Gods among us escrita por Miss Cherry


Capítulo 3
Capítulo 3 - O inimigo do meu inimigo é meu amigo


Notas iniciais do capítulo

Olá, cerejas! Tentei ser mais rápida dessa vez porque sabia que não ia ter tempo de escrever nos próximos dias (a faculdade bateu a porta e eu a-bri, senhoras e senhores, eu estou no chão).
Provavelmente a frequência de postagem vai diminuir, mas prometo não abandonar vocês ♥ Esse capítulo tem menos ação mas muita informação, então fiquem atentos.
Boa leitura!

P.S: Tive alguns problemas de formatação quando passei esse capítulo do Word para o Nyah, então se acharem qualquer defeito, me avisem ♥



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 Pistols At Dawn - Seinabo Sey

"Now it waits patiently to draw from out blood"

 

Acordei na enfermaria pouco depois, Lisianto estava ao meu lado. Por alguns míseros segundos, tive esperança de tudo ter sido um sonho e nada mais do que isso, mas podia sentir a bola de cristal em minhas mãos.

Minha primeira reação foi procurar algo que poderia me indicar as horas. Sentei-me na espreguiçadeira, olhando para o campo verdejante em minha frente. Pela sombra de uma árvore não muito distante, pude presumir que a minha primeira hora já havia passado ou estava chegando ao fim. Um semideus estava para morrer.

Levantei-me o mais rápido possível, mas fui contida por Lisianto. Diferentemente dos demais curandeiros do acampamento, Lisianto Medwood era filha de Deméter, a deusa da agricultura e irmã de Zeus, embora poucos o soubessem. Tinha perícia com plantas e ervas medicinais. Sua pele negra se assemelhava aos troncos das vívidas árvores do acampamento, sendo tão cheia de vida quanto estas, os brilhantes cachos acastanhados chegavam a alcançar o meio das costas, os olhos verdes estavam quase sempre focados em algum livro sobre plantas, se não observando o balanço das árvores pela varanda. Embora fosse bastante atenciosa e cuidadosa, raramente apreciava alguma outra companhia senão a dela própria. Aos 15 anos, já havia sido nomeada conselheira do chalé 4 e enfermeira chefe, cargo que muitos dos meus meio irmãos invejavam e aspiravam.

— Você ainda precisa descansar, não tenho certeza se o antídoto funcionou perfeitamente. Queria ter sido mais rápida, mas alguém não me ajudou com aquelas cordas. – disse apressadamente, cruzando os braços.

— Me desculpe, mas estava tentando salvar nossas bundas. Preciso conversar urgentemente com o Sr. D sobre o que ocorreu aqui.

— Não se preocupe, ele já está ciente do ocorrido e está tomando as devidas providências. Só espero que uma decisão seja tomada antes que algum semideus morra.

Por coincidência ou ironia, a esfera, anteriormente de um branco leitoso, tornou-se transparente novamente. Lisianto se aproximou para observar, claramente assustada, enquanto Lira transmitia seu show de horrores, torturando um garoto de Hermes. Não quero descrever o que foi feito, mas garanto que Lira não estava poupando esforços para nos horrorizar. Ao final, ela se voltou para mim, me observando do outro lado do vidro.

— Gostou? Pela sua cara, posso dizer que sim. Não gosto de fazer o trabalho sujo dessa forma, mas ele tentou escapar. Admito que tive de fazer algum esforço para prendê-lo novamente. – ela fez uma careta observando o corpo inerte e ensanguentado do garoto — Deuses, isso está horrível. Definitivamente odeio esse tipo de tortura, muito sangue. Bom, agora que está terminado, você tem mais uma hora antes da morte do próximo. Seja rápida.

Antes que a esfera se tornasse opaca novamente, Lira cutucou o corpo do garoto morto com o pé levemente, expressando nojo, como se estivesse admitido que tinha passado dos limites daquela vez.

Eu não podia mais ficar parada. Tinha que ver Dionísio.

Pulei da cama, e dessa vez Lisianto não me segurou ou impediu minha passagem. Só ficou ali, parada e em choque com o que acabara de ver. Corri o mais rápido que pude até o outro lado da Casa Grande, onde vi Grover. O sátiro andava de um lado para outro na varanda, terrivelmente preocupado e nervoso, falando consigo mesmo. Pousei a mão em seu ombro, o que fez ele pular de susto.

— Sabia que matar sátiros dá 7 anos de azar? – resmungou, levando uma das latas de Diet Coke de Dionísio até a boca.

— Para uma vida inteira de azar, 7 anos não é lá muita coisa. Onde está Sr. D?

— Em uma reunião de emergência com os deuses no Olimpo. Eles estão revendo a necessidade de comunicação com o Panteão por causa de... Bem, Lira.

Mordi o lábio inferior ao ouvir aquilo. Não parecia ser coisa boa, ainda mais para mim. Com certeza a culpa seria minha.

— Então todos estão sabendo sobre seu retorno e o que aconteceu aqui?

Grover acenou positivamente com a cabeça, triturando mais uma lata de Diet Coke.

— Merda, só me faltava essa. – suspirei, sentando-me ao pé da escada. Groo me acompanhou, tentando não parecer tão aflito.

— Não se preocupe, Sol, vai dar tudo certo. – reconfortou-me o sátiro, mas algo em sua voz me dizia que nem ele acreditava no que estava dizendo.

— Espero que sim. Mas ter que esperar é torturante. Tenho que esperar o Sr. D para tomar alguma decisão, mas para isso a reunião tem que acabar logo, o que não iria acontecer tão cedo. Mais semideuses vão morrer porque estamos parados.

 Grover não disse mais nada, e nem precisava. Podia ver pelos seus olhos acastanhados que ele estava tão preocupado quanto eu, e ainda mais impotente. Não podíamos fazer nada além de esperar, sabíamos disso, mas não era o que nenhum de nós queria. Precisávamos agir.

***

 Aproximadamente duas horas mais tarde, a trombeta de concha de caramujo soou pelo acampamento, indicando que era a hora do almoço. Mesmo não tendo comido nada desde aquela manhã, minha vontade de me alimentar era quase nula. Mesmo assim, me recolhi da Casa Grande e fui com Grover até o pavilhão do refeitório, subindo a colina. Os semideuses de outros chalés subiam organizadamente em fila, aparentemente famintos.

Cumprimentei o conselheiro do chalé 11, Connor Stoll, que era seguido pelo resto do numeroso chalé de Hermes, onde pude ver Percy no final. Ele pareceu notar meu olhar, então acenou levemente com a cabeça, embora sem dar muita importância. Ainda não sabíamos o progenitor divino de Percy, por isso os irmãos Stoll o acomodaram no chalé de Hermes, onde todos os indeterminados residem.

Chegando ao pavilhão, Grover se despediu, indo até a mesa dos filhos de Dionísio, se sentando com outros sátiros e algumas ninfas. Me acomodei na ponta da mesa do chalé de Apolo, passando os olhos pelo lugar até que vi o Sr. D. O deus segurava uma garrafa de vinho na mão, olhando para ela com pesar, já que Zeus havia proibido o consumo da bebida por Dionísio. Nem mesmo seus filhos poderiam cultivar vinhas nos arredores do acampamento. O que mais me intrigava era a calma do deus. Como ele poderia estar tão sereno quando 6 semideuses estavam à beira da morte?

Quando as ninfas começaram a distribuir a comida, coloquei alguma coisa qualquer no prato. Levantei-me como todos       e segui até o braseiro no centro, jogando mais da metade no fogo, uma oferenda aos deuses.

— Apolo. – Senti cheiro de louros e algo morno me invadiu, um sentimento. De certo mono, senti que não estava sozinha — Obrigada, pai. – dei um meio sorriso, que logo desapareceu quando me lembrei de Thalia.

Sentia saudade dos tempos em que ainda não tinha tantos problemas nas costas, senti saudade de casa, de Apolo e suas piadas infames, até mesmo de Lira, quando ainda era uma boa pessoa.

Mas aquele não era um dia para lamentar o que já foi.

Mantive os olhos em Dionísio por todo o caminho, que não pareceu me notar, ou apenas me ignorava. Sentei-me novamente, ainda encarando o deus. Quando senti a bola em minha frente tornando-se transparente novamente, atentei-me a ela.

No fundo, estava torcendo para não ser Thalia, e até me senti culpada pelo alívio que me percorreu quando uma garota de cabelos dourados como os meus apareceu. Era Ellia Scott, uma das minhas meio irmãs. Não éramos nada próximas, mas todo o alívio pareceu se esvair de meu corpo, era minha meio irmã, afinal. Me levantei, indo até onde Dionísio se encontrava, conversando com Quíron. Coloquei a bola no centro da mesa com força. Os dois se calaram, mas observaram com atenção enquanto Lira tirava a vida de mais um semideus.

— Sinto muito por ter que matar uma das minhas irmãs, mas sacrifícios são necessários, e vocês estão me deixando impaciente com toda essa demora. Vocês estão pelo menos tentando? – ela riu, pois sabia a resposta. – Vocês tem uma hora antes da próxima morte, mas saibam que eu estou me cansando. Os outros não terão tanto tempo assim. Ah, e olá Dionísio. Quanto tempo, não é mesmo? Espero que tenha gostado dessa pequena demonstração!

— Gostaria de não ter visto isso. – resmungou o deus depois que a imagem desapareceu.

Mesmo atento, Dionísio logo voltou sua atenção para a garrafa de vinho em sua frente, como se estivesse ignorando todo o resto. Quíron tentava parecer calmo, mas sabia que ele sentia muito pelas mortes que estavam acontecendo.

— O que você quer com isso, criança? Estou tomando as devidas providências. – declarou Dionísio, finalmente colocando seus olhos em mim.

— Está tomando as devidas providências ou se lamentando por não poder beber vinho por pelo menos mais uma porção de décadas? Pessoas estão morrendo, Dionísio! – insisti.

— Sr. D para você, garota mal criada. Mais respeito!

— Vocês vão realmente agir como se nada estivesse acontecendo? – bufei, batendo o prato quase vazio na mesa.

Sr. D me encarou furioso, porém se conteve.

— Não podemos fazer muito. Não vamos arriscar o restante do acampamento para resgatar 9 semideuses. – respondeu emburrado, acenando para que uma garrafa de Diet Coke aparecesse.

— Agora são 5, mas Thalia está lá! Um de seus filhos está lá! – como havia falado um pouco alto demais, os campistas dirigiram seus olhares curiosos a mim. Com cautela, prossegui - Precisamos resgata-la imediatamente! Dê-me uma missão e algum semideus inteligente, é tudo o que preciso.

— Você nem mesmo sabe onde ela está escondida, Solária. Esqueça.

— Mas eu poderia encontra-la em pouco tempo. Dionísio, por favor, 4 já morreram. Dê-me a missão!

— Eu já disse não! Não insista. – reclamou, batendo o punho esquerdo na mesa com força.

Se antes estávamos nos contendo para não chamar atenção, definitivamente aquele não era mais nosso objetivo. Todos se calaram, observando as gordas bochechas do deus ficarem tão vermelhas quanto os morangos da horta. Mas claro, eu não poderia deixar assim.

— Você está matando 9 semideuses, Dionísio! O sangue está em suas mãos! Tudo porque não quer “arriscar” outros semideuses nessa missão. É isso que você quer? Fingir que nos protege enquanto um de nós morre a cada giro de um ponteiro? Se você não quer fazer nada sobre isso, manter segredo do restante, eu mesma resolvo isso! – gritei em alto e bom som.

Dionísio se levantou, os olhos faiscavam de raiva, até mesmo quem estava na ponta mais distante do deus poderia ver o fogo em suas órbitas negras. Bateu com as duas mãos na mesa de pedra em que estava sentado, quebrando-a na metade. Os cachos negros quase flutuavam.

— Pare de agir como se fosse dona desse maldito acampamento! Você é apenas mais uma criança que os deuses enviaram porque não podiam suporta-la no Olimpo! É uma mimada que não pode aturar perder seu posto como o centro das atenções, e por isso nos trouxe esse problema! Você é a causa de todas as dificuldades que o mundo divino já passou, e nem se dá conta disso. Só quer ser notada! Você e Lira não são nem um pouco diferentes. Não é à toa que são gêmeas! Vocês duas só trazem tormento onde quer que estejam. Ainda não cansou de causar a morte das pessoas a sua volta?

Mesmo um pouco assustada pelo tom que o deus havia usado, eu só ia absorvendo cada uma daquelas palavras com uma ira enorme. Podia ver o reflexo dos meus olhos vermelhos nos de Dionísio, que continuava berrando outras palavras que eu simplesmente não captava por causa do ódio que se formava dentro de mim. Senti todo meu corpo queimar em raiva, e mesmo tentando, não conseguia me acalmar.

Ele está simplesmente ignorando a morte de todos aqueles semideuses! Ele vai deixar Thalia morrer porque não quer me arriscar!

Ouvi um estrondoso estouro. O fogo das tochas e do braseiro já não crepitava como deveria, tomando conta de toda a estrutura do braseiro de bronze no centro do pavilhão e das pilastras de mármore. Ao fundo, pude perceber Quíron tentando manter os semideuses calmos, já que o fogo ainda permanecia controlado por mim. Sr. D respirou fundo, sabia que aquelas palavras provavelmente me fariam literalmente explodir de raiva, mas as proferiu mesmo assim.

Palavras tem poder, Dionísio. Deveria se lembrar disso mais vezes.

Senti mãos apertando meus ombros, me chacoalhando, tentando me tirar do meu transe.

— Sol! Você não pode se expor assim!

Era a voz de Grover. O sátiro era o único que conseguia me acalmar nessas situações além de Thalia, mas ela não estava ali. Tentei afastar aquele pensamento da cabeça, afinal, Groo estava certo. Tinha de manter meu segredo a salvo.

O fogo retornou ao normal, assim como meus olhos voltaram ao amarelo original. Passei as mãos pelos fios dourados, respirando fundo, temendo ter feito algo de que me arrependeria depois. Quando me virei, todos ali presentes me encaravam com terrível espanto, e só depois me dei conta do ocorrido. Eu poderia tê-los matado. Todos eles, se eu não tivesse mantido um pouco de controle.

— Me desculpem... – disse baixinho, um tanto quanto envergonhada e arrependida.

Antes de sair correndo, olhei para Sr. D, suplicante. Fui para o único local onde ninguém me incomodaria, o bosque, onde passei até o meio da tarde. Não queria voltar para o chalé e ter que aguentar os olhares e os cochichos dos meus meio irmãos, mas ao mesmo tempo sabia que meu tempo estava acabando. Mais semideuses haviam morrido naquele breve espaço de tempo. Não tinha o luxo de continuar escondida, então escondi minhas doeres e levantei-me, indo até a Casa Grande.

Antes de chegar ao meu destino, Quíron me encontrou. Seus olhos amendoados exalavam preocupação e cansaço, mas uma pitada de alívio por me ver.

— Estávamos procurando por você. Tenho novidades sobre o que ocorreu hoje.

— E o que seria? Dionísio finalmente decidiu me expulsar do acampamento ou ele prefere me dar de lanche para as harpias da limpeza? – suspirei descrente, olhando para os cascos do centauro.

— Nada disso, criança. Conversei melhor com ele, e creio que Sr. D está cada vez mais inclinado a te dar aquela missão. – me animei um pouco, Quíron hesitou — Mas ele só o fará se você tiver uma localização precisa de Lira e dos outros semideuses. Também precisamos ser informados das mortes para a confecção das mortalhas e para avisar os parentes das vítimas.

Respirei fundo e soltei todo o ar pela boca. Havia ficado tão histérica que não me lembrei de pensar sobre a localização da minha irmã gêmea.

— Não tenho ideia de onde ela esteja, sinceramente. Acho que estamos perdidos, Quíron. – desabafei, jogando o cabelo para trás.

— Não estamos. – Annabeth tirou o boné dos Yankees da cabeça, voltando a ser visível – Tenho uma ideia. Posso não conhecer sua irmã, nem gostar de você, mas Thalia e um dos meus irmãos está com Lira, não vou deixar que eles morram.

Embora eu odiasse concordar, Annabeth estava certa. Não era hora para desavenças, algo muito maior que nós duas estava em jogo, e não poderíamos colocar tudo em risco por uma briga idiota. Estendi a mão para ela, a fim de selarmos aquela breve união. A filha de Atena vacilou, mas acabou cedendo. Tínhamos um acordo.

— Certo, eu realmente ia precisar de um filho de Atena. O que sugere?

— Vou deixa-las trabalhar, estarei na Casa Grande quando decidirem partir. – Quíron anunciou antes de sair cavalgando, assentimos antes de sua partida.

— Quíron me contou um pouco sobre o que aconteceu e pensei em algumas coisas. Para que você se entregue, ela deveria ter deixado algo que te habilite a fazer isso.

— A esfera. – arregalei os olhos, me sentindo estúpida por não ter pensado nela antes — Lira me deixou uma bola de cristal para que eu visse a morte de cada um dos semideuses. Só não imaginei que essa seria a chave.

— Uma bola de cristal? Ela é uma vidente ou algo parecido? – ri baixo, mas logo me recompus. Ela continuou — Bom, tudo que temos que fazer é montar uma armadilha. Quando ela te passar a localização e os termos, posso ficar invisível, ela não vai me notar.

— Ela me avisou que não queria nenhuma gracinha, ou vai matar a todos. Conhecendo Lira como conheço, ela não está brincando. Ela é esperta, Annabeth. Mesmo se ela não conseguir te ver, ela vai usar alguma coisa para ter certeza que estou sozinha.

Annabeth pareceu pensar por um tempo, até que teve uma ideia e sua expressão ficou extremamente séria.

— Vou me entregar no lugar de Will. Certamente ela iria preferir me matar do que ele.

— Tenho que dizer que não é um mau plano, mas é muito arriscado. Você sabe que Lira é como eu. Tem certeza? – ela assentiu, determinada – E em termos de preferência, tenho medo de dizer que Lira até gosta um pouco de você. Ódios em comum, digamos. Só espero que ela aceite. – suspirei.

Concordamos com o plano e nos dirigimos até o refeitório, onde havia deixado a esfera. Encontramos com Grover no meio do caminho, ainda preocupado. Pedimos para ele entregar uma mensagem para Dionísio, avisando que estávamos partindo pois sabíamos onde procurar. Chegando lá, vimos que o lugar estava deserto, nem mesmo uma viva alma se encontrava ali além de Annabeth e eu. Me dirigi até a mesa onde os diretores se sentaram mais cedo, pegando a esfera – que por sorte não havia quebrado junto com a mesa. Ergui o objeto de cristal e chamei por Lira, esperando que ela me respondesse. Sua imagem apareceu pouco depois, ela já não estava ao lado dos outros semideuses. Parecia ter sido pega de surpresa enquanto conversava com outra pessoa. Quando viu minha imagem através da esfera, sorriu.

— Ah, Solária! Que demora, já está quase na hora de matar outro semideus. E então, pronta para se entregar? – seu sorriso desapareceu assim que viu Annabeth. Tentei permanecer sem expressão para que ela não notasse o plano — Eu disse sem gracinhas, Sol. O que está tentando fazer?

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Annabeth tomou a esfera para si e encarou Lira severamente.

— Quero fazer uma troca. Deixe Will ir e então você terá a conselheira do chalé de Atena.

Nunca vi Annabeth usando um tom tão sério, mas Lira parecia desconfiada. Ela nos encarou por um longo minuto antes de se pronunciar novamente.

— E porque eu faria isso? Se Solária for realmente se entregar, vou libertar todos os semideuses, inclusive seu irmão. Vai ser uma troca desnecessária e arriscada para mim. Isso foi um plano mau bolado, irmã? – disse, rangendo os dentes por fim.

— Não estamos tramando contra você, Lira. – alegou Annabeth, contrariada pela falha — Queremos todos os semideuses restantes em segurança. A troca será para garantir que isso vai acontecer, nada mais. Pode me acorrentar com os outros se quiser, não vou levar armas. Além do mais, se Solária estiver mesmo tramando algo, ela vai ter que viver com o ódio de todo o acampamento por ter me dado as costas e ter causado minha morte.

Franzi o cenho e olhei para Annabeth. Ela tinha perdido a cabeça? Sem armas ela estaria indefesa contra Lira e quem mais estivesse junto a ela, e Lira já era suficientemente perigosa. Embora insatisfeita, tentei não me expressar e peguei a esfera novamente.

— Vamos logo, Lira. Não tenho o dia inteiro e duvido que você também tenha. Apenas nos leve e faça logo o que quer comigo. Você quer vingança contra mim, todos os outros são inocentes.

Eu estava esperando uma reação séria de Lira, mas para minha surpresa, ela não apenas riu, mas gargalhou com o que eu havia dito. Após se acalmar, finalmente falou.

— Você se superou nessa! – Lira saiu de uma expressão risonha para uma totalmente raivosa em segundos — Ninguém é inocente! Já que ainda não tenho poder para tratar esse assunto diretamente com os deuses, seus filhos vão pagar, um por um! Ninguém nunca me disse que eu era a inocente no começo dessa história, quando você e os outros deuses se viraram injustamente contra mim e me deram as costas. Nós éramos crianças, Solária! Você fez com que tudo desabasse encima de mim sem motivo algum. Afinal, o monstro sou eu ou é você?

Recebi cada palavra como um murro. Sabia que era tudo verdade, se Lira era um monstro, eu não poderia ser nada diferente por tê-la transformado em um. De súbito, todas as palavras de Dionísio ocuparam minha mente, as de Lira ecoavam para reforçar a ideia de que eu, unicamente, era a culpada por tudo aquilo. Senti minhas pernas tremendo, ameaçando desabar. Sentei-me em uma das mesas, respirando pesadamente. Ethan, Tempira, Ellia e os outros semideuses. Todos mortos porque eu não sabia conter meu defeito mortal.

Annabeth permaneceu em silêncio enquanto me via naquele estado. Lira parecia contente por finalmente ter me atingido com suas palavras amargas e venenosas. Anne se aproximou de mim, buscando as palavras certas. Se sentou ao meu lado e suspirou, pelo menos ela estava tentando.

— Olha Solária, eu não sei o que você fez antes, mas agora é sua chance de tentar se redimir. Se você ficar aqui parada, choramingando como um cão ferido, de nada vai adiantar. A vida de Thalia está em jogo, a do meu irmão também. Tem certeza que quer falhar mais uma vez?

Olhei profundamente para Annabeth, de certa forma lhe agradecendo. Enchi os pulmões e exalei todo o ar pela boca, repeti o mesmo exercício algumas vezes antes de me acalmar. As vozes saíram da minha cabeça, agora só tinha espaço para pensar em Thalia e nos outros semideuses. Me levantei, determinada a acabar com aquele circo e encarei Lira do outro lado da bola.

— Então vamos acabar com isso. Nos leve até você.

Lira soltou um dos seus melhores sorrisos malignos. Aquele seria meu fim. Estava de braços abertos, caindo de um precipício, esperando minha queda.


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Notas finais do capítulo

E então, alguma teoria sobre essas gêmeas da pesada? Me digam nos comentários!
Lembrando mais uma vez que críticas construtivas são sempre bem vindas!
Até o próximo capítulo, beijinhos!



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