RECONSTRUÇÃO escrita por Eduardo Marais
O céu estava numa tonalidade azul suave, com a barra alaranjada que vinha anunciar a entrada do sol.
O poderoso Jolly Rogers estava pronto para mais uma aventura e aguardava seus novos passageiros e tripulantes. Os mantimentos já haviam sido organizados na noite anterior, pelo destemido comandante Gancho, assim como as cabines que receberiam seus amigos. Sempre disposto a presentear seu navio com os movimentos e mistérios marítimos, com seus habitantes imprevisíveis.
— Bom dia, Capitão! – Vasco abraça o amigo e aponta gentilmente para seus companheiros.
— Temos de partir imediatamente. – Killian cumprimenta David e sorri ao ver os demais companheiros de viagem. – Conversei com Ariel há algumas horas e ela me disse que há navios do Reverendo Kent, aportados em todo o litoral da Floresta das Esmeraldas. Pilotados por homens de verdade e repleto de soldados sem rosto.
— Irei com vocês. Um bom esgrimista é sempre necessário numa luta. – o príncipe sorri e sobe no navio.
Cosima se aproxima do pirata e estende a mão para cumprimentá-lo. É retribuída.
— A nossa prioridade é chegar ao castelo de Zelena e criar uma estratégia de defesa e ataque.
Um sorriso malicioso surge nos lábios de Killian. Ele pisca um dos olhos.
— Do mar, eu tomo conta. Tenho os meus meios, os meus acordos e os meus soldados. Vocês deverão preocupar-se com os avanços por terra.
Ruby chega acompanhada por Yasemine e aproximam-se de Vasco.
— Alda ficará com Mary e Henry. – diz a garota-loba. – Teremos braços importantes da equipe aqui em nossa cidade.
Surgindo correndo pela plataforma, surgem Emma e Robin carregando suas mochilas. O ladrão vinha carregando seu arco e parecia eufórico.
— Não poderia perder a oportunidade de redimir os meus atos ruins, diante de sua família, Vasco. – o ladrão sorri e toca o ombro do cavaleiro.
— Perceberá que esta jornada trará mais do que redenção para você, Robin. – um sorriso cruel surge no rosto de Vasco e provoca um arrepio no sangue do ladrão.
O navio zarpa. Teria de afastar-se alguns quilômetros para que Cosima usasse a pérola para a abertura do portal. Mesmo tentando disfarçar, percebia-se a excitação entre os membros da equipe.
— Preciso saber como selou o novo acordo com os habitantes do mar. – Vasco se aproxima do timão, onde Killian controlava seu amado navio.
— Bastou dizer que a sogra de um determinado tritão, está em apuros e que precisaria de resgate.
— Aquela história do noivado de Yasemine com um tritão...é verdadeira?
— Eu tinha de prometer alguma coisa para conseguir os feijões que abriram o portal para Regina resgatar você. Aceitar o pedido de noivado de Yasemine foi um ato de desespero. – Killian aponta para o horizonte. – Estamos no ponto exato para nossa partida. Assuma o leme!
O pirata se afasta do cavaleiro e vai a busca de Cosima. A encontra vindo em sua direção, valente e determinada, trazendo a pérola na palma da mão.
— Segurem-se todos! – grita o pirata. – O navio irá balançar um pouco!
Minutos depois,após a pérola ser atirada ao mar, um imenso rodamoinho começa a formar-se na água e exerce uma força de atração puxando o navio para seu vão. Ainda dá tempo de todos verem um grupo de sereias e tritões observando a partida do navio. Os seres fantásticos mergulham ao mesmo tempo em que o navio é engolido pelo portal.
Depois de muitos rodopios, cores diversas, zumbidos e alterações na temperatura, o portal se fecha e deixa o navio flutuando calmamente nas águas litorâneas da Floresta das Esmeraldas. Ao longe. O grupo de navio do Reverendo Kent estava aportado, ameaçadores em suas cores vermelhas.
— Não podemos nos aproximar usando o navio. Ele ficará aqui e vocês terão de seguir nadando até a praia. – Killian observa pela luneta, em seguida a fecha e encara Vasco. – Vocês irão sem mim e precisarão de toda a força para atravessar a mata. Consegue manter o navio camuflado, amor?
Emma sorri e confirma com um movimento de cabeça.
— Como pretende enfrentar essa esquadra? – Vasco olha para a loira e depois para Killian.
Killian sorri e toca a nuca do amigo.
— Eu sou um velho com trezentos anos e um charme irresistível. Sabe que consigo trazer pessoas para mim, usando minha habilidade nata. Além disso, terei David e Ruby comigo.
— Boa sorte, irmão! – Vasco o abraça.
— Agora vão! Entrem na floresta, organizem as tropas de terra e eu cuidarei dessa parte. Vá até lá e chute a bunda de peixe do reverendo taradão!
Bunda de peixe? Vasco acha graça e não diz nada. Volta-se para seu grupo e sorri, oferecendo segurança a todos que estava li. Encontra a força necessária em cada um dos olhares de seus companheiros. Volta-se para David e segura os ombros do príncipe.
— Deverei a vida de minha família para você, alteza.
— Nós costumamos proteger nossa família. É o que fazemos de melhor.
Vasco sorri e se volta para Ruby. Beija-lhe a testa e a encara.
— Que a força esteja com vocês!
Todos riem, exceto Cosima, que apenas agradece sem entender o pequeno trocadilho. Em seguida ao mergulho de Vasco, um a um vai pulando na água e direcionando suas braçadas para à praia.
Na areia, o grupo se apressa em correr para dentro da mata, de onde iria caminhar para a floresta. Yasemine se mostra íntima daquele lugar e é a primeira a começar a jornada, ao lado de Cosima. Mas Vasco se apressa e corre para tomar a dianteira como líder da caminhada e protetor do grupo.
Algumas horas de caminhada e Cosima indica uma caverna por onde teriam de seguir. Seria mais seguro para fugir da tempestade que se avizinhava. Yasemine se incumbe de iluminar o local para que todos caminhassem sem acidentes.
Quando atingem a saída da caverna, tinham caminhado por vários quilômetros. Saem próximos a uma cachoeira e iriam seguir por dentro da água para disfarçar o cheiro e facilitar a camuflagem, mergulhando nas piscinas naturais, caso fosse preciso.
— Caso continuemos sem empecilhos, chegaremos ao local onde meu povo está, ao anoitecer. – Cosima dá um empurrãozinho em Robin, para que ele anda mais rápido.
Atentos a todos os menores movimentos, os membros do grupo continuam sua jornada seguindo as coordenadas de Cosima e dentro do prazo estabelecido, avistam as cabanas construídas pelos aldeões asilados pela temida Rainha Verde.
Os vigias ficam apostos e prontos para o ataque aos forasteiros, quando identificam a sua líder aproximando-se. Correm na direção da mulher para saudá-la.
— Minha irmã!
— Willian! Conseguimos ajuda e agora poderemos enfrentar os soldados do casal real! – Cosima beija o irmão e cumprimenta seus soldados, todos com expressões de decepção.
— Pensei que traria um exército. – o rapaz aponta para os companheiros de viagem da irmã. Muda a expressão quando identifica Vasco. – Você trouxe o marido da Rainha Má? O que pensa que está fazendo? Sua gula por ele ainda não acabou? Quer colocar nosso povo em risco apenas para ter o seu prêmio reivindicado?
Cosima se afasta do irmão e tranca o rosto numa carranca. Seus olhos caem à meia visão.
— Trouxe Vasco porque ele é único que conhece a Rainha Má e sabe como lidar com o que ainda resta de humano nela! Aquela moça é a bruxa-menina que caminhava com o macaco falante! O homem arqueiro é Robin Hood e a mulher loira é a Salvadora que pôs fim à maldição rogada na Floresta Encantada! Além disso, o temido Capitão Gancho está no litoral, com o Príncipe Encantado e com a mulher-loba, além um exército de sereias e tritões, prontos para o ataque! O que quer mais?
Envergonhado, Willian olha para os lados e depois decide aproximar-se de Vasco.
— Peço desculpas pelo meu rompante, Majestade...mas é que estamos desesperados com o medo do ataque iminente. Nós vimos o que os soldados sem rosto fizeram aos outros povoados.
— Majestade? – Yasemine cochicha e entreolha-se com os outros que também não entendem a alcunha do cavaleiro.
— Onde estão os homens-gaviões? – Vasco olha em volta.
— Os que vivem em nossa aldeia, foram os que restaram do povo deles. São pouco mais de quinze e não podem ser nossa superioridade durante a luta. Estão camuflados nas árvores, mas virão ao meu chamado. – Willian se mostra envergonhado.
Emma se aproxima de Vasco e saúda o jovem aldeão. Ele sorri e encanta-se com a beleza da loira.
— Temos de apressar nossa conversa com Zelena. Sugiro que Robin e eu o acompanhemos, Vasco. Tenho forças para lidar com ela.
— Eu vou com meu pai. – Yasemine se mostra enciumada.
Tocando o ombro da filha, Vasco nega sua fala, movimentando a cabeça.
— Você precisa ficar longe de Zelena por enquanto, até sabermos se sua presença não a enfraquece mais. Quero que fique aqui e estude a proteção da floresta. Tente encontrar enviar mensagens para os seres da floresta e crie um vínculo com eles. Precisaremos de toda ajuda possível. – ele se volta para William e gesticula para que chegue mais perto. – Confio em você a proteção de minha filha.
Cosima lidera a caminhada apressada em direção ao Palácio das Esmeraldas. Mesmo sendo começo de noite e com a luminosidade das estrelas e da lua, o grupo segue com afinco para chegarem logo à residência de Zelena.
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