Das Phantom der Oper escrita por Prouvairee


Capítulo 1
I - A Nova Edelweiss


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Viena, Áustria-Hungria – 1870

Casacos felpudos e quentes, um mais belo que o outro; botas cujo salto em contato com o chão intensificavam o som peculiar das cidades grandes; charretes carregando pessoas importantes de um lado para outro; o cheiro tentador das sachertortes e outros bolos que saia das confeitarias e impregnava o ar. Aqueles eram apenas elementos comuns da paisagem vienense nas manhãs de inverno. Fatores corriqueiros, os quais apenas um estrangeiro prestaria atenção.

Apesar disso, aquele não era um dia comum, longe de ser. Era um dia importante para a alta sociedade austro-húngara, mas principalmente para a posterior aristocracia austríaca: Era a estreia do primeiro musical do ano da Ópera Estatal de Viena, a Wiener Staatsoper, intitulado Hannibal, de Chalumeau, e que teria como estrela principal Lovina Vargas, uma soprano conceituada vinda de Roma. Lovina era a diva da ópera, temperamental e imprevisível, e seu comportamento não era dos mais agradáveis ao resto da companhia, com exceção de Antônio Fernandez Carriedo, tenor espanhol e amante da soprano (por mais que, muitas vezes, o amor entre eles parecesse somente unilateral, haja vista que o jovem era loucamente apaixonado pela soprano e esta muitas vezes o esnobava). Além disso, seria também a primeira peça sob nova direção, além de contar com a presença de um convidado especial e de grande renome, o novo patrocinador.

O que se via fora da ópera era bem diferente do que acontecia dentro desta. As pessoas que passavam pela Opernring 2, 1010 Wien e inevitavelmente olhavam para a imponente construção, caso não tivessem conhecimento mínimo de como era a vida de um artista, sequer cogitariam que aquela calmaria visível era extremamente diferente do pandemônio que acontecia dentro da ópera. Dezenas de costureiras arrumando os mais diferentes figurinos que seriam vestidos, o cenário sendo retocado e aprimorado cada vez mais, artistas ensaiando já com seus devidos trajes, os músicos repassando incansavelmente os atos, as empregadas limpando o local em que 2881 pessoas assistiriam a grandiosa peça (ao mesmo tempo em que reclamavam dos agudos de Lovina), os dois maquinistas-chefes, um dinamarquês e outro russo, levando algumas bebidas aos dançarinos para “acalmar os nervos” destes (o que, para o primeiro, era apenas uma desculpa para que ele visse um certo bailarino que o encantava mesmo quando estava sem dançar), e as inúmeras bailarinas, uma mais graciosa que a outra, se alongavam e treinavam exaustivamente seus passos para não errarem na apresentação e decepcionarem a coreógrafa e posterior primeira bailarina da Ópera – não só a de Viena como também a de Berna –, Adelheid Zwingli, uma mulher séria e silenciosa, já na faixa de seu 40 anos, mas que conservava uma belíssima aparência, cabelos loiros presos do mesmo modo de quando era uma jovem bailarina, orbes azuis faiscantes e sempre muito atentos, postura impecável e uma voz forte que facilmente organizava não só suas alunas, mas também todo o resto do corpo da ópera. Tudo isso somado ao estresse, a ansiedade e as mais diversas emoções que cada um sentia ali constituía a companhia da Ópera vienense.

Quanto a essas emoções, o estresse havia se sobressaído mais do que de costume durante o ensaio do terceiro ato. Quando o maestro havia finalmente conseguido descobrir onde estava o erro na parte de Antônio, a voz do diretor da Ópera se sobressaiu, interrompendo o pobre homem, que já estava com seus nervos à flor da pele.

- Herr Baasch, estou ensaiando!...

- Senhor Laurinaitis, Senhora Zwingli... Senhoras e senhores, sua atenção, por favor... – o homem parecia lamentar por atrapalhar o ensaio, uma vez que sabia bem como aquilo trazia dores de cabeça futuras, mas era inevitável. Aos poucos, as pessoas se aproximavam, prestando atenção nele e lançando olhares confusos aos dois homens que o acompanhavam. – Obrigado. Como sabem, durante as semanas houveram rumores sobre a minha aposentadoria, e vim lhes dizer pessoalmente que tais rumores são reais, de fato. Mas o motivo de minha demora foi somente para não preocupa-los de a Ópera ficar sem um diretor, pois cá tenho o prazer de apresentar os novos donos da Wiener Staatsoper, Sir Arthur Kirkland, direto da Ópera de Londres, e Monsieur Francis Bonnefoy, da Ópera de Paris.

Sir Arthur Kirkland era um jovem de madeixas loiras, repicadas e ligeiramente bagunçadas, belos olhos verdes e grossas sobrancelhas as quais chamavam atenção, muita para o gosto do inglês, aliás. Vinha de Londres, era um grande intelectual, visto quase sempre com um livro em mãos, e não era o que chamaríamos de sério, mas se postava como um lord a maior parte do tempo. Já monsieur Francis Bonnefoy era mais cheio de gracejos. Tinha os cabelos até a altura dos ombros, cacheados, loiros e impecáveis, olhos azuis cristalinos e de olhar quente, uma barbicha no queixo e um sorriso galanteador constante. Encantava as damas com uma facilidade imensurável, tanto que muitas bailarinas estavam atarantadas devido os sorrisos que ele as dava, mas fora isso era um homem muito amável e carismático, que adorava irritar seu melhor “amigo-inimigo”, como ambos definiam. Todos os acharam jovens demais para serem diretores da ópera, mas ninguém contestou, muito pelo contrário, e os receberam com certa amabilidade.

- E temos a honra de apresentar-lhes o nosso novo patrocinador, o Visconde Héderváry.

Nesse momento, um belo jovem adentrara o palco. Tinha os cabelos castanhos claro, presos em um rabo longo e chacheado que caia em seu ombro, e era decorado por uma pequena flor rosada. Olhos esverdeados e amigáveis, tez ligeiramente amorenada devido as horas que passava passeando com seu cavalo pelas ruas húngaras e um sorriso encantador. Parecia muito simpático, e foi recebido com mais palmas e burburinhos agitados das bailarinas.

Naquele momento, também, dois bailarinos chegavam atrasados à recepção dos novos diretores e patrocinador, mas um deles já tinha a surpresa estampada na face.

- É o Daniel... Antes de meu pai morrer, éramos amigos de infância... – os olhos violáceos dele brilhavam devido à nostalgia. Quantas memórias ao mesmo tempo! – Ele me chamava de Pequeno Roddie... – deixou-se sorrir levemente, as bochechas avermelhadas.

- Meus pais e eu estamos felizes em apoiar as artes, principalmente aquelas vindas da Weiner Staatsoper. – a voz acalentada dele se fez presente, com um forte sotaque húngaro.

Mal ele havia se apresentado, Lovina já vinha em sua direção, oferecendo a mão para cumprimenta-lo, a qual ele beijou, embora não muito confortável, e Antônio amigavelmente o abraçara, como tinha costume de fazer com todos.

- É uma honra, señor e signora. Devo estar atrapalhando o ensaio, não é? Perdão, virei à noite para prestigiar a voz de ambos! Minhas desculpas, Sr. Laurinaitis.

O lituano ficara até mesmo sem jeito com a gentileza do homem. Só lhe restou agradecer, sentindo toda sua inspiração voltar.

Quanto ao húngaro, voltara à seus afazeres, passando reto pelo bailarino que o olhava com tanta esperança de ser reconhecido. Esperança essa que morrera lentamente em seus olhos lilases.

- Ele não me reconheceu...

- Ele não te viu. – o outro bailarino que o acompanhava, seu melhor amigo e que tinha o rosto deveras parecido com o de Fraulein Zwingli, parecia indiferente à situação.

Não tiveram muito tempo para prolongar o assunto. A voz de dita mulher se fez presente no recinto, anunciando a volta do ensaio e pedindo licença aos diretores, que passaram a assistir, entusiasmados. De três em três, as bailarinas tinham os braços ligados por correntes e saltitavam pelo palco em sincronia.

- Temos muito orgulho do perfeccionismo em nosso ballet, senhores...

- Oui, vejo o motivo! Especialmente pelos anjinhos loiros ali! – o francês apontava para o melhor amigo do bailarino de olhos lilases e uma garotinha muito parecida com ele.

- São meus filhos, Lilian e Vash Zwingli.

- Oh, encantadores! E aquela beleza excepcional? Presumo que não tenha parentesco com a senhora? – ele apontava para o amigo de infância do Visconde, que dançava no centro do círculo formado pelas bailarinas.

- Roderich Edelstein. Um talento promissor, Monsieur. Mais do que aparenta.

- Edelstein?! Ela não teria nenhuma relação com aquele famoso violinista austríaco? – Arthur arregalava os olhos verdes. Adorava as composições do falecido homem.

- Pois é claro. Era seu único filho, órfão aos 7 anos, mas que logo foi alojado no corpo da ópera.

- Uh, órfão, você disse?

- Ja. Mas o considero como meu filho. Agora, com licença, senhores... – Com seu olhar grave, Fraulein Adelheid os empurrara gentilmente para um canto que não atrapalhasse o final do ato, o que apenas facilitou o trabalho de algumas bailarinas que tencionavam mostrar seus talentos um pouco mais de perto para os diretores. Apesar disso, ambos olhavam para todas ao mesmo tempo, impressionados com tamanha coordenação.

Desnecessário dizer que aquilo atacara os nervos de certa estrela, que dava seus maiores agudos tencionando chamar atenção exclusiva dos diretores. Acabado o ato, sua voz alterada já se fizera presente.

- Todos os dias! Apenas interessa a eles as danças, che palle! – Lovina se aproximara deles, com seu sorriso mais sarcástico. - Ma guarda un po’! Espero que estejam tão empolgados com as dançarinas quanto estão para serem diretores, porque eu não vou cantar! – e saiu andando, o som de seus saltos misturados aos xingamentos em italiano. Alguns acenava e outros apenas reviravam os olhos, mas os novíssimos diretores se preocuparam instantaneamente. A resposta do antigo diretos foi apenas “a bajulem.”.

- Signora! Principessa, bella diva! Nossa deusa da música!

- Sou eu! – ela dizia, raivosa.

- Sr. Laurinaitis, e aquela ária maravilhosa para Elissa no ato 3? Talvez a signora poderia nos mostrar!

- Si, si, mas não! Porque eu não tenho meu figurino para o Ato 3, já que não o terminaram, e eu detesto esse chapéu horroroso que me deram para usar!

- Mas signora, não nos honraria com uma apresentação privada? A menos que, claro, o Sr. Laurinaitis se oponha. – o pobre maestro apenas assentia, tremendo de nervosismo. Em questão de segundos, a cara chorosa de Lovina voltava a parecer imponente e determinada.

- Va bene, conforme os diretores desejam... Sr. Laurinaitis?

- C-Como nosso diva ordenar!

- Pois se ajeitem logo! Todos em silêncio! – ela fora para o centro do palco, sendo seguida por homens que traziam uma caixinha de ouro que continha um spray de garganta cor de rosa, o qual a soprano sempre usava. O espirara, ajeitou sua postura, dera o sinal ao maestro, e logo começara a cantar, o que impedia todo o resto de ensaiar.

Entretanto, aquilo não durara muito, feliz ou infelizmente.

Pouco antes do maior agudo, do teto despencara um gigantesco painel de pano, o qual caíra perto da italiana e a derrubara. Foi o bastante para a comoção ser geral.

- É ele. O fantasma... – Vash olhava para o teto, onde o maquinista-chefe dinamarquês já se encontrava, arrumando de volta o painel. Abraçava a irmã caçula de modo protetor.

- Mathias, o que aconteceu?! - todos olhavam para o dinamarquês.

- Perdão, senhor, mas não foi minha culpa! Eu nem aqui estava! Na verdade, não tinha ninguém!... Mas se tiver... só pode ter sido o fantasma... – ele lançou um olhar sugestivo aos diretores, que notaram a tensão tomar conta do local. Arthur, entretanto, estava mais preocupado com a peça da noite.

- My lady, essas coisas acontecem...

- Faz 3 anos que essas coisas acontecem! Fizeram alguma coisa? Não! E vocês dois são tão ruins quando o diretor anterior! “Essas coisas acontecem”?! Não me façam rir! Se essas coisas não pararem de acontecer, isso nunca mais irá! – ela apontava para si própria, e logo saiu pisando forte, com mais uma série de xingamentos a acompanhando. Antônio ia atrás, a chamando de “mi tomatito” e tentando acalmá-la, mas Lovina estava longe de ser parada pelo amante.

- Senhores, boa sorte. Se precisarem de mim, estarei em Berlim. Até mais. – o ex- diretor saíra, parecendo aliviado por não ter que carregar o peso nas costas. Já Arthur e Francis não sabiam o que fazem.

- A Senhorita Vargas vai voltar, não vai?

- Acha mesmo, Sir? – Adelheid suspirou, balançando a cabeça. – De qualquer modo, tenho um recado do Fantasma da Ópera. – ela tinha em mãos uma carta, a qual pegara na hora em que todos prestavam atenção em Lovina caída no chão.

- Mon Dieu, vocês são obcecados!

Fraulein Zwingli ignorou. – Ele os dá boas vindas ao teatro dele.

- O teatro “dele”?!

- E ordena que permaneçam a manter o camarote 5 desocupado para o uso dele... – ela apontou para o local, para onde todos olharam – E também pediu para manter o salário dele em dia.

- Salário “dele”?!

- Ora, Herr Baasch dava a ele 20 mil florins por mês.

- 20 mil florins?! Isso é inaceitável!

- Talvez possam pagar mais, já que o Visconde é o patrocinador...

- Bem, madame, eu pretendia tornar isso público hoje à noite, mas pelo que me parece, teremos que cancelar, já que não temos a estrela! – o inglês esbravejava, rasgando a carta que acabara de ser lida.

- Acalme-se, mon cher, tenho certeza de que tem uma substituta... Certo? – Francis, por mais que tentasse não deixar as coisas fora de controle, parecia também exasperado.

- Não temos como s-substituir a signora L-Lovina... – o maestro roía as unhas. Todos os dias de ensaio, em vão!

- Francis, teremos que reembolsar todos os lugares vendidos! Não entendo como você pode estar tão tranquilo! Claro, eu que sempre tenho que-

- Roderich Edelstein pode substituí-la.

Um silêncio tomou conta do local, e nem mesmo o bailarino em questão entendera. Fraulein Zwingli, porém, nunca perdia a compostura.

- Ora, senhora, me perdoe, mas um garoto do coro? Impossível.

- Ele tem um grande professor.

- Pois bem, quem? – os dois encaravam o garoto, que tremia de nervosismo.

- Eu não sei o nome dele, senhor... – suas voz suave mal e mal podia ser ouvida.

- Deixe-o mostrar à vocês, senhores. Ele foi bem treinado, não decepcionará.

- ... Certo. Nos mostre. Vamos, não seja tímido... – Francis o chamava com a mão, sorrindo numa tentativa de acalmá-lo. Aquilo não surtira muito resultado, embora.

- Eu vou ter uma crise nervosa... – Arthur massageava as têmporas.

- D-Do início da ária, então, Herr Edelstein, p-por favor. – o lituano voltara à sua posição de maestro conforme um Roderich extremamente nervoso se posicionava no centro do palco. Lilian Zwingli, pouco antes dele começar a cantar, lhe trouxera o velho violino que pertencia ao pai do bailarino, e sorrira docemente à ele. Geralmente aquilo o acalmava, mas o pequeno austríaco mal sabia por onde começar. Em compensação, sabia a música de cor. Assim que os primeiros acordes de piano chegaram aos seus ouvidos, ele começara a cantar.

E, céus, que voz encantadora. Apesar de ser um garoto, Roderich tinha uma voz tão delicada e suave aos ouvidos que não havia uma pessoa sequer que não ficasse boquiaberta ao ouvi-la. Havia a doçura, a sutileza, a elegância necessária para se acalmar a mais turbulenta das mentes ( o que, diga-se de passagem, acontecia com Arthur, que ignorara completamente o estresse assim que ouviu a voz do garoto). Era impressionante, belíssimo, e ao notar o quão impressionado o corpo de baile ficara, Roderich já se sentia mais à vontade, e não somente sua voz se fizera presente como também o som de seu violino acompanhando. O brilho em seus olhos era também contagiante, e foi esse brilho que o Visconde Héderváry conseguiu reconhecer de longe, durante a apresentação do novíssimo “soprano” naquela noite. Não podia ser outra pessoa! Daniel conseguiria reconhecer aqueles olhos séculos depois de não vê-los. Não se importava caso ele não se lembrasse das memórias de infância: Iria atrás dele logo após a peça.

Mal sabia ele, porém, que conforme cantava, os olhos violáceos de Roderich o procuravam por toda a parte. Tinha esperanças de que ele se lembrasse...


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Notas finais do capítulo

Che palle! - Que droga!
Ma guarda un po' - Algo como "Ora, ora"
Va bene - Algo como "Okay"

E então? O que acharam? *treme*

Caso alguém teve dificuldade em reconhecer, Daniel é o nyo!Hungria e Adelheid é a nyo!Germania. Qualquer dúvida, perguntem nos reviews! ♥

Até o próximo capítulo e peço desculpas pelos erros!



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