Elementos - Da criação à queda escrita por FantasyWD
—... Essas são imagens exclusivas do céu da praia de Copacabana. Os especialistas não sabem explicar origem e formação do fenômeno. A grande nuvem negra, que parece ser formada por cinzas, surgiu no céu de repente...
— Não acredito que pararam o jogo para isso. — disse o homem sentado no sofá apontando uma lata de cerveja para a televisão. Ele mudava os canais com o controle remoto, mas todos mostravam a mesma notícia. — Que merda!
—... E então já era noite. Minhas filhas correram para o quarto e se esconderam, estão aterrorizadas. — falava um homem na tela da televisão. — Esse é mais um cidadão com medo — a imagem agora mudava para uma mulher. — Os meteorologistas afirmam que a nuvem continua crescendo. Agora ela já cobre quase toda a área da praia de Copacabana, e segue em direção a noroeste...
— Já chega! — o homem sentado no sofá desligava o aparelho.
— Por que desligou? — perguntou um menino que via o noticiário, estava parado atrás do sofá. Tinha cerca de 16 anos, era alto e magro, vestia um casaco azul que cobria seus braços e jeans. Seus cabelos eram pretos encaracolados e seus olhos possuíam um verde brilhante. — Você ouviu o que a jornalista falou, pai? A nuvem negra segue em direção ao noroeste, ou seja, em nossa direção.
— Isso é bobagem, Samuel. — respondeu o homem. Tinha entre 40 a 45 anos e feições semelhantes com as do menino, porém era forte e tinha a cabeça raspada. — Isso deve ser alguma merda para promover algum filme.
— Não acho que seja uma propaganda — comentou Samuel. Pegou o controle no sofá e religou a televisão. — E também, ninguém faz mais isso hoje em dia.
— Que seja! Acabou a cerveja — o homem mostrava uma garrafa fazia para o menino. Vestiu um casaco e foi em direção a porta. — Vou comprar mais.
Samuel assentiu. Não bebia cerveja, mas desde a morte de sua mãe o pai bebia por três.
O pai trabalhava como carpinteiro, fazia moveis e vendia, o que dava para pagar o aluguel do apartamento que moravam, e o que sobrava era usado para pagar contas e comprar o básico que precisavam para viver.
Moravam em um prédio de nove andares, com três apartamentos por andar. Viviam no nono andar, abaixo do terraço. O apartamento era simples, mas bonito. A cozinha e a sala eram divididas por um balcão, com o único banheiro ligado à cozinha. À esquerda da sala havia um corredor que levava para dois quartos, onde dormiam. O lugar estava decorado com quadros de fotos deles e da mãe de Samuel.
O rapaz olhava atentamente para a televisão. A tela mostrava imagens de pessoas olhando para um céu escuro, algumas abraçavam seus filhos.
Lá fora, uma tempestade caia. Era o começo de Outubro e, nessa época do ano, chuvas intensas e constantes caiam sobre Goiânia, onde ele morava com o pai.
Lembrou-se do pai sozinho nessa chuva. Levantou e foi em direção de uma janela, abrindo-a. A chuva e vento fortes batiam contra seu rosto, mas ele não via o pai. Voltou para o sofá, a televisão agora mostrava cenas de futebol. Ficou decepcionado, não gostava do esporte. Antes que pudesse desligar o aparelho, todas as luzes do apartamento desligaram, assim como a televisão. Samuel espiou novamente pela janela e viu que toda a cidade estava escura, se o pai estivesse vindo, ele não viria. Certamente a tempestade causara algum problema, fazendo com que a luz acabasse. A única iluminação era feita pelos relâmpagos. Lembrou-se que o pai deixara uma lanterna ao lado da televisão, com ela Samuel pôde pegar velas na cozinha e acende-las pela sala.
Um estrondo ocorre no terraço. Não foi um barulho qualquer, parecia que um carro havia caído na cobertura. Samuel olhou para o teto, confuso. Silêncio. Gostava de ir ao terraço com o violão, ficava horas cantando e tocando lá encima. Tentou ignorar o barulho que escutara, mas sua curiosidade não o deixava. Agarrou a lanterna e saiu do apartamento, as escadas para a cobertura ficava logo ao lado. Subiu os degraus dois de cada vez. Tropeçou na metade do caminho, mas conseguiu se segurar na parede.
A porta no fim das escadas estava trancada, mas não era um problema para ele. O cadeado era velho e enferrujado, ele sabia como destrancá-lo.
A porta se abriu com dificuldade e ele a atravessou. A chuva caia sobre seus cabelos, desmanchando os fios encaracolados. Com a lanterna ele tentou verificar o local, mas ela apagou, provavelmente a água a penetrou e a desligou.
Samuel tentava, com a luz dos relâmpagos, olhar pelo terraço, não via muito bem. Notou que havia algo no chão, na beirada do prédio e dá alguns passos a frente. Agora ele via melhor, a silhueta tinha cerda de dois metros e meio, e gemia baixo. Por um momento ele pensou que se tratava de um homem, mas havia algo em suas costas, algo volumoso. Dando alguns tapinhas na lanterna, ele a fez funcionar novamente. O feixe de luz era fraco, mas ele conseguiu iluminar a coisa que estava em sua frente. Soltou um grito. Não acreditava no que estava diante dele.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!