Sem Rumo escrita por Arisusagi


Capítulo 5
Body Mod


Notas iniciais do capítulo

Como eu sofri pra escrever esse capítulo :'D
Tinha uma ideia tão boa pra ele, mas não conseguia gostar do que estava escrevendo. Mas enfim, postei atrasado mas consegui postar.
Agradeço à Julia por ter betado isso aqui pra mim.



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Nagisa e Rei passaram o dia vasculhando as casas e prédios da zona sul da cidade. Eles encontraram um pouco de comida e várias outras coisas úteis, como uma caixa de primeiros socorros, dois canivetes e algumas roupas.

As ruas daquela parte da cidade estavam muito sujas. Havia lixo por toda parte, e o cheiro de podre tomava conta do ar, o que deixava Rei muito incomodado. Ele não suportava aquele fedor, e queria encontrar logo um lugar onde pudesse tirar aquelas roupas sujas e rasgadas e vestir algo limpo.

Rei e Nagisa tiveram a sorte de encontrar um pequeno sobrado cuja escada ficava escondida atrás de uma porta; era o lugar perfeito para passar a noite.

Faltava algumas horas para escurecer, mas os dois já haviam travado a porta com uma pequena cômoda que acharam debaixo da escada. Agora estavam no andar de cima, procurando algo que lhes fosse útil.

Deduziram que aquele andar um dia fora um estúdio de tatuagem, julgando pelas fotos desbotadas de pessoas tatuadas que cobriam um painel em uma das paredes. O lugar tinha várias cadeiras acolchoadas e algumas macas, e era dividido em uma área maior e outras duas salinhas menores, em uma das quais Nagisa entrou para trocar de roupa.

Enquanto Rei dobrava a barra de sua calça nova, Nagisa o chamou.

— Rei-chan! Olha o que eu achei! — Nagisa saiu da salinha com um frasco e um pacotinho de plástico nas mãos.

— O quê?

— Tinta e agulhas de tatuagem! — Ele estendeu os braços, mostrando os itens para Rei.

— E...?

— Dá pra fazer a tatuagem que eu falei!

Rei se lembrou da conversa que tivera com Nagisa havia mais ou menos uma semana. Ele dissera que, se pudesse, faria uma tatuagem para sempre se lembrar de Rei, mesmo que eles se separassem. É claro que pensar na possibilidade de se separar de Nagisa deixou Rei bem assustado, ainda mais por não ser algo impossível de acontecer.

— Mas como você vai fazer? Não tem energia para as máquinas funcionarem, além de ser perigoso e-

— É só molhar a agulha na tinta e ir espetando — Nagisa disse com indiferença. Ele abriu um armário e começou a revirar o que tinha lá dentro. — Quando minha irmã tava no colégio, uma menina da sala dela fez uma tatuagem assim, e ela quase foi expulsa da escola. Ela fez com uma agulha de costura, um lápis e tinta de caneta.

— Você pode pegar uma infecção fazendo isso, Nagisa. — Rei avisou, ajeitando seus óculos.

— Tem álcool aqui, é só limpar a pele direitinho. — Ele colocou uma garrafa de plástico no chão, junto com um pacote de algodão.

— E a tinta? Não está vencida?

— Não. Olha. — Ele entregou o frasco para Rei, que conferiu o rótulo. De fato, a tinta estava longe de vencer.

Nagisa sentou-se no chão, ao lado de uma janela, e enrolou a perna de sua calça até a altura do joelho.

— Hm... — Nagisa olhou para a própria perna, pensativo. — Não vai dar certo com todo esse pelo. Rei-chan, você tem alguma coisa pra eu me raspar?

Rei suspirou e foi até sua mochila, que estava no chão. De lá, ele tirou uma lâmina de barbear meio enferrujada, e a entregou para Nagisa.

Depois de raspar os pelos da lateral de sua panturrilha, Nagisa embebeu um algodão em álcool e limpou aquela área.

Rei se sentou ao seu lado, curioso para saber como a tatuagem seria. Nagisa pegou uma caneta esferográfica e começou a desenhar em sua pele. Sua mão tampava o desenho, impedindo que Rei o visse. Depois de molhar o dedo em álcool para apagar algumas linhas e refazê-las, Nagisa terminou o desenho.

— Pronto! Ficou bonita? — Nagisa perguntou, mostrando o que desenhara.

— Uma borboleta? Por quê?

— É o que me lembra de você. — Nagisa riu, e beijou Rei na bochecha, fazendo-o corar. — Nadador borboleta.

Rei sorriu e bagunçou seus cabelos loiros, encostando-se na parede e pegando o pacote de agulhas que estava no chão ao seu lado.

As agulhas eram um pouco maiores que as de costura, e a ponta parecia ser formada de outras três agulhas menores. Depois limpar as mãos com álcool, Nagisa abriu a embalagem de plástico e tirou uma das agulhas, espetando-a entre a borracha e a banda de metal de um lápis quebrado que encontrara em um dos armários.

Nagisa abriu o frasco e, depois de quase derrubá-lo no chão, o que fez Rei soltar uma risadinha, molhou a ponta da agulha na tinta.

Ele precisou de três ou quatro tentativas para pegar o jeito e acertar a profundidade dos furos. O sangue que saiu nas primeiras tentativas deixou Rei preocupado. Nagisa franzia o cenho, sua expressão era um misto de concentração e desconforto.

— Dói? — Rei perguntou após alguns minutos de silêncio.

— Um pouquinho, mas dá pra aguentar.

Nagisa fazia os pontos com muito cuidado e precisão, seguindo o desenho de caneta.

Rei estava quase caindo no sono, encostado na parede, quando ouviu o barulho do chão rangendo no andar de baixo. Ele se levantou rapidamente e pegou sua espingarda. Nagisa olhou para ele, apavorado, e Rei colocou o dedo indicador sobre os lábios, pedindo silêncio.

Os sons eram de passos, e de objetos quebrando. Depois, vieram fungadas por baixo da porta e unhas arranhando madeira.

Era, certamente, um lobisomem.

Rei sentiu suas mãos suarem. Será que a porta seria suficiente para segurá-lo? Se não fosse, eles estariam perdidos.

De repente, veio o som de um tiro veio do lado de fora do sobrado, e as arranhadas cessaram.

Rei foi até a janela e se ajoelhou ao lado de Nagisa, olhando para o lado de fora.

Havia dois lobisomens no meio da rua: um estava caído no chão, no meio de uma poça de sangue, e o outro estava em pé nas patas traseiras, farejando o ar.

Escutraram outro tiro, e o que em pé caiu, ganindo alto, seu sangue escuro escorrendo pelo asfalto.

Nem Rei nem Nagisa conseguiram ver quem havia atirado, mas pelo menos os corpos serviriam para espantar qualquer outro lobisomem que tentasse se aproximar.

Nagisa voltou a trabalhar em sua tatuagem, enquanto Rei continuou a olhar pela janela, vendo o lobisomem agonizar no meio da rua. Ele não conseguia deixar de se sentir em perigo, suas mãos tremiam, e ele sentia seu coração acelerado.

— Rei-chan, relaxa — Nagisa disse, tentando acalmá-lo. — Estamos protegidos aqui.

— Eu sei, mas...

Aquela sensação de constante insegurança era terrível. Ele não conseguia parar de pensar em várias possibilidades. E se outro lobisomem estivesse escondido no andar de baixo? E se a pessoa que atirou neles quisesse roubar o que eles tinham? E se-

— Você não tem um livro? Vai ler e para de se preocupar. — Nagisa disse, interrompendo sua linha de pensamento.

Rei suspirou. Era melhor seguir o conselho de Nagisa e ocupar sua mente com outra coisa. Pegou um livro sobre química orgânica que tinha na mochila e voltou a se sentar ao lado de Nagisa.

O tempo passou bem rápido enquanto Rei lia e conversava com Nagisa. Os pontinhos pretos iam cobrindo o desenho de caneta lentamente, dando forma à borboleta.

Rei abriu uma lata de sardinhas assim que o sol começou a se pôr, e aquele foi o jantar dos dois.

Nagisa terminou a tatuagem logo depois de comer, assim que a lua surgiu no céu.

A borboleta ficou meio torta, e algumas linhas estavam mais apagadas que outras em alguns pontos, mas Nagisa parecia satisfeito com o resultado.

Ele cobriu a tatuagem com um pedaço de papel filme e o prendeu com esparadrapo, enquanto Rei segurava uma lanterna sobre sua cabeça.

Eles se deitaram logo em seguida, sobre duas macas juntas, envolvidos por uma coberta verde que acharam naquele mesmo dia.

Rei se sentia mal por se deitar ao lado de Nagisa depois de ficar quase uma semana sem tomar banho, mesmo que ele também estivesse fedendo.

Nagisa não demorou para cair no sono, e logo estava balbuciando coisas desconexas abraçado em Rei.

No entanto, Rei continuou acordado por um bom tempo, pensando sobre a tatuagem de Nagisa e sobre o futuro enquanto o via dormir.

Seu estômago se enchia de borboletas só de pensar que Nagisa o considerava importante o suficiente para marcar sua pele com aquela tatuagem.

Ele beijou a testa de Nagisa com ternura, e o abraçou com mais força.

Não dava para saber se o mundo voltaria ao normal, mas Rei gostaria de estar junto de Nagisa quando isso acontecesse.


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