Sekai no Sozokujin: Herdeiros de um mundo -revisão escrita por SabstoHoku, FrancieleUchihaHyuuga


Capítulo 31
Flashback: O passado e as flores da primavera.


Notas iniciais do capítulo

HELLO FROM DE OTHERSIIIIIIDEEEE!
OI PESSOAL!
Desculpem a demora pra esse capítulo. Queríamos que ele ficasse uma coisa fofinha e bonitinha que mostrasse bem como é a relação Toshiko/Hitomi. O pq de estarmos dando foco nisso? Façam seus palpites :v
E siiimm, esse capítulo é um flashback, pelo menos em sua maior parte. Nos comentários do último capítulo eu disse à vocês que seria algo que ninguém iria esperar nessa altura do campeonato (lembrando, agora são só mais 7 capítulos para acabar a primeira temporada :3 ), e está aí, um flashback de nove anos antes. Por essa vocês não esperavam!
Espero que gostem ❤
Beijão, e boa leitura! Amamos vocês ❤



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Um clima silencioso e calmo envolvia Konoha naquela manhã. Toshiko tinha os cabelos ruivos colados na testa e a camiseta encharcada devido ao suor. A garota, de apenas nove anos, estivera treinando desde que o sol despontara no horizonte, com dedicação e ansiedade que mal cabiam no peito. As provas da academia logo se iniciariam, e essa era a chance da menina de provar o quão boa poderia ser; se formaria mais cedo e se tornaria guennin antes do restante de seus colegas.

Ao menos esse era seu objetivo

—Toshiko! -A voz despertou a menina de seus devaneios, e a fez olhar para a porta da frente da casa, onde Karin parecia esperá-la. Deu um leve sorriso e fez um gesto com a cabeça, como se perguntasse “O quê?” - Vem tomar café, filha. -As últimas palavras foram ditas de maneira doce, e finalizadas com um sorriso orgulhoso que só uma mãe poderia dar. Toshiko não evitou sorrir também, e caminhou rapidamente até a casa, entrando e sentando-se de súbito em frente à mesa. Ela encarou a mãe por um instante.

—Você vai sair? -Questionou, observando as roupas que a mais velha vestia: Em nada pareciam com as que ela costumava usar em casa.

Karin sorriu com a pergunta; achava engraçado a maneira com que a voz da filha ainda era aguda, infantil, porém já demonstrava preocupação e maturidade.

—Vou sim. Juugo e Suigetsu me chamaram, pelo jeito precisam de alguma ajuda em um dos esconderijos. -Confirmou.- Bem, não é como se aqueles idiotas um dia tivessem sabido fazer algo direito. -Falou a última parte com um tom mais baixo, talvez desejando que a filha não a ouvisse, porém sem sucesso. Toshiko soltou uma risadinha. Não era incomum ver a mãe reclamando dos colegas, principalmente de Suigetsu, cujo ela insistia em dizer que odiava com todas as suas forças toda vez que o citava. A menina sabia que não era bem assim, mas não se intrometeria nos assuntos dos adultos.- Não tem problema pra você, certo?

A resposta veio com um aceno de cabeça; Mas é claro que não. A menina podia considerar-se até mesmo acostumada a ficar sozinha em casa. Não que Karin fosse uma mãe desnaturada, apenas confiava na filha, e tinha consciência de que a menina sabia se cuidar. A mais velha sorriu, sentando-se também, e comendo com calma seu café da manhã. A presença da filha era silenciosa, porém reconfortante, e gostava de aproveitar o quanto podia. Sempre tentava estar em casa, para que pudesse acompanhar todo o crescimento de Toshiko, sem que perdesse nada. Queria ser a mãe que, em certo ponto, fora tirada de sua vida. Ninguém machucaria sua filha da mesma forma que ela fora machucada.

Se despediram logo após o café, que não durou muito, e então Toshiko mais uma vez encontrou-se com a casa inteira pra si. A menina olhou em volta: O que poderia fazer? Não costumava gostar de nada que passava na televisão, e a casa já parecia estar organizada o suficiente. Não era uma boa ideia sair pra treinar naquele momento; tinha que admitir que já estava exausta. Então, após pensar um pouco, decidiu estudar pela milésima vez os poucos arquivos que tinha sobre o clã Uchiha. Talvez notasse algo diferente. Era o que ela repetia pra si mesma toda vez, numa esperança inquebrável de conseguir descobrir algo além do básico sobre o clã - e, particularmente, sobre o pai.

Havia acabado de dar seu primeiro passo em direção ao andar superior quando ouviu a campainha tocar. Um ruído alto e estridente, que ela nunca admitiria odiar, apesar de ser verdade. Retrocedeu, e então encaminhou-se até a porta, abrindo-a lentamente. Os tempos eram de paz, mas ainda assim haviam motivos para desconfiança, e não eram poucos. Observou a mulher que surgiu aos poucos: os cabelos longos e preto-azulados, as roupas em um tom bonito de lilás e olhos perolados. Os braços delicados, porém fortes, seguravam uma criança envolta em um cobertor, para protege-la do clima frio.

—Oi, tia Hinata. -Cumprimentou, e a mulher fez questão de apresentar seu belo sorriso doce.

—Oi, Toshiko. -Respondeu, de forma ainda mais calma. Toshiko fitou uma parte do rostinho da prima adormecida. Hitomi estava prestes a completar 4 anos, e por sorte ainda era fácil carrega-la no colo.

—Não quer entrar? -Questionou a menina, porém a ex-Hyuuga negou com a cabeça.

—Sua mãe está?

—Não. Ela acabou de sair. -A perolada suspirou em reação à resposta, lançando um rápido olhar por cima do ombro que não estava servindo de apoio para Hitomi. Toshiko debruçou-se um pouco para o lado, para que pudesse olhar por trás da tia, e observou o lado de fora. Ali, mais ao longe, pôde ver uma figura parada. Era um homem, um rosto sério e anguloso, provavelmente com a mesma idade que Hinata, usando uma capa preta. Os cabelos negros e lisos iam até os ombros, e eram repicados, como se há muito estivessem sendo cortados de forma caseira e levemente desajeitada. No lado esquerdo, uma longa franja cobria parte de seu rosto. Ele também olhava para ela, mas de forma diferente. Parecia analisá-la. Os olhos ônix se encararam durante um instante,ambos curiosos e muito parecidos, até que a menina resolvesse cortar tal olhar, para que pudesse voltar a se focar na tia.

—Tudo bem… Obrigada, Toshi. -A mulher começou a se virar, prestes a ir embora, até que a menina exclamasse:

—Eu posso cuidar dela! -Hinata parou onde estava, e olhou para a sobrinha. -Era isso que ia pedir pra minha mãe, não era?

—Tem certeza?

—Tenho. -Sorriu. -Pode confiar, tia Hinata. A Himi vai ficar bem.

A morena sorriu novamente. A sobrinha era nova, porém falava com tanta segurança que poderia convencer qualquer um do que dizia. Hinata tivera muitas experiências que a faziam acreditar que crianças podiam ser muito maduras, mesmo que cedo.

—Certo. -Concordou, o que fez o sorriso da ruivinha alargar-se ainda mais. -Eu vou sair em missão, e Sasuke vai me acompanhar. Não ficarei muito tempo fora, então não precisa se preocupar. As coisas dela estão aqui. -Hinata entregou uma bolsa de tamanho médio à sobrinha, que a deixou no chão com cuidado logo após. -Ela normalmente não dá trabalho pra comer nada. Não a deixe perto de nenhuma tomada, e nem de algum tipo de tinta. É provável que ela pinte a casa toda, além de si mesma, e talvez você. -A morena deu uma risadinha e entregou com cuidado a filha, dando um beijo de despedida na testa desta, que se mexeu com tamanha movimentação repentina, porém por sorte não despertou. Toshiko ajeitou a criança nos braços, fazendo com que Hitomi ficasse na mesma posição em que estava no colo da mãe, com a cabeça apoiada em um de seus ombros. - Qualquer coisa, ligue para mim, ou para Sakura. Eu volto mais tarde. Obrigada, e se cuide, Toshiko.

—Sim, tia. -Concordou, e Hinata sorriu, nem imaginando que a ruiva não havia se atentado a sequer uma palavra desde que o nome de Sasuke fora citado.

“Sasuke… Uchiha Sasuke… o pai da Himi… Então aquele é meu tio?”

A Uchiha fez novamente seu olhar saltar de Hinata para Sasuke, que continuava parado no mesmo lugar. Dessa vez, porém, Hinata pareceu notar, e sorriu de uma forma compreensiva para a menina.

—Ele também quer te conhecer. -Garantiu, lançando a ela uma piscadinha cúmplice. Toshiko acenou com a cabeça, fazendo um sinal de confirmação.

—Tchau, Toshiko. -Hinata sorriu, virando-se para ir embora, puxando a porta consigo.

—Tchau, tia. -Respondeu, no exato instante em que a porta foi fechada. Caminhou até o sofá e deitou Hitomi ali, ajeitando os cobertores, e sentou-se ao lado da menininha, observando-a dormir tranquilamente.

Tudo bem, o que faria agora?

“Não seria uma boa ideia ficar no escritório… Ela pode acordar…”

Mas só uma escapadinha não tinha problema, não é? Iria ser rápido.Subiria, pegaria os arquivos e desceria novamente, voltando ao exato lugar onde estava, para pudesse lê-los sem que saísse de perto da prima. Colocou almofadas em volta para que a mais nova não rolasse até o chão nesse curto período, e quando concluiu que tudo estava no lugar se permitiu subir rapidamente para o escritório para pegar os pergaminhos.

Sequer cinco minutos haviam se passado quando finalmente voltou com os arquivos, descendo a escada de forma apressada e levemente desajeitada. Suspirou de forma aliviada ao chegar ao andar de baixo, e caminhou até o sofá, sentando-se. Foi só aí que viu: Os cobertores de Hitomi agora estavam vazios. Arregalou os olhos, jogando os arquivos para o outro lado do sofá e levantando-se.

—Himi? Hitomi? Hitomi, cadê você? -Questionou, em voz alta, sem receber resposta. Olhou em volta. Como aquela criança havia conseguido se deslocar tão rápido?

“Tudo bem… Ela tem só três anos, o que vai poder fazer?”  

Sua resposta veio logo, e consistiu num leve som de algo sendo arrastado, vindo da cozinha. Não pôde esperar sequer mais um segundo: correu até a cozinha como se sua vida dependesse disso (e, na realidade, talvez dependesse), quase escorregando ao adentrar o cômodo. Não precisou de muito para descobrir o que estava acontecendo; Hitomi estava sentada no chão, as mãozinhas firmemente agarradas à uma ponta da toalha de mesa, puxando-a, com algumas das coisas do café ainda em cima. Toshiko parou, não sabendo se ria ou se dava uma bronca na menina, e colocou as mãos no quadril.

—O que você está fazendo? -Questionou. Não que esperasse alguma resposta complexa. A menina virou a cabeça, parando instantâneamente de puxar a tal toalha.

—Fome, Toshi. -As mãozinhas soltaram-se da toalha, apontando para cima da mesa.

“Ela poderia ter subido em alguma cadeira…” Seu olhar voou para cima da mesa, analisando a altura e os possíveis danos que uma criança sofreria caso caísse dali. “Foi melhor assim, mesmo.”

—Fome. -Repetiu, agarrando novamente a toalha, prestes a puxá-la novamente.

—Não! Não! Tudo bem, eu já entendi! -Caminhou até a prima e a pegou no colo, sentando-a em uma das cadeiras, e arrumou novamente a toalha. -Eu já vou resolver isso. Fica aqui.

—Tá. -Suspirou de forma aliviada com a confirmação, e virou-se para um dos armários, abrindo-o.

—Você gosta de cereal?

—Cereal! -Exclamou Hitomi, o que Toshiko interpretou como um “Sim”.

—Tá, então vai ser cereal. -Pegou a caixa de cereal, juntamente com um pratinho e uma colher, e os colocou em cima da mesa, numa distância em que Hitomi não alcançaria, apenas por garantia. Foi até a geladeira, pegando o leite, e em seguida voltou até o móvel. Encarou a prima sentada, os olhinhos ônix fixos no cereal, e suspirou. - Quanto é que você come?

A mais nova não respondeu o questionamento e, sendo assim, Toshiko encheu o pratinho apenas até a metade de leite, e fez o mesmo com o cereal. Empurrou o prato e a colher em direção à menina. - Pode comer.


Hitomi deu um sorriso infantil, e pegou a colher, comendo com gosto todo o conteúdo do prato, por sorte, não derramando e nem derrubando nada. Toshiko observava a garotinha, talvez com certo receio de perdê-la de vista novamente. Assim que terminou, Hitomi fez questão de empurrar o pratinho para o outro lado da mesa, ao alcance da prima, ou até onde o comprimento de seus bracinhos chegavam sem que precisasse ficar em pé na cadeira. A ruiva pegou o prato, puxando-o para si, prestes a levantar para poder levá-lo até a pia, até que Hitomi fez um gesto de discordância com a cabeça.

—O que foi? -Questionou, curiosa. A menina apontou para a caixa de cereal.

—Não pode levar. Quero mais.

—Hã?!

“AGORA VOCÊ APRENDEU A FALAR CERTO?!”

—Você só colocou metade, Toshi. -Acusou, cruzando os braços e inflando as bochechas, numa expressão que parecia tudo, menos brava.

—É justo. -Concordou, repetindo o processo pratinho-leite-cereal. Deu novamente o prato a Hitomi, que deu quase-pulinhos e atacou o cereal. Minutos depois, já não havia mais resquício de cereal algum no prato. Hitomi empurrou a vasilha de volta à prima.

—Mais. -Pediu. Toshiko olhou-a, surpresa.

—O que?

—Mais. -Reforçou.

“Mas onde é que ela arranja tanto apetite?”

—Não. Você já comeu cereal demais.

—Toshiii... -A menina cruzou novamente os braços, fazendo uma expressão de “cachorrinho que caiu da mudança”, os olhos negros se enchendo de lágrimas- Eu quero!

— Não Hitomi, você já comeu. Duas vezes.Sem mais cereal. -Foi o que bastou para a moreninha começar a chorar desesperadamente, sem parar sequer para respirar direito. Não era um choro verdadeiro, é claro, porém Hitomi sabia como conseguir as coisas, e possivelmente não pararia até que conseguisse. Os ouvidos de Toshiko já estavam  começando a doer com barulho, e ela bufou, nervosa, finalmente resolvendo se render à menina. -Tá, mas só dessa vez.

Repetiu o processo, colocando a mesma quantidade de comida, e empurrou o prato de volta para Hitomi, que sorriu de forma vitoriosa e atacou o doce como se estivesse comendo-o pela primeira vez, e Toshiko olhava para ela, impressionada. Tinha visto muita coisa nos seus nove anos de vida, mas uma criança que comia como Hitomi era novidade.

A mais nova terminou seu prato, empurrando-o de volta à prima. Tinha restos de leite acima dos lábios, formando um “bigode”. Toshiko soltou uma risadinha ao notar esse detalhe.

—Mais! -Hitomi pediu novamente, soltando uma risada infantil.

—Não. Nada de “mais”. Acabou. Chega de açúcar.  -Disse, e antes que a pequena pudesse protestar pegou o prato e levou-o até a pia, dando as costas para a menina. Ouviu-a mexer em alguma coisa em cima da mesa, muito provavelmente um talher, mas não se atentou. Arrumou a mesa, tirando tudo que podia de cima. Por sorte, enquanto isso acontecia, Hitomi continuava sentada na cadeira, tão silenciosa quanto uma criança de três anos poderia ser. Após isso, pegou a prima pela mão, levando-a até sala.

—Fique aqui. Vou ver se tem alguma coisa pra você brincar. -A menina confirmou com a cabeça, sentando-se no tapete e brincando calmamente com algo que parecia ser um garfo -que possivelmente havia pego na mesa. Toshiko estava começando a gostar daquilo. Virou-se e andou em direção ao sofá, em busca da bolsa onde as coisas da prima estavam, até então não parecendo perceber nada de errado.

“Ela estava… com… UM GARFO????????” O pensamento a atingiu como uma shuriken. Virou a cabeça lentamente em direção à mais nova - talvez não querendo acreditar na própria falta de atenção quanto àquilo - apenas para confirmar seu temor. Hitomi havia se levantado e parecia andar em direção às uma das paredes da sala, o garfo sendo segurado firmemente em sua mão direita. “MAS QUE DIABOS…??”  Tinha certeza de que crianças -particularmente Hitomi - não deveriam brincar com garfos. Ao menos a prima não havia se machucado até aquele momento.

—Hitomi! -Exclamou, correndo até a menina e pegando-a no colo com destreza, impedindo-a de terminar seu caminho. Arrancou o garfo da mãozinha ágil da morena assim que teve a chance, olhando espantada para onde a prima estavam se dirigindo: ela possivelmente pretendia colocar aquele garfo em alguma tomada. Crianças de quatro anos ainda faziam esse tipo de coisa??? -Você tem quase quatro anos! Não pode! -Ajeitou a menina em um braço só e apontou para a tomada com o outro -É perigoso! Machuca! Não pode!

Hitomi encarou a mais velha por um momento, parecendo não entender bem o que exatamente acontecia ali. Os olhos negros pularam do rosto da prima para o garfo que até segundos atrás ela segurava.

—Não? -Questionou, sua voz ainda mais fina que o habitual.

—Não! Não e não! -Reforçou Toshiko com firmeza, sem controlar bem o tom da própria voz. Aquilo foi o suficiente para que Hitomi voltasse a chorar a plenos pulmões, assim como fizera anteriormente na cozinha. -Não adianta! Sem garfos pra você! -Levou a menina em prantos para o sofá, deixando-a lá, e foi até a cozinha para devolver o garfo indesejado, suspirando e resmungando sobre o porquê crianças tinham que ser tão curiosas, além de se perguntar como diabos sua tia conseguia lidar com a pestinha que Hitomi estava se mostrando ser. Ela sempre fora agitada, Toshiko sabia disso, não era a primeira vez que passava o dia com a prima; porém, nunca havia sido tão teimosa e atentada quanto estava sendo. A mais velha esperava com fervor que aquilo não passasse de uma fase.

Volto à sala minutos depois, aliviada pelo fato de que a morena já havia parado de chorar. Talvez tivesse entendido que aquela tática não funcionaria com a prima, e desistido de vez daquilo. Observou a menina, que dessa vez mantivera-se sentada no sofá, e tinha os bracinhos cruzados e as bochechas infladas, os olhos vermelhos​ e inchados de tanto chorar. Caminhou até lá, sentando-se ao lado dela, que virou a cabeça, evitando olhar para a mais velha. Toshiko não pode evitar uma risada. Queria ver até onde a birra da menina iria.

—Vou colocar alguma coisa pra você assistir, tá bom? -A pergunta foi feita enquanto ainda sorria, o que pareceu irritar ainda mais a mais nova. Hitomi afundou-se no sofá macio, inflando mais ainda suas bochechas. Quem Toshiko pensava que era para ignorar sua raiva desse jeito? -Do que você gosta?

A menina novamente não respondeu. Toshiko esticou um dos braços, alcançando o controle da televisão, e ligou o aparelho. Mexeu por alguns minutos, navegando entre os canais, até achar um infantil, onde passava um desenho sobre alguma menina que procurava coisas e perguntava às crianças onde elas estavam. Achou um tanto idiota, porém relevou; se era pra ensinar crianças, talvez valesse à pena. Deixou ali mesmo, e pegou com calma os arquivos do clã Uchiha que continuavam jogados sobre uma parte do sofá. Olhou para Hitomi mais uma vez, apenas para descobrir que a menina parecia esquecer a raiva aos poucos, e encontrava-se concentradíssima no desenho. Sorriu. Finalmente conseguiria ler seus preciosos documentos. Colocou-os no colo, organizando-os novamente e começando sua leitura. Hora ou outra olhava para a prima, ou a ouvia responder as perguntas que a menina do desenho fazia e cantando as músicas, sorrindo toda vez que aquilo acontecia. Hitomi parecia estar se divertindo. Toshiko sequer precisava levantar os olhos diante da situação. Ao que parecia, estava passando algum tipo de maratona daquilo, e a mais nova havia até mesmo se deslocado do sofá para o tapete apenas para ficar mais perto da televisão. A ruiva voltou a ler com afinco seus documentos; a prima ficaria bem.

—Tá aqui! -Ouviu Hitomi falar. Devia estar respondendo a garota na TV. -Tá aqui! -Toshiko soltou uma risadinha dessa vez, porém não desviou a atenção de sua leitura. -Tá aqui!! -Ouviu a prima afirmar de novo, com ainda mais intensidade, sua voz infantil elevando-se em um quase grito. Por Rikudou, o que diabos o programa estava fazendo-a achar?

—Himi, o que… -Sua fala foi interrompida pelo barulho de algo se quebrando. Levantou a cabeça, assustada, apenas para perceber o quanto fora burra por não ter prestado atenção no que a prima fazia. Hitomi escalara, de alguma maneira, parte da estante onde se localizava a televisão, e de alguma maneira mantinha-se de pé numa das partes que separavam alguns compartimentos do móvel, esticando os bracinhos numa tentativa clara de alcançar o aparelho.

—AQUI! -Disse novamente. Toshiko se levantou num pulo, espalhando os papéis que lia pelo chão e, mais uma vez, correu até a menina. Pegou-a por trás, segurando-a no colo com firmeza.

—Tá bom, chega de desenho por hoje. -Caminhou até o sofá e pegou o controle, desligando a tv. Hitomi, em seu colo, não pareceu gostar muito do ato -Fazer programa educativo de estratégia básica em batalha pra crianças ninguém faz, não é?! -Resmungou, saindo da sala e indo em direção ao corredor onde se localizava a porta de entrada.

—Pra onde a gente vai, Toshi? -Questionou Hitomi, com curiosidade.

—Vamos dar um passeio. -Afirmou. -O que acha de darmos um passeio? Passeios são bons. -A verdade era que achava que um passeio poderia acalmar a monstrinha, já que comida, programas infantis e ela mesma não haviam conseguido tal façanha.

—Passeio! -Hitomi exclamou, batendo palmas, fazendo com que Toshiko sorrisse de forma aliviada. Olhou novamente para a sala por um instante, focando em seus documentos espalhados pelo chão; Poderia ler aquilo depois, afinal. Sequer deveria ter pego. Sua atenção deveria estar voltada à Hitomi desde o início. -Vamos, Toshi, vamos! -A risada infantil preencheu os ouvidos da ruiva, e a fez rir também.

—Vamos.

—Cavalinho! -Pediu.

—Hã?

—Me leva de cavalinho! -Forçou a prima a colocá-la de volta no chão, e caminhou até às costas dessa, esticando os braços. -Cavalinho!

—Certo. -Toshiko sorriu com o pedido. Era verdade que seus braços já estavam doendo de tanto carregar a prima para lá e para cá, mesmo que ela fosse consideravelmente leve, mas não conseguiria negar aquilo nem se quisesse. Abaixou-se o suficiente para que a mais nova subisse em suas costas e alcançasse seu pescoço para que pudesse se apoiar, e segurou as pernas de Hitomi, como garantia para que ela não caísse. Levantou-se, já com a menina em suas costas, e finalmente saíram.

—--------

Era primavera, na época em que as cerejeiras florescem. Ela a levou a um parque, onde haviam muitas daquelas cerejeiras. O chão estava coberto de pétalas cor-de-rosa, vindas daquelas flores com vida tão curta. Hitomi ficou encantada, e apontava cada vez que via uma flor cair, sorrindo e perguntando a Toshiko o porquê daquilo acontecer. Parecia um conto de fadas.

Nove anos já haviam se passado quando Toshiko voltou para aquele lugar. As cerejeiras permaneciam lá, mas não estavam floridas como daquela vez. O tempo passara.

Observando-as, lembrou-se da resposta que dera à prima. Aquela cena só era possível porque as flores começavam a morrer e caiam das árvores. Era bonito, porém triste. Ainda assim, necessário. Explicou que todo ano as flores surgiam e morriam, para que no ano seguinte mais flores surgissem. Flores morriam, mais flores surgiam. Substituindo-se, renovando-se, assim a árvore mantinha-se viva. Não era muito diferente de como a vida das pessoas funcionava.

Era um ciclo, e se repetiria para sempre, desde que as cerejeiras continuassem ali.

Bem, elas continuavam. Dali a algum tempo, seria primavera novamente. Mais flores morreriam, e novamente aquele chão ficaria banhado de pétalas rosadas. Seria triste.

Era uma decisão extrema, mas já havia sido tomada. A árvore permaneceria de pé, e saudável. Seria como as flores. Outras viriam. Ela viria.

“Hitomi…”

Queria vê-la florescer. Queria ter esse tempo.

Realmente queria.

Mas a primavera iria chegar em breve, e apenas uma escolha parecia certa.

Cairia, como as flores de cerejeira.


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Notas finais do capítulo

BAAAMMM (mais onomatopéias toscas, me desculpem kkkkkkkkkkkk)
Então, o que acharam? O capítulo que vem vai ser "normal", então não precisam se preocupar!
O que acham que está acontecendo com a Toshiko? Qual o sentido dessa analogia dela sobre as flores de cerejeira? Qual decisão importante foi tomada e porquê?
Podem perguntar, me xingar, vou responder todo mundo, prometo ❤
Beijão e obrigada por lerem!



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