Um mês já havia se passado desde que Neji começara a namorar Tenten. Os dois passeavam bastante juntos, mas não deixaram os velhos amigos de lado. A não ser que o programa do dia fosse no cinema.

—Gostou do filme? -perguntou Tenten a Neji na saída do cinema.

—Não.

—Como não? Lanterna Verde é incrível!

Esse era uma das coisas que eu achava mais diferente nela. Ela amava histórias em quadrinhos e tudo que estivesse relacionado. Geralmente as garotas acham isso um saco, mas ela não. Eu gosto, mas não sou fã como Tenten é.

—Tenho que ir pra casa, já tá ficando meio tarde.

—Nossa, depois que começou a frequentar esse seu psicólogo ficou tão responsável -disse a garota sorrindo.- Estou orgulhosa de você.

Ela tinha razão. Depois que passei a fazer terapia, fiquei mais gentil com as pessoas. Não sei se gosto disso.

—Está tudo bem? -indagou Tenten.- Você está tão calado ultimamente.

—É que o teste de paternidade que fiz com Hiashi sai amanhã. Como o laboratório disse que demoraria um mês para o resultado ficar pronto, fiquei tranquilo, achando que sempre faltava tempo, mas agora chegou a hora.

—Não fique nervoso, seja o resultado que for, nada vai mudar.

—Claro que vai. Mas, tentarei ficar calmo.

—Ótima ideia, mas fique calmo mesmo. No dia em que foi fazer o teste foi uma novela para conseguirem tirar seu sangue. À todo momento você desistia, ia embora, depois voltava...

—Se coloque na minha situação. Naquele dia eu não estava confortável. Mas acabei fazendo não foi?

—Fez porque seu tio o segurou enquanto o enfermeiro tirava seu sangue.

—Detalhe pequeno.

Minha vida estava caminhando em uma boa direção. Tenho bons amigos, talvez um pouco retardados, mas nunca posso reclamar da ausência deles. Minha namorada é uma garota incrível. Por incrível que pareça estou me relacionando melhor com a minha família. Nunca mais impliquei com a Hinata e agora peço permissão antes de sair e incrivelmente meu tio concorda. Não sei se essa é uma mudança boa ou ruim. O que me preocupa é apenas o resultado desse exame. Não queria que desse positivo, ia ser muito esquisito. O lado bom é que como o Hiashi notou que eu estava meio pra baixo por causa dessa situação, está me deixando fazer tudo o que quero. Saio para as festas à noite, claro que com hora para chegar, mas ainda assim é um conquista; posso comer o que quiser; e o mais legal é que ele acabou esquecendo da nossa briga sobre cortar o meu cabelo.

—Já vou indo, beijo -disse Tenten beijando Neji.

—Tchau.

No caminho de volta para casa, ficou desatento pelas ruas, pensando em seu encontro. Mal acreditava que seu relacionamento com a menina que gostava estava dando tão certo.

—Demorou -disse Hinata ao ver Neji chegando em casa.- Como foi o filme?

—Uma droga, mas o passeio foi legal.

—Me ajuda a colocar as coisas na mesa?

Essa é uma parte muito chata. A pestinha da Hanabi resolveu aprontar na escola e chamaram o Hiashi para conversar. A diretora disse que talvez o comportamento dela seria causado por problemas na família, como desunião. Então, o pai dela resolveu baixar o decreto: agora tudo que se faz é em conjunto. Saímos juntos nos finais de semana, almoçamos juntos, jantamos juntos. É um saco! Gostava da época em que podia comer no meu quarto assistindo televisão.

—Chegou só agora? -indagou Hiashi entrando na sala de estar.- Já são mais de nove horas, Neji. Não tínhamos combinado que na semana, você voltaria até as oito?

Até as oito? Vê se pode! Não, e o melhor é que nos finais de semana o horário para voltar pra casa é às onze. E Hiashi especificou que seriam às onze da noite do do dia em que eu saísse. Será que ele nunca foi adolescente? Onze horas é o horário que a festa começa e não a hora de ir embora!

—O filme que a Tenten queria ver só começava às oito.

—Por que não chamou ela para jantar conosco?

—Porque disse que seria um jantar familiar.

—Não me importo que chame ela. Até prefiro, assim conheço as pessoas com quem anda.

—Você já a conhece.

—Não, eu já a vi quando ela acompanhou você no teste que fizemos, mas aquilo não conta porque fez tanto escândalo que não pude conversar direito com ela.

—Não fiz escândalo. Foi uma pequena cena de desespero.

—Então, ligue para ela, se bem que já é tarde.

—Ela mora pertinho daqui, papai -disse Hinata.

—Pois então, Neji, chame-a e depois nós podemos acompanhá-la de volta para casa.

—Acho melhor não.

—Por que não? Tem vergonha da sua família?

—Sim, mas esse não é o ponto.

—Deixa de besteira e liga logo para ela.

—Ligar para quem? -perguntou o pai de Hiashi.

—Para a namorada dele -respondeu o homem.

Dá para acreditar que esse velho ainda tá aqui? Se fixou na casa e não quer sair mais.

Neji pegou seu celular e ligou para a namorada.

—Tenten?

—Oi, Neji, aconteceu alguma coisa?

—Não, está tudo bem, é que meu tio a convidou para jantar aqui, aceita?

—Sério? Claro que sim, já que se for esperar por você nunca iria conhecer a sua família oficialmente.

—Eu não tenho vergonha de você, tenho vergonha deles.

—Nós estamos bem aqui, dá para ouvir tudo -gritou Hiashi para Neji.

—Quer que eu vá te buscar?

—Não, é pertinho.

—Tá bom, estou esperando na porta.

—Tá, beijo.

Cinco minutos se passaram e Tenten apareceu na casa dos Hyuuga.

—Oi -disse a garota beijando Neji.

—Ei! Que bom que veio! Está com muita fome? Acho que o jantar ainda não está pronto.

—Não se preocupe, não estou com fome. Acabamos de comer no cinema, lembra?

—Vem, vamos entrar -disse abrindo caminho até a sala de jantar.

—Oi Tenten -disse Hinata a abraçando.

—Oi Hinata.

—Como vai, Tenten, lembra de mim? -indagou Hiashi estendendo a mão para a garota, que a apertou.- Esse é o meu pai -falou apontando para o velho que também a cumprimentou.

—Ainda nessa de jantar em família? -indagou Hanabi descendo as escadas nada feliz.

A pestinha está entrando na adolescência, então seus hormônios estão começando a falar. Ela não era assim antes e não sei se vai continuar. 

—Cadê a sua educação, Hanabi? -repreendeu Hiashi.

—Estou com você, tampinha, detesto esses jantares em família, prefiro comer na frente da televisão -disse Neji.

—É assim que você fala na frente da sua namorada? -indagou o avô.

—Ela sabe como eu sou. E eu não gosto de comer com vocês, não com ela.

—Cala a boca e senta, Neji -ordenou Hiashi.

Os seis sentaram na mesa e se serviram. 

—Quantos anos você tem mesmo, Tenten? -indagou Hiashi.

Típica pergunta sem propósito nenhum, só para encher linguiça.

—A mesma idade que Neji, tenho quatorze.

—Mas vai fazer quinze ou já fez quatorze?

—Vou fazer quinze, próximo mês.

Próximo mês? Interessante saber. Qual o meu problema? Comecei a namorar e nem perguntei o dia do aniversário dela! Ainda bem que não passou.

—Essa comida está ótima -exclamou Tenten sorridente.

—Jura? Parece só mato -disse Neji apontando para a salada em volta da carne assada.

—Neji -repreendeu Hiashi.

—De verdade, está muito boa -falou Tenten sem se importar com a intromissão do namorado.

—Você também disse isso do filme. Estava cento e vinte minutos errada.

—A Hinata me disse que você é uma ótima aluna -começou Hiashi.

—Ela exagera um pouco -respondeu Tenten envergonhada.

—Não estou nada. Você mal chegou e só tira notas boas -falou Hinata sorrindo.- Seu problema é que não gosta de responder quando os professores perguntam.

—Eu fico um pouco constrangida de falar em público.

—Uma menina que namora o Neji não se constrange à toa -disse o avô de Neji.

—Pai, por favor -repreendeu Hiashi.

—Enfim, não gosto de falar em público, fico nervosa. Mas não só eu, Neji também sabe da matéria e nunca responde.

—Mas ele não responde por vergonha e sim porque fica prestando atenção em outra coisa -disse Hinata.

—Neji, o dinheiro que lhe pago não é só para ir à escola, é para prestar atenção também.

—O senhor paga para ele ir à escola? -perguntou Tenten surpresa.

—Sim. É um pouco triste, mas é a verdade. Apesar de ser inteligente, Neji não gosta de usar sua capacidade para coisas boas. Teve uma época que não queria de jeito nenhum ir à escola, fiz de tudo e nada. Então ofereci um trato de dez reais para ele sempre ir, mas o trato era para ir fisicamente e mentalmente, ouviu rapaz -falou Hiashi olhando para Neji.

—Então, paga dez reais todo dia para ele ir para o colégio? -indagou Tenten.- Nossa! Eu vou porque tenho medo de não me formar e não arranjar um emprego.

—Quem dera Neji fosse assim. O mundo pode desabar que ele não está nem aí. Vai acabar me levando à falência dar dinheiro todos os dias, fora o dinheiro do lanche e a mesada. Sem falar em escola, psicólogo e meu maior medo no futuro, fiança.

—Você podia ter me dado para a adoção quando meu pai morreu, ficou comigo porque quis, agora aguenta -disse Neji.

—Bem que podia ser menos bruto nas suas respostas -disse Hinata a Neji.

—Não é brutalidade, é sinceridade.

—E pode crer que isso ele tem muito -disse Tenten em relação ao namorado.- Semana passada perguntei se uma blusa me deixava gorda e ele não pensou duas vezes antes de responder que sim.

—O quê? -indagou Hinata.- Neji, que grosseria!

—Foi ela quem perguntou e eu dei uma resposta honesta.

—Vou ter que mandá-lo colocar um pouco de salada no seu prato na frente da sua namorada? -disse Hiashi a Neji.

—Eu não gosto, eu não como -respondeu Neji começando a assobiar.

—Sem assobios na mesa -repreendeu o tio.

—Por que eu nunca posso assobia?

Isso é um saco! Eu sempre gostei de assobiar, me acalma, mas meu tio diz que não é educado assobiar enquanto se está almoçando, jantando ou em sala de aula.

—Porque não é educado -respondeu o homem.- E é um saco ter que ouvir.

—Claro que não! Você acha chato eu assobiar, Tenten?

—Um pouquinho -disse envergonhada. 

Apesar das pequenas discussões, o jantar prosseguiu bem.

—Tem bolinho para a sobremesa, gostam? -perguntou Hiashi à todos.

—Sim -responderam.

—Pai, por que o senhor não me ajuda a pegar?

—Claro -disse o velho se levantando da mesa.

—Por que motivo o senhor está sendo tão grosseiro? -perguntou Hiashi ao pai.

—Neji nunca fez questão de ser legal comigo, por que tenho que ser com ele?

—O senhor vai se trocar com uma criança? Neji é assim com todo mundo.

—Que seja! Ele já deve ter dito para a namorada dele horrores de mim, então, que diferença faz eu ser grosseiro?

Os dois voltaram à mesa trazendo uma bandeja de bolinhos de chocolate, a qual todos se serviram, sobrando apenas um. Tenten foi pegar o último, ao mesmo tempo que o avô de Neji.

—Desculpe -disse a garota constrangida.

—Não me surpreende ser namorada de Neji, deve ser igualzinha a ele -falou o velho amargamente.

—Pai -disse Hiashi.

—Sabia que em tradições antigas, o último pedaço de comida sempre fica com o mais velho dos membros ou no caso o mais importante? -disse o velho Hyuuga.

—Mesmo? -disse Tenten sorridente.

—Claro -falou o velho pegando o bolinho, mas Tenten foi mais rápida e o pegou primeiro, comendo-o.

—Obrigada à todos, é uma grande honra ser a mais importante do grupo -falou enquanto ainda mastigava, para a graça dos demais.

—Por que não vamos para a sala um pouco? -sugeriu Hiashi.

Todos seguiram para a sala e Neji logo sentou-se no chão e junto com Hanabi ligaram o vídeo-game para jogarem.

—Ei, vocês dois, eu sugeri a sala para conversarmos não para ficar jogando -disse Hiashi.

—Eu sei conversar e jogar ao mesmo tempo -disse Neji.

—Então ele é desatencioso em casa também? -indagou Tenten.- Achei que fosse mal de colégio. Mas não tem problema não, já estou acostumada.

—Eu disse que sei fazer os dois ao mesmo tempo!

—É mesmo? Gostou da minha saia?

—Cor fabulosa!

—Fico bem de vermelho, né?

—Claro.

—Eu não estou de vermelho, Neji.

—Sério? -falou o garoto virando para olhar.- Achei que fosse, vai ver eu sou daltônico.