Mais Que Inesperado escrita por AlineCristy


Capítulo 2
Dia difícil




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Acordei sentindo uma dor irritante.

Meus olhos ardiam e minha cabeça latejava. Eu não havia comido nada ontem tirando a maça do café e meu sanduíche na escola, toda vez que não comia minha cabeça doía.

Fui tomar um banho depois de tomar Advil, não lavei meu cabelo, porque não, hoje eu estava com preguiça de secá-lo, então contando com hoje já faziam quatro dias sem lavar o cabelo.

– Quando voltar da escola eu lavo. - falei comigo mesma no espelho, meu cabelo estava uma completa bagunça.

Coloquei minha calça de pano que batiam até a metade da minha canela e uma blusa branca, ótimo! Ah e claro uma blusa para não passar frio, odeio passar frio, peguei a de pano cinza, que adorava pois era quentinha e fresca. No espelho eu desisti de tentar separar a briga entre o pente e o meu cabelo, acabei optando por amarrá-lo mesmo.

Coloquei minha sapatilha e desci as escadas, meu pai já estava acordado, claro.

Senti minha barriga roncar e fui direto para o armário.

– Estou atrasado. - disse meu pai olhando no relógio.

Eu torci a boca.

– São seis e meia. - falei consternada comendo um cookie.

– Exatamente, são seis e meia. - disse ele arrumando sua pasta.

Eu vislumbrei a omelete na frigideira.

– O café da manhã é a refeição mais importante do dia.

Papai me olha, com um olhar divertido por eu ter usado sua frase contra ele.

– Bom, justo... - disse. - Eu como um Bagel no caminho.

– Tudo bem então.

– Boa aula filha. - disse ele me dando um beijo na testa. - Talvez eu chegue cedo hoje, a gente pode jantar juntos.

– Seria legal. - falei.

– Até mais.

Papai entrou em sua SUV a caminho do seu trabalho. Me lembrei que ele não comia peixe, e tinha alergia a lactose, com certeza ele não comeria um Bagel puro, ou comeria? De qualquer forma um Bagel para mim só tinha graça com salmão e cream cheese.

Minha barriga voltou a roncar, mas minha fome se esvaiu por um instante quando encarei a omelete com nojo. Odiava ovos.

Não conseguia fazer panquecas em casa sem ajuda do meu pai, e tudo o que me sobrou foi o cereal. Bom, era o que tinha pra hoje.

Peguei a caixa de froot loops e coloquei na tigela com leite, e fiquei mastigando e observando os flocos de milhos coloridos, pensando sobre meu dia anterior que foi péssimo.

Tomei um copo de suco de laranja e escovei os meus dentes.

Peguei a omelete e coloquei no quintal dos fundos, eu sabia que os passarinhos iriam comer, eles comiam praticamente tudo. Não sei o que tinha de errado com os passarinhos dessa cidade.

Fiquei observando eles se aproximarem relutantes, bicando os ovos e fugindo rapidamente, para logo depois voltarem novamente.

Até que deu a hora de ir para a escola.

Me assustei quando ouvi batidas na porta, e quando abri dei de cara com Ben.

Dar de cara com Ben era uma coisa na qual eu estava acostumada, mas normalmente ele estava com seu cabelo tipico franjado e seus sweaters de cores diferentes, foi uma espécie de baque pra mim, dar de cara com seu cabelo cortado e moletom do mickey.

– Érr... oi! - falou ele, coçando a nuca.

Eu fiquei sem palavras, não estava entendendo o que estava acontecendo.

– Me desculpe por não ter te pegado ontem.

– Poderia pelo menos ter me avisado. - rebato.

– É eu estava ocupado.

– Fazendo o que? - eu até queria jogar verde, mas estava realmente com medo que ele mentisse para mim, então prossegui. - Batendo um papo com Stacey?

Seus olhos arregalaram por um instante.

– É eu vi.

– Charlie...

– O que Ben? Eu até posso engolir a sua quedinha por ela, mesmo que eu e você saiba que ela é uma vadia cruel mas...

– Não fale assim dela! - pediu Ben me interrompendo, sua hostilidade me assustou.

– O-o que? - perguntei gaguejando, ainda incrédula. - Você esta brincando comigo? - falei agora um pouco mais alto, a ponto de gritar.

– Charlie me desculpe eu só...

– Charlie nada! Nós somos amigos desde quando Ben desde sempre? E quando que você abriu a boca para me defender quando Stacey fazia e falava aquelas coisas terríveis pra mim?

– Foi da boca pra fora Charlie!

– Você está cego! Cego, pois Stacey sempre foi má com você também, ela só quer saber de você agora por causa que você esta ficando famoso na internet! - falei.

– Ah claro, porque eu por mim mesmo não conseguiria chegar em uma garota não é? Sua fé em mim é tocante.

Eu sorri incrédula. Esse curto período com Stacey e seu ego já havia aumentando tanto parar querer reverter para ser sobre ele?

Ele segurou meus ombros.

– Charlie eu sei o que eu fiz foi errado, eu não vou te esquecer ou te deixar de lado, e eu me senti muito mal ontem mas eu tive muita coisa para fazer depois da escola, como você pode ver. - disse ele, e eu encarei novamente sua nova aparência. - E eu sei que isso não justifica nada e me desculpe por ser um idiota, e nada disso é por Stacey, ela veio conversar comigo e eu apenas... não consegui ser rude com ela. Por favor Charlie, me desculpe?

Vislumbrando aqueles olhos azul, eu vacilei, não conseguiria não o perdoar, não conseguiria me sentir uma porcaria assim.

Eu respirei fundo.

– Tudo bem.

Ele sorriu. E me abraçou, eu pude sentir cheiro de perfume, Ben não usava perfume, não estava ainda certa do que ele fez não foi por Stacey, mas apesar de minha oculta paixonite, a cima de tudo eu era sua amiga, e deveria agir como tal. Eu o abracei de volta.

– Agora vamos á escola.

Na minivan pegamos nosso caminho em direção ao meu inferno pessoal, também conhecido como ''escola''. O dia hoje estava mais nublado, o que fez uma quantidade considerável de pessoas saírem do gramado para ficarem no pátio.

Ben foi parado por alguns de seus novos amigos, eles falavam sobre vídeo-game e eu não entendia nada, deveriam ser alguns dos garotos que o assistem no youtube, então eu dei no pé.

Não queria ficar no pátio então fui ao meu armário. Minha primeira aula era, educação física. Bendita educação física que eu tanto odiava.

Assim que o sinal bateu me dirigi logo ao ginásio com minha roupa. Coloquei o infame shorts vermelho com a camiseta cinza de pano com o nome da escola, eu sempre me sentia uma retardada com isso.

O professor de Educação Física, Sr. Williams, era até que legal e bem bonito o que era alguma coisa considerando todos os professores dessa escola, mas aquela disposição toda dele me irritava um pouco, não importa a hora, toda vez que eu o encontrava parecia que ele havia acabado de tomar umas vinte canecas de café.

– Vamos lá galera, meninas hoje lacrosse, meninos futebol.

Eu bufei, sou péssima em Lacrosse.

– Lacrosse não professor! - pediu uma menina. - A maioria dos jogos de lacrosse acabam com briga.

– Lacrosse ou correr, o que preferem? - diz ele.

Depois da votação correr ganhou, e eu ainda bufei, será que não podíamos todas sentar na arquibancada e assistir os meninos?

Eu comecei a correr sozinha depois que as meninas começaram a me olhar feio na corrida de revezamento e eu deixei cair o bastão muitas vezes, o que eu poderia fazer minha mão estava completamente suada!

Stacey que estava nessa aula comigo estava completamente patética querendo ganhar a todo custo com sua competitividade, pelo menos não estava enchendo o saco de ninguém.

Enquanto corria senti um baque forte contra a minha cabeça, eu cai no chão me sentindo zonza, eu aproveitei para descansar um pouco respirando, até que senti uma grande aglomeração ao meu redor. Minha vista ficou meio embaçada, eu via o rosto do professor e sua voz um pouco longe falando alguma coisa.

Até que tudo apagou.

***

– Charlotte! - ouvi um grito e meu ouvido doeu.

– Ai para de gritar! - gritei de volta, e logo me arrependi quando vi o professor na minha frente. - Desculpa professor. - falei, tentando me levantar.

– Não fiquei deitada, vou te levar a enfermaria. - falou ele, me carregando.

Eu devo ter corado, porque ser carregada por seu professor é alguma coisa, não que eu estivesse reclamando por estar sendo levada a enfermaria por aqueles belos braços.

Eu olhei em volta e as pessoas estavam mais longe, consegui avistar Stacey rindo da minha cara, aquela nojenta, e Chloe com seu olhar preocupado, eu a acalmei dando um sinal de ''tudo joia''.

Na enfermaria recebi uma bela de uma bronca, quando falei para Maria que nos últimos dois dias a unica coisa que eu havia comido era uma maça, um sanduíche e cereal.

– Essas garotas de hoje em dia... Não vem me falar que você faz isso toda hora?

– Claro que não, eu adoro comer. - dei meu melhor sorriso, e era verdade, eu amo comer, ontem não tive fome por causa do belo embrulho que passei o dia todo no estômago por causa de Ben.

Ela me olhou desconfiada.

– Aham, sei, de qualquer forma vou mandar uma nota para seu pai.

– Maria... não precisa! - implorei.

– Olha para você garota só ossos, quem não me garante que está em algum quadro de anorexia?

– Uau, não sou tão magra assim. - falei, tentando acreditar no que dizia.

– É vocês americanas são normalmente todas magras assim mesmo... - disse ela,eu sorri.

– Não se esqueça que eu também tenho sangue latino. - falei.

– Então faça jus a ele e coma bastante para ficar maior e mais forte, senão vai continuar desmaiando pelos cantos. - disse ela passando a mão em meus cabelos. Era entendível todos gostarem tanto de Maria, ela era carinhosa e preocupada, para ela, todos os alunos eram como seus filhos.

– Tudo bem. - respondi.

Eu fiquei em observação na enfermaria, Maria não queria me deixar sair, mas ai eu fiquei faminta e dei meu jeito de escapar.

Quando sai da enfermaria dei cara com o bíceps de alguém, quando olhei para cima era Bryce. Me senti muito baixa perto dele, não gostava de ter que virar meu pescoço para encarar alguém.

– Me desculpe, não foi minha intenção.

– Desculpar pelo o que? - perguntei confusa.

– Pela bolada. - falou.

– Aaah, foi você...

– Sim, Stacey deu a entender que eu fiz de propósito mas eu realmente não fiz.

– Bom não tenho certeza, mas se desculpa já é um começo - disse dando duas palminhas de solidariedade em seu peito. - Até mais.

Ou até nunca! Porque tudo o que me acontecia de ruim nessa escola tinha que ter a ver pelo menos alguma coisa com Stacey?

Quando ia embora senti segurarem meu pulso, era Bryce. Isso me irritou, quem ele acha que ele é?

– Que foi? - perguntei olhando para sua mão no meu pulso e ele entendeu a mensagem me soltando.

– O que quis dizer com ''não tenho certeza''? - perguntou.

Eu parei para pensar, nem eu sei direito.

– Bom é que na verdade parecem que todos ultimamente adotaram como esporte favorito serem fantoches dela. - falei.

– Não sou um fantoche dela, de ninguém.

– Bom na minha opinião você só é mais uma peça do quebra-cabeça do mundo perfeito da Barbie dela.

Ele parecia confuso, eu revirei os olhos.

– Stacey precisa de um carro legal, roupas caras, cabelo perfeito e beleza impecável, isso ela já tem, as peças que complementam o quebra-cabeça são o namorado bonito e popular, os amigos falsos que a seguem, e as pessoas nas quais ela pode pisar em cima para se sentir superior, engraçado, ela poderia simplesmente subir no ego dela, provavelmente deve ser a vista mais alta da cidade. - falei.

– Que merda. - ele falou.

– Pois é, agora eu vou indo. - disse pegando meu caminho em direção ao refeitório.

Não entendi o que acabou de acontecer. Bryce parecia haver acabado de entender o jogo de Stacey, realmente, não sei o que tem de errado com esses garotos e sua ingenuidade em relação aquela cobra.

Peguei um burrito e uma caixinha de leite, estava comendo quando tive um vislumbre que me assustou, fazendo eu parar com a burrito a caminho de minha boca.

O que é que meu pai estava fazendo aqui?

Ele parecia preocupado, olhando ao redor, vestido ainda com seu paletó e gravata, todas as pessoas estavam o vislumbrando, até que ele me encontrou e veio quase correndo em minha direção.

– Charlotte, filha, você está bem? - perguntei ele em um tom assustado, que me surpreendeu.

– Mas é claro pai, porque não estaria?

– Me disseram que você desmaiou.

Eu revirei os olhos, Maria.

– Não pai eu levei uma bolada, ai eu desmaiei porque... - merda, o que eu ia falar agora?

– Porque?

– Porque minha pressão baixou, eu estava praticando exercícios e vamos se dizer que eu não comi muito desde ontem.

Seus olhos se arregalaram.

– Quantas vezes eu tenho que te pedir para se alimentar Charlotte? - pede meu pai, falando alto demais e atraindo atenção de todos para nós novamente.

– Eu me alimento, e pare de falar alto estão todos nos olhando. - sussurro.

– Estou falando de comida Charlotte não de porcaria, venha. - disse ele pegando meu braço.

– Pai, aonde, eu tenho que estudar!

– A gente vai no hospital.

– O que? - perguntei incrédula. - Pai você está exagerando eu estou bem.

– Não estou abrindo brecha pra conversação Charlotte, a gente vai e ponto final.

Eu bufei.

Levar bolada na cara, desmaiar e ainda levar bronca do pai na frente de toda a escola.

Bem-vindos a minha vida!

A gente foi na diretoria informar o diretor e depois fomos para o Hospital, que confirmou, eu não tinha nenhuma contusão ou nada, estava ótima. Só depois disso meu pai relaxou, depois a gente foi pra casa, parece que pelo resto do dia nós dois estávamos de folga, então decidi matar o tempo preparando nosso jantar, hoje escolhi por um fetuccine alfredo, rápido, prático e saboroso, enquanto papai colocava a mesa.

Depois de pronto eu nos servi, e modéstia a parte a massa estava uma delícia.

– Isso combina com um bom vinho branco. - falou papai, e voltou com sua garrafa de Philippe Pacalet Meursault 2007, um de seus xodós.

– Uau, e nem é meu aniversário.

Ele sorriu.

– Não precisa se ter uma data especial para se beber um bom vinho.

Eu nunca fui de gostar de vinhos, mas meu pai tinha uma adega cheia deles, e desde meus quinze anos ele me deixava tomar uma taça toda vez que jantamos e ele abria algum. Eu fui tomando o gosto pela bebida.

– Saúde.- falou papai depois de nos servir o vinho.

– Saúde.

E nós terminamos de comer, papai me deixou tomar mais uma taça de vinho depois do jantar, e a gente ficou batendo papo.

– Pai, porque ficou tão preocupado? - perguntei. - Você saiu do trabalho e fez um show na minha escola. - disse sorrindo. - Nunca te vi daquele jeito...

Ele me vislumbrou, seu olhar se estreitou.

– Primeiro, porque você é minha filha e eu me preocupo muito com você. - falou.

– E segundo? - perguntei

Ele bebeu um gole de seu vinho.

– É por causa da mamãe não é?

– Talvez... não sei, quando me disseram que você desmaiou eu tive um flashback desagradável...

Eu entendia meu pai, quando descobrimos que minha mãe tinha um tumor no cérebro foi depois de ela desmaiar no meio da rua. Ela vinha tendo dores de cabeça, mas ela sempre culpou as vistas, e deixou de lado, quando descobrimos foi tarde demais. Desde então eu faço check-ups a cada seis meses, porque meu pai acredita que eu possa ter tendência a desenvolver coisa parecida, mas graças a deus, nada até agora.

– É eu entendo... - falei. - Não se preocupe pai, vou estar sempre aqui para te oportuna e te arrancar do trabalho por motivos bestas. - disse para quebrar o gelo, ele riu.

– Quem vai lavar a louça? - pergunto.

– Como assim quem, claro que é você. - diz ele.

– Eu preparei a comida.

– É mais você aprontou, e seu castigo é lavar a louça.

– Isso não é justo, deixar de comer não é aprontar, quer que eu acredite que você comeu aquele Bagel? - perguntei cruzando os braços e levantando uma das sobrancelhas em desafio, ele sorriu, pois é, ele não havia comido.

– Você lava porque é a mulher da casa.

– Motivo machista, você deveria ser o cavalheiro.

– Ok então, impar e par. - ele diz.

– Impar. - falo.

Nós jogamos e eu ganho, como sempre.

– Porque eu sempre perco nisso? - pergunta meu pai tirando a mesa.

O segredo é parar de sempre jogar o mesmo número, eu sempre sei que ele vai com dois, ai eu coloco cinco, e ai eu sempre ganho. Mas não sou burra o suficiente para revelar a estratégia que tanto me salva.

Depois do jantar eu tomei um banho, e como prometido a mim mesma lavei meu cabelo. Depois de secá-lo escovei meus dentes e fui dormir, com minha cabeça cheia de pensamentos, meus dias ultimamente estavam sendo muito difíceis, hoje ainda pareceu pior que ontem estava me sentindo mais cansada.

Estávamos em agosto, esses eram só os dois primeiros dias do ano letivo.

O que dirá os próximos meses até junho?

Que Deus me ajude.


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