Uma Qualquer História Especial escrita por UQPE


Capítulo 3
Capítulo 3 - O Fim do Desconhecimento




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Na noite anterior lembrara-se de colocar o i-Phone em silêncio e sem vibrar por isso, quando recebeu as primeiras mensagens, continuou a dormir. Não sabia que Lia ia tentar a derradeira das tentativas. Ia atacar no ponto fraco. Razão tinha ela: a mãe não a deixava ir se não fosse acompanhada.
Lúcia acordou sobressaltada. Tinha-se esquecido de desligar o despertador, que berrava uma letra duma banda qualquer que, segundo o locutor, era o sucesso do momento. I\'ll be with you soon, just me and you, we\'ll be there soon, so soon. Carregou no botão de desligar mesmo antes da banda acabar a música. Pensava na Lia e no seu grande dia. Perguntava-se se teria convidado mais alguém mas as mensagens que imploravam no seu telemóvel uma leitura, responderam à sua dúvida.
Era domingo e Lúcia tinha em mente acabar os trabalhos de Matemática que não havia conseguido acabar no dia anterior. Ouviu tocar à campainha. No andar de baixo alguém entrara e estava a subir as escadas. Lúcia achou que devia ser a empregada a perguntar se ela queria alguma coisa para comer. Entrando de rompante e escancarando a porta do quarto, Lia entrara e estava em frente a porta especada. Lúcia não sabia se era de propósito ou se havia de fugir. A amiga que há tantos anos conhecia, estava a usar aquilo que, se fosse Carnaval, Lúcia considerava uma máscara. De calças pretas, com ténis brancos e gastos, com um top as ricas e com luvas de rede pretas, estava a pessoa que sempre conheceu a usar Dolce & Gabbana e Prada. E quando parou o olhar nos olhos da amiga, susteve a respiração por breves instantes. Ela não estava só com os olhos pintados e maquilhada. Ela tinha os olhos vermelhos e a cara borrada. O rímel escorrida misturado com lágrimas, a base adquirira um tom acinzentado.
- Que te aconteceu? – perguntou relutante.
- É... a... minha... única... oportunidade.
- Ah? O quê?
- Eles... eles... eu... não... vou...
- Pára! Fala como gente.
Lia endireitou-se. Percebeu que estava a dramatizar de mais. Falou e disse tudo o que tinha ensaiado.
- É a primeira e possivelmente a única vez que eles vêm a Portugal tão rapidamente dar um concerto. Eu tenho o que muitas fãs queriam ter: bilhetes. Melhor ainda, eu ofereço um bilhete e tudo o que tens de fazer é vir comigo. Não te peço para mentires nem para roubares. Peço para assistires a um concerto duma banda que eu gosto e ao qual não posso ir se não for a tua presença lá...
E desatou a chorar. Curiosamente, não tinha ensaiado isto.
- Está bem, eu vou.
Percebera que era o mais certo a fazer pela amiga e que aguentava bem duas horas a ouvir uns desconhecidos tocar.

Estavam à porta do Pavilhão Atlântico, à espera para entrar. Depois de algumas horas, milhares de fãs e muitas garrafas de água, entraram.
O ambiente que lá dentro era preto e branco, milhares de cartazes. A ânsia de pessoas à espera fazia-se sentir. Lúcia tentava lembrar-se e clarificar os motivos que a levaram ali, enquanto era arrastada pela amiga para um dos lados do palco.
Aguardavam que o momento do espectáculo começasse. Aguardavam à tempo de mais, pensava Lúcia. Num momento como outro qualquer, Lia gritou. Lúcia pensou que tivesse sido por causa dos constantes encontrões contra as barras mas não. Os olhos de Lia brilhavam como Lúcia gostava que não brilhassem naquele momento. Olhava para uma porta, para uma porta entre aberta.
- Lúcia, hoje é o meu dia, certo?
- O que é que queres dizer? – perguntou desconfiada.
- Fazias tudo por mim hoje, certo?
- Lia, o que é que tu...
E foi puxada. Passou pela porta, pela porta entre aberta, que agora havia sido fechada atrás de si. O barulho da multidão cessou e estava num corredor iluminado e comprido, com muitas portas e umas escadas. Estavam nos bastidores.
- O que é que tu estás aqui a fazer? Queres ser expulsa e não veres o concerto? Queres? – disse num tom ameaçador.
- Tinha que tentar, era bom de mais para ser verdade.
- Estás maluca, se nos apanham....
- Não apanham nada. Fica aqui, eu vou procurá-los.
E desapareceu pelas escadas acima, sem mais nada dizer.
Lúcia ficou ali, sozinha, e assustada. Mas confiante de que, quando pusesse a vista em cima de Lia, era para a matar. E se aparecesse alguém? Como é que ela se explicava? Como é que ela dizia que elas tinham bilhetes e que foi uma amiga dela que a tinha arrastado para ali e que ela nem conhecia a banda nem estava interessada em entrar ali? Se já na sua cabeça isto parecia irreal, quanto mais dito. Ninguém ia acreditar. Só esperava era que Lia voltasse rápido e que ninguém a encontrasse ali, com a sorte que ela...
Abriu-se uma porta. Um rapaz alto com ar estranho que parecia estrangeiro saiu de lá de dentro e fitava-a, estranho. Lúcia tremia que lhe perguntasse quem ela era e que o ali fazia. Ele continuava a olhá-la. Ela pensou que no lugar dele, fazia o mesmo se visse ali um estranho.
- Who are you?
- I... I...
- What you doing?
- I... I...
- Yes?
- I am waiting for someone. Please don\'t tell anyone that you saw me.
O rapaz franziu o olho.
- I’m not supposted to be here.
- Me no too.
- Who are you? – perguntou, mas rapidamente achou que não tinha confiança.
- I am here for the show.
Uma campainha soou e o rapaz disse:
- I have to work. Bye.
- Bye, thanks.
Ouviu passos a descer as escadas. Era Lia. Naquele momento, nem pensou em matá-la.
Voltaram para a plateia e aperceberam-se que havia entrado ainda mais gente desde a última vez que reparara. Uma voz off anunciou a subida da banda. Lia gritava juntamente com as restantes pessoas, Lúcia apenas observava. Não conhecia esta faceta da amiga.
Acenderam-se mais luzes e apareceu fumo. De repente, como um tambor, um som fez estremecer a multidão.
A banda entrara em palco. Apercebera-se porque os fãs gritavam, Lia gritava. Lúcia olhou para o palco. Tentava-se habituar às luzes e ao fumo por estarem na primeira fila. Depois de alguns minutos viu com clareza a banda.
Não queria acreditar no que via. Não podia ser verdade.
- Não pode ser...
- O quê? - perguntou Lia.

To be continued...

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