Eu acordei com um sobressalto.

Merda, primeiro dia de aula!

As férias me fizeram acostumar com acordar tarde, agora estava me sentindo uma porcaria por acordar as sete, o sono me consumia.

— Desliga, porcaria de alarme! - pedi frustada batendo nele.

Não tinha jeito, eu ia ter que levantar.

Olhei pela janela bay window do meu quarto ainda deitada, alguns raios de sol reluziam, me fazendo acreditar que talvez hoje o dia não esteja tão frio.

Me levantei tomando meu banho e escovando meus dentes, coloquei rapidamente um vestido e minha botinha beje, nada melhor do que não precisar usar jeans.

Sai do meu quarto me apressando, já estava atrasada.

— Bom dia querida. - falou meu pai, que estava com uma xícara de café na mão, e escrevendo alguma coisa em seu notebook.

— Oi pai, bom dia. - falei.

— Está atrasada. - me lembrou.

— Eu sei. - falei colocando café em uma caneca

Ouvi os barulhos de buzina. Era Ben. Desisti do meu café, e fui em direção a porta.

— Ei mocinha. - chamou meu pai com seu tom desaprovador. Eu o encarei. - O café da manhã é a refeição mais importante do dia. - eu revirei os olhos, peguei uma maça e dei um beijo em seu rosto.

— Boa aula. - gritou.

— Bom trabalho! - gritei de volta.

Eu admirava muito meu pai apesar de tudo, eu sei que a gente quase não se via porque ele era muito ocupado, mas eu não podia o culpar, o trabalho dele é uma válvula de escape desde a morte da mamãe. E ele ainda se preocupa muito comigo, as vezes tenho a sensação que ele calcula cada passo que eu dou.

Entrei na minivan do Ben, que estava com a sua típica cara de sono. Sweater azul cobalto, calça jeans escura, cabelos bagunçados. Eu me perguntava como ele conseguia ficar bem usando praticamente qualquer coisa.

— E ai Charlie. - falou.

— Oi Benny. - respondi, dando uma mordida na minha maça.

Eu odiava esse apelido, mas Ben... Ben era Ben! Eu gostava de ter um apelido dado por ele, até porque ele me chamava assim desde quando éramos crianças.

Chegamos na escola, depois de bater um papo sobre a ultima maluquice da mãe dele, e darmos risada sobre como ela acha que as resoluções de todos os problemas são tortas.

Dei uma olhada em volta, respirei fundo. Meu ultimo ano frequentando esse lugar, eu queria cair em meus joelhos e agradecer aos céus.

Ben passou direto pela parte do estacionamento com os carros mais caros, da parte rica que frequentava a nossa escola, eu gostaria que nossa cidade fosse grande o suficiente para ter escolas caras e particulares para esse povo todo poder ir para lá, e parar de quererem se achar superiores, mas a nossa cidade era pequena, e nossa escola era realmente muito boa, mesmo sendo pública.

Ben quase bateu no Mini Cooper que estacionava a nossa frente quando ficou babando por Stacey Thompson, que chegou dirigindo seu Bentley conversível branco.

— Ben! - gritei, ele brecou rapidamente o carro. Agora dou graças a deus por estar usando o cinto, senão teria uma bela de uma contusão depois de bater com a cara no painel.

— Nossa, desculpa! - falou.

— Bom se você prestasse mais atenção á sua frente ao invés de ficar todo caidinho por Stacey.

— Eu não estava caidinho.

— Ta bom, vou fingir que acredito, tem uma vaga aqui. - pedi, e ele estacionou.

Stacey estava do outro lado da cerca, mas é claro que ela não iria perder a oportunidade de me zoar.

— Olha só a cupcake, tirou esse vestido que está usando de onde? Do guarda roupa da sua bisa? - disse ela, se apoiando na cerca.

Eu fingi um sorriso.

— Eu coloquei para ver de quantas retardadas que me amam tanto para se preocupar com o que eu visto eu chamava atenção, advinha só, até a gora você é a única.

O sorriso de seu rosto se esvaiu.

— Não tenha tanta esperança, o dia está só começando. - disse ela, saindo pulando para o pescoço de Bryce Hutch, que acabara de chegar em sua moto.

Eu revirei os olhos e dei no pé.

Ela ainda insistia em me chamar de cupcake, desde o maldito dia em que ela prendeu minha saia na porta me fazendo ficar de calcinha na frente de toda a escola, e para completar minha calcinha era de cupcake, literalmente, tinha até um moranguinho, vexame do século.

Tem um certo tipo de calcinhas que garotas usam que nunca deveriam ser vistas, sério! E geralmente são as nossas favoritas...

Vislumbrei Ben que continuava olhando para Stacey, provavelmente invejando Bryce por namorá-la, eu não conseguia pensar em nada pior, ter o garoto que você gosta claramente apaixonado pela garota que você mais odeia.

Bem-vindos a minha vida.

— Char!! - chamou Chloe pulando com seus cachos loiros, me assustando.

— Ei, Chloe. - falei. - Como foi no México? - perguntei.

— Foi ótimo, peguei um belo bronzeado, mas meu cabelo ficou péssimo por causa da água da piscina, eu passei um bom tempo na piscina.

Eu sorri, havia esquecido como Chloe podia ser tagarela.

Ela me mediu, dos pés a cabeça.

— Charlotte a sua única sorte é que suas roupas ficam realmente bem em você. - disse ela.

Eu sorri por dentro, havia comentando com Stacey quantas retardadas iriam reparar na minha roupa, e agora estava me sentindo um pouco mal. Mas Chloe era exceção, ela sempre era.

— Você não tem ideia do seu potencial, se você deixasse eu te arrumar você colocaria a vadia da Stacey no chinelo.

Eu dei de ombros.

— Não estou muito afim.

Ela sorriu.

— Tudo bem, tenho que ir agora Char, tchau. - falou.

— Tchau. - respondi.

Olhei em volta e percebi que Ben tinha desaparecido, ultimamente ele estava bem esquisito.

Me dirigi a minha aula de anatomia logo depois de passar em meu armário, ótimo, odiava anatomia. Existia coisa melhor do que começar um primeiro dia de aula em uma segunda-feira, com aula de anatomia?

Bom, bem-vindos a minha vida.

As vezes eu acho que a Lei de Murphy gasta todas as suas energias somente para me oportunar!

— Seja lá quem você seja Murphy, fique sabendo que eu te odeio. - falei.

Bryce Hutch que sentava em minha frente olhou para trás me encarando como se eu fosse um alienígena. Assim que ele virou de costas eu lhe dei língua.

Oras, uma garota não pode nem mais pensar em voz alta?

Depois de algum tempo Ben apareceu, sentando ao meu lado, eu sorri meio consternada, aonde ele havia se metido? Logo depois meu sorriso desapareceu depois que a professora mais irritante da história, Srta. Riskin, que parecia ter uma especial aversão por mim surgiu com sua carranca persistente.

— Abram os livros. - falou.

— Uau, bom dia para você também. - falei sussurrando quase inaudivelmente, Ben riu.

Ela me encarou, caraca essa mulher tinha ouvido biônico ou o que?

— Sabe, eu percebi que não gosto dessas duplas, vocês estão sempre surrando um para o outro. - disse ela, me vislumbrando, eu desviei o olhar. - Então todos vão mudar.

Ouve um grande protesto na sala com cochichos.

— Nem adianta reclamar, venham pegar suas duplas.

Foi feito um sorteio que tomou quase metade das aulas, algumas pessoas pegaram elas mesmas, outras a dupla com que já estava. Eu fui a penúltima, e não havia sido pega, quando fui tinha os quatro últimos nomes, um deles era o meu, com certeza. Os que estavam sobrando eram de Bryce, um garoto gótico e uma das amigas de Stacey, a Sasha. Me abracei ao garoto gótico como a ultima esperança de minha vida.

Não seja Sasha, não seja Sasha, não seja Sasha!

Peguei o nome, quando abri era o meu, revirei os olhos com os burburinhos e risinhos, isso já havia perdido a graça.

Peguei novamente, agora sim haveria de ser minha dupla.

Quando abri, só tive um segundo para me aliviar de não ter pegado a nojenta da Sasha, quando percebi que peguei Brych Hutch.

— Bryce. - falei com tanta empolgação na voz quando tenho quando acordo.

Sasha deu um gritinho, fresca. Provavelmente por ter pegado o gótico. Como se fosse o fim do mundo, eu havia pegado o odioso namorado da cobra peçonhenta e nem por isso estava fazendo escândalo.

— Ótimo, essas vão ser suas duplas na aula de anatomia no resto do ano.

Os protestos voltaram. Sasha veio até mim com sua cara mal encarada.

— Aceita trocar? - pergunta, olhando para Bryce com um olhar condescendente. Que lindo, estou tocada, Sasha interessada pelo namorado da suposta ''melhor amiga'' porque isso não me surpreende?

— Agora. - falei.

Fomos pedir para a professora mas ela não aceitou, alegando que se mudássemos os outros também estariam no direito de mudar, e ai a gente voltaria a estaca zero.

E acabou os poucos minutos amistosos entre mim e Sasha, que voltou a me encarar com sua cara de nojo.

Eu sentei ao lado de Bryce, vislumbrei Ben que sentou do lado de um amigo, um garoto que não conhecia, mas pareciam se dar bem. Bom, sorte a dele. A professora do ano deu uma de suas aulas entediantes e o clima ficou bem esquisito entre algumas duplas, inclusive a minha, não pronunciei nem uma palavra ao namorado de Stacey, que fez o mesmo.

Depois de uma dia típico na escola, o dia acabou para meu alívio. Eu tinha que continuar me lembrando que era só mais um ano de tortura nessa escola monótona e irritante.

Esperava por Ben para voltar para casa mas ele não aparecia, fiquei olhando para meu celular a cada minuto, decidi ir embora a pé, afinal de contas não tinha outra escolha, faria tudo menos pegar aquele ônibus escolar cheio de gente maluca dentro.

Foi quando tive um vislumbre doloroso, por um segundo hesitei, mas realmente estava acontecendo.

Ben tinha suas mãos no bolso, ele sorria, enquanto Stacey tinha uma das mãos em seu ombro, ela também sorria.

O que?

Stacey sempre desprezou Ben, que tem uma queda por ela desde criança. O que significa isso?

Eu estava estupefata parada os olhando de longe. Que interesse Stacey poderia ter, para se envolver com Ben? Ah, mas é claro! Benny não era popular na escola, mas virtualmente ele estava cada vez mais, o canal no youtube dele estava ficando famoso, ele estava fazendo mais amigos na escola, praticamente todos assistiam os vídeos dele.

Porque não pensei antes? Stacey queria aparecer, e Ben ingênuo caiu na falsidade dela.

Dei o fora de lá antes que eles me vissem, não queria de ter que passar pelo constrangimento de ver meu melhor amigo falando com Stacey, tão íntimos. Comecei a andar rapidamente, pisando forte com minhas botas na calçada de concreto em direção a minha casa, que estava a propósito bem longe. Meu rosto queimava, eu estava com ódio mortal. De Stacey, de Ben, do mundo!

Quando cheguei, irritada e aliviada por estar sozinha - não queria meu pai me interrogando - subi para meu quarto e passei o resto do dia lá. Ben não apareceu, sua casa era uma quadra da minha, ele nem sequer ligou ou mandou uma mensagem. Estava me sentindo uma porcaria sendo usurpada por Stacey, e ainda mais por ser deixada para escanteio por Ben.

Algumas lágrimas ameaçaram aparecer, mas eu engoli seco. Não iria chorar por uma coisa tão boba. Fui dormir me sentindo uma porcaria, mas pelo menos o cansaço de ter que voltar a pé me serviu para me deixar exausta, e pelo menos eu teria como dormir essa noite.