—Então, o que foi? -perguntou Neji a Hiashi no pé da porta.

—Eu preciso falar com você.

—Diga.

—Você não disse que estava trocando de roupa?

—E estava -disse o garoto olhando de relance para a cama.

—E por que está com a mesma roupa que veio da escola?

Droga! Nem pra trocar de roupa eu me lembrei! Pensa logo em uma desculpa!

—Ah... porque... porque minhas outras roupas estão sujas, então vesti as de hoje de novo. Veio aqui só saber disso?

—Não. Só avisar que dessa vez quero você para o jantar e sem atraso dessa vez.

Qual o problema desse cara? Fazer essa preserpada toda só por causa do pai dele? Se fosse um pai normal, amoroso, até entenderia, mas pra aquele velho sem um pingo de sentimento?

—Entendeu, Neji?

—Sentar e ficar olhando pra cara daquele mau-caráter? Não sei não hein.

—Você não precisa aceitar ele, basta sentar, comer e sair. Ele já é um senhor de idade, não é ofensivo.

Você que pensa.

—Por que faz isso? O fato de agora ele está mais velho não quer dizer que tenha adquirido sentimentos!

—Garoto, só desce, come e sobe, pode fazer isso?

—Não garanto.

—Qual é a sua dificuldade....

Paft.

—Que barulho foi esse? -perguntou o homem.

—Que barulho? Eu não ouvi nada -respondeu Neji nervoso ao constatar que estava vindo de baixo da cama.- Por que você não vai descendo, eu já estou indo.

Paft.

—Mas de onde é que está vindo isso? -perguntou Hiashi intrigado.

—Papai -disse Hinata ao entrar no quarto do primo.

—O que foi?

—Vovô está perguntando que horas vamos jantar.

—Morto de fome -disse Neji recebendo um olhar insatisfeito do tio.

—Já estamos descendo.

Paft.

—Tá bom, eu quero saber de onde está vindo isso -disse Hiashi incomodado, enquanto Hinata, que estava atrás dele, se inclinou um pouco para olhar debaixo da cama, deixando o primo tenso.

Mas o que é que a Tenten está fazendo debaixo dessa cama pra fazer tanta zoada? Dançando um axé?

—Deve ser o vento batendo na janela, papai. Vamos, então?

—É, deve ser -falou saindo do quarto.

—Já estamos indo, queria só falar com o Neji sobre uma coisa da nossa aula de hoje.

—Tudo bem, mas não demorem -disse o homem saindo de vez do quarto.

—O que tem embaixo da sua cama, Neji? -perguntou Hinata tentando olhar.

—Nada -respondeu o garoto impedindo que a garota verificasse o chão da cama.

—Neji, deixa eu ver -falou a garota tentando tirar o primo do caminho.

—Não tem nada para ser visto.

—Se você diz, vamos logo antes que papai venha aqui de novo.

—Ótima ideia -disse caminhando em direção à porta, não sem antes dar uma rápida olhada para ver se Tenten continuava escondida.

—Então, o que você fez de tarde com a Tenten?

—Bom... -começou a responder, quando de repente a prima se voltou correndo para olhar debaixo da cama.

Quando foi que ela se tornou tão esperta?

—Hinata! 

—Nem vem Neji, eu quero saber o que você está escondendo aqui, não é nenhum bicho, não é? -disse levantando a colcha da cama.- Tenten?

—Oi, como vai Hinata -falou a menina de coques colocando a cabeça para fora-, gostei da sua blusa, comprou aonde?

—Neji, o que a Tenten está fazendo embaixo da sua cama? -perguntou Hinata horrorizada.

—Não é o que parece -argumentou Neji.

Genial, isso é o tipo de coisa que só alguém que é culpado diz.

—Ela veio saber como eu estava, entrou e estávamos conversando quando seu pai bateu na minha porta, então entrei em pânico e a escondi.

—Eu disse que não era preciso -começou Tenten-, bastava ter dito que éramos amigos.

—O que diabos você estava fazendo debaixo dessa cama pra fazer tanto barulho?

—Desculpe, é que bati com a cabeça.

—Vocês dois, no quarto, de porta fechada? -indagou Hinata.- Foi melhor mesmo escondê-la, se papai os visse ia dar o que falar.

Talvez a Hinata não seja tão ingênua quanto eu pensei que fosse.

—É melhor irmos logo, senão seu pai pode desconfiar. Tenten, fica aqui, ainda quero conversar mais com você -disse Neji sorridente-, eu volto logo, não vou conseguir passar dez segundos na mesma mesa que aquele velho. E ainda te trago um prato, pode ser?

—Só o prato? Eu vou querer comida por cima dele -respondeu a garota sorrindo, recebendo o mesmo sorriso do amigo-. Por enquanto, posso ficar olhando as suas coisas, vi que tem um monte de quadrinhos bem interessantes.

—Fique à vontade, volto já.

—Só um minutinho -disse Hinata.

—O que foi? Vamos acabar logo com essa tortura!

—Por que você falou pro meu pai hoje cedo que eu gostava do Naruto?

Ela está evoluindo. Antes sequer conseguia falar o nome do Naruto sem ficar vermelha e agora me diz que gostava dele?

—Você fala como se eu tivesse fofocado. Eu só disse porque você entregou que eu estava com a Tenten.

—Não disse isso pra te prejudicar, Neji, só queria que a discussão entre você e papai acabasse logo.- Sabe como esse assunto é delicado pra mim.

—Eu avisei -interrompeu Tenten.

—Se você tivesse ficado de boca fechada, talvez eu não tivesse falado, e, além do mais, seu pai nem se importou.

—A questão não é essa, Neji, você sabia que era segredo.

Pra quem? Quem é que não vê que ela arrasta um trem por aquele loiro cabeçudo?

—E você me prometeu que nunca ia contar pra ninguém.

—Eu digo muitas coisas, nem todas elas são verdade.

—É mesmo -começou Tenten-, o que ele fala não se escreve.

—Viu? Ei!

Ei!

—Só me conhece há alguns dias, já está falando mal de mim?

—Só repeti o que a escola toda comenta -respondeu a garota dando de ombros.

—Deixa pra lá -concluiu Hinata-, vamos logo.

Os dois primos desceram as escadas e caminharam em direção à cozinha, deixando Tenten sozinha no quarto remexendo nas coisas de Neji.

—Apressa esse passo, Neji -reclamou Hinata ao ver que o primo se arrastava.

—Tô dando tempo.

—Tempo pra quê?

—Vai ver o velho se engasga com a comida, morre e vai tomar um chá quente diretamente com o capeta, no lugar que ele merece estar.

—Neji! Vem logo -disse a garota pegando o primo pela mão e arrastando-o.

Chegando na sala-de-jantar, estavam sentados à mesa, Hiashi, seu pai e Hanabi, que conversava alegremente com o avô.

—Como vai, Neji? -falou o homem velho assim que avistou o garoto.

—Bem, há um minuto estava ótimo, agora estou com você -disse Neji com um sorriso sarcástico.

—Neji! -advertiu Hiashi.

A hora do tédio chegou. Como vou passar o jantar inteiro olhando pra cara desse velho? Me dá vontade de vomitar!

—Por que não almoçou conosco? -perguntou o velho, enquanto Hiashi encarava Neji para dar uma boa desculpa.

Porque eu tinha coisa melhor pra fazer!

—Fiquei estudando até mais tarde -respondeu descontente.- Tenho prova de Geografia, então me atrasei.

—É uma ótima matéria. Estava lendo um artigo sobre isso e falava sobre a rotação dos planetas em torno do sol, bem interessante -disse o velho.

—Maravilha, descobriu então que o mundo não gira em torno do seu umbigo?

—Neji -disse Hinata baixinho enquanto chutava a perna do primo por debaixo da mesa.

—Ai -reclamou Neji.

—Por que não comemos, assim você fica de boca fechada -disse Hiashi a Neji.

Ugh. Detesto fazer o que não gosto. Mal posso esperar pra ir embora de uma vez dessa casa e nunca mais olhar na cara desta família. Não quero mais pensar nisso. Ei, agora que lembrei que amanhã tem uma festa legal que combinei de ir com o pessoal da escola, já estava esquecendo...

—Neji! Neji -chamava Hiashi, enquanto o sobrinho parecia estar em outra realidade.

—Sim? -disse Neji voltando ao mundo real.

—Por que não participa da conversa?

—Não, estou bem, podem continuar sem mim.

—Estamos todos jantando, por que não pode conversar conosco por alguns minutos?

—Poder eu posso, só não quero.

Subindo as escadas, Tenten continuava a bisbilhotar as coisas de Neji.

—Nossa, esse jantar está demorando -concluiu olhando para a porta.- Vou dá uma espiada pra ver se Neji já está vindo.

Tenten desceu alguns degraus da escada e sentou em um batente, de onde dava para observar a família jantando, sem ser vista.

—O Neji não parece nem um pouco feliz -disse a garota para si mesma enquanto olhava o amigo na mesa.

Na sala-de-jantar, o clima continuava tenso.

—Talvez depois podemos fazer alguma coisa, assistir algum programa ou até jogar um jogo -sugeriu Hiashi tentando amenizar a situação.

Jogar? Quantos anos você tem?

—É uma boa ideia -disse o velho.- Por que não jogamos aquele jogo que você e Hizashi gostavam....

Paft!

Tenten, que estava na escada com um olhar entediado, esperando que o jantar acabasse, logo ficou esperta. Na mesa, todos olhavam para Neji apreensivos. Fora o garoto que provocara o barulho ao socar a mesa, fazendo os pratos se remexerem.

—Qual o seu problema, garoto? -perguntou o velho.

—Você! Você é o meu problema! Nunca mais nessa sua vida miserável ouse pronunciar o nome do meu pai com essa sua boca imunda.

—Agora o circo vai pegar fogo -concluiu Hanabi.

—Olha, eu sei que eu fui um pai ruim...

—Não, você não foi, porque pra ser um pai ruim, antes você precisaria ter sido pai! Pergunte a qualquer um, meu pai te odiava, dizia que só convivia com você porque era o que tinha, mas não considerava você como pai porque nunca deu valor a ele! Pergunte ao seu filhinho, ele foi um péssimo irmão, mas ouvia meu pai dizer isso!

—Você está enganado -falou o velho.- Diga a ele, Hiashi.

Naquele momento, Tenten, Hinata e Hanabi prestavam atenção na situação atentamente, sem sequer respirar. Hiashi apenas ficou calado com o pedido do pai.

—Diga a ele que isso não é verdade -continuou o velho.

—Bom, pra falar a verdade, Hizashi não gostava muito de você -respondeu para a surpresa do velho.

—Não gostava muito? -disse Neji.

—Tem razão -confirmou Hiashi-, ele odiava você com todas as forças que tinha.

—Não entendo, mas por quê? -indagou o velho surpreso.

—Talvez seja pelo fato que o senhor nunca deu atenção a ele, que sempre deixou claro que eu era seu filho favorito e que nunca demonstrou qualquer tipo de sentimento com ele.

—Nossa, ele é um homem ruim mesmo, como Neji falou -concluiu Tenten na beira da escada.

—Eu vou me deitar -anunciou o velho levantando.- Essa noite foi demais para mim, se ficar aqui possa ser que eu tenha um ataque do coração.

—Não se preocupe -disse Neji-, para ter um ataque do coração, antes você precisa ter um e não é o caso aqui, não é?

—O fato de o vovô não ter sentimentos, não quer dizer que não tenha um coração -disse Hinata.- Associamos nossos sentimentos ao coração, mas na verdade eles ficam no nosso cérebro, dizer que temos sentimentos no coração é só uma metáfora, apenas algo simbólico.

—Não estraga o momento, Hinata -disse Neji.

—Mas é verdade, aprendi isso na aula de biologia.

E eu aprendi um belo golpe na aula de karatê e se não calar essa sua boca, vou já usá-lo em você.

—Você não se ouve? -perguntou Neji à prima.- Na raiva eu podia compará-lo a um animal, se bem que hoje aprendi que animais têm sentimentos, mas, enfim, quando estou xingando, falo qualquer coisa! -disse se levantando da mesa.

—Droga, ele está vindo -disse Tenten ao perceber que Neji caminhava na direção da escada.

A garota subiu correndo, sem ser vista pelo amigo. Entrou no quarto, pegou qualquer revistinha e a abriu, tentando parecer que estava lendo.

—Oi Neji -disse quando o garoto entrou no quarto furiosamente.- Então, como foi o jantar? -perguntou com um sorriso nervoso.