Until We Go Down - Ruelle

[2 MESES ANTES]

— Ky, venha me ajudar! – Minha mãe tentava controlar a febre que domina meu avô nos últimos dias. Seu hóspede humano estava muito doente, e não tínhamos a magia necessária para transferi-lo para um novo corpo.

Meu avô sempre foi muito valente. Lutou em uma das primeiras guerras do nosso clã contra os Anjos das Trevas e também administrou a Guerra Final contra os Comandantes. Já tinha 170 anos, e possuiu muitos corpos durante este tempo. Atualmente, estava no corpo de Marcus White, um homem de cinquenta anos que anteriormente administrava uma empresa transacional de calçados. Estava vivendo dentro dele há apenas três anos, até contrair o vírus Arkade.

— Mãe, não podemos fazer nada. Ele está morrendo!

— Ele é imortal! Não vou deixar que ele morra assim, moribundo, como um qualquer. Ele é o general, pelo amor de Deus.

— Não podemos ser imortais sem nossa magia, mãe. A senhora sabe disso melhor do que ninguém. – Eu sabia que ela só tentava negar o óbvio. A dor de perder seu pai a cegava, e eu não queria ser o estraga prazeres da situação. Mas não conseguia vê-la tão empenhada em vão. – Acho melhor a senhora se despedir. Não temos muito tempo até que ele se vá.

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— Kyan. Eu tenho uma missão para você.

Sentei na minúscula cadeira em frente ao meu avô. Segurei suas mãos trêmulas e me aproximei ao máximo para conseguir escutá-lo sem esforço.

— O que quiser, senhor.

— Você sabe que é o único whanyan que não passou pela primeira transição. A essa altura, isso é extremamente raro...

Os whanyans só iniciavam sua prática na mágica aos dezoito anos. Antes disso, nossa magia permanecia “desativada”. Por isso, podíamos viver dentro de nossos corpos originais, já que é a magia que enfraquece nosso sistema.

No aniversário de dezoito anos de um whanyan existe um ritual: escolhemos nosso primeiro hospedeiro, realizando nosso primeiro feitiço. O poder necessário para completar as três horas de ritual vem naturalmente. Era como se nosso cérebro estivesse programado para ativar a magia à meia-noite, no dia do nosso aniversário.

— Por causa disso, os membros do Conselho vêm pensando na possibilidade de você, meu neto, ser o buscador do Tubo de Wheyior.

— C-c-como assim?! – Congelei por alguns segundos. O Tubo vinha sendo procurando por anos, e eu nem imaginava que sua localização já era algo do conhecimento das autoridades.

— Bem, não temos magia para migrar para um novo corpo que possa se infiltrar em um adolescente qualquer e pegar nosso Tubo. Já você tem a Magia Natural, e seu aniversário é semana que vem, acredito que seja um sinal de que você é o escolhido. Não sei como não havia pensando nisso antes. – Sua respiração falhou por alguns segundos, e ele retornou ao seu pensamento. – Ninguém melhor do que meu próprio neto para completar minha missão nesse clã.

— Você está louco! Eu não seria capaz de fazer algo assim, acredito que nem Magia Natural existe nesse corpo. – Ri ironicamente, provavelmente de nervoso – Acho que nem um whanyan tradicional eu sou! O que está acontecendo com você, vô? Seu hospedeiro tá confundindo esse seu cérebro pré-histórico?

— Sinto lhe informar, mas isso não é uma sugestão. É minha última ordem como chefe dessa família. Você vai ativar sua Magia Natural. Você vai encontrar o Tubo. Você vai salvar esse clã, está me entendendo Ky?

Meu avô super autoritário voltou.

Uma lufada de ar. E um silêncio total.

Daqui sete dias eu completaria dezoito anos.

Puta merda.