Tudo começou com uma carta de suicídio.

07 de novembro de 2015

Para alguém que não vai ler.

Se alguém estiver lendo essa carta, então ainda há chances de me salvar. Eu nunca acreditei que milagres aconteciam, então espero que você acredite.

Não sei se você já esteve em uma situação parecida com a minha, espero que não. Quando você perde o chão, é muito difícil aprender a voar de repente e então você cai em queda livre, tenta agarrar-se em algo, mas não consegue, pois não há nada seguro em volta.

Fugir é a primeira opção para o sofrimento. Algumas pessoas buscam conforto em livros, fogem de sua realidade e vivem a de personagens. Outras pessoas vão em busca de drogas que tirem a noção da realidade, mas em minha opinião, é passageira demais essa fuga. Tem pessoas que preferem a dor física para distrair a dor sentimental, já fui uma delas. E quando nenhuma dessas fugas é suficiente, algumas pessoas tentam o mais radical, cortar o mal pela raiz e acabar com o sofrimento todo matando-se.

O ser humano é tão frágil, é tão fácil morrer. A morte é tão comum, milhares de pessoas morrem por dia. Eu sou só mais uma, posso pensar, quem sentiria minha falta? Não tenho mais pai, não tenho mais namorado, não tenho mais amigos, tudo o que tenho é uma mãe que está 24 horas por dia bêbada.

E então? Consegue ver algum motivo de eu querer continuar minha vida? Eu não vejo. Você realmente acredita em milagres?

Escrevo esta carta em um parque. É outono e as folhas laranja estão fazendo um pelo gramado no chão. Está fazendo frio, mas talvez eu vá para um lugar mais quente. Tenho comigo uma corda, aqui tem várias árvores boas para amarrar. Não tem ninguém no parque a essa hora, vou deixar a carta no banco.

Você acredita em milagres? Acha que pode salvar uma vida? Então boa sorte. Mas vou te avisar que pode achar uma pessoa morta em um parque vazio.

Com dor,
Rachel Collins

Deixei a carta em cima do banco e caminhei em direção às árvores, dias antes eu tinha trazido um banquinho e uma escada, a árvore que escolhi ficava em um pequeno morro, bem no topo, tinha uma vista linda.

Amarrei a corda do jeito certo de uma forca, coloquei o banco em baixo e subi, coloquei a forca em baixo do pescoço e dei uma ultima olhada no horizonte. Chutei o banco.

Primeiro, senti dor, como se estivesse queimando minha garganta. Esperei ver algum tipo de flashback da minha vida, ou alguma luz no fim, mas tudo o que vi foi escuridão.

Permaneci na escuridão por um tempo, ouvi vozes e não entendi o que diziam. Senti o toque no meu corpo, mas foi como se estivesse dormente. E então veio a perda de consciência. Meu último pensamento foi: "Adeus."