Sekai no Sozokujin: Herdeiros de um mundo -revisão escrita por SabstoHoku, FrancieleUchihaHyuuga


Capítulo 35
Laços Partidos.


Notas iniciais do capítulo

PESSOAAAAL! E, depois de um ano e 10 meses de história, o último capítulo dessa temporada está aqui!

Nos desculpem pela enorme demora, sério. Apesar do final já estar planejado há muito tempo, foi difícil (e doloroso) escrevê-lo dessa forma.
Obrigada por tudo, por todos vocês que nos acompanharam até aqui e (esperamos!) irão nos acompanhar até a próxima temporada, para o fim dessa jornada. Quando SNS começou, nunca imaginariamos que chegaria onde está hoje, com quase 5.000 acessos e com leitores tão maravilhosos quanto vocês. Não seríamos nada, meus amores, se vocês não estivessem aqui conosco durante todo esse tempo.

Nossos sinceros agradecimentos à todos vocês, e espero que gostem!

Sem mais enrolação, boa leitura!

( https://youtu.be/3BHorVWdugM ) recomendo que acessem, pra quem curte ler com música :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/671633/chapter/35

"Entre as estrelas eu conheci você

Seria bom se encontrássemos os sentimentos que tivemos uma vez

Mesmo que eu chore pelo passado ao qual não posso voltar

Ele renascerá e certamente brilhará amanhã"

—Rokutousei no Yoru, Aimer.

Sasuke foi o primeiro a ir embora. Ouviu-se por aí que ele saiu ao raiar do sol, carregando Boruto consigo. Havia saído de casa em silêncio, nesse mesmo silêncio entrara na casa dos Uzumaki, e sem rodeios acordou Boruto. “Você não queria treinar? Vamos treinar.” Logo os dois haviam partido. Sem paradas, sem conversas, sem tempo de despedidas para ambos os lados. Apenas silêncio e distância. E a enorme incerteza sobre quando eles iriam voltar.

A vila comentava sobre o incidente. Era um escândalo. Espalhavam-se boatos de que a sobrinha de Uchiha Sasuke, Uchiha Toshiko, havia se tornado e morrido como uma traidora pelas mãos da filha do próprio Sasuke, Hitomi. Boatos. Nada era confirmado pelo Hokage.

Quanto às pessoas?

Mirai se revoltara; conhecia bem demais a melhor amiga para acreditar em algo como aquilo. Karin repentinamente sumiu após a perda da filha. Voltara a trabalhar para Orochimaru, ao menos era o que falavam. Hitomi não fora mais vista. Hokuto?

Bem…

Não se ouvia falar de Hokuto. Mas eu, narrando essa história, posso dizer o que acontecia à ela.

Hokuto se destruía, se construía, montava e desmontava de dentro para fora. Hokuto conhecia alguém que nunca havia conhecido dentro de si mesma. E o arrependimento tomava conta de quem um dia fora.

Pois ela não falara, fora fraca, não impediu. Tornou-se a desgraça das pessoas que mais amava. E agora não tinha ninguém. Seu irmão não tinha previsão de volta, seu pai nunca estivera tão ausente, sua mãe parecia distante mesmo quando a abraçava, numa fraca tentativa de lhe consolar. Sua melhor amiga carregava uma ferida tão aberta na alma que provavelmente nem suas habilidades seriam capazes de fechar. E ela mesma sabia muitíssimo bem como era essa ferida, afinal, carregava uma bem parecida consigo.

—--------------------

Ela vai embora pela manhã, 'ttebayo. Achei que gostaria de saber.  -Talvez essa tenha sido a primeira frase que a menina de cabelos rosados verdadeiramente ouvira em uma semana. Tinha consciência de que era a voz do pai que vinha detrás de sua porta, só não sabia como ele poderia saber que a filha permanecia acordada àquela hora. Ultimamente Naruto só aparecia em casa de madrugada, e voltava para sua sala poucas horas depois. Aquele dia não fora diferente, já que ele aparentemente havia acabado de chegar, e, quando Hokuto olhou para o relógio pendurado na porta do quarto do irmão, descobriu ser 02:40.

—Tá. -Respondeu, suspeitando que sua resposta soara muito mais arrogante e mal-educada do que realmente deveria ser. Após isso, ouviu os passos do pai se afastando rapidamente em direção ao próprio quarto. Soltou um suspiro decepcionado. Ao menos sabia quando veria Hitomi pela última vez, ao contrário do que acontecera com Boruto. O chamado de Sasuke e sua partida foram tão repentinas que mal pudera se despedir do irmão.

Isso se é que a menina iria se arriscar a ver a amiga. Se tivesse coragem para tal.

Resmungou algo inteligível para si mesma e cobriu a cabeça com as cobertas, preparando-se para mais uma noite sem sono, mais uma em que ficaria encarando o escuro e remoendo montes e montes de coisas em sua mente até que estivesse cansada demais para fazer até aquilo. A garota se mexeu, virando-se para o outro lado, ainda mais inquieta. Tudo o que queria naquele momento era, ao menos, uma das gracinhas ou até um dos xingamentos do irmão em relação ao pai. Até mesmo a mera imagem de Boruto adormecido perto dela acalentaria um pouco o que sentia naquele momento.  

Mas que droga, por quê não havia dito quando ainda podia? Deixaria tudo mais fácil, não? Sasuke não teria ido embora com seu irmão. Toshiko estaria viva. Hitomi talvez fosse embora, porém não iria passar daquilo: alguns anos de distância física, que nada se comparariam com a distância que afastava os três agora.

—Pai idiota, 'ttebane. -Murmurou, talvez em busca de ter algo a mais do irmão consigo. Boruto vivia murmurando aquilo aos quatro cantos do mundo. Porém, ouvir o som da frase saindo de sua própria boca lhe soava estranho, mesmo que tivesse sido sincero. Parecia que ela tentava roubar algo do irmão…

Sentiu a ardência subindo por sua face, prestes a tranformar-se em lágrimas, e tratou de enfiar o rosto no travesseiro, negando-se àquilo. Era realmente uma fraca, se mesmo aquela mínima frase era capaz de fazê-la chorar. Se fosse para chorar, que chorasse ao relembrar o terrível grito e as mórbidas cenas que presenciara naquele dia, incapaz de soltar um som sequer, culpada de todas as possíveis formas, e não apenas por uma lembrança do irmão. Boruto estava bem, mesmo que a menina não soubesse onde ele estaria… tinha que acreditar nisso.

Era Hitomi quem precisava dela, ao menos por hora. Precisava de seu apoio, sua despedida, e, acima de tudo…

De sua sinceridade.

—--------------------

O dia estava cinzento e ameaçava chover a qualquer momento quando Hokuto saiu de casa, um pouco depois do pai. Era cedo, não mais que sete horas, porém as nuvens carregadas que pareciam atrasar o nascer do sol faziam do começo da manhã quase uma madrugada. Os cabelos rosados da menina estavam soltos, inúmeros fios caindo em seu rosto; não havia se preocupado muito em arruma-los. As roupas de missão tinham sido deixadas de lado e, no lugar delas, uma camiseta com o símbolo do clã e uma calça comum. O detalhe mais incomum à ela, porém, não era a falta de cuidado com a aparência: e sim a falta do comum sorriso que habitava em seus lábios.

Sentia-se péssima.

Havia se decidido na noite anterior que falaria com Hitomi antes da partida da Uchiha, embora uma parte sua argumentasse de forma gritante contra tal decisão. Porém, nenhum daqueles vãos argumentos era capaz de suprimir sua aflição maior: sentir-se sufocada pelas palavras que achava que nunca precisariam ser ditas. Palavras essas que devia à Hitomi, à Toshiko e a si mesma.

Caminhou a passos lentos até o prédio do Hokage, cabisbaixa. Não haviam muitas pessoas perambulando pelas rua naquele dia, e nenhum conhecido. Hokuto já podia prever: seria um dia indiferente e tranquilo pra população de Konoha. Ao menos para a maioria deles.

Entrou na construção vermelha e percorreu o corredor circular, sentindo seu coração acelerar a cada passo dado. Não sabia como Hitomi iria reagir; podia imaginar, mas nada era certeza. Não a havia visto depois do incidente, e isso apenas tornava tudo mais assustador. Será que a Uchiha iria entender? Será que a deixaria abraça-la, entre lágrimas, numa tentativa de juntar cacos de duas almas quebradas? Será que compreenderia sua escolha, e o porquê tudo não pôde ser diferente? Bem, não sabia. Sabia apenas que estava assustada, temendo os fatos que ela mesma teria que encarar se quisesse colocar as cartas na mesa.

Parou a alguns metros da porta e aguardou. Sabia que Naruto ainda estava finalizando os acordos da tal viagem com a mais nova, e apenas ouvir falar neles a fazia querer socar a primeira coisa que aparecesse à sua frente. Entretanto, esse não era o único motivo que a impedia de prosseguir. Aqueles dois estavam naquele escritório, e cada centímetro mais perto fazia Hokuto sentir uma dilacerante sensação dentro de si. Estava ficando mais forte, e sabia disso. Ficara mais forte desde aquela noite.

Vinte minutos depois, Naruto saiu, talvez para pegar papéis sobre a transferência da Uchiha. O homem mal olhou para a filha; tinha o pescoço curvado, os olhos baixos e com olheiras, e seguiu pelo lado contrário ao que Hokuto estava. A menina aproveitou a brecha e entrou, sem fazer questão de ser silenciosa.

—Hokuto… -Hitomi murmurou, surpresa, ao ver a amiga entrar. Bem diferente de Hokuto, a menina vestia o completo uniforme de missão e, surpreendentemente, tinha os cabelos pretos e lisos presos num firme e perfeito rabo-de-cavalo. Nada denunciaria o seu estado emocional se não fossem as olheiras (que tinham sido cobertas com maquiagem, em vão) e seus próprios olhos. Nos profundos ônix, Hokuto podia ver quão fragilizada a amiga realmente estava.

—Hitomi. -Sua voz tremia, e sentia que suas mãos também. Levantou os olhos azuis para a amiga e a encarou. Hitomi tentou sorrir, curvando os lábios em uma fina linha, porém, pela primeira vez, Hokuto não parecia ter forças para retribuir. E, dessa forma, realmente não houve sequer um indício de sorriso na face da Uzumaki.

—Você está péssima. -Disse. Hitomi, agora, se parecia muito com a mãe quando mais nova; estava sentada numa das cadeiras localizadas na frente da mesa do Hokage, e tinha as mãos juntas em cima de seu colo. Seu tom de voz estava até mais baixo, Hokuto pôde notar.

—Estou. Eu sei que estou.

—Parece que não dorme tem algum tempo.

—Não durmo mesmo. - "Ao menos meu rosto está sendo sincero, afinal" pensou, porém guardou o comentário para si mesma.

—E passa suas noites como?

—Como as suas. -Respondeu, e demorou um pouco até que percebesse que a resposta havia saído muito mais agressiva quanto deveria ser. O projeto de sorriso de Hitomi sumira. Suspirou. -Madrugadas em claro remoendo coisas e me sentindo horrível, 'ttebane.

—Sei. -A menina encarou as próprias unhas para então continuar, numa triste convicção. - Mas os motivos não são os mesmos.

"Eu não teria tanta certeza"

—Himi…

—Eu vou hoje. Você sabe, não sabe?

—Sei. E foi por isso...

—Logo daqui a pouco.

—Eu sei, mas na verdade…

—Hoku. -A morena interrompeu novamente, e encarou a Uzumaki de forma séria. - Vão ser dois anos.

Aquilo a atingiu em cheio; mais um baque. Sentiu o coração se apertar, agoniado. Alguns meses até podia entender, mas anos? Anos em um treinamento no qual Hitomi mal queria ir?

—Dois… anos?! -Balbuciou. Hitomi concordou com um gesto de cabeça, exibindo um olhar baixo.

—O seu pai..

—O Hokage. -Hokuto a cortou, sua voz expondo a mágoa que guardava. Hitomi concordou com um gesto de cabeça, antes de continuar.

—O Hokage me disse que talvez possa ser um pouco o mais. Depende do meu progresso.

—Você…

—Eu vou me esforçar. -E, novamente, Hokuto sentiu aquela incômoda dor em seu peito. A dor que lhe dizia para ser franca, e, ao mesmo tempo, para deixar aquilo para lá e poupar Hitomi e a si mesma. Mas isso não seria, por acaso, contra seus próprios princípios? Contra seu pensamento de que "Amigos não mentem"? Colocou uma das mãos sobre o peito, numa tentativa vã, e retomou seu olhar baixo. Ouviu Hitomi suspirando.

—Você não apareceu no enterro.

—Eu não conseguiria ir, 'tebbane. -Respondeu, com seu olhar ainda voltado para ao chão.

—E eu sim?

—Você foi?

Hitomi permaneceu alguns segundo em silêncio, hesitante, antes de responder:

—Não.

—Então como sabe que não fui?

—Eu presumi.

—Sei. E quais os motivos que você teria pra presumir, 'ttebane?

—Eu só… presumi. -A voz da morena tinha abaixado um tom; uma estranha tensão circundava o local, e se a rosada se concentrasse um pouco, apostava que poderia até mesmo vê-la. Só naquele momento Hokuto estranhou o fato do pai ainda não ter voltado da tal suposta busca de documentos, e encarou Hitomi de forma curiosa.

—Você estava lá.

—Você também.

—Depois.

—Eu sei.

Mais uma pausa. As duas se encaravam. Hitomi levantou uma sobrancelha.

—Seus olhos estão mais azuis.

—Os seus estão mais escuros.

—É o sono.

—Não seria a falta dele, 'ttebane?

—Talvez. -Um suspiro exasperado; era a vez de Hitomi dirigir seu olhar ao chão, talvez para esconder a dor que iria transparecer por ele ao falar a próxima frase - dor essa que, para Hokuto, já era bem aparente. -Quando… quando ele vai voltar?

Hokuto se aproximou mais um pouco, observando a amiga, respirando fundo. Não aguentava mais aquilo, aquela sensação, a confirmação de que elas não eram mais as mesmas. As mesmas do início, da missão, da conversa, das promessas. E, mesmo sem palavras, Hokuto sabia que algo havia se desgastado ao longo do tempo. Algo que, no inocente e peculiar começo, ela esperava que fosse se fortalecer. E seu maior temor, agora, era que a despedida fosse parti-lo de vez.

—Eu não sei…

—Espero que não demore...

—Eu também espero.

—Isso não deveria ser uma despedida, deveria? -Soltou, finalmente, a Uchiha. Hokuto fungou.

—Não é.

—Então o que é?

—Um acerto.

—De contas?

—De vidas, dattebane.

—Sabiamos que esse dia chegaria?

A mais nova fechou os olhos de forma apertada. Contou mentalmente até três, ciente de que a amiga provavelmente estranhava aquela atitude.

—Himi… Eu estava lá.

—Onde?

—Na luta.

Por um instante, o mundo pareceu parar de girar. Hokuto parou de ouvir a lenta respiração da amiga. Hitomi prendera o fôlego ao ouvir aquela frase, a Uzumaki sequer precisava olha-la para saber.

—Você... Chegou no fim?

A rosada abriu os olhos, porém não os direcionou à outra menina. Agarrou o próprio pulso; que agonia insuportável.

—Não. -O nó em sua garganta pareceu ficar maior. Não podia, mas deveria. Precisava falar. -Eu estava lá desde o início.

—Como assim você estava desde o início?

—Eu... -A garganta da rosada travou. As palavras pareciam recusarem-se sair de sua boca. Mas ela precisava falar, precisava fazer o que não teve coragem; aquilo era uma dívida com a Uchiha. Respirou fundo, mais uma vez. - Eu sabia. Eu via, Himi, aquilo... Aquilo que estava com ela.

—Aquilo o quê? -Hitomi engoliu em seco. Hokuto sentiu as mãos tremendo, vislumbrava em Hitomi algum tipo de conhecimento. Ela sabia também. Seu Byakuringan deve tê-lo visto durante aquela luta... Mesmo que de outra forma.

—Uma energia diferente... Unida à dela. Maligna, corroendo, mudando, rompendo. Desde a nossa volta da missão, 'ttebane. Devia ser isso que...

—E não me contou? -Apenas naquele instante, a rosada pôde compreender o tamanho da cratera que estava lentamente se abrindo entre as duas, e a fina camada que ainda as impedia de cair. A voz da morena, cruelmente, conseguia parecer ainda mais frágil que aquela minúscula proteção, durante aquela pergunta. Ferida. Sentiu seu estômago revirar, a ânsia subindo até sua garganta. Não…

—Eu não podia... Eu... Hitomi...

—Por quê não podia? -Hitomi fungou. Hokuto ainda não tivera coragem de levantar os olhos para a amiga.

—Eu não…

Você não queria?

—Eu queria!

—Então porquê não contou?! -Explodiu, finalmente, a menina, levantando-se da cadeira. Hokuto recuou um passo. -Porquê?

—Não podíamos ter feito nada, 'ttebane!

—E como você sabe?! Você sempre sabe de tudo, não é? Porquê, porque é sempre você?!

—Eu ia te falar!

—Então me responde! Porquê não falou?

—Eu não podia!

—E porquê?!

—Eles não me deixaram! Me disseram…

Eles?

—Nossos pais.

—ELES SABIAM?

—Uma semana depois do jantar… Quando Toshiko se isentou das missões… Eu vim até aqui. Tio Sasuke foi chamado, e eu contei.

Hitomi a encarava, incrédula.

—Sobre tudo? Sobre o que via? A energia?

—Não.

Não?

—Eu não conseguiria, 'ttebane. Eu estava…

—Com medo. - Completou a Uchiha, e Hokuto finalmente levantou a cabeça. Os agora raivosos olhos ônix colidiram com os arrependidos azuis-céu, e, com dor no peito, Hokuto finalmente sentiu aquela camada se romper. Estavam caindo, uma queda longa e veloz, rumo àquele abismo escuro. E nenhuma das duas sabia se havia um caminho de volta. A Uzumaki acenou afirmativamente com a cabeça. Cartas à mesa. A confirmação pareceu ter apenas expandido a raiva de Hitomi, que exibiu, além de olhos magoados, uma feição raivosa.

—Me disseram que era melhor não contar, mas eu iria, eu juro… Não tive tempo, 'ttebane. Não queriam te preocupar, Hitomi. Não queriam te envolver.

Não queriam me envolver? Jura? Pois bem, acho que o plano fracassou! É até mesmo engraçado! Não queriam me envolver, mas ontem foi o enterro da prima que EU matei! Porquê eu não fazia ideia do que estava acontecendo, enquanto TODO MUNDO à minha volta me escondia a informação que poderia salvar a vida dela!

—Eles disseram que iriam investigar…

—Isso não me importa! Não me importa o que eles disseram, não me importam as regras, mas me importa que Toshiko está morta, talvez houvesse uma forma de evitar, ela estava nas suas mãos, na porra desses seus olhos malditos, mas você não fez NADA! VOCÊ NÃO FOI CAPAZ DE FAZER NADA, PORQUÊ TEM MEDO, TEM MEDO DE SI MESMA E DO PODER QUE PODE TER! ELA MORREU, MORREU HOKUTO, POR SUA CULPA! -Ela fez uma pausa, respirando de forma pesada e pausadamente. Estava suando, alguns fios negros grudados em sua testa e na lateral de seu rosto. A aparência perfeita havia sido quebrada juntamente com aquele delicado gelo que as segurava. Uma expressão fragilizada marcava seus delicados e bem-desenhados traços, que misturavam perfeitamente o melhor do rosto dos pais. Apesar disso, porém, tudo o que os olhos escuros expunham à Hokuto era a descrença, a raiva e a dor. Sentia-se traída, culpada pelo que havia acontecido, e a rosada sabia disso. Porém, toda aquela culpa interna agora era direcionada à Uzumaki e a fazia sentir como se alguém cravasse profundamente uma kunai em uma ferida ainda aberta; bem, não deixava de ser isso. O que mais a machucava, afinal, não era ouvir aquelas palavras, e sim ter consciência de que eram verdadeiras, e, acima de tudo, aceitá-las. - Eu tive… eu tive que fazer aquilo… EU PENSEI… PENSEI QUE PODERIA CONFIAR EM VOCÊ! Se você tivesse falado para mim… Eu poderia ter buscado um jeito… Eu poderia… Eu poderia... Aquelas eram minhas mãos… mas são as suas que o sangue dela mancha.

Hokuto perdeu o fôlego. Não era como se não houvesse pensado múltiplas vezes sobre aquilo. Mas aquelas palavras, sendo proferidas pela voz revoltada de Hitomi, a machucavam muito mais do apenas a voz no fundo de sua mente era capaz de fazer. E, sim, ela sabia, era sua culpa. E se Toshiko tivera alguma chance, a perdera no momento em que o medo da Uzumaki fora mais forte que seu senso de errado ou certo.

—Hitomi. -Chamou. As lágrimas agora margeavam os olhos das duas.

—Eu poderia ter salvado ela! Poderia ter encontrado um jeito, rastreado aquele chakra, EU NÃO PRECISAVA FAZER AQUILO, ELA PODERIA ESTAR AQUI, MAS NÃO ESTÁ!

Hokuto inspirou profundamente mais uma vez. A verdade era que algo dentro de si lhe alertava que não; mesmo que houvesse conseguido contar, Toshiko não poderia ter sido salva. Mas isso, é claro, era paranóia, ao menos na visão da própria.

Afinal, sempre fora mais fácil, para ela, culpar a si mesma. E fazia isso a cada dia, mesmo que ninguém soubesse.

As mãos tremiam, os batimentos cardíacos pareciam prestes a fazer seu coração pular fora do peito, os olhos estavam marejados, a boca seca, e, mesmo dessa forma, mais demonstrativa e emocional do que jamais pensara ser, a Uzumaki não sentia-se verdadeira.

Hokuto precisava explodir. E isso aconteceria, inevitavelmente, mesmo que não fosse ali.

—COMO VOCÊ ACHA QUE FOI PRA MIM? -A Uchiha continuava a gritar, finamente colocando para fora toda a mágoa e dor sentidas. Fechou os olhos, apertando-o com força. -COMO ACHA QUE ME SENTI, SUA IDIOTA? ME CULPEI E ME CHAMEI DE FRACA VÁRIAS VEZES, MAS ELA MORREU PELA SUA FRAQUEZA, PELO SEU MEDO IDIOTA! ELA MORREU! MAS O QUE EU SIGNIFICO, NÃO É MESMO? O QUE ELA SIGNIFICAVA PARA VOCÊ? PRA MIM ERA UMA IRMÃ, HOKUTO, QUE EU NUNCA TEREI DE VOLTA!

—V-você não entende, 'tteban… -Murmurou. Apenas queria que aquilo parasse.

—EU NÃO ENTENDO? -Ela riu. O tom de puro deboche encheu sua voz. -ACHA QUE MEU ENTENDIMENTO É TÃO RUIM ASSIM?! NÃO, É VOCÊ QUEM NÃO ENTENDE, SUA EGOÍSTA MIMADA. NÃO SABE O QUE É SE SENTIR UM FRACASSO EM TUDO O QUE FAZ, VOCÊ SEMPRE FOI A MELHOR, HOKUTO!

—Eu… o quê?! -Seus olhos se estreitaram, confusos. Ela, a melhor? Em quê?!

—NÃO SABE O QUE É NÃO CONSEGUIR SALVAR QUEM VOCÊ QUER SALVAR! NÃO SABE O QUE É… -A menina ofegou. Seu fôlego podia ter acabado, mas sua raiva, não. Sendo assim, quando continuou, apesar do tom mais baixo, era ainda mais claro o desprezo que saia acompanhando cada letra dita. - Não sabe o que é sentir uma dor tão grande ao ponto de seu próprio corpo reagir…

E, então, os olhos foram finalmente abertos. E, agora, Hitomi tinha um diferente padrão em seu Byakuringan; era uma flor, com pétalas variadas. Padrões pretos e vermelhos, típicos do Mangekyou Sharingan. O que o diferenciava, porém, eram as cinco menores pétalas centrais, pequenas e liláses.

Hokuto franziu o cenho, e suspirou. Já estava tudo ali, afinal.

Eu sei. -Murmurou.

O quê?! -A morena questionou, em tom incrédulo.

—Eu sei o que é, sim. -A menina encarou com uma inesperada firmeza o Mangekyou da melhor amiga. E Hitomi pode observar, com medo e descrença, os olhos azuis da outra se tingirem de uma cor que poderia ser descrita como ônix apenas pela falta de definição melhor. Era um escuro incomparável, nunca antes visto. Foi a vez de Hitomi recuar um passo. O olho direito de Hokuto derramou a primeira e única lágrima desde o início daquela conturbada discussão, antes da menina repetir, murmurando com desgosto e melancólia: -Eu sei.

O que antes foram orgulhosos ônix contra esperançosos azuis-céu se tornam doloridos caleidoscópios contra arrependidos escuro-piche. Uchiha contra Uzumaki, e a história se repetia de forma lenta e desagradável. Porém, era ali que o tal destino as levara; e talvez a falta do conhecimento e aprendizado dos erros passados os fizera ressurgir em seu auge como erros presentes. Talvez tivessem sido seus pais; talvez os antepassados; talvez apenas elas mesmas, que na eterna busca de descobrirem quem eram e de onde haviam vindo encontraram alguém que nunca desejaram ver e que nada lhe agradavam saber da existência.

Pois, se há ainda uma verdade que não fora falada ali, era a de que de tanto tentarem fugir dos rótulos que lhes foram impostos, haviam se cegado para o fundo de verdade compondo aquelas mentiras. Hokuto herdara muito mais do que a força bruta da mãe e a determinação do pai, assim como Boruto herdara mais que os olhos azuis e a sua teimosia, ou Hitomi com seu sharingan e seus cabelos negros. Eram herdeiros de sangue, de lutas, de guerras, de mortes, de inimigos e amigos. Eram herdeiros de tudo, herdeiros de um mundo, que ainda esperava para ser assumido por aquela despreparada geração.

—Você…

—Eu não vou te cobrar perdão, dattebane. -A rosada declarou, em um tom de voz baixo e fraco. -Mas eu vim até aqui porque não suportaria continuar escondendo tudo isso de você. Porque você é minha melhor amiga, Hitomi, e eu… eu devia isso à você. -Ela chorava. Não apenas pelas palavras que falava, mas pelo que podia sentir. E nada daquilo era bom. -Eu devia isso à ela. E eu não sei… não sei o porquê me abalou dessa forma. Não foi a culpa. Mas doeu tanto.

Hitomi engoliu em seco.

—Você acha que eu não sei?

—Não. Você sabe. E por isso eu falo. -Passos vacilantes foram na direção de Hitomi. E a cada mínima distância percorrida, mais se formava. Proporcional, como nada daquela relação jamais fora. Os olhos de Hokuto transformaram-se novamente em azuis na mesma rapidez que haviam se tornado ônix. E, agora, frente à frente, as duas meninas que choravam estavam tão perto, porém tão longe. -E-eu só… só não quero e não posso perder você também. Por favor...

O silêncio pairou enquanto elas se encaravam. Tudo se destruiu. Todas as lembranças voltavam para em seguida caírem como castelos de areia, desfazendo-se em pó. As palavras saíram incertas, impulsivas, repentinas, e, embora não parecessem, arrependidas, e os olhos já estavam vermelhos quando forma ditas.

—Mas eu posso perder você.

E só então Uzumaki Hokuto percebeu que de, alguma forma, já estivera perdida por todo esse tempo. Não havia mais nada a ser dito.

Silêncio. Novamente.

—Vai embora.

A rosada virou as costas. Andou até a porta e a abriu, apenas para parar estaticamente no batente. Virou a cabeça lentamente, e em meio às várias lágrimas o sorriso finalmente surgiu. Pequeno, nostálgico e machucado.

—Eu vou sentir sua falta, Himi. Obrigada... Por tudo.

—Só… Vai embora. -Repetiu a Uchiha. E durante todo o caminho para a saída, soluços ecoaram por aquele prédio, e não apenas de um lado.

O destino começava a se cumprir. E o passado repetia-se, da forma que todos temiam. Uchiha e Uzumaki estavam, novamente, em lados opostos, um único caminho dividindo-se em dois, em três. Lágrimas escorriam, e olhares perdidos encaravam o horizonte, incertos sobre o futuro.

Embora isso aparentasse ser o fim, era também um recomeço. Pois, entre todas aquelas coisas que os separavam, havia ainda uma coisa que permanecia, o que os unia desde a primeira vez.

Juntos, entre e após tudo, pelas diferenças.

—-------------------

Em breve:

Sekai no Sozōkujin: Laços mais que eternos.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por tudo, pessoal!!! Amamos vocês!!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sekai no Sozokujin: Herdeiros de um mundo -revisão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.