Uma Qualquer História Especial escrita por UQPE


Capítulo 17
Capítulo 17 - A Raiva




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Lúcia não teve de dar muitos passos para chegar a Tom, agarrá-lo pela nuca e puxá-lo na direcção da sua boca.
E beijou-o com fervor, descarregando toda a fúria que sentia contra Bill. Não sabia se era devido a este descarregar de sentimentos, ou ao contacto físico, mas sentia a dor dentro do seu peito, se não a diminuir, pelo menos a estabilizar. Olhou pelo canto do olho e viu lágrimas nos olhos de Bill. E sentiu o seu peito encher-se duma dor diferente, não de raiva, traição ou angústia, mas de mágoa.
Afastou a cara da de Tom, Lúcia tinha os seus olhos cheios de lágrimas e algumas a escorrerem-lhe pela cara, tal como Bill. Olhou-o nos olhos, viram tristeza nos olhos um do outro. Estavam tão distantes neste momento, mas próximos na sua mágoa. Lúcia sentia o bater anormal do seu coração, o sangue a passar pelas suas veias, a cara vermelha de emoção, as bochechas húmidas de lágrimas, sentia-se presa, asfixiada, o silêncio era demais, o espaço era pequeno demais, ou seria o seu coração que apertava cada vez mais contra o seu peito?
Tinha de fugir, de sair dali.
Atirou a revista e correu para o elevador.
Gustav e Georg tiveram de segurar Bill para não correr atrás de Lúcia; assim que ela entrou no elevador, Bill deslizou ao chão, até ficar sentado, com as pernas dobradas para o lado, a cabeça baixa, e os braços estendidos.
Tom, desde que Lúcia o beijara não mudara a expressão: espanto. Como que se acordasse, olhou para baixo e viu a revista. Pegou nela e andou na direcção de Bill. Bill sentiu os passos do irmão, e tudo o que de triste sentira, de mágoa e de traição, tornou-se numa raiva comparável à de Lúcia.
Levantou-se para o irmão e, antes deste lhe chegar ao pé, foi até ele e esbofeteou-o.
Ninguém, nem Gustav nem Georg disse nada. Parecia que o som da mão de Bill contra a cara de Tom ecoava. Tom tinha a cara virada. Sentia a mão do irmão ainda contra a sua cara, como se deixasse uma marca. Nunca nenhuma estalada ou murro lhe doera tanto. Não entendia nada do lhe passava na cabeça. O seu irmão, o seu igual, o seu melhor amigo? Sentiu Bill arrancar-lhe a revista da mão e olhou-o na cara.
Tom não chorava mas mostrava nos olhos grande transtorno. Bill chorava novas lágrimas, mas estas de fúria. Não disse nada e foi com a revista na mão até ao seu quarto, batendo com a porta.

Assim que a porta do elevador fechou, Lúcia caiu ao seu chão, chorando de angústia. Angústia pela traição de Bill, angústia por lhe ter causado mal, angústia por se sentir em parte satisfeita por isso, e angústia por tudo junto e por o amar tanto. Chorou desconsolada, literalmente baba e ranho. Não queria saber de quem ouvisse. Não tinha carregado em nenhum botão mas o elevador movia-se, embora ela não tivesse noção. Quando chegou ao andar de baixo, um senhor estrangeiro com cerca de cinquenta anos olhou para ela, surpreendido e exclamou:
- Miss, miss! Are you alright?
Ela reparou num senhor à frente dela mas nem o ouviu, continuando a chorar, respirando erraticamente e emitindo sons de dor.
O senhor pegou nela, dizendo “It’s alright, it’s alright...” e levou-a até à recepção, onde o senhor que lhe tinha dado a t-shirt a dizer “TH STAFF”, há tanto tempo atrás, pensando que ela tinha chegado agora e queria ir ter com Bill, começou a puxá-la para ir para o elevador. Quando ela tomou consciência do que se passava, arrancou o braço do dele e gritou, não se lembrando que ele não falava português:
- LARGUE-ME!
Se antes o hotel em massa não estava embasbacado com ela, estava agora. Lúcia correu até conseguir apanhar o autocarro, a viagem parecendo bem mais curta que a outra, e chegar a casa.
Assim que chegou, ignorou as perguntas da mãe, trancou a porta do quarto e enfiou-se debaixo dos lençóis.
Passadas umas deliciosas horas de quase inconsciência, Lúcia acordou e lembrou-se de tudo o que se passara. Se pudesse, arrancava o seu próprio coração, para lhe parar de doer tudo... Ouviu o vibrar do telemóvel e um fiozinho de razão surgiu no meio do nevoeiro que se tornara a sua mente e calculou que não seria Bill.
Foi até onde tinha deixado a mala no dia anterior, e tirou o móvel.
- Está tudo bem contigo agora? – disse a voz de Lia.
Apesar da mágoa, Lúcia sorriu. Lia parecia estar a milhas de distância. Respondeu-lhe.
- Está, não te preocupes.
- Ok! Nem sabes, vai sair o DVD da estadia dos TH aqui em Portugal!
Lúcia não respondeu. Não queria pensar em nada que tivesse a ver com a banda.
Nem sabia que tinham sido filmados. Mal ela sabia que esta simples mensagem ia ter muito mais significado no futuro...

To be continued...

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