POV.DICK 

Já fazia uma semana, uma semana desde aquele dia em que ficamos perdidos em Jump City e acidentalmente Kory revelou possuir poderes e ser uma alienígena. Desde então não trocamos uma única palavra a mais, a polícia nos trouxeram de volta para Gotham onde todos estavam muito preocupados com nosso sumiço, principalmente nossos amigos. 

Bruce me proibiu de sair de casa e de patrulhar a cidade junto a ele, não entendi seus motivos sendo que ele sabia muito bem que eu poderia cuidar de mim mesmo. Como as férias de final de ano começaram e a maioria dos alunos que não ficaram de recuperação foram liberados, sendo assim, não poderei sair nas férias, mas esse não é o ponto, o problema foi que desde que descobri o segredo de Kory eu não consigo simplismente passar uma borracha nisso tudo. O problema não é ela ser uma alienígena em sí, mas sim porque ela escondeu isso de mim a tanto tempo enquanto eu contei sem receio nenhum quem eu era, eu confiava nela, sentia que poderia contar os meus medos, todos os meus segredos e cheguei realmente a pensar em contar sobre meu passado. Mas então eu descobri que essa confiança só partia de mim, que ela nunca se importou ou me considerou a ponto de o fazer, e isso me machucou de uma forma que eu não sei explicar, é como se outra vez eu tivesse sido traído...enganado, como Ellen fez comigo.

— Droga ! _ seguro meus cabelos entre os dedos.

Porque eu sinto isso ? Porque eu sinto que fui traído sendo que Kory não é nada a menos do que uma amiga talvez, então porque eu sinto isso ? Ela é tão importante assim a ponto de conseguir mexer com meu estado, meu autocontrole. A alguns meses Kory era apenas uma vizinha irritante que me esnobava e que eu fazia de tudo para provocá-la somente em pró de receber sua atenção. Porque eu sempre quis receber sua atenção dessa maneira ? Porque eu invejava Milla, Rachel ou Xavier por sempre conseguir aquilo que eu sempre quis ? Talvez porque de todas as garotas com quem eu já estive, Kory foi a única que eu não consegui facilmente, eu sempre conseguia atrair todas as garotas do colégio sem ao menos dirigir-lhes a palavra, mas com ela foi diferente, não fui eu quem a atraí, foi Kory quem me atraiu, a única mulher que consegui isso depois de Ellen.

Kory não se envolveu comigo simplismente pela minha popularidade, beleza ou condição financeira, longe disso, ela nunca demonstrou nenhum indício de se importar com essas coisas, mantinha-se afastada de tudo isso, era por isso que me odiava, por eu me encaixar em meio a mais um milhão de garotos riquinhos e tinham tudo aquilo que desejavam.

Mas desde o momento em que Kory chegou a cidade, esse ciclo se quebrou, pois o que eu mais almejava em ter, eu não tinha, eu precisava conquistar, pela primeira vez na vida. Eu me negava a enxergar tudo o que Kory podia causar em mim, das tantas vezes que ela falava palavras que realmente me machucaram, mas eu nunca conseguia odiá-la ou repudia-la por isso, eu só conseguia a querer ainda mais.

Aquela ruiva mudou totalmente o meu ser, conseguiu resgatar em mim o que eu havia perdido a muito tempo, ela conseguiu me mostrar que talvez nem todas as pessoas poderiam ser iguais, que o fato de demostrar afeto ou de mostrar preocupação com não eram sentimentos que nos tornavam fracos, mas sim fortes por ter algo a qual queremos proteger.

 Quando Ellen morreu, uma parte de mim foi junta, descardeando o ódio dentro de mim ao perceber como eu me mantive enganado todo aquele tempo, mas agora eu já não a odiava mais, Ellen foi uma fase da minha vida que já passou, me afetou muito na época em que eu descobri que ela me traía, mas agora já não consigo mais culpá-la ou culpar Xavier pelo o que aconteceu. Passei muito tempo acreditando que Ellen havia morrido por minha causa ou de Xavier, mas foi apenas uma fatalidade, eu não podia culpar ninguém por aquilo, eu me tornei frio, arrogante e vazio e o único culpado disso era eu mesmo. Era eu por nunca me permitir perdoar a mim mesmo ou a Ellen, era eu mesmo por nunca ter me aberto com ninguém, de ter me sufocado, me afastado e acreditado que isso iria me impedir de sofrer novamente caso eu me apaixonasse. Mas foi algo inevitável, e quando eu menos imaginava, Kory já tinha conseguido isso de mim, eu me apaixonei novamente....por ela.

Então, que direito eu tinha de julgá-la por não ter me contado sobre sua origem quando eu mesmo escondia meus sentimentos dela, meu passando com Ellen ou meus receios.

Eu era um hipócrita, um covarde que tinha medo de admitir meus próprios sentimentos, eu magoei pessoas por causa disso e agora tinha o risco de perder a única que conseguiu me reviver de volta. Eu não vou perdê-la como perdi meus pais ou como perdi Ellen, não enquanto ela não souber o que eu sinto de verdade.

Determinado, me levantei da cama e peguei apenas um casaco e desci as escadas rapidamente enquanto me vestia. Cruzei a sala tão depressa que não percebi Donna e Bárbara no local.

Donna - Ei ! Onde pensa que vai ? Você não pode sair _ disse assim que eu agarrei a maçaneta da porta.

— Vou fazer algo que deveria ter feito a muito tempo.

Barbs - Xingar alguém ? _ a ruiva arqueou a sobrancelha.

— Não, me desculpar com alguém _ Não deixei que respondessem e sai correndo até a casa ao lado. 

Uma fina garoa caia o que fez com que consequentemente meus cabelos ficassem mais húmidos. Subi o Halls de entrada e bati com força na porta sem interrupção, eu precisava ver ela.

Já estava optando em derrubar a porta quando a mesma se abriu e revelou um ruivo não muito contente.

Ryan - O que você quer ? _ perguntou em tom seco.

— Preciso falar com a Kory

Ryan - Você e ela não tem nada para se falarem _ disse no passo que fechava a porta, mas eu a segurei.

— Isso quem decide sou eu ou ela _  pelo ruivo ser alguns centímetros mais alto seu olhar assassino caiu sobre mim.

Ryan - Não acha que fez o suficiente ? Quer deixa-la pior ! _ olhei sem entendê-lo.

— Mas o que...

Ryan - Eu não sei o que aconteceu naquela maldita excursão, mais minha irmã está mau por sua culpa ! Faz três dias que ela não sai do quarto e não quer ver ninguém _ me puxou pela gola da camisa _ o que diabos você fez a ela !!! Eu juro que te mato.

Consegui me soltar de sua mão e dei alguns passos para trás e o encarei diretamente em seus olhos.

— Eu estou aqui e estou disposto a concertar algumas coisas, mais pra isso eu preciso falar com ela então... _ olhei para baixo enquanto puxava minha camisa acima de meu peito _ por favor...por favor, só me deixe concertar meus erros, eu sei que você me odeia mas agora eu só lhe peço que, mesmo que depois ela nunca mais queira me ver novamente....

Voltei a olhar para cima enquanto sentia minha voz vacilar e gritei com tudo.

— ME DEIXE PELA ÚLTIMA VEZ FAZER O QUE É CERTO !!!!

Ryan olhou surpreso para mim e me encarou por algum tempo antes de desviar o olhar e abrir ligeiramente a porta.

Ryan - Se você a magoar mais uma vez...eu te mato.

Sobre suas ameaças, passei por sí e corri para as escadas almejando chegar no quarto da ruiva o quanto antes. Assim que vi sua porta fechada, tentei recuperar o fôlego entre lufadas enquanto um sentimento de hesitação preenchia meu peito. Levei a mão até a maçaneta com receio, mas suspirei pela terceira vez fechando os olhos e decidindo que não iria errar novamente. Abri a porta.

Logo de cara, vi Kory apoiada no parapeito da janela enquanto seus olhos estavam voltados para o céu, mas seus olhos agora sem brilho algum representavam tristeza. Ela virou o rosto em minha direção e fez um ar de surpresa, eu fechei a porta atrás de mim e caminhei lentamente em sua direção.

Kory - D-Dick...

Sua voz parecia mais rouca que o normal e suas olheiras entregavam as suas noites mau dormidas.

Kory - O que você está fazendo aqui ? _ se levantou ficando de frente para mim.

— Eu preciso falar com você _ falei sem em momento algum vacilar.

Kory - Não precisa me dizer nada...

— Preciso...preciso porque tem muita coisa que nois dois não entendemos.

Kory - Tipo você se afastar de mim ? _ me perguntou com um olhar amargurado _ Diga Richard, foi você quem se afastou, não foi ?

Eu levei alguns segundos para pensar mais no final acabei concluindo. 

— Sim, fui eu quem me afastei _ ela sorriu com desgosto e voltou a encarar a janela _ mas eu posso explicar...

Kory - Não precisa me explicar nada, até porque eu te entendo _ olhou para baixo com um sorriso triste _ afinal, eu sou uma aberração não é.

Arregalei os olhos com sua afirmação.

— Kory...

Kory - Eu não sou igual a ninguém, nem humana eu sou...então, com que direito eu peço para ficar ao meu lado sendo que... _ apertou os olhos com força _ ninguém iria me aceitar.

— Kory, em momento algum eu disse isso !

Kory - Não precisou, seu olhar disse por sí só naquele dia quando lhe falei.

Me lembrei do dia em que alguns segundos antes da polícia nos encontrar eu acabei soltando algumas palavras que eu se quer reparei.

— Eu estava magoado, magoado por acreditar que você confiava em mim para me dizer tudo, eu não me importo com o que você seja, eu só queria saber porque você ainda não consegue acreditar em mim !

Kory - O que você queria Dick _ se virou para mim com o cenho franzido enquanto se aproximava _ que eu chegasse e lhe falasse simplismente "E aí cara, a nova é que eu sou uma alienígena que veio parar na terra por acaso e não sou nenhum pouco comum como vocês" Você mesmo provou naquele instante que não me aceitaria. Eu tinha medo da sua rejeição ! E porque eu lhe deveria contar se não somos nada ?

Suas palavras me atingiram em cheio fazendo eu fechar as mãos em punho e apertar com força minhas mãos. Soltei um riso nasal repleto de irônia.

— Tem razão, não temos nada então, você não me deve confiança nem nada do tipo _ senti minha garganta secar _ eu sempre soube que eu era um idiota, eu entendo o motivo por você nunca conseguir acreditar em mim, eu lembro perfeitamente o cara que eu era, mas saber que você nunca chegou a sentir metade do que eu sinto só me faz cair ainda mais na realidade.

Kory - Do que você está falando, o que você sente que eu não sinto...se é que sente _ respondeu com os braços cruzados.

Não consegui mais me segurar virando de costas enquanto agarrava meus fios de cabelo em meio a raiva.

— PORRA KORY ! Você quer saber o que eu sinto ? Eu sinto raiva de tudo isso, na verdade tudo isso é culpa sua ! _ ela arregalou os olhos _ Desde que você chegou na bosta da minha vida tudo mudou, ao mesmo tempo que eu tentava te odiar eu te admirava cada vez mais, te admirava por nunca ter cedido, por ser uma garota diferente de todas as outras que já conheci, por saber me colocar no meu lugar e ao mesmo tempo conseguir me fazer sentir o cara mais sortudo do mundo. Merda Kory ! Eu nunca consegui te odiar porque na verdade eu sempre te amei, eu te amo tanto que chega a ser assustador ! O que você fez comigo Kory ? Eu sequer conseguia pensar em outra garota que não fosse você, eu deixei de estar com outra somente para ficar ao seu lado nem que fosse para te ver sorrir, porque essa era a maior das minhas recompensas.

— Mas você nunca percebeu isso porque enquanto eu mudava por você, você só se importava consigo mesma, se colocava na posição de vítima e sempre arrumava um jeito de me afastar de você mesmo enquanto eu insistia. Você nunca demonstrou se preocupar ou gostar da minha presença, eu nunca sei o que você pensa ou sente porque você sempre se coloca na sua casca de indiferença e me trata com frieza. Você não sente nem meio terço do que eu sinto por você, mas eu entendo e nunca seria capaz de te afastar por isso. Eu só gostaria que você soubesse o que eu sinto...agora que já sabe, tem todo o direito de me chamar de idiota ou o caralho que for, mas só quero que saiba que você foi quem me mudou e conseguiu fazer de mim, um idiota melhor hoje.

Respirei aliviado por ter colocado tudo para fora, mas triste ao mesmo tempo por saber que aquilo não iria mudar nada e que agora já era tarde.

Me virei planejando sair do quarto e voltar para casa onde eu me martirizaria pelo resto da vida por ter me humilhado tanto a esse nível. Mas antes que eu pudesse alcançar a porta, senti um par de braços envolver minha cintura por trás.

Parei no lugar onde estava sem acreditar. Olhei sobre o ombro vendo uma cabeleira ruiva que estava grudada em minhas costas enquanto escondia o rosto. Logo um soluço se fez presente quebrando o silêncio entre nois.

Kory - M-Me...Me perdoa _ ouvi ela murmurar _ me perdoa, me perdoa por ser tão tola...me perdoa...

Soltei com cuidado seus braços de mim e me virei para ela que continuava com a cabeça baixa.

Kory - E-Eu...era tão insegura comigo mesma...tinha medo dos meus próprios desejos e sentimentos. E-Eu...fingia não sentir, mas no fundo eu sempre soube que era você.

Ela fungou baixinho antes de levantar e cabeça e me olhar com os olhos marejados a quais eu tanto amava.

Kory - Eu te odeio ! _ olhei incrédulo sem entender _ te odeio tanto porque te amo e te amo tanto e me faz querer me odiar. E eu amo te amar seu Grayson de merda ! _ bateu as mãos em meu peito tentando me estapear falhando miseravelmente.

Nem de longe aquilo foi o que eu queria ou pensava em ouvir. Mas eu não pude evitar sorrir ao comprovar que mesmo ao se declarar ela não deixava seu jeito marrento de ser.

— Você não tem jeito _ sorri erguendo seu rosto para encará-la olhos nos olhos _ Você é a garota mais especial da face da terra que tive o prazer de conhecer, ou melhor, é a minha alienígena perfeita.

Encostei minha testa junto a sua e fechei meus olhos deixando me levar por aquela explosão de sentimentos dentro de mim. Aos poucos quebrei a distância entre nois dois e uni nossos lábios em uma comunicação muda, mas que podia transmitir tudo o que ambos sentiamos. Me perdi em meio aos seus lábios macios enquanto sentia seus dedos enroscaram em meus cabelos.

Interropemos aquele contato com sofrer para que pudéssemos preencher nossos pulmões com ar novamente. Abri meus meus encontrando as duas esferas esmeraldinas me fazendo sorrir.

— Você ainda vai acabar me deixando louco _ sussurrei vendo ela abrir um sorriso pela primeira vez.

Kory - Vou aceitar isso como um elogio _ disse enquanto envolvia meu pescoço com seus braços _ eu te amo _  segredou ao pé do meu ouvido.

— Je t'aime _ falei a frase de um livro francês a qual eu havia aprendido.

Caralho, se algum dia me dissessem que Dick Grayson iria falar palavras tão vergonhosas quanto essas, eu não pensaria duas vezes antes de mandar essa pessoa se internar. Hoje já não penso a mesma coisa. Não quando se trata dela.

             CONTINUA.......