Marte: -50° escrita por mity


Capítulo 1
Capítulo 1




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Óbvio que ninguém gostaria de embarcar em uma viagem para o espaço. Menos ainda uma viagem só de ida. Bom, não uma pessoa normal, e eu não me considero normal.

Meu nome é Audrey, e eu fui recrutada para uma missão suicida. Suicida no meu ponto de vista, porque pode fracassar totalmente. Digamos que temos 50% de chances de dar certo, e eu espero que 50 seja nosso número da sorte.

Desde meus 16 anos, venho sido treinada para isso.

Você deve estar pensando: que diabos de pais deixariam a filha fazer isso? O meu. Provavelmente se minha mãe estivesse viva, ela nunca o deixaria fazer isso, muito menos a mim. É claro que meu pai não está completamente feliz com isso, ele tem muito receio. Mas, tudo em nome da ciência. Pelo menos se eu morrer, não será uma morte em vão.

Nós viajamos em uma semana, então ainda tenho 7 dias pra usar a energia elétrica e fazer xixi em um banheiro de verdade. Sim, pois lá não teremos banheiros.

Você deve estar se perguntando se estou ansiosa. Parte de mim está, uns 30%. Entretanto a outra parte, os 70%, nem um pouco. É o mesmo que perguntar "ei, garota, está pronta pra talvez morrer?".

Na verdade, se eu pudesse mudar de ideia, eu não iria, não mesmo. Mas o senhor meu pai não me deixaria desistir. Muito menos o governo americano. Ah, como eu os odiava. Eu queria que a NASA inteira fosse pro inferno, honestamente. PS: espero que eles não estejam lendo isso.

Eu havia me formado no colégio no ano passado, então fazia uns meses que não via meus colegas, só um amigo, Baden, que era o mais próximo. Eu sentiria muito sua falta.

Eu sentiria falta de tudo, principalmente dos banhos quentes.

Ultimamente evitava ter discussões com meu pai, o que acontecia muito frequentemente, mas como não iremos nos ver pelo resto da vida, nós estávamos num clima bem amigável.

Meu irmão, Nyenn, tem passado muito tempo na nossa casa com sua esposa, Renee, por causa da minha "saída". Todos estavam sendo agradáveis comigo, para deixar uma última boa lembrança. Era como se eu fosse morrer. Não, mas espera. Pra eles, de certa forma, eu ia. Isso devia ser difícil de lidar. Mais difícil de lidar ainda era a minha situação.

No começo, eu tava animada pra ir, eu queria mais do que tudo. Porém depois... Era o que eu menos queria. Depois de ver os efeitos colaterais, sabe?

- Eu espero que esteja desistindo. - Baden disse, por telefone.

- E tem como? Se eu o fizesse, teria a NASA toda atrás de mim. Eu seria a pessoa mais famosa do mundo.

- Seria bem legal. Você poderia ser decaptada, mas seria legal.

- Não, acho que vai ser mais legal ainda conhecer alguns alienígenas.

- E virar uma marciana.

Nós dois rimos.

- Escreva alguns diários. Sei lá, pro caso de eu voltar, algum dia. Conte como foi a Terra sem mim, e como foi sua vida. Quero saber também como terminou The Walking Dead, e quem é A de Pretty Little Liars.

Ele deu uma risada, e concordou. Nos falamos por mais alguns minutos ainda, até eu desligar pra ir jantar. Uma das minhas últimas refeições teráqueas.

Eu tentava não pensar muito em como poderia ser Marte, isso me causava uma depressão, porque eu comparava com a Terra, e eu não estaria mais aqui em uma semana.

Quão miserável eu fui por ter aceitado isso? Haveria alguma esperança de isso dar certo?

"A esperança cria a miséria eterna."

•••

Faltando um dia para o grande dia, eu estava com os nervos à flor da pele, prestes a explodir de nervosismo. E pra piorar, nós, os tripulantes - sei lá se é assim que nos chamam - vamos dar uma entrevista à noite.

Não seria a primeira vez que eu apareceria na TV, mas estava nervosa mesmo assim.

Eu conheceria pessoalmente pela primeira vez os meus "colegas de trabalho" depois da entrevista, em um jantar especial. Eu estava realmente nervosa, e com medo.

Keadlyn, minha governanta, ia me ajudar a escolher um vestido para a noite.

- E então, que cor você gostaria de usar? Neutro, algo mais chamativo ou escuro?

- Qualquer coisa, menos chamativo.

Eu prestava mais atenção no livro que lia do que nela.

- Tudo bem... - Ela olhava um por um dos vestidos no meu armário. - Ah, que tal este? Iria combinar com o tom loiro do seu cabelo.

Ele era azul marinho, com alcinha e ia até os pés, era liso e tinha o tecido macio.

- Iria combinar com o tom loiro do seu cabelo.

- É bonito. Pode ser. - Respondi, e logo voltei a prestar atenção no livro.

- Audrey! Você nem está se esforçando.

- Desculpe. - Fechei o livro. - Tudo bem, o que estava falando?

- Acho que devemos prender seu cabelo em um rabo de cavalo alto. Daria impressão de madura.

Na verdade eu não ligava nem um pouco pra o que ia parecer, mas como era o último dia que nos veríamos, iria deixá-lá feliz.

- Claro, boa ideia.

- E quanto aos sapatos, o que você prefere?

- Sabe aquele All Star preto surrado? - Eu estava tirando uma da cara dela.

- Audrey, leve mais a sério.

Eu ri por uns segundos, até responder sério.

- Acho que aquele salto nude, não é tão alto e é confortável.

- Sim, perfeito! - Ela foi até a prateleira dos calçados e o colocou aos pés do vestido, que estava na poltrona.

Nós acertamos mais alguns detalhes e depois eu fui tomar um banho.

Meu penúltimo banho tinha que ser especial, então liguei a banheira e coloquei alguns sais nela. Me despi e entrei, e fiquei lá por uns 40 minutos, até Keadlyn bater na porta e dizer que já estava na hora de me arrumar.

Olhei pro relógio, cinco e dezessete. Pra mim estava cedo, mas pra eles não. Sempre apressados.

Vesti um roupão e fui pro closet, onde Keadlyn me esperava.

Ela começou a fazer minha maquiagem. Ela era realmente boa naquilo. Assim como em tudo que fazia. Eu sentiria falta dela, sentiria falta de ela cuidando de mim. Keadlyn era minha governanta desde os 13 anos, quando meu pai achou que seria necessário ter uma.

Depois da maquiagem, que ela não pesou muito, ela fez meu cabelo, como tinha dito que faria, um rabo de cavalo alto meio bagunçado.

Hora do vestido, e depois o sapato. Ela colocou um brico discreto e eu estava pronta.

- Magnífica!

Me olhei no espelho. Eu estava realmente bonita. Ela fez um ótimo trabalho.

Dei uma passada no meu quarto pra pegar minha bolsa com meu celular e algumas coisas e desci.

- Ah, achei que não viria mais. - Meu irmão disse, se levantando, seguido de Renee.

- Está linda, querida. - Ele me deu o braço, e eu passei o meu por baixo. - Vamos.

Nós estramos no carro e fomos.

Como seria em Washington, então todos os outros iriam pegar aviões e ficar em hotéis para virem, e eu já morava em Washington.

A entrevista e o jantar seriam na Casa Branca, o que me deixou um pouco mais nervosa.

Uma coisa que o meu treinamento não conseguiu fazer, foi conseguir controlar o nervosismo.

•••

- Você deve ser Audrey. - Uma garota ruiva que estava sentada ao meu lado disse. - Eu sou Heather.

- Prazer. - Eu sorri pra ela.

- Então, você tá nervosa? - Ela perguntou.

- Ah, se estou.

- Pois é, estamos na Casa Branca!

- Onde você mora? Digo, morava. - Perguntei.

Ela achou graça e deu uma risada.

- Nova Jersey. E você?

- Aqui, em Washington.

- Sério? Sorte sua, porque não teve que pegar avião nem nada.

- É, acho que sim.

Nós seríamos 100 pessoas, contando com os instrutores, então a entrevista seria longa.

Eram pessoas de todas as etnias possíveis. Asiáticos, africanos, europeus, sul-americanos... Provavelmente usariam un tradutor na hora da entrevista. E em Marte também.

A maioria de nós estava na cochia, sentados, esperando nossa vez de entrar.

Eu levantei pra ver se tinha algum banheiro por perto. Bom, tinha que ter.

- Senhorita Wayburn! - Alguém me chamou.

Me virei pra ver quem era, e era meu instrutor.

- Sim? - Respondi.

- Onde está indo, temos 10 minutos pra entrar no ar.

- Me desculpe, só vou ao banheiro. Não demoro.

Então eu vou atrás de um.

•••

-Vamos chamar, então, as estrelas desta noite! Senhoras e senhores, a equipe Astro-Marte!

E nós entramos. Como éramos em 100, o espaço era bem grande, e tinha muitas cadeiras. E muita gente falando.

Eu sentei ao lado de Conor, meu instrutor, na terceira fileira.

Conor era jovem, o que era meio contraditório. Ele não tinha mais do que 23 anos. Me perguntava como ele tinha um cargo tão importante sendo tão jovem. Ele quem me treinou, durante 2 dois. Claro, ele não treinou só a mim, treinou os outros 11 que eram da minha equipe.

E ele era bonito. Tinha olhos azuis e cabelos castanhos claros. Era mais alto que eu e tinha o corpo em forma.

Mas chega de falar do meu treinador, porque eu tinha que prestar atenção no entrevistador. A qualquer momento ele poderia me chamar.

- Audrey. - Conor disse. - Hondon te chamou.

Hondon era o entrevistador.

- Senhorita Wayburn? A senhorita me ouviu? - Hondon perguntou, e houve algumas risadas na platéia.

Fiquei tanto tempo pensando em Conor que não ouvi quando ele me chamou.


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