O dia em que eu me apaixonei pela primeira vez escrita por Bia de asa


Capítulo 4
Etezinhos




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    Quinta-feira.

    Eu era outra pessoa.

    Diferente de terça e quarta, na quinta eu estava na sala antes mesmo do horário de começo das aulas. Sentei bem na frente, perto da mesa do professor. Com um perfil de garota estudiosa.

            Primeira aula.

            Segunda aula.

            Terceira aula.

            Intervalo.

   Nada de aula de matemática. Nada de Tarcísio, nada de Fofis. Estava começando a ficar angustiada.

            — O que foi, Bianca? Por que está com essa cara? — minha amiga Graniza (notem como eu sou ótima para criar pseudônimos) perguntou.

            — Nada — respondi desanimada.

            Quarta aula.

            Quinta aula.

            Sexta aula.

            Arrumamos nossa mochila e saímos. Eu vasculhava com os olhos todos os lugares por onde eu passava com a esperança de encontrar a pessoa que fazia meu coração bater mais forte. Mas ela não estava lá.

            Foi a minha primeira decepção.

            No caminho de volta para casa, tentei me encher de pensamentos positivos, mas estava muito confusa. Não podia estar sentindo falta de alguém que mal conhecia.

            Bem, pelo menos eu ainda o veria na próxima semana. Assim eu esperava. As aulas do retorno aconteciam às terças, quartas e quintas então tive a sexta-feira, o final de semana e a segunda para reorganizar meus pensamentos agitados.

            Na tarde de terça sentei novamente na cadeira da frente perto da mesa do professor. Tentei me manter acordada nas aulas de história e química, mas a única matéria que me importava era matemática. Mas ainda tinha que esperar mais um dia para isso...

            Finalmente a quarta-feira chegou. Segundo horário. Finalmente reencontraria a pessoa que havia dominado meus pensamentos nos últimos seis dias. Quando ele entrou na sala, voltei a ter as mesmas sensações que tive na semana anterior ao vê-lo.

            Não. Não. Não. Não. Bia, você tem que parar com isso, falava comigo mesma. Ele é casado e provavelmente tem filhos, pare de desejar algo que não é seu!

            O quê? Parar de desejar algo que não era meu? Por que estava pensando numa coisa dessas? Eu não desejava ninguém! Meus pensamentos embaralhados foram cortados quando o ser mais lindo que eu já tinha visto falou “Boa tarde”. Ele tinha toda a minha atenção.

            Mais uma vez não ouvi nenhuma palavra do que ele disse, estava hipnotizada por aquele cabelo cacheado e castanho. Que lindo... Que perfeito... Deus é maravilhoso, criou a criatura mais linda que meus olhos já tinham visto.

            Ele tinha um sorriso encantador... caramba, tinha que voltar a respirar senão ia morrer perante a tanta fofura! Ele não estava olhando para mim. Pra que olharia pra mim? Ele nunca me notaria.

            E, naquela tarde, Tarcísio mostrou pela primeira vez seu lado divertido e engraçado. Meu Deus, esse homem só tinha qualidade! Foi uma das aulas mais legais que eu já tive.

            Quando o sinal tocou declarando o fim da aula, senti meu coração se partir. Por favor, mais meia hora... Por favor...

            — Intervalo, criança — Fofis disse antes de se dirigir até a mesa e apanhar seus livros. Pela primeira vez a distância entre nós diminuiu. Ele estava a cerca de um metro de mim. Seus olhos concentrados verificavam cada item sobre a mesa dos professores.

            Em seguida ele saiu da sala cumprimentando alguns garotos na porta. Respirei profundamente. Ele esteve tão próximo. Não podia acreditar. Meus amigos e eu passamos o intervalo dentro da sala de aula. Dei alguns sorrisos enquanto eles faziam a algazarra de sempre, mas nada me fazia esquecer o modo como meu professor de matemática ria das próprias piadas e como desejava imensamente ser um daqueles livros que ele carregava quando saiu da sala.

            Estava ficando louca.


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