Ouça o Amor - HIATUS escrita por Wellie


Capítulo 2
Ouça uma fã


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo saindo do forno, quentinho. Este ficou um pouco maior que o outro, espero que gostem.
(Leiam as notas finais)



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Ouça uma fã

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~Wellie~

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"E se você não é capaz de ouvir, apenas observe. A verdade é que palavras não revelam quase nada."

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Sou sua maior fã.

Ela atrapalhava-se nas palavras, movendo os lábios devagar, proferindo vagarosamente, e ele teve a leve impressão de que ela também gritava; algo o dizia isso. Fosse a maneira como Sasuke sentia os objetos próximos a ela estremecerem a cada palavra, fosse pela própria vibração ao redor de ambos, ele simplesmente sabia.

Naquele instante, a garota de cabelos cor-de-rosa não lhe pareceu nada mais que um ser muito estúpido. Ela achava mesmo que ele poderia ouvi-la se gritasse? Céus, ele era surdo de nascença! Não era um pequeno problema de audição, não era uma pequena ausência dos sentidos auditivos, não era 20%, nem tampouco 80%, era 100% de perda da audição! Ele não podia ouvir absolutamente nada, ele nunca pôde ouvir nada...

Sentiu seu sangue borbulhar conforme circulava nas veias, o rosto esquentava cada vez mais, e ele até mesmo notou a dor de ter as palmas perfuradas pelas unhas quando prendeu a mão em um punho apertado. Suspeitava seriamente que ela também percebia toda sua ira, pois havia parado de tagarelar e se encolhia constrangida no canto da sala.

Ela não tinha culpa. A verdade o atingiu em cheio.

“Ela não tem culpa se você é surdo!”, o lado sábio de sua mente gritou, o acusou. A verdade é que ele não poderia nunca culpá-la pela sua condição. Talvez fosse culpa do mundo, dos Céus, de um ser maligno que adorava brincar com ele, ou quem sabe fosse culpa dele mesmo, mas, definitivamente, não era culpa da menina.

Tomou a folha das mãos dela, controlando-se, mantendo-se calmo. Escreveu ali e entregou a ela novamente o papel, tentando se mostrar o mais amigável possível. Ele não era assim normalmente, ele não se comedia para nada, ele não era simpático, sequer se importava com os outros, mas, não sabia bem o o porquê, sentia que devia algo aquela garota, e ele, eventualmente, a contentou.

Eu não posso ouvir. Escreva o que quer no papel.

A resposta era tão tosca que, segundos depois, Sasuke se arrependeu amargamente de seu feito. Conteve, com muito custo, a vontade crescente de levar a mão à própria testa; ele merecia um bom tapa. Como podia ser tão idiota? Ele já havia falado que era surdo, ela já sabia disso, ela até mesmo tinha conhecimento de seu nome... E a bobagem insistia em voltar à sua mente.

“Eu não posso ouvir”

Por Kami-sama! Talvez o convívio com seu amigo hiperativo estivesse o infectando com uma mesma dose de burrice.

Bem, o fato é que ele se surpreendeu quando ela não gargalhou da grande besteira, nem sequer parecia ter notado as coisas que ele havia apontado em sua mente. Ela apenas escreveu, com um novo e enorme sorriso voltando a iluminar sua face. Tão grande que chegava a enrugar o canto dos olhos.

Olhando para ela deste ângulo, até parecia adorável; as bochechas coloridas com o mesmo tom dos cabelos róseos; minúsculas covinhas, quase que imperceptíveis, adornavam o seu sorriso e os olhos verdes brilhantes fitavam tão intensamente o papel que sua dona rabiscava que pareciam refletir-se ali, na íris, as palavras caligrafadas na folha, Sasuke quase pôde lê-las. Quase, porque, antes de o fazer, finalmente caiu em si e percebeu que já a olhava por tempo demais, que já a observava por tempo demais, quem sabe até a admirav- não! Ele apenas a fitava por tempo demais, e fazia somente isso, quando deveria apenas pegar de uma vez a folha de papel que ela lhe estendia e acabar logo com tudo aquilo — aquela situação particularmente estranha.

Finalmente retomou o papel. Lá estava escrito, em uma caligrafia não mais bonita que a sua:

Sou Sakura Haruno, tenho todos os seus livros.

Ela parecia inquieta, ansiosa, vibrava silenciosamente e tinha os olhos inundados em expectativa; Sasuke podia perceber. Era certo que seus outros sentidos eram muito mais aguçados devido à ausência de um deles — a audição —, então ele podia notar facilmente toda a inquietude da garota... ou deveria dizer Sakura Haruno? Então este era seu nome? Bem, fazia jus a ela... Flor de Cerejeira. E também- Ei, ela tinha todos os seus livros? Teria ele lido aquilo de maneira correta?

Sasuke tornou a analisar o papel, talvez até mesmo um pouco esperançoso de que fosse verdade, só um pouco. E sim, era bem legível ali, ela tinha mesmo todos os seus livros. O Uchiha não podia sequer esconder sua surpresa diante deste fato. Veja bem, Sasuke escrevia romances. Sim, isso mesmo, ele escrevia realmente romances, mas não porque gostava, em hipótese alguma seria porque gostava! Escolhera esse gênero literário somente por lhe render mais dinheiro (eram mesmo tempos difíceis, financeiramente falando) e a verdade era que ele não fazia lá muito sucesso. Ninguém podia negar, sua escrita era definitivamente impecável. Sem erros, a gramática era quase que perfeita, sequer necessitava de revisão. Porém, diziam não ser uma escrita emotiva, como se os sentimentos não fossem devidamente repassados para o papel. Mas, afinal, como poderiam? Sasuke não possuía sentimentos amorosos por ninguém! Ele nunca vivera um romance, tampouco gostara alguma vez de qualquer pessoa, então como poderiam ser repassados para o papel sentimentos que ele desconhecia? Que, para si, nem ao menos pareciam existir?

O que lhe deixava mesmo inquieto era a dúvida constante de como mesmo poderia aquela garota dizer-se sua fã número um e também como afirmava ter todos os seus livros. De fato, ela era mesmo um tanto quanto esquisita...

— Sasuke-san — ela murmurou para chamar-lhe a atenção, esquecendo-se por um momento que ele não podia ouvir. E mais uma vez fazia papel de estúpida... Percebendo o próprio erro, ela enrubesceu instantaneamente. Ele fingiu não se importar, dando de ombros.

Num segundo, ela parecia já não se preocupar se ele a ouvia ou não, Sakura voltou a falar sobre o quão bom eram os seus livros, animada, contava nos dedos quantos possuía e, realmente, eram muitos. Sasuke ainda chegou a entender algo como “assiná-los” e “carinho” antes que a garota saísse porta a fora, demasiadamente rápida, como que voando para longe dali. O Uchiha achou que ela teria ido embora e sorriu satisfeito com isso. Bem, já era hora... No fim, ela só havia lhe roubado o tempo que deveria ter usado escrevendo, visto que o prazo para seu próximo livro já estava quase se esgotando, e seu caderno nada mais exibia que três páginas escritas por completo, muito pouco...

Sentou-se novamente à escrivaninha e voltou ao que fazia antes da garota bater em sua porta. Se desse sorte, ela nunca mais voltaria à sua casa. Isso era, definitivamente, reconfortante...

Sentiu um estalo vindo da porta e... Oh, Kami! O que era aquele vulto rosa habitando sua sala? Fácil como água a escorrer em uma peneira, viu toda a sua felicidade se esvair quando notou o ser de olhos verdes em frente à sua mesa... sustentando, com muito esforço, uma pilha de livros sobre os braços finos.

— Autógrafos — ela sibilou de maneira espalhafatosa, indicando com a mão o grande monte de livros, antes de despejá-los todos de uma única vez sobre a mesa. Sasuke a observou estático enquanto ela fazia alguns movimentos estranhos com os braços, como que estivesse os exercitando depois do peso que pegara. Depois encaminhou-se até o sofá e despencou sobre ele.

— Vamos, vamos. — o incentivou calmamente, balançando as palmas abertas na direção do teto; ela mesma havia percebido que ele ainda a observava.

Por um instante, Sasuke parou para analisar a pilha de livros sobre o tampo de madeira, para logo depois direcionar seu olhar à menina que agora pendia a própria nuca sobre o encosto do estofado. Definitivamente, ela era a pessoa mais folgada do mundo.

No fim, ele apenas soltou um muxoxo quase inaudível e anuiu, buscando em seus bolsos uma nova caneta.

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Depois de pouco mais que uma hora, Sasuke finalmente chegava aos livros finais. Sakura ainda o olhava como faz uma criança pequena implorando a atenção do pai, com um olhar expectante e demasiado brilhante, esperando apenas que ele lhe desse o que tanto ansiava.

Quando Sasuke pôde imaginar que, alguma vez na sua vida, daria autógrafos? Era algo particularmente constrangedor, levando em conta que a garota nem mesmo notava o receio do homem. Ela o incentivava, fazendo gestos estranhos com as mãos, e articulava algumas poucas palavras — raramente o Uchiha era capaz de fazer a leitura de seus lábios. Tentava apenas manter-se ocupado com as assinaturas no sumário de cada livro. Nem ele mesmo sabia que tinha lançado tantos livros e era realmente estranho saber que existia alguém que conhecia suas obras melhor que si mesmo.

Aquela menina era como uma incógnita que Sasuke não conseguia interpretar e isso o irritava. Afinal, por que mesmo ela tinha de o olhar daquela forma, com tanta admiração? E por que aquele sorriso insistente nunca abandonava seu rosto? Oras, justamente por ser insistente, ele concluiu. Assim como também era insistente a dona da face que o exibia com tanta fervura. Sasuke obrigou-se a jurar a si mesmo que chutaria ela dali assim que acabasse com a sessão de autógrafos. Céus, até em sua mente isso era algo que soava estranho...

E percebeu que tudo aquilo já começava a incomodá-lo por demasiado, os sorrisos que ela lhe lançava, os olhares nada sutis e até mesmo os pequeninos saltos que ela dava sobre o sofá a cada livro rabiscado. Era tudo muito incomum.

Pôde finalmente suspirar aliviado quando terminou de assinar o ultimo montinho de folhas. Afundou-se ainda mais na cadeira e cerrou as pálpebras com força; era chegada a hora de ela ir embora, ele já havia suportado por tempo demais... E o quão surpreso ele ficou ao sentir dedos longos e delicados massagearem a região de seus ombros? As unhas medianas sendo pressionadas ali, em um carinho irremediavelmente íntimo. Os músculos do seu busto relaxaram e o pescoço cedeu para o lado que a Haruno massageava mais intensamente, como se ela tivesse conhecimento de que era justamente naquele local onde se concentrava todo o problema; era mesmo bem ali. Mantivera-se curvado por muito tempo assinando os livros, por isso a dor era relativamente forte naquela área.

Sasuke permitiu que aquilo sucedesse por mais alguns minutos. Era mesmo bom (mas ninguém precisava saber disso) e a sensação de tê-la tão próxima, bem atrás de si, somado ao fato das mãos dela em um contato calculado com seus músculos flácidos, começava a deixa-lo entorpecido. Seria algo muito estranho se dormisse bem ali?

Abriu os olhos lentamente, afastando a terna sensação de embriaguez que o acometia, e girou o pescoço para fita-la. Sakura preenchia todo o rosto com um tom forte de vermelho, os olhos buscavam naquele apartamento um ponto qualquer, apenas para que não fosse obrigada a olhar para o homem que ela mesma prendia pelos ombros.

Quando notou o olhar dele sobre si, sua face ficou ainda mais avermelhada — se é que isso era algo fisicamente possível —, o sangue de todo o seu corpo arriscava ter subido de uma única vez para o rosto. Ela então retirou imediatamente as mãos que ainda permaneciam sobre Sasuke e se abanou com as palmas abertas para aliviar a quentura que ardia em seu rosto e provocava a cor escarlate que lhe ocupava toda a área desde o seu maxilar até o encontro de sua grande testa com os cabelos rosados; os tons difundiam-se ali, pareciam ter a mesma essência de rosa.

Tão rápida quanto um flash, ela capturou nos braços todos os livros espalhados sobre a mesma, murmurando obrigados lentamente para que ele pudesse compreender. Praticamente, correu em direção a porta e não a fechou antes de sibilar mais um obrigado. Sasuke apenas observava a ação esquisita da moça. Em pouquíssimos segundos, ele estava novamente só.

Vasculhou os olhos por todo a apartamento, ainda tentando processar tudo que tinha acontecido, foi quando seus orbes negros pousaram sobre uma xícara em cima da mesinha de centro de sua sala. A mesma xícara enorme e cor-de-rosa estampada com pequenas flores vermelhas. Observou-a por alguns instantes, lembrando de tudo que acontecera. Não pôde deixar de conter um riso com aquilo, a vida era mesmo um ser brincalhão...

De repente, ela — a xícara, é claro. Jamais estaria se referindo à menina de cabelos do mesmo tom da porcelana, obviamente que não — lhe dava inspiração. Sasuke precisava escrever.

Continua


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Notas finais do capítulo

Primeiro, estou um pouco sem idéias, então se me dessem algumas sugestões eu ficaria grata ;)
Segundo, eu escrevi uma oneshot de um romance sertanejo, se quiserem dar uma olhadinha taí o link: https://fanfiction.com.br/historia/672542/Flor_do_Sertao/
Enfim, isso é tudo, pessoal! Nos vemos na próxima semana e lembrem-se: review é bom e eu gosto hehe...
Ja ne!



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