A noite havia sido longa. Bastantes trovões e relâmpagos fizeram uma sinfonia deprimida durante toda a noite, sendo eles ajudados pelo som do vento, que batia impiedoso nas janelas do hotel. Na manhã seguinte, a cidade estava cheia de poças d’água e nuvens cinza pairavam sobre os céus. O trio de exorcistas partiu cedo, indo para o centro da cidade, foco de ataques dos Akumas. Separaram-se e foram cada um em uma direção. A batalha foi árdua. Até a tarde, continuavam lutando com as numerosas máquinas que não paravam de surgir de todos os cantos. No finzinho desta, quase não restara nada da cidade. Os Akumas eram em um número muito maior que o deles e não paravam de surgir. Já haviam pedido ajuda à base, mas os outros exorcistas ainda não tinham chegado. Os finders que estavam na área não foram capazes de detê-los e acabaram quase todos mortos.

Casas em chamas, pessoas gritando desesperadas, várias fendas imensas no chão. A cidade estava caótica. O sol de fim de tarde dava uma aparência mais mórbida à cidade; o céu estava colorido de um laranja-avermelhado intenso, como se o céu estivesse pintado com sangue. Os três apóstolos de Deus estavam caídos, sem forças, sangrando. Mas ainda assim lutavam. E qual era a outra opção, afinal de contas? Morrer sem dignidade nenhuma. Não, isso nem havia passado pela cabeça do trio. Se fosse para morrer, morreriam na tentativa de recuperar a Innocence, de serem heróis.

Tentavam desviar-se, atacar, fazer uma armadilha. Nada funcionava. Para completar o dia, dois descendentes de Noé acabavam de chegar para piorar as coisas: Devitto e Jasdero. E com eles viam mais e mais Akumas. Os três amigos não estavam mais aguentando lutar. O espadachim disse que cuidaria dos gêmeos, enquanto o Bookman ficou com a chinesa e tentou destruir o máximo de Akumas possíveis.

Sem sucesso. Mais alguns minutos – que mais pareciam horas – e todos estavam mais cansados e machucados que nunca. Já estava ficando além do possível para eles continuar naquela batalha. Se é que aquilo poderia ser chamado de batalha. Era mais um massacre. Kanda tinha sido arremessado longe por uma parte do cabelo de Jasdevi e caído em uma das grandes fendas. O Noé agora tinha sua Mugen nas mãos, mas arremessou-a longe, com um sorriso sádico na face cinza.

– Lavi! – Lenalee gritava desesperada na tentativa de fazer o amigo ouvi-la. – O Kanda vai cair! Ajude ele!

O Bookman, que agora travava uma luta com o Noé de cabelo bicolor, fingiu que não ouvia as súplicas da amiga. Olhou somente de soslaio para onde o japonês estava, segurando na borda da fenda, quase caindo no fundo dela. Não deu importância ao que via.

– Lavi! – Tentou mais uma vez a garota – Pelo amor de Deus, faça alguma coisa! Não pode deixar o Kanda nessa!!

Sem resposta novamente. O ruivo não queria ter que se rebaixar ao ponto de ir salvar o amigo. Não estava somente magoado. Estava destruído, sem vida. Seu orgulho agora falava mais alto. Ele não iria salvá-lo custe o que custasse. Não estava enxergando a situação. O orgulho ferido cegava-lhe.

– Lavi!! – Ela não desistia tão facilmente. – Por favor, tenha piedade! – As lágrimas escorriam fazendo o contorno do seu rosto. – Eu te suplico. Faça alguma coisa!! Ele vai morrer!!

Isso funcionou como um balde de água fria. O ruivo ficou tonto, atordoado por alguns instantes e pousou a mão sobre a testa. Logo em seguida conseguiu enxergar a realidade a sua volta: Lenalee estava debaixo de alguns escombros, não podia se mover direito e os Akumas avançavam contra ela. Na fenda em que Kanda segurava na borda para não cair, a terra estava ao ponto de ceder. Era um ponto mais alto. Se ele caísse, não viveria mais para contar como foi. Lavi desvencilhou-se de Jasdevi e estendeu a mão para o ‘amigo’, puxando-o para cima.

– Tome. – Ele estendeu a espada para o outro. – Distraia eles. Vou ajudar a Lena.

O espadachim assentiu com a cabeça e foi em direção ao Noé. O ruivo conseguiu retirar a amiga de debaixo dos escombros e os três voltaram sua atenção para Jasdevi.

– Ah, mas assim é injusto. – Reclamava o ser com um biquinho cínico. – Vocês são três, e nós somos só dois.

– A vida não é justa, amigos. – O japonês não gostava nada da cara que os Noés faziam.

– Então vamos igualar a situação. – Um vulto pôde ser observado atrás deles, mas depois, tudo começou a girar e a ficar escuro, então nada mais viram.

“Won’t you save me?

Saving is what I need

I just wanna be by your side

Won’t you save me?

I don’t wanna to be

Just drifting through the sea of life”

Save Me – Hanson