houve, mas você parece mais livre. E não parece estar pensando duas vezes antes de saber que é válido rir de algo.

Nico abraçou a si mesmo. Livre? Ele estava chorando e se descabelando há pouco tempo. Sentia-se extremamente perdido sobre o que fazer. Porém, Leo estava ali, agindo consigo como se nada tivesse mudado, e era influenciador, Nico não tinha culpa. Ele desejava ficar naquela bolha confortável para sempre, rindo sem pensar muito sobre isso, porém não podia e sabia bem desse fato.

– Você realmente acha que eu vou fazer a coisa certa? – Nico murmurou.

– Yep. – Leo não perdeu tempo em responder. – Eu, Hazel, Piper, Frank... Até o Jason, cara. Não sei o que você fez, mas o loiro tá doido por você.

Nico se permitiu revirar os olhos por um instante enquanto Leo fingia ciúme. De quem, Nico não sabia.

– Leo. – Nico chamou sua atenção. – Eu acredito em você também. – ninguém ia entender como havia sido difícil ter dito aquilo.

Leo ficou desconcertado.

– Continue assim. – ele colocou a mão no pescoço. – Não desista de mim.

– Por que eu iria sequer pensar em desistir? – Nico ficou ofendido com aquilo. Leo simplesmente sorriu de forma triste.

– Nico. – essa era a voz de Reyna, aproximando-se de onde ele estava. – Nós realmente precisamos ir.

Nico respirou fundo. Leo começou a acenar.

– Tudo bem, nos vemos no final da guerra, batboy.

– Não me chame assim. – Nico resmungou. – Não faça muita merda. Mantenha um nível saudável.

Leo forçou uma risada irônica, revirando os olhos em seguida.

– E você, - Leo apontou a ferramenta na direção do rosto de Nico. – nunca se esqueça o quão perfeito você é.


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