Uma Qualquer História Especial escrita por UQPE


Capítulo 4
Capítulo 4 - A Queda e o Embaraço




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/6715/chapter/4

- O quê Lúcia? O quê? – perguntou Lia.
- Nada, nada... Não sabia quem eles eram, nunca os tinha visto – disfarçou.
Na verdade, nunca os tinha visto. Não sabia quem eram. Nunca os tinha visto até há uns minutos atrás. Se a amiga soubesse, se a amiga soubesse que ela esteve com uns dos seus ídolos... e ele nem lhe dissera nada! Fê-la passar por ignorante.
Lúcia olhava-o fixamente com um olhar tão quente como o ambiente que se faz sentir quando a colecção de Verão é apresentada em Paris. Tentava lembrar-se do nome que tinha visto na Wikipédia. Qualquer coisa de irmão gémeos... Bill e Tom. Sim era isso. O Bill era o vocalista, aquele que estava mais próximo no palco. Sobrava Tom...
Tom olhava para a sua guitarra e tocava freneticamente. Lúcia conseguiu reparar que ele brincava distraidamente com o piercing que tinha no lábio. Fazia-o sem querer, sistematicamente. Levantou o olhar e percorreu a primeira fila. Deteve-se quando a viu. Riu-se discretamente e com um ar malandro. Piscou-lhe o olho e voltou a olhar para a guitarra. Lúcia estava, decididamente, a ferver.
Assim esteve o resto do concerto. Passadas as duas horas do espectáculo, Deixou-se arrastar pela amiga que voltou à porta que havia ao lado do palco. Deixou-se levar porque queria confrontar aquele tipo. Agora porque era uma estrela e porque ela não o conhecia, podia gozar com ela? Estava absolutamente enganado.
Não havia ninguém do outro lado da porta. Lia estava tristonha. Ao fundo do corredor ouviu-se:
- Eles já foram para o hotel, vão distribuir autógrafos à porta.
Nem foi preciso mais. Correram o Vasco da Gama, entraram no metro. Fora da realidade a preto e branco, Lúcia preferia ter ali uma saia Gucci ou um vestido Chanel. Lia não parecia incomodada com os seus trajes. Em Lisboa, apanharam um autocarro, andam o resto a pé, até ao Hotel Pestana Palace.
Se no Pavilhão gritavam, ali não era por menos. Já a noite ia dentro e ainda estava ali muita gente. Cartazes, t-shirts, cadernos estendidos. Lia desapareceu na multidão. Lúcia ainda tentou, mas desistiu depois de alguns puxões de cabelo e encontrões. Já que tinha que esperar pela amiga, mais valia afastar-se dali, ou a sua segurança estava em risco.
Andou pelo quarteirão. Observou ao longe a multidão de fãs e fez-lhe lembrar as guerras na selva pela sobrevivência do mais forte. Continuou a andar, cruzou a esquina com as traseiras do hotel.
Ali estava. Ele. Com um cigarro na boca e com as mãos a dedilhar aquilo que pensou ser uma guitarra imaginária.
- Tu... TU FIZESTE-ME PASSAR POR PARVA! Tu percebeste que eu não sabia quem tu eras e gozaste comigo.
- Hallo, I can’t understand.
- You... You what?
Agora não o podia insultar sem todas as palavras a que ele tinha, de certeza, direito. Talvez pudesse...
- Parvo.
Ele fez o sorriso malandro que havia feito em palco e baixou o olhar. Apesar de não perceber o que ela tinha dito, ela tinha a certeza que ele entendeu.
A porta das traseiras abriu-se. Saiu de lá um rapaz que ela já conhecia, alguém que ela já tinha visto. Bill Kaulitz estava à sua frente. Reconheceu-o do palco.
- Wer ist sie? Ein Fan? – (Quem é ela? Uma fã?) perguntou Bill.
- Nein, nur ein Mädchen, das ich traf. Sie wusste nicht, wer wir waren. (Não, apenas uma rapariga que conheci. Ela não sabia quem nós éramos).
Bill olha espantado. Tira o cigarro ao irmão e continua a fumá-lo. Tom vira-se para Lúcia.
- Your name?
Ela não sabia se ele merecia saber. Mas a brincadeira com o piercing desconcentrou-a. Fraquejou.
- Lúcia
- Ok. Want an autograph?
- N...
Tarde de mais. Tom agarrara-a e começava a escrever com um caneta vinda de não se sabe onde. T O M...
Lúcia puxou o braço com força, tropeçou e caiu numa poça de água. Ficou toda suja. Se a mãe a visse chegar assim a casa. Tinha que dizer que ia dormir a casa de Lia para escapar.
Tom ria-se. Bill ajudou-a a levantar. Se não fosse por ter magoado as mãos, não tinha aceitado ajuda.
- Come on.
E com isto entraram os três na porta das traseiras. Não lutava para se libertar as mãos de Bill porque estava fraca e magoada. O elevador parou. Entraram. Subiram. O elevador voltou a parar. Tom que ia à frente entrou por uma porta. Os corredores tinham um ar chique e elegante. Dignos das suas saias de marca, que neste momento não estavam a ajudar. Bill entrou atrás de Tom, amparando Lúcia.
- Here.
Apontou para uma cadeira. Ela percebeu. Sentou-se. Tom foi ao armário. Tirou toalhas e um roupão. Colocou-os em cima da cama.
- Bathroom. Take a bath.
Lúcia ia protestar mas anuiu e aceitou o banho. Fechou a porta. Ouviu algo em alemão mas não ligou. Ouviu passos e uma porta fechou-se.
Olhou à volta e pensou: é irreal, havia pessoas lá em baixo que matavam para estar ali, entre as quais Lia. Ligou a água, encheu a banheira. Deitou-se lá dentro. Cheirava bem na casa de banho. Cheirava ao perfume que o parvo que a tinha feito cair usava.
Do lado de fora, Tom olhava para a mala de Lúcia. Estava meio aberta e tinha o seu telemóvel à vista. Conteve-se para não lhe roubar o número. Não se conteve.
Pegou no i-Phone e ligou para o seu. Guardou o número. Apagou, cuidadosamente, o seu número do i-Phone. Saiu e fechou a porta.
Lúcia continuava no banho. Tinha perdido a noção do tempo. Saiu do banho.
Nua, encaminhou-se para o quarto para se enrolar na toalha que permanecia em cima da cama. Abriu a porta.
Ao mesmo tempo, Bill entrava no quarto. Queria ver como estava a rapariga.
De facto, viu como estava.

To be continued...

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Uma Qualquer História Especial" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.