The Hive escrita por Érwin


Capítulo 3
Capítulo III


Notas iniciais do capítulo

YAAAY, como estão? Mais um capítulo novinho, espero que gostem, boa leitura!



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Curadora, é isso que serei pelo resto dos meus dias. Não havia perspectiva de sairmos da colmeia, os governantes enviavam sondas todos os anos, e elas sempre traziam o mesmo resultado: havia radiação de mais no solo e no ar, o risco das chuvas ácidas ainda caírem e matarem ou mesmo mutarem os seres humanos ainda era muito grande, por isso não podíamos sair para fora dos portões. O que nos era permitido era, aos finais de semana, subir até a plantação superior, que era ladeada por extensos muros, ali podíamos pegar um pouco de sol e respirar  ar puro - ou o que sobrara dele -.

                Caminho até o saguão principal, e lá encontro Josh, que sorri ao me ver e vem correndo em minha direção.

—Adivinha? Eu consegui, minha área será Pesquisa Genética. -ele diz sorrindo, e eu sorrio junto. Me sinto feliz por ele, assim como me senti quando Ethan disse que havia conseguido ser Pesquisador Botânico como mamãe. Para os adultos que já chegaram aqui com uma profissão pré-definida, o funcionamento era diferenciado; eles realocavam o adulto para uma área que melhor se adequasse, e como mamãe era bióloga, acabou se tornando pesquisadora botânica. Aqui eles eram responsáveis pela botânica e agricultura, mas isso sempre a deixou feliz. - E você? Aposto que pegou alguma coisa boa também! - ele diz sorrindo.

—Sim, bem, serei uma Curadora. - digo dando de ombros e sorrindo. Entre todas as opções, essa era realmente a que eu não me importaria em passar a vida exercendo. 

—Sério? Isso é muito legal! - ele diz genuinamente feliz. - Eu sabia que você se sairia bem.

—Obrigada. - sorrio, mas uma pequena dúvida começa a crescer em meus pensamentos, e sem que eu perceba, a externo. - Mas você não achou esse teste... Fácil demais? - pergunto franzindo o cenho, e ele assente.

—Realmente, era possível perceber o que cada figura queria mostrar, quero dizer, a qual profissão pertencia. Mas Helena e Ethan já haviam nos dito, lembra? - Na verdade eu não lembrava, nunca fiz muita questão de me preocupar com o que faria, qualquer coisa estava bom, mas como vejo que ele espera uma resposta, dou de ombros.

—É, claro...- sorrio.                                                         

                Assim que chegamos aos elevadores, Josh para e olha para os pés, incerto do que fazer, então diz:

—Então, você vai fazer alguma coisa agora? - ele sorri.

—Eu... Bem, eu fiquei de encontrar Ethan, se você quiser ir junto... - digo envergonhada, pois sei que frustrei os seus planos.

—Ah, não, deixa pra lá - ele diz abanando o ar.

—Não, vamos! Ouvi ele dizendo que estão plantando uma safra de legumes diferentes, vai ser legal - sorrio, tentando o animar.

—Ah, legal... Mais tarde eu apareço por lá, certo?

—Claro, você que sabe. - assinto por fim, sorrindo.

—Até mais, Phebs. - ele diz abanando de dentro do elevador, um pouco antes das portas se fecharem.

                O refeitório ficava um andar acima da escola e da área de governo, e seguindo para o setor B, um extenso túnel leva a uma enorme plantação. Desço do elevador e parto para o refeitório, que a essas horas da manhã estava ocupado apenas pelos trabalhadores da área. Entro correndo no túnel, mas na metade do caminho sou obrigada a parar, já não havia mais fôlego em meus pulmões para que eu conseguisse correr.

                Continuei caminhando vagarosamente pelo túnel até enxergar no fim as plantas balançando de um lado pro outro, como se houvesse vento. Ao chegar mais perto, percebo que enormes ventiladores refrescam o local, e olhando para cima, enormes painéis solares enviam calor solar para baixo, como se realmente o sol estivesse vigiando as plantas. Forço meus olhos na tentativa de encontrar Ethan, mas não o encontro. Caminho por entre as plantações, ansiosa por encontrar Ethan ou pra que ninguém me pegue por aqui.

                Teoricamente eu não poderia estar aqui, mas quem liga? Bem, eu ligo. Viro em uma encruzilhada da plantação, mas ainda sim não consigo o encontrar, então paraliso ao sentir duas mãos cobrindo meus olhos e aproximando seu corpo do meu. Meu corpo todo se retesa, então em voz tremula, pergunto:

—Quem é? - me espanto ao ouvir minha voz e perceber que saiu apenas um sussurro. Como não ouço resposta, subo abruptamente  minhas mãos até as mãos do desconhecido que ainda cobria meus olhos. Tateio cegamente na inútil tentativa de descobrir quem é, pois estranhamente as mãos não eram agressivas. A culpa por estar aqui sem permissão invade meu corpo. -Por favor, eu só estava procurando por um amigo, não queria causar transtornos... - Termino em um fio de voz. Violar as regras na colmeia pode não ser uma ideia muito inteligente, já que as punições não são as mais agradáveis.

                Após o que pareceram minutos intermináveis de silêncio, ouço as gargalhadas de Ethan atrás de mim, e meu corpo novamente se retesa, mas desta vez de raiva e vergonha.  Como pude não perceber suas tão conhecidas mãos? Ao perceber que não iria me mover, ele se posiciona à minha frente ainda rindo, mas se acalma ao perceber minha expressão fechada.

—O que foi? - Ele pergunta rindo levemente.

—Você me assustou - Digo cruzado os braços, ainda sentindo o rubor em meu rosto.

—Não pude evitar, vi quando você chegou - ele sorri, dando de ombros., então estica um braço e toca em minha mão - Vem, quero te mostrar uma coisa. - ele diz por fim segurando firme minha mão e me arrastando para longe de onde estávamos. Sinto as folhas das plantações roçando meus braços, até que paramos em um ponto afastado. Em um espaço pequeno, mais ou menos cinquenta metros, vejo um gramado verde, e ao vê-la, meu coração se apertou.

                Ethan retira os tênis e deita-se na grama de barriga para cima, batendo levemente ao seu lado para que eu o acompanhasse. Fiz o mesmo, e quando meus pés descalços tocam a grama, um gemido de prazer escapa por meus lábios.

—É tão macio! - Exclamo fechando os olhos e sorrindo.

—É sim - Ethan diz, e posso apostar todos os meus dias que  ele também está sorrindo. - Deite-se, a sensação é melhor ainda.

                Obedeço prontamente e me deito ao seu lado, meu braço tocando o seus. Quase choro de emoção com a sensação da grama fresquinha tocando meu corpo.

—Céus, como eu senti falta disso!

—Eu também - ele diz. - Uma das partes boa de se ter como oficio a pesquisa botânica é isso! - ele diz me cutucando levemente.

—Por que mamãe nunca me trouxe aqui?- Pergunto levemente chateada.

—Não é como se ela não quisesse, mas ela passa a maior parte do tempo nos laboratórios, nem ela pode aproveitar ainda.

—Quem mais você trouxe aqui? - Pergunto pensando em Helena, uma de nossas amigas.

—Ninguém, apenas você. - Ele diz pegando minha mão, que estava caída ao lado do meu corpo, um gesto tão simples para nós, mas que ultimamente acordavam borboletas em meu estômago. -Hoje é um dia especial, afinal você escolheu seu oficio, como sempre compartilho o melhor de mim com você, nada mais justo do que esse presente, relembrar a época em que ficávamos deitados na grama do seu quintal observando as estrelas... A diferença é que agora não temos estrelas. -Aperto levemente sua mão, e ele sorri. - A propósito, o que você escolheu?

—Fui selecionada como Curadora. -sorrio genuinamente, e ele me acompanha.

—Estou orgulhoso de você. - Ele diz depositando um beijo em minha bochecha, e sinto meu sangue correndo todo pra lá.

                Permanecemos em silêncio por alguns minutos, ou talvez horas, era impossível saber, já que não era possível ver o sol. Podíamos sentir o calor que os painéis solares emanavam.

—Como eles funcionam? - Pergunto apontando para o teto.

—Os painéis? Bem, eles captam a luz emitida pelo sol através de outros painéis que estão acima da cobertura da grande plantação, então a energia é transformada e distribuída pela área das máquinas, e então é recebida por estes painéis e eles aquecem. Normalmente este tipo de energia é utilizado a noite, pois durante o dia usamos o calor dos espelhos que são posicionados juntamente com os painéis, e são refletidos por outros tantos espelhos, através dos dutos. - Ele diz orgulhoso por sua explicação.

—Entendo, é realmente muito bem arquitetado, e me pergunto quanto tempo antes da pior do vírus eles começaram a preparar estas instalações, quero dizer, é tudo tão bem planejado, é impossível que tenha sido feito em pouco tempo... - Acabo falando em voz alta um de minhas muitas divagações.

—Eu também penso muito sobre isso. - Ele diz pensativo- É uma coisa muito intrigante, mas creio que nunca teremos estas respostas, a menos que as procuremos, e isso é praticamente...

—Impossível - digo complementando sua frase, e ele assente.  Após algum tempo em silêncio, cada um pensando com seus próprios botões, digo - Obrigada, você sabe, por me trazer aqui. - Digo sorrindo, e ele sorri também.

—Você  sabe que eu faço tudo por você. Você é a irmã que eu não tive. - Ele diz sorrindo abertamente, e eu me forço a abrir um sorriso, mas algumas borboletas que teimavam em morar em meu estômago foram fatalmente atingidas.


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que tenham gostado, não esquece de deixar um comentário! Beijo, até logo.



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