Cyberpunk escrita por Einhasad


Capítulo 3
O Último dos Cavaleiros




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— O... que? - gaguejei. O último Grounder? Isso seria possível? - onde estão todos os outros? - perguntei. O homem, agora desmascarado, suspirou e desceu do cavalo. Afrouxou as vestes, ajeitando a pistola e a espada em seu corpo.

— Os outros? - ele sussurrou - quantas são as lendas que os cidadãos imperiais contam sobre nós? - questionou, em um tão claramente sarcástico - nunca fomos muitos. E com os últimos acontecimentos, grande parte separou-se da comunidade.

— Últimos acontecimentos?

— Ora, você acha mesmo que sabe sobre tudo o que acontece por aqui, criança? - seus olhos penetraram os meus como uma adaga afiada.

— Não, eu só... - eu estava perplexa demais para pensar em algo. Aquele homem, robusto, alto e tão jovem... - os Grounders não deveriam ser... anciões? - perguntei, finalmente. 

Os Grounders sempre foram retratados como velhos anciãos, monges, sábios... oráculos. E, aquele homem, bem... parecia ter entre vinte e trinta anos. Seus cabelos ruivos e cumpridos até o ombro, seus olhos penetrantes, seu porte físico... e uma aura de quem provavelmente já esteve em mais de uma batalha sangrenta. Ele era, de longe, a imagem menos provável de um Grounder que eu poderia formar em minha mente.

— Parece que as pessoas da cidade se tornaram alienadas, não é? - ele sorriu maliciosamente.

— Eu não me importo com quem você é - gritou Gus, logo atrás de mim - se você é um deles, nos ajude - repetiu em mesmo tom. O homem olhou em sua direção, o sorriso desaparecendo subitamente de sua expressão. Não houve resposta. O cavaleiro tirou um cigarro amassado do bolso de sua calça velha e suja e o acendeu. Gus apertou os punhos - NÃO ME IGNORE! - gritou, ainda mais alto. 

— O que um andarilho de um deserto poderia ajudar em duas crianças da cidade?

— Nossa mãe... - comecei - ela é o motivo por estarmos aqui. Já faz algum tempo em que Sigma está se espalhando por Blizzard - contei. O homem soprava a fumaça de seu cigarro em formatos de circunferências, olhando para o céu noturno e com uma mão apoiada sobre o cavalo, acariciando-o. Parecia não se importar muito com o que ouvia.

— Sigma, hein? - respondeu, subindo em seu cavalo e tomando as redeas - não posso ajudá-los - um calafrio correu minha espinha. Tão frio. Tão... seco.

— Como é? - Gus havia começado a se exaltar, os punhos fechados ainda mais fortes do que antes - você vai simplesmente recusar a nos ajudar a salvar a vida de nossa mãe?! - gritou novamente. O cavaleiro virou-se de costas sobre seu animal.

— Eu não me importo com alguém que não conheça - disse, o cavalo começando a trotar em direção oposta a nossa - eu não me arriscaria por quem pouco conheço.

— Desgraçado... - sussurrou Gus. Lágrimas corriam seu rosto. Eu queria impedi-lo de fazer qualquer coisa, mas meu corpo não se mexia. Tudo que fizemos... os planos de encontrar uma cura foram em vão? - DESGRAÇADO! - berrou Gus, pegando o bastão de fogo, ainda aceso em nosso acampamento, atirando-o em direção ao homem que, sem sequer olhar para trás, levantou uma das mãos e parou o bastão entre os dedos. 

— Qual seu nome, garoto? - perguntou.

— Não importa... você é um desgraçado. Você... seu povo... são conhecidos pela bondade, pelas vidas que salvaram...

— Da próxima vez que tentar matar alguém, é importante que saiba seu nome - respondeu, ignorando o que Gus havia acabado de dizer.

— Desculpe-o - falei prontamente, segurando Gus pelos braços - ele não teve a intenção de...

— Meu nome é Vincent - disse - um dia podemos terminar essa batalha de uma forma justa.

— Eu já disse que não me importo! - gritou Gus, com lágrimas escorrendo ainda mais pelo rosto - eu não me importo com quem você é, eu já disse!

— Chorar como crianças mimadas, acreditar em milagres, atacar pelas costas... são esses os princípios de Blizzard? - respondeu o homem, olhando de relance para nós. O bastão, agora apagado, rodopiando em suas mãos até que deixasse cair e fincar na areia fria - os Grounders não existem mais. Não somos milagreiros. Não posso curar sua mãe, garoto. Sou um guerreiro - respondeu, finalmente - e existem coisas mais importantes acontecendo, agora... não tenho tempo para lidar com bebês chorões - completou, recolocando a mascara que estava usando de volta ao rosto - Voltem para o império.  Sobrevivam! - e retomou as rédeas, fazendo seu cavalo seguir rumo ao horizonte. 

Estávamos sozinhos, de novo. Mais do que nunca, estávamos no escuro.

— O que faremos, Leah? - perguntou Gus. Seus olhos vermelhos. A última esperança que tínhamos havia acabado de escapar por nossas mãos. Tudo o que pensávamos sobre aquele povoado antigo... era mentira? Não... talvez apenas não fosse mais real.

— Vamos ficar bem - respondi, abaixando-me em frente ao meu irmãozinho e abraçando-o - Vamos sair dessa. É só uma aventura seguinte, não é mesmo? - confortei-o. Ele apertou-me com força e conteve o choro o máximo que pode.

— O que faremos? - ele repetiu.

— O que já deveríamos ter feito há mais tempo - respondi, levantando-me - vamos procurar o papai.

 


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