No dia seguinte, ouço alguém bater à porta do meu quarto…

—Já vai.- Levanto e vou até lá.- Sim?

—Mana!- Aloys me chama.

—Ah, oi.- Sorrio.- O que foi?

—Hoje você vai fazer alguma coisa?- Ele pergunta.

—Ãhn… não, porque?

—Leva eu na floresta?- Ele pede sorrindo.

—Claro.

—Eu posso levar dois amigos?

—Não vejo problemas nisso.- Sorrio.

—Eba!!

—Bem, vou arrumar a cesta.

—Siiim!!

Ele sai correndo.

Bem, parece que hoje eu vou ter que ficar de babá.

Me arrumei, coloquei um vestido branco com roxo com mangas médias, deixei meu cabelo solto, desci para arrumar uma cesta de comida, dessa vez, levei mais comida.

Saí de casa e vi Aloys com os dois amiguinhos sentados na escada perto dali, eu olhei para eles com um sorriso, eles vieram até mim…

—Mana, esse aqui é o Louis.- Ele apontou para o garotinho louro de olhos castanhos.

—Olá.- Ele sorriu.

—Olá rapazinho.- Sorrio.

—E essa aqui é a Mary, irmã do Louis.- Ele apontou pra uma garotinha loura de olhos verdes.

—Oi!- Ela sorriu.

—Oi.- Sorri.- Bem, vamos?

—Siim!!- Os três disseram empolgados.

—Por favor, não saiam de perto de mim quando passarmos pelo centro, okay?

—Sim!

Fomos a caminho da floresta, eles são bons em obedecer, não saíram de perto de mim, isso é bom.

Ao chegar na floresta, eu vou para o pé da cachoeira, as crianças saem correndo por aí… ah, tudo bem, não me importo.

Estendi a toalha ali, sentei-me e coloquei meus pés na água como sempre, a água estava tão fresquinha, era ótimo! O som que se ouvia pela floresta era do vento entre as folhas, passarinhos cantando, passos sobre as folhas secas do chão e doces risos de criança. O sol pousava gentilmente sobre minha pele, o vento suavizava seu calor, ah… que dia bom…

—Norah!- Ouço alguém me chamar, olho para trás, era Castiel, sorri.

—Oi.

—Ontem você derrubou quatro soldados?- Ele pergunta.

—Sim.- Digo.- Algum problema, vossa alteza?

—Nenhum… você teve ajuda?

—Não.

—Você se machucou?

—É, só um pouco, mas dá pra viver.- Sorrio.

—Onde?

—Braço.

—Deixa eu ver isso.

—Não precisa, é só um corte.- Rio.

—…- Ele ficou preocupado.

—Não precisa se preocupar comigo, eu sei me cuidar.- Digo-lhe, ele me olha, eu sorrio, então ele abre um sorrisinho.

Ficamos conversando lá por um bom tempo, até que sinto o sol ficar mais forte, bem, hora de comer alguma coisa…

—Vou chamar as crianças.- Digo levantando.

—Crianças?

—É.- Digo indo até onde as crianças se encontravam.- Crianças, vamos comer alguma coisa, vocês devem estar com fome.

—Siim!!

Voltei com eles até a beira da cachoeira…

—São seus?- Castiel pergunta surpreso, eu rio.

—Não, eles são amigos do Aloys.

—Ah…- Ele pareceu aliviado com a resposta.

—Bem, vamos comer.

Comemos tudo que havia na cesta, pelo visto, Castiel não é acostumado com crianças, ele não leva o mínimo jeito pra isso.

Bem, como crianças ativas, elas conversavam e riam enquanto comiam, até brincavam, eu conversava e ria com elas, Castiel apenas observava, eu olhei pra ele e sorri, ele me pareceu um pouco surpreso pelo ato repentino, mas logo sorriu também, logo dei um jeito de arrastá-lo pra conversa, as crianças se divertiram com isso.

Logo depois do almoço, eles começaram a correr de novo, eu fiquei conversando com Castiel… isso até Aloys me chamar pra brincar com eles, eu fui, arrastei Castiel comigo também, no início ele ficou meio perdido, mas logo se acostumou e brincou como uma criança.

No fim da tarde, as crianças dormiram, eu e Castiel estávamos conversando na beira da cachoeira…

—Você é bom com crianças até.- Eu digo.

—Você acha?

—Sim.

—Mas, de fato, você é muito melhor nisso do que eu.

—Você tem razão.- Eu rio.

—É… crianças são meio trabalhosas.

—São… mas acho que é um trabalho bom.- Sorrio e olho para os três dormindo.- Na hora que eu te levei pra brincar, pareceu até a primeira vez que você brincava.- Eu ri.

—De fato não fiz muito disso na infância…- Ele diz.

—Sério? No castelo não tinha outros amigos?

—Além de Lysandre, não… mas era divertido ficar com ele.- Ele diz, eu estava atenta às suas palavras.- Nós costumávamos brincar no jardim, às vezes até aprontávamos com os empregados e coisas assim… era bem divertido.

—Imagino…- Digo-lhe.

—E a sua infância? Como foi?

—Bem…- Eu pensei numa maneira boa de colocá-la… eu não sabia mesmo como dizer a ele sobre minha infância… não havia muito a se falar dela, quer dizer, parte dela eu estava com o meu pai e minha tia… eu brincava com as crianças de perto de casa… por um momento esqueci completamente da pergunta de Castiel, fiquei lembrando de várias coisas que me aconteceram na infância, só as boas, até que… me vem a morte do meu pai, ugh… não quero pensar nisso.

—Norah?

—A-Ah… desculpe só… estava pensando.- Digo-lhe enquanto afasto as lembranças ruins.- Bem, minha infância foi legal até, eu tinha meus amigos no lugar onde eu morava, nós brincávamos praticamente todos os dias na rua, era divertido.- Ri.- Também tinha a minha tia… ela sempre ia lá em casa fazer algumas coisas gostosas para mim comer, lembro que eu ficava ansiosa para a noite chegar, assim eu deitaria na cama, me aconchegaria em baixo dos lençóis quentinhos, esperaria meu pai chegar com um livro no meu quarto, ele leria a história pra mim com toda a emoção, ele até animaria algumas partes com gestos e sons, eu ficaria encantada, com brilho nos olhos, ele terminaria a história e eu estaria com sono, mas ainda teria energias para dizer o quão eu gostei da história e como eu queria ser como o personagem valente…- Digo…- Daí ele diria para mim “quando você crescer, com certeza vai ser uma heroína e tanto”, eu sorriria como a criança que eu era… ele se abaixaria e me daria um beijo na testa e diria “boa noite, pequena heroína”…- Digo, nem sabia onde meus pensamentos estavam nesse momento.- Eu fecharia os olhos com um sorriso no rosto, dormiria tranquila ao saber que meu herói estaria em casa amanhã para ler outra história pra mim… depois outra… e outra… até eu me cansar… ou adormecer…- Termino.

—…- Sinto braços me cercarem, acho que Castiel estava me abraçando, nesse momento saio de meus pensamentos e noto que, em meu rosto, havia algo molhado… eu estava chorando.- Sente falta dele, não é…?

—… é.- Eu digo aceitando seu abraço, ficamos num silêncio, mas não era incômodo.

Do jeito que estávamos, conseguia ouvir as batidas de seu coração, eram calmas, mas vívidas, seus braços eram quentes, aconchegantes e fortes, meus braços estavam entre nós, mas não eram um incômodo para nenhum de nós. Então, repentinamente, ele me afastou um pouco, me olhou nos olhos, eu também o olhava nos olhos cinzas profundos, eu me perdia no mar cinza de seus olhos facilmente. Ele veio se aproximando devagar de meu rosto, eu não estava diferente, é como se fossemos atraídos mutuamente, logo me surpreendi com a pouca distância que tinha entre nós…

—Norah…- Ele me chama pelo nome, sua voz estava meio rouca e baixa, mas era muito boa de se ouvir.

—Castiel…- Chamo-o, minha voz saiu mais baixa do que eu esperava.

Então, delicadamente, ele colocou sua mão em meu pescoço, com seu polegar em minha bochecha, eu permanecia com as minhas mãos em minhas cochas, logo Castiel depositou sua outra mão em meu pescoço também, igualmente a outra, ele levou seu polegar até minha bochecha, ele acariciava minhas bochechas com os polegares, logo ele uniu nossos lábios em um beijo suave, mas quente. Nossos lábios tinham o encaixe perfeito, fazendo então, com que entrássemos em pura sintonia.

Nesse momento, eu esqueci completamente de tudo o que estava em minha volta, esqueci dos problemas do mundo, esqueci os pensamentos, esqueci as lembranças do passado.

Nesse momento, eu só conseguia me concentrar em uma coisa: o beijo que estava acontecendo. Eu me concentrava em cada sensação que tinha no meio do beijo, era mágico de fato.

Depois de um longo período de tempo, separamos os lábios e unimos nossas testas…

—…- Eu estava corada.

—Esse foi o seu primeiro beijo?- Ele perguntou, eu assenti.- Foi bom?

—… f-foi…- Digo-lhe, envergonhada.

—Ainda bem…

Lembro-me do que estava acontecendo no lugar, eu devia ter ido pra casa faz um tempinho, as crianças ainda dormiam…

—Tenho que ir.- Digo me levantando.

—Ah… sim…- Ele diz, sinto decepção em sua voz.

—Bem… vejamos…- Não queria acordar as crianças, então tinha que haver um esquema pra isso… três crianças… aja colo.

Peguei Mary e coloquei-a de um lado, peguei Louis e coloquei do outro lado…

—Ãhn…- Pensa… pensa… pensa… não quero acordar Aloys!

—Deixa comigo…- Castiel pegou Louis do meu colo.

—A-Ah, não precisa… eu dou um jeito.

—Não, eu ajudo.- Ele pegou Aloys no colo também.

—Desculpe por isso…- Digo envergonhada por precisar de ajuda.

—Não tem problema.- Ele sorri gentil.

Vamos conversando em direção ao centro, quando passamos pelo centro, chegamos ao começo do caminho da minha casa…

—Bem… é ruim mas é necessário.- Eu digo.

—Eh?- Vou até ele e começo a cutucar Aloys.

—Aloys, acorda, Aloys…- Chamo, ele abre os olhos devagar.

—Mana…?

—Vem, vamos pra casa.- Eu digo, ele assente com sono, desce do colo de Castiel, eu pego Louis no colo, não acordei nem ele nem Mary.

—Sim…- Ele concorda e segura na saia do meu vestido.

—Bem, obrigada pela ajuda.- Digo para Castiel.

—Eu poderia te ajudar… sabe?- Ele diz.

—Não me leve a mal mas… eu não te quero desse lado da cidade.- Eu digo.

—Porque? Porque não me deixa te levar até lá?

—Não é seguro, entenda.- Eu digo.

—… pelo menos me garanta que vai ficar bem.

—Vou.- Sorrio fraco.

—Assim espero.- Ele vem até mim e me dá um beijo na testa.

—Até mais.

—Até.

Eu segui meu caminho com Aloys pra casa, conversávamos no caminho, eu me desculpei por ter acordado ele, ele não se importou muito.

Entreguei os dois para os pais (que por sinal eram muito gentis) e, logo após isso, fui pra casa.