Uma Qualquer História Especial escrita por UQPE


Capítulo 21
Capítulo 21 - A Tentativa




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O tempo passou. Para Lúcia, tanto podia ter sido um mês como uma semana; o que sabia era que não passava um dia que não pensasse em Bill. Os momentos que passaram, o descobrir da traição dele, e o quando lhe doía a vingança. Os dias passavam e para ela era como se estivesse a ver um filme onde não via razão para participar. Agora já tinha Lia de volta, era um grande peso a menos no seu íntimo.
Às vezes as raparigas da escola ficavam a olhar para ela, quando passava. Outras, pequeninas, até lhe pediam autógrafos. E uma rapariga na rua reconheceu-a e pediu-lhe uma amostra da sua saliva (Lúcia negou). Pior ainda, sem saber como, uma revista adolescente, alemã, descobriu o seu mail e pediu para agendar uma entrevista, ao que Lúcia respondeu dizendo que não era a namorada de Bill, esperando que esta fosse a última proposta do género. Não foi. Exactamente um dia após ter mandado o e-mail, recebeu mais cinco propostas e sete chamadas telefónicas. Recusou as chamadas e respondeu ao mail da revista mais conhecida dizendo que era apenas parecida com a rapariga do vídeo e que nunca a tinha visto, esperando que a história pegasse.
Um dia, Lúcia não sabia quando, Lia contou-lhe em jeito de conspiração:
- Sabes, eles vêm cá...
Lúcia já sabia a resposta mas teve de perguntar:
- Quem?
- Os UI, Lú.
UI? Era o nome de código que tinham dado a Tokio Hotel. TH era uma sigla demasiadamente reconhecível pelas fãs da escola; por isso pegaram em T e H e andaram para a frente uma letra no alfabeto, não fossem as fãs levantar problemas.
- O que é que vêm cá fazer?
- Vêm para divulgar o DVD, esse tipo de coisas.
- E o que é que queres que eu faça?
- Isso pergunto-te eu. O que é que tu queres fazer? Eu vou vê-los à FNAC amanhã, eles vão lá para falar do DVD. Podes vir comigo...
- Para quê, Lia...
- Para o caso de quereres voltar para o Bill! Esclarecer tudo com ele! Não queres isso, Lúcia?
Lúcia queria isso acima de tudo o resto. Que ele lhe pedisse desculpa, que ela fosse capaz de desculpar, e que ela também lhe pedisse desculpa...mas não podia ser.
- Opá, Lia... não vou, mesmo.
- Lúcia, eu não te vou deixar...
- Epá, deixes ou não, eu não vou.
Foi para casa. Pensava no que havia de fazer.

No dia seguinte, ao fim das aulas, já sabia que Lia ia tentar com todas as suas forças para que ela fosse, mas Lúcia já tinha decidido. Lia acabou por desistir, resignada.
Apanhou o metro para a Baixa-Chiado. Durante a viagem, foi pensando. No quanto tinha estado chateada com Lúcia ainda há dias atrás. E no quão cega tinha sido... Ninguém tinha sido um anjo nesta história, mas Lia podia ter ajudado a amiga logo quando ela precisou. Mas agora já estava tudo bem. E se Lia conseguisse juntar, de alguma forma, Bill e Lúcia, tanto melhor!
Saiu da estação e foi a pé até aos Armazéns. Encontrou muitas fãs e algumas que ela conhecia do meio. Fizeram conversa simpática, esperando que os seus objectos de culto chegassem.

Ao mesmo tempo, outro metro chagava à estação Baixa-Chiado. Lá de dentro saíra Lúcia. Não disse a Lia que ia porque tinha decidido isso à última hora. Também não queria que ela soubesse, não sabia bem porquê.
Percorreu o caminho até aos armazéns. Tinha vestido a camisola dos escuteiros que tinha usado para se disfarçar com Bill. Pensou que no meio de tantos fãs, alguém a podia reconhecer. Quando entrou, aquilo já estava cheio. Ficou na lateral, atrás dos jornalistas. Não viu Lia e esperava que esta também não a visse.
Finalmente foi anunciada a entrada do grupo. Naquele momento, tudo parou para Lúcia, era a primeira vez que ia estar com Bill, desde a cena no corredor.
Eles entraram. Tom e Bill entraram separados por Georg e Gustav.
Sentaram-se e disseram uma pequena introdução. De seguida, foi projectado no painel atrás deles uma pequena apresentação do DVD. Quando a projecção acabou, eles voltaram-se e deixaram-se entrevistar pelo responsável, pelas revistas, e algumas fãs. Tom parecia ser o porta-voz do momento. Respondeu que adoraram estar em Lisboa, era muito bonito, as fãs eram muito simpáticas, as respostas da praxe. Georg e Gustav pareciam um pouco tensos e Tom e Bill tinham o ar de quem contém algo que quer dizer. Nenhum dos quatro parecia estar contente. Um jornalista à frente de Lúcia perguntou, de repente:
- Who was the girl with Bill?
Georg e Gustav passaram o microfone a Bill.
- Noone. – disse olhando de repente para o jornalista e desviando o olhar.
Bill ficou estático, levantou a cabeça e olhou de volta, rapidamente.
Viu-a só um momento.
Dos seus olhos caíam lágrimas. Lúcia foi-se embora tão rápido quanto pode. Não conseguia sair dali porque havia montes de fãs lá fora. A porta que dizia saída de emergência havia sido transformada na porta das estrelas. Como a banda estava a dar uma conferência, não havia seguranças. Lúcia escapuliu-se para lá.
Bill ficou com dúvidas. Teria visto Lúcia? Era ela? Quase de certeza que sim, pensava ele. Levantou-se repentinamente e correu para o sítio onde ela estava. As fãs, que lhe caíram em cima, obrigaram-no a fugir pela a porta das estrelas. Ninguém percebera porque Bill se levantara. Tom desconfiava.
Lúcia reparou que alguém havia entrado. Escondeu-se na primeira porta que encontrou. Não reparou no letreiro à porta que dizia “Entrada restrita – Espaço privado”. Ficou à escuta e a olhar pela fechadura.
- Es ist alles in Ordnung? (Está tudo bem? – perguntou o segurança.
- Ja. (Sim) – disse Bill.
Lúcia ouviu a voz de Bill e deixou de respirar momentaneamente.
O segurança fez sinal a Bill para voltarem. Este olhou uma última vez para o corredor. Sentiu o cheiro do perfume de Lúcia. Deteve-se. Lúcia assistia a tudo e esperava que ele não entrasse por ali.
Bill convenceu-se que devia ser a sua imaginação e voltou para a sessão.
Lúcia respirou de alívio e virou-se. Só então percebera onde estava. Era o camarim da banda. Reconheceu as coisas de cada um. Viu as de Bill e aproximou-se. A mala estava aberta e reparou numa coisa que a fez sorrir. O casaco estava ali. Ele tinha trazido o casaco consigo. Pela primeira vez nos últimos tempos, sorriu.
E então, num impulso, tirou a t-shirt os escuteiros que trazia por cima da roupa. Dobrou-a e deixou-a em cima da mala de Bill.
Ouviu as fãs a gritarem. Percebeu que devia ter acabado a sessão e eles estavam a voltar.
Correu para a porta, abriu-a com força e foi-se embora.
No momento em que cruzara a esquina, Bill entrara para saída de emergência. Dirigiu-se para o camarim, seguido da banda. A porta ainda abanava da força com que Lúcia saíra. Ele olhou à volta... Não podia ser, pensou ele. Entrou e sentou-se na sua cadeira.
Então, reparou. Reparou na t-shirt que estava em cima da mala. Pegou nela. Sabia de quem era e quem a tinha posto ali. Sentiu o perfume de Lúcia.
Os restantes elementos observaram e percebiam.
Bill correu até à porta. Tom segui-o.
Não estava ninguém no corredor. As fãs que ainda espreitavam pela saída de emergência, ao verem Bill gritaram.
Lia também olhou com a histeria das fãs. Esta podia ser a sua única hipótese; empurrou umas fãs pelo caminho, correu até essa mesma porta, ignorando o que sabia serem olhares e silêncio estupefactos, tomou balanço para passar por debaixo dos seguranças. Não conseguiu. Um deles agarrou-a dizendo “Nein, miss, nein”. Lia olhou desesperadamente para Bill, para quem nada acontecera e continuava a olhar para o corredor. Será que o rapaz não reparava na rapariga a tentar soltar-se freneticamente do segurança com o físico dum frigorífico, mesmo ao lado dele?!
- No no, I need to talk to Bill! Bill! I know...
Bill olhou para ela. Depois de um segundo em que Lia sentiu que a sua vida dependia da sua resposta, Bill entrou de novo pela porta.
- ...Lúcia. – disse depois de Bill entrar.
Tom continuou à porta.
Lia sentiu-se despedaçada. Ao voltar ao lugar onde estivera, apesar dos olhares das fãs e dumas mais velhas que irem perguntar desconfiadas quem era Lúcia (ao que Lia respondeu que era uma amiga que lhe tinha falado no aeroporto), pensou numa outra maneira de estabelecer contacto com Bill.
Estabelecer contacto. Ela acabara de o fazer. Tinha falado com Bill! Bill! Bill até olhou para ela! Passados uns segundos de histeria mental, Lia dirigiu-se ao bar na parte de trás e pediu um copo de água. Quando perceberam que eles não iam voltar, as fãs começaram a sair. Sendo numerosas, foi a ritmo de procissão. Lia quis pensar no que podia fazer por esta situação. Foi para a área de informática, olhando para os computadores com um olhar vazio, perdida nos seus pensamentos. Até que sentiu um par de mãos fortes pegarem-lhe nos ombros e uma voz (que vinha da mesma fonte das mãos) dizer:
- Please Miss, come with me.
Lia não fazia a mínima ideia do que se estava a passar. Mas como estava num local onde a segurança estava apertada, concluiu que não podia ser nada de perigoso. Parecia que estava a ser dirigida algures pelo segurança que tinha estado ao lado do que a impedira de falar com Bill. E curiosamente, estava a levá-la pela mesma porta por onde ele e a banda saíram. Passaram por um corredor pequeno e luminoso, até o homem a deixar ao lado duma outra porta que dizia “Entrada restrita – Espaço privado”.
- Wait here Miss.
O segurança entrou pela porta. Lia esperou. Começou a perceber o que estava a acontecer quando ouviu alguém falar alemão do outro lado da porta.
Olhou estupefacta para a porta. Os Tokio Hotel estavam do outro lado deste pedaço de madeira. Foi o único pensamento que lhe ocorreu até um rapaz sair por esse mesmo pedaço de madeira. O rapaz era alto, tinha o cabelo em rastas, um piercing no lábio, e vestia-se de maneira muito descontraída. Este rapaz era muito, muito familiar a Lia, cujo cérebro já tinha abrandado a actividade antes de ele sair. Quando ele lhe falou baixinho para ninguém ouvir a não ser ela, o dito cérebro parou de funcionar e não registou o pensamento coerente:
- Hey, I was hoping we could talk. It’s about Bill and Luutsia. I heard what you said.

To be continued…


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