Sobre Príncipes e Princesas escrita por Hanna Martins


Capítulo 16
Férias, aí vamos nós!


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a linda da Laris Morelli que fez uma recomendação maravilhosa para a fic e me deixou cheia de ânimo para terminar o capítulo. Obrigada, Laris!



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É uma verdade universal que a frase “precisamos conversar” proferida por um de seus professores é um claro sinal que a coisa não está nada favorável para você.

Quando a professora Florence disse aquelas palavrinhas, eu não tinha lá grandes esperanças.

Após o último aluno sair da sala, me encaminho para a mesa da professora. Ela me estende meu trabalho. Antes mesmo de olhar a nota, respiro fundo, enviando boa parte do oxigênio do quarteirão para meu pulmão.

“D”.

“D”. A nota mais baixa. Outra nota que se soma a meu fracassado primeiro semestre na faculdade. Acredito veementemente que minhas notas refletem minha vida nos últimos tempos. Elas não estão nada bem. Minhas provas finais... prefiro nem comentar. Toda vez que olho para minhas notas, tenho vontade de abrir um buraco e me esconder. 

— Emma, seus primeiros trabalhos eram muito promissores... — diz a professora Florence com aquele tom que beira a uma bronca, mas não é bem uma, é mais parecido com uma decepção. — Desse jeito você irá reprovar em minha disciplina...

Reprovada? Não, tenho que fazer algo. Não posso desistir da minha vida acadêmica. Ela está desaparecendo, porém, ainda existe. 

— Mas... eu posso fazer de novo este trabalho... — é, esta foi minha fracassada tentativa de salvar minha vida acadêmica.

— Infelizmente, você não pode refazer o trabalho.

Quase caio no chão. Sei que fui péssima na prova final de Teorias do Teatro. Minha última esperança era justamente o trabalho final. Vou reprovar nesta disciplina, fato. 

— Mas... — ela me olha e faz uma pausa, uma pausa dramática. — Você pode obter alguns créditos extras, se fizer o curso de escrita criativa que irei ministrar durante as férias...

Uma luz no fim do túnel. Eu ainda tenho salvação. Embora minha vida acadêmica esteja indo por água baixa (sinto que estou no meio de uma enxurrada, uma daquelas que leva tudo o que está em sua frente), há salvação.

— Eu estarei lá — garanto, antes mesmo de ela concluir.

— Ótimo, espero você lá — diz a professora Florence, saindo da sala. 

— Estarei lá! — repito com mais força. Não posso perder esta oportunidade.  

Claro, vou apenas precisar enfrentar a ira do senhor Bradbury por eu mudar os planos. Mas quem se importa com isso, preciso salvar minha vida acadêmica, antes que seja tarde.

Sebastian me encontra no corredor, assim que saio da sala. Noto uma fila de garotas atrás dele (o fã-clube de meu guarda-costas é muito eficiente).

— Você ainda vai provocar acidentes! — alerto-o.

— O quê?

— Nada, nada — sorrio. — O que temos para hoje?

— Aulas com Daphné, uma visita ao museu de arte moderna, depois jantar com a associação de plantas aquáticas... — ele começa a recitar a lista interminável de deveres reais.

Um dia típico em minha vida.

Aulas enfadonhas com Daphné, que afirma que sou um caso perdido, pois ainda não decorei todas as etiquetas para um jantar real (como se eu precisasse lembrar toda a sequência de talheres para encher meu estômago), depois uma visita ao museu de arte moderna para prestigiar a inauguração de uma exposição. E para finalizar um jantar com pessoas desconhecidas discutindo sobre um assunto que desconheço completamente, plantas aquáticas. Por que eu vim parar aqui? Tudo graças àquele rei com gostos duvidosos para presente com os miolos estragos graças ao peso daquela coroa, se ele estivesse vivo neste momento, não estaria por muito tempo.

Quando chego em casa, depois de cumprir meus interessantes compromissos, tudo o que quero é tomar um banho quentinho, vestir uma roupa quentinha e me enfiar debaixo das cobertas.

Mas, tenho que terminar de arrumar algumas coisas para a viagem de amanhã. A viagem de férias da família real. Vamos passar alguns dias em uma “pequena vila”. Não sei por que eles chamam de “pequena vila”, se aquele lugar não tem nada de pequeno, excentricidades da realeza. 

Quando termino de arrumar as coisas já é bem tarde. E estou com fome. Morrendo de fome. Resolvo roubar alguma coisa da cozinha.

Embora o palácio de verão seja bem menor do que o palácio em que reside a família real, ainda me perco fácil neste lugar.

É, recentemente, eu e Leon nos mudamos para o palácio de verão. Nosso tempo de morar na residência oficial da família real terminou. Após os membros da família real se casarem, segundo a tradição, eles precisam ficar algumas semanas no palácio. Algo sobre se preparar para sua nova vida de casados e bláblá. 

O palácio de verão fica bem afastado da cidade. Foi construído um pouco antes da Primeira Guerra Mundial pelo príncipe Felipe (conhecido como o príncipe arquiteto) como presente de casamento para a princesa Sophia. É, naquela época, eles davam palácios como presente. Um bom exemplo para aquele rei Tomás de como se deve presentear.

Depois de quase procurar no google maps para encontrar a cozinha, eu finalmente a acho. As portas são quase todas iguais. A arquitetura do palácio de verão é bem diferente, cheia de corredores, escadas. Poderia até apostar que Hogwarts foi inspirada neste lugar.

Pego algumas coisas, sanduíches, chocolate quente, salgadinhos (preciso fazer um estoque de emergência, porque corro o risco de morrer de fome no meio da noite, antes de encontrar a cozinha), e volto para meu quarto, ou melhor, tento voltar para meu quarto. 

— Perdida — diz Leon.

— Eu não estou perdida!

— Claro — lança um sorriso do tipo: “eu sei que tenho razão, você apenas não quer admitir isso”. — Apenas não vá parar em minha cama.

Ele tinha que lembrar deste incidente? Em minha defesa, já era tarde da noite, estava cansada, e os quartos são quase todos iguais.

— Aquilo foi apenas um equívoco — afirmo.

— Sei... eu saí do banho e lá estava você babando em cima dos meus lençóis...

Melhor apelar para a estratégia da arte da guerra denominada: “mudança repentina de assunto”.

— Estes sanduíches estão tão bons — dou uma mordida em um deles. — Quer um pedaço? — ofereço a bandeja com as coisas que roubei da cozinha.

Ele pega um sanduíche.

— É, está bom...

— Você terminou aquela música que estava compondo? — ele arqueia a sobrancelha. — Eu ouvi você ontem à noite... — explico.

— Ah — me olha, ou melhor, me sonda. — O que achou?

— Parece promissora.

— Quer ouvir?

— É, pode ser — digo, dando outra mordida no sanduíche.

Vamos para uma saleta em que fica o piano. Ele se senta ao piano e com uma expressão concentrada, começa a tocar. A música é uma alternância entre momentos suaves e intensos.

— Ainda está faltando alguma coisa — confessa, após terminar de tocar. — Sei lá falta... ah, não sei... — diz, levantando-se.

Me sento ao piano e começo a brincar com as teclas, é divertido, fingir que sou uma pianista.

— Escute isso — imito uma pessoa solene. — Uma obra prima — arranco do piano um som lamentável.

Leon me olha e ri.

— Não, definitivamente isso não é uma obra prima.

— Mas é claro que é! — afirmo, estufando o peito. — Uma obra prima! — começo a tocar novamente.

Ele senta-se ao meu lado.

— Este é Dó — toca em uma tecla. — Ré — toca em outra tecla. — Mi, Fá, Sol, Lá, Si. Ok?

— Certo.

— Toque.

Toco nas teclas.

— Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si — digo, enquanto toco.

— Agora, se você tocar nesta sequência... — ele toca em algumas teclas.

— Eu conheço essa! “Brilha, Brilha Estrelinha”.

— Esta é uma das músicas mais fáceis que existe — afirma ele. — Apenas toque: Dó, Dó, Sol, Sol, Lá, Lá, Fá, Fá, Mi, Mi, Ré, Ré, Dó, na primeira parte.

— Ok... — tento tocar, mas não me saio muito bem.

Leon toca novamente a primeira sequência. Tento reproduzir no piano, me saio melhor do que a primeira vez, porém, não acerto totalmente.

— Seu problema está na mão... Relaxe-a.

— Assim?

— Não... — ele pega em minha mão. — Assim...

Posso dizer que estou incrivelmente perto dele? Perto demais. O inebriante aroma de Leon me envolve.

— Viu? — solta a minha mão.

Tento reproduzir a música novamente.

— Suas mãos são pequenas demais para uma pianista.

— Ei!

— Mas, até que você pode tocar...

— Claro que posso!

— Só vai precisar de muito treino... — neste momento erro a sequência. — Muito treino mesmo.

— Muito animador você.

Continuo a tentar tocar “Brilha, Brilha Estrelinha”, até que é divertido.

— Leon...

— Hum?

— Como anda o humor do senhor Bradbury? — falo, enquanto tento reproduzir "Brilha, Brilha Estrelinha" no piano.

— Não muito bom, por quê?

— Vou precisar fazer algumas aulas extras nas férias, sei que minha agenda de férias deve já estar cheia... mas...

Ele me olha.

— Boa sorte com isso. O senhor Bradbury vai fazer churrasquinho de você quando souber.

— Eu sei. Mas, eu preciso — solto um suspiro. — Vou reprovar na disciplina de “Teorias do Teatro”, se não fizer estas aulas. A professora Florence não vai me dar outra chance — me perco no meio da música.

— Hum... diz para o senhor Bradbury que você foi convidada por sua professora, que é uma aula extremamente importante para seu currículo...

Olho para ele.

— Anos de estudos da técnica de como “conseguir permissão”. Nem sempre funciona, mas...

— Obrigada.

Continuo tentando tocar “Brilha, Brilha Estrelinha”, mas não é tão fácil quanto parece, não é nada fácil. No final, sou vencida pelo piano.

E minha aventura no piano à noite deixa sequelas (fiquei até altas horas, tentando vencer “Brilha, Brilha Estrelinha”), constato ao ser acordada pelo furacão Charlie.

— Vamos levantar este traseiro! — berra Charlie, abrindo as cortinas.

— O que você está fazendo aqui? — abro os olhos com dificuldade.

Apenas quero continuar deitada. A cama está tão quentinha

— Estava com saudades! — ela pula em cima da minha cama e me dá um abraço mega apertado, em seguida começa a andar por meu quarto. — Estamos de férias! Levanta, Emma! Vamos viajar! — faz uma dancinha maluca.

O que fazer com uma princesa que sofre da síndrome “entusiasmo para viagens”?

Sou praticamente arrastada da cama por ela. Mal tenho tempo para tomar o café da manhã, sou jogada em um carro e logo estou a caminho para pegar o jatinho particular da família real.

A viagem não é longa, nem dá para aproveitar par tirar um cochilo. Charlie fica se revessando entre atormentar eu, Leon, Sebastian e os outros guarda-costas. Sebastian é quem mais sofre.

— Bash... — fala com uma voz maliciosa.

Ele nada fala.

— Bash — insiste.

Ele solta um suspiro.

— Bash!

— O quê?

— Nada. Só queria escutar sua voz — dá uma piscadinha e ri.

Pobre Bash.

Depois de nossa curta viagem de avião, temos pela frente meia hora de carro até a vila. Mais sofrimento para o pobre Sebastian. O esporte predileto de Charlie é implicar com ele, não tenho dúvida.

Finalmente, chegamos a “pequena vila”, que obviamente não tem nada de pequena. O lugar é cheio de casas de antigas, construídas no século XVII. Há diversas montanhas que cercam a vila. Parece até que voltei no tempo e estou em um daqueles tempos indeterminados em que não há como saber em que época estamos. Um lugar bonito, com algo de nostálgico. 

Este local é geralmente utilizado pelos membros da realeza quando querem um pouco de férias. Aparentemente, até mesmo a realeza tem direito a férias.

Embora as casas tenham uma aparência antiga e rústica por fora, por dentro, elas não são até que bem modernas e confortáveis, pelo menos, assim é a em que ficamos.

— Isso vai ser tão legal! — fala Charlie cheia de entusiasmo. — Eu amo este lugar! Nossa segurança foi reduzida! — comemora e lança um olhar significativo para Leon.

— Charlie...

Ela sorri.

— Temos que fazer uma festinha... Deixa comigo! Vou organizar tudo — se prontifica a princesa muito solícita. 

E antes que eu possa processar direito o significado dessas palavras, Charlie já desapareceu.

— Ela não vai...

— É, ela vai — fala Leon.

— Espero ainda ter minha cabeça em meu pescoço amanhã — murmuro.

— Só espero que ela não incendeie a casa... — encolhe os ombros. — Se a casa continuar intacta, uma festa será até que boa...

Olho para ele.

— Isso sobre o fogo foi uma piada, não foi?

— Não.

— Boa piada! Você é um grande piadista.

— Não, ela já colocou fogo em uma casa. 

Pobre de meu pescoço.

Charlie deve ter convidado toda a vizinhança, pois logo a casa é tomada por dezenas de pessoas. Pessoas que não conheço. A coisa foi tão rápida que nem deu tempo para elaborar um plano de fuga, caso alguma coisa saia do controle.

 — Charlie, o que você fez? — diz Sebastian, após perceber a movimentação anormal de pessoas na casa.

— Relaxa, Bash! E — ela olha para seu relógio —, seu turno acabou — sorri. — Quer aproveitar a festinha? Você é meu convidado.

Sebastian solta um suspiro. Desta vez, Charlie ganhou a batalha.

— Pelo menos, a casa ainda está salva — pondera Leon.

— Por quanto tempo? — indago. 

Ele dá uma boa olhada.

— Não sei.

Charlie olha em nossa direção e sorri. Um sorriso realmente diabólico. Um sorriso que promete muitas coisas.

E o sorriso da princesa caçula é uma das únicas lembranças nítidas em minha mente, quando acordo com a certeza absoluta que minha cabeça foi vítima de um terremoto. Ela está doendo tanto, que mal consigo abrir os olhos.

Gostaria de não ter aberto os olhos, minha dor de cabeça se multiplicou. E não foi só isso... acabo de descobrir que tenho companhia. Estou abraçando... Leon.

Imagens vem a minha mente... Eu tinha mesmo que ter feito aquilo?

Preciso comprar uma pá para cavar um buraco que me leve até a China.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? O que será que Emma aprontou? Acordou abraçadinha com o Leon rsrsrsrs. E a pergunta que não quer calar, conseguirá Emma tocar "Brilha, Brilha Estrelinha" no piano? rsrsrs