Nunca Scorpius tinha sentido uma dor de cabeça como aquelas. Nem quando abusou no whisky de fogo numa das festas do James.

Um pequeno corte na sua testa enchia-lhe partes da cara de sangue. Devia ter batido com a cabeça quando fora atordoado.

Depois de se levantar, a primeira coisa que Scorpius fez foi olhar para o local onde estava Liam amordaçado. Isso mesmo, estava. Liam tinha desaparecido, confirmando a sua suspeita. Quem tinha feito aquele ataque era a mesma pessoa que tinha enviado os bilhetes a Rose e que a tinha ameaçado.

A sala das Necessidades estava um completo desastre. A pequena mesa que se entrava junto de uma estátua estava completamente destruída. A estátua tinha ficado sem cabeça. O chão enchia-se de pó e bocados de parede. Tudo isto resultado dos ataques do maníaco e dos contra-ataques dele, de Molly e de Sarah.

Molly e Sarah ainda se encontravam inconscientes. Scorpius aproximou-se de Sarah tentando acordá-la. Esta sangrava de um corte profundo no braço.

—Sarah. - chamou de leve Scorpius. Mas não resultou. Sarah continuava inconsciente - Sarah! - voltou a chamar Scorpius, mas mais uma vez sem resultado.

—O que é que se passa com a Sarah? - perguntou Molly, recém-despertada, correndo até Sarah e Scorpius - Porque é que ela não acorda? Scorpius que se passa?

—Eu não sei. - respondeu Scorpius em tom baixo.

—Sarah acorda, por favor. - suplicou Molly abanando Sarah. As primeiras lágrimas caíam pelo seu rosto.

Scorpius notou na mão esquerda de Sarah um pequeno pedaço de pergaminho. Ela não tinha nada na mão antes.

Scorpius pegou no pequeno bilhete. Molly desviou a sua atenção de Sarah para o pequeno pergaminho que Scorpius tinha na mão.

—O que... - começou Molly.

—Algo me diz que nos quiseram deixar um aviso. - disse Scorpius abrindo o bilhete.

Vocês não deviam ter levado o Liam. Pobre coitado. Agora ele é que vai sofrer por vossa causa. Por causa do que vos contou.

Mas não é o único. Bons sonhos para a Sarah.

Vendo que Scorpius não dizia nada, Molly arrancou o bilhete das suas mãos. Leu-o atentamente enquanto mais lágrimas lhe caíam pela face.

—Por Merlin, o que é que este louco fez? - perguntou em desespero Molly.

—Molly o melhor é levá-la à enfermaria. Para saber o que ela tem. - disse Scorpius levantando-se.

—E como vamos justificar tudo isto? Como vamos justificar o estado da Sarah? O que vamos dizer que aconteceu? - perguntou Molly, desesperada. Ela não conseguia pensar. Ela só queria que Sarah ficasse bem.

—Deixa-me comigo. Vamos levá-la. - disse Scorpius pegando em Sarah ao colo.

Faltava pouco para a hora do recolher. O trio passava por alguns alunos que ainda não se tinham retirado. Estes olhavam-nos atentamente. Prontos para mais uma fofoca. 

Alguns comentários também não faltaram. Nomeadamente o facto de Sarah Finnigan ir, adormecida, no colo de Scorpius Malfoy.

—Madame Pomfrey! Madame Pomfrey! - chamava Molly, desesperada. 

Scorpius colocou Sarah numa das camas da enfermaria. Esta continuava inconsciente.

—O que é que aconteceu? - perguntou Raphaela aparecendo vinda do seu escritório. 

—É a Sarah. - disse Molly. As lágrimas continuavam a cair pelo seu rosto.

—Vou precisar que saiam. Por favor. - pediu Raphaela.

Molly e Scorpius sabiam que não valia a pena discutir com a madame Pomfrey. Sabiam também que, quanto mais rápido deixassem Sarah sozinha com madame Pomfrey, mais rápido saberiam os resultados.

Os momentos que se passaram de seguida foram uma completa tensão. Molly não parava quieta de um lado para o outro. Scorpius permanecia sentado e calado num canto, culpabilizando-se por tudo. Ele sabia que nada daquilo teria acontecido se ele não tivesse pedido a Molly para o ajudar. 

Octavia e Albus chegaram meia hora depois. Scorpius tinha arranjado maneira de falar com Albus, através do seu patrono, e pediu que este avisasse Octavia.

—Como é que ela está? - perguntou Octavia, também em tom de desespero. Scorpius nunca tinha ouvido aquele tom em Octavia.

—Ainda não sabemos de nada. - respondeu Scorpius - Estamos à espera que a madame Pomfrey nos diga alguma coisa.

—Mas afinal o que é que aconteceu com vocês? - perguntou Albus - Vocês estão cheios de sangue.

—Nós apanhamos o Liam. - revelou Scorpius.

—E porque não nos disseram nada? - perguntou Octavia que se encontrava ao lado de Molly, que finalmente tinha parado de andar de um lado para o outro.

—Para também acabarem assim? - perguntou Scorpius - Já estão demasiadas pessoas magoadas por minha causa. Não eram precisas mais nenhumas.

—Por tua causa, Scorpius? - perguntou Molly - Não digas isso. A culpa é totalmente daquele maníaco.

—Se eu não te tivesse pedido para me ajudares a apanhar o Liam, nada disto teria acontecido. - disse Scorpius baixando o olhar.

—Eu ajudei-te porque quis. A Sarah ajudou-te porque quis. A Octavia e o Albus, se soubessem, ajudariam-te porque queriam. Todos nós queremos desmascarar este maníaco. A culpa não é tua. É dele ou dela.

—A Molly tem razão. - disse Octavia.

—Concordo. - disse Albus olhando de relance para Octavia. Esta estava com a sua atenção voltada para Molly.

—Espero que não tenham discutido no caminho até aqui. - disse Scorpius em tom baixo.

—Por acaso correu bem. Claro que não falamos. Só o estritamente necessário. - respondeu Albus - Por momentos, pensei que ela não saísse das masmorras. Encontrei um slytherin de segundo ano e pedi que a chamasse. Ela apareceu logo depois.

—Se calhar estava com esperança que quisesses outra coisa. Não que lhe fosses dar uma má notícia. - disse Scorpius - E isto leva-nos de volta ao assunto que eu disse que não falaria mais.

—E no entanto aqui estamos nós. - disse Albus.

Antes que Scorpius tivesse tempo de respondeu, madame Pomfrey saiu da enfermaria.

—Sinceramente não sei o que se passa ultimamente em Hogwarts. - disse Raphaela.

—O que é que a Sarah tem? - perguntou Molly.

—O mesmo que a senhorita Weasley teve. A Sarah tomou a poção do Morto-Vivo. - disse Raphaela.

Ao contrário da primeira vez, ninguém ficou chocado ao ouvir aquela notícia. Todos os que estavam ali sabiam do que o maníaco era capaz. Já tinha feito aquilo com Rose e agora estava a fazer aquilo com Sarah. 

—Agora senhorita Weasley e senhor Malfoy, quero ver os vossos ferimentos. - disse Raphaela - A diretora McGonagall está a caminho da enfermaria. Ela quer saber o que exatamente aconteceu. E vocês os dois. - disse Raphaela apontando para Octavia e Albus - Já passou da hora do recolher. Têm de regressar aos seus salões comunais.

Raphaela tratou primeiro de Molly. O corte profundo numa das pernas e a grande nódoa negra que começava a aparecer num dos seus braços requeriam mais cuidado que o corte na teste de Scorpius.

Minerva McGonagall apareceu quando Raphaela colocava um penso na testa de Scorpius.

—Vocês querem explicar-me o que se passou? - perguntou mal entrou na enfermaria.

Molly e Scorpius cruzaram o olhar por instantes. Scorpius decidiu tomar a rédea da situação.

—Fomos atacados. Não sabemos por quem. Deixaram-nos aos três inconscientes. Nós acordamos. A Sarah continuava inconsciente. Trouxemo-la para aqui o mais rápido possível. - contou Scorpius omitindo a parte em que estavam na sala das Necessidades com Liam.

—Está claro que a pessoa que fez isto com vocês foi a mesmo que atacou a senhorita Weasley. Providências serão tomadas. Está na hora de voltarem aos vossos salões comunais. - disse McGonagall. Molly e Scorpius estavam prestes a sair da enfermaria quando foram interrompidos pela diretora - Só mais uma coisa. Porque são sempre vocês que estão metidos nestas confusões?

—Isso também gostávamos nós de saber. - respondeu Scorpius - Boa noite, diretora.

—Boa noite, meninos.

—----//-----

 No dia seguinte, a pergunta era a mesma por todo o castelo. O que se tinha passado com Molly Weasley, Sarah Finnigan e Scorpius Malfoy?

Por cada lado que Scorpius passava, borburinhos e perguntas surgiam. Scorpius esquivava-se de todas o melhor que conseguia. Ele não devia justificações a ninguém. Bem, não era bem assim. 

Scorpius tomava o seu pequeno-almoço descansado ao lado de Albus quando Rose entrou no salão Principal e dirigiu-se a si.

—Queres explicar-me o que se passou? - perguntou Rose em tom sério. Scorpius nunca a tinha visto assim.

—Calma Rose. - disse Albus arrependendo-se logo a seguir de ter falado. Rose fulminou-o completamente com o olhar - Já não está aqui quem falou.

—Rose é melhor falarmos depois dos exames. - pediu Scorpius.

—E porque não haveremos de falar agora. Eu estou aqui. Tu estás aqui. Pode existir um diálogo.

—É óbvio que estás stressada por causa dos exames. Vamos deixar isto para depois. É o melhor, princesa.

—Não venhas com o princesa para cima de mim. Eu quero saber. - exigiu Rose.

—Rose faltam cinco minutos para o exame. - disse Albus tentando salvar Scorpius da situação.

A tentativa de Albus foi bem sucedida. O facto de a hora de um exame estar próxima sobrepunha-se à curiosidade de Rose.

Assim, sem dizer mais nada, Rose saiu do salão Principal.

—Ela sabe que vamos para a mesma sala, certo? - perguntou, retoricamente, Albus.

—----//-----

Scorpius deixou que passassem os dois exames para falar com Rose. O estado de nervos de Rose era completamente visível. E aquela situação não iria ajudar. 

Rose não deixou sequer Scorpius respirar. Mal o segundo exame acabou, Rose disse a Scorpius para a acompanhar. A sala das Necessidades foi o lugar escolhido.

—Vais agora explicar-me o que se passou ontem? Qual é a razão desse penso na tua cabeça? Porquê que a Sarah está na enfermaria?

—A Molly conseguiu apanhar o Liam. - revelou Scorpius. Rose ia interromper mas Scorpius foi mais rápido - Deixa-me terminar. Eu queria tirar a história a limpo. Tu sabes. O Liam é a chave para isto tudo. Ele sabe quem anda a mandar os bilhetes. Não nos disse quem era mas ele sabe. Tinhas razão, ele está a ser ameaçado. Também não consegui saber o que é que o maníaco tem contra ele. Mas deve ser algo grave. O Liam estava aterrorizado. Mas isto não foi tudo. O maníaco conseguiu entrar aqui, na sala das Necessidades. Conseguiu atordoar-nos a todos. Quando acordei, a Molly e a Sarah ainda estavam inconscientes. A Molly acordou mas a Sarah não. O maníaco fez-lhe a mesma coisa que te fez a ti. Deu-lhe a poção do Morto-Vivo. E deixou um bilhete. A ameaçar o Liam e a gabar-se do que tinha feito à Sarah.

—Porque não me chamaste? Eu podia ter falado com o Liam. Afinal, nós fomos amigos.

—Rose, tu estás preocupada com os exames. E não sabemos se o Liam te diria alguma coisa. Ele não me disse nada em concreto. - respondeu Scorpius, omitindo algo que Liam disse. Liam tinha admitido que amava Rose. Essa parte era a única verdadeira de toda a relação de amizade entre ele e Rose - Agora temos de descobrir o que aconteceu com o Liam para ele estar tão amedrontado. 

—Podias ter-me dito. Eu podia ter ido convosco. - disse Rose.

—Princesa, eu não te queria preocupar com estas coisas na véspera de dois exames. Mas agora que os exames acabaram já temos tempo.

—Ainda temos o baile no fim da semana. - disse Rose mostrando o primeiro sorriso desde que ali tinham chegado.

—É verdade. - disse Scorpius - E isso faz lembrar-me algo. Eu nunca te convidei formalmente para o baile. Nós sempre assumimos que íamos ao baile juntos. 

—É normal, Scorp. Nós somos namorados.

—Não interessa. - respondeu Scorpius - Rose Granger Weasley darias-me a honra da tua companhia no baile de finalistas?

—Claro que sim, seu tonto. - respondeu Rose beijando o namorado.

—Qual é a cor do teu vestido? - perguntou Scorpius. Perante o olhar confuso de Rose, Scorpius completou - Tenho de saber para arranjar um laço a combinar.

—Tens de mandar uma carta à Domi. Ela disse-me que só me vai mostrar o vestido no dia do baile para eu não ter hipótese de trocar.

—Nota-se bem que é a Dominique. - disse Scorpius beijando Rose em seguida.