How Am I Supposed To Die escrita por Lady Mataresio


Capítulo 1
Capítulo Único | Só Há Um Modo De Viver


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, pessoal S2
A one é baseada na música How'm I Supposed To Die, do Civil Twilight.
Boa leitura!



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Capítulo Único | Só Há Um Modo De Viver

You’re gonna miss me so bad when I’m gone, Matt Murdock.

As pernas da garota fraquejaram quando a intensidade da tempestade que caía naquele local aumentou, enquanto ficava cada vez mais difícil correr no chão escorregadio de Hell’s Kitchen; as botas altas de couro não ajudavam muito na corrida pela sobrevivência. Ela encontrava homens armados e prontos para capturá-la a cada esquina, e pelo pouco que ouvira falar da cidade em que estava, uma direção errada e você se encontraria em um beco sem saída. Wanda Maximoff estava em um jogo de xadrez, no qual cada movimento em falso lhe deixava mais próxima do xeque-mate.

Vendo que tinha uma pequena vantagem sobre os homens que a perseguiam, apoiou uma de suas mãos em um poste, que piscava de forma um tanto sombria, respirando fundo e retirando as botas de couro de seus pés. Ao ouvir uma tropa da Hydra se aproximando, segurou o par de botas firme e disparou a correr, os pés descalços sentindo o chão áspero daquela rua. Virou a única esquina que lhe restava naquela parte da cidade, logo vendo as peças daquele jogo lhe cercando; era um beco sem-saída, e estava na hora da Hydra dar seu xeque-mate contra “o último milagre”.

— Acabou, Maximoff. — Um homem falou, fazendo Wanda se virar assustada e dar de cara com uma grande tropa inimiga, liderada por um alto e esbelto ruivo. — Não há outro modo de viver sem ser ao nosso lado! Veja só, você tentou da primeira vez e perdeu seu amado irmão Pietro.

— Não fale do Pietro! — Ela gritou, sua voz ecoando pelo beco. — Você não tem moral para pronunciar o nome de meu irmão, seu imundo!

— Então vamos lá, bruxinha, jogue seus raiozinhos vermelhos em cima de mim! — O rapaz desafiou, logo fazendo o rosto da Maximoff ficar sem expressão. — Ah, é verdade, você está fraquinha demais para brincar... parece que seu fim chegou.

— Não hoje.

Wanda olhou para trás, direcionando seus olhos para o local de onde a voz tinha saído: em cima de um velho prédio pequeno do beco, a sombra de um homem.

— Não na minha cidade. — Tendo sua fala concluída, o homem saltou para um telhado mais baixo, fazendo com que os tiros dos agentes logo fossem disparados em sua direção, porém nenhum o atingiu. Ele saltou novamente, dessa vez pulando direto no chão áspero daquele beco em Hell’s Kitchen, agindo rapidamente e desferindo uma cotovelada no rosto de um agente, o qual caiu em cima de outros dois, fazendo o homem ganhar uma pequena vantagem enquanto derrubava outro capanga da Hydra.

A Maximoff acompanhava de forma surpresa os ágeis golpes da mancha negra que lutava contra a Hydra na forte tempestade, e uma rajada de vento balançou violentamente os cabelos da morena, logo fazendo ela acordar a tempo de ver um agente grande, moreno e musculoso vindo em sua direção com uma grande arma em sua posse. Duas grandes correntes estavam amarradas a seus pulsos, e no final delas, duas foices prateadas brilhando na escuridão.

— Nós não precisamos ter esse tipo de conversa. — Disse o negro. — É só você se entregar, ou eu vou ter que usar essas belezinhas para cortar seu rostinho de princesa.

— Pode tentar se quiser. — Wanda desafiou em um ato imaturo, sabendo que ainda não estava forte o suficiente para acabar com todos eles.

Dito e feito, o agente lançou uma de suas correntes contra a feiticeira, fazendo com que ela se afastasse a tempo de ver a foice bem perto de seu nariz. Logo em seguida a outra corrente veio rápida demais em sua direção, fazendo um corte de raspão em sua cintura. Antes que pudesse pegar fôlego novamente, o homem jogou a primeira corrente contra ela, fazendo a morena pular por cima dela e, por pouco, escapando de perder um dos pés. Novamente repetindo o movimento com a outra corrente, o negro sorriu vitorioso ao ver sua foice cortar a bochecha da Maximoff; lançou a outra novamente e fez um corte profundo no braço esquerdo, a fazendo urrar de dor; para finalizar, jogou contra a feiticeira mais uma vez uma de suas correntes, atingindo em cheio a coxa direita da garota e fazendo um corte grave.

Furiosa, Wanda sentiu suas bochechas queimarem enquanto o agente viu os olhos dela ganhando um tom de vermelho; ela ainda estava fraca, mas teve força suficiente para lançar uma grande bola de magia contra ele, o atingindo e fazendo um terremoto acontecer em toda aquela área de cidade, derrubando a maioria dos agentes e fazendo a mancha negra que lhe defendia se desequilibrar. O homem de Hell’s Kitchen socou mais dois agentes e chutou o último inimigo, a tempo de encarar a morena.

Seus cabelos molhados caíam sobre os ombros e todos os seus cortes jorravam sangue; o rosto dela aparentava cansaço, e ele correu até ela de forma rápida o suficiente para segurá-la em seus braços quando ela desmaiou e tudo escureceu.

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Quando recobrou a consciência, a primeira coisa que sentiu foi dor; dor percorrendo todo o seu corpo como uma corrente, que passava da cabeça até a ponta dos dedos dos pés. Sua visão estava um pouco embaçada no momento em que abriu os olhos, mas logo conseguiu ver com clareza o teto cinza-claro sobre a sua cabeça. Ao se virar para a direita, Wanda fez seus olhos recuarem diante da forte luz que vinha de uma enorme janela; olhando para a esquerda, viu um homem em pé e de costas para ela.

Ele usava uma calça preta e se encontrava sem camisa e descalço enquanto, aparentemente, ligava para alguém de seu celular. Seus cabelos negros estavam molhados e havia uma toalha marrom caída em um de seus ombros, e sua pele possuía um tom branco não muito corado. Ao tentar se mexer na cama onde estava, a feiticeira soltou um gemido de dor, e o homem se virou para ela de forma surpresa, fazendo a garota reparar em seus óculos escuros.

— Foggy, outra hora conversamos. — O rapaz tinha um sotaque puxado para o inglês. — Não, Foggy, depois. — Ele falou impaciente e tirou o celular do ouvido e desligou a chamada.

Ele colocou o celular no bolso e andou na direção da cama onde a Maximoff estava. Um pouco receosa, ela tentou se sentar e soltou um gemido ainda mais alto de dor.

— Não, não faça esforços, fique exatamente como está. — O homem falou enquanto se sentava no chão ao lado da cama, e Wanda logo notou as cobertas e travesseiros espalhados ali, a fazendo concluir que ele dormira no chão.

— Quem é você e que lugar é esse? — A morena foi grossa, o encarando com um olhar superior, porém o homem nem parecia se importar.

— Matt Murdock. — Falou ele, indiferente. — E essa é a minha casa. Mas a pergunta que não quer calar, é quem é você.

— Você deve ter me visto em algum lugar. Você é o cara que me salvou ontem à noite, acredito eu. — A Maximoff encarou dois cortes leves que estavam no abdômen de Matt.

— Na verdade, eu sou cego. — Murdock falou dando de ombros enquanto se levantava, e Wanda arregalou os olhos em uma expressão surpresa. — E o “demolidor”, “demônio de Hell’s Kitchen”, como preferir.

— Cego? — O tom de voz dela estava carregado de ironia. — Eu não acredito.

— Você está se desviando da minha pergunta. — O homem falou.

— E você, fugindo de me dar uma resposta. — Ela sorriu de forma vitoriosa e ele suspirou.

— Está bem. — Matt se aproximou dela e abaixou os óculos. — Olhe no fundo dos meus olhos e me diga se estou mentindo.

A Maximoff encarou os olhos do rapaz e se surpreendeu ao sentir que ele dizia a verdade para ela.

— Impossível, como... Como você abateu aqueles caras? — Ela perguntou assustada e Murdock sorriu de canto enquanto se afastava.

— Minha vez de perguntar, sua vez de responder. — Ele disse e Wanda bufou. — Quem é você?

— Wanda Maximoff. — A morena falou. — Vingadora. Bom, pelo menos eu era.

— Eu te conheço como foragida. — Comentou Matt, reconhecendo o nome da mulher. — Você andou roubando algumas coisas antes de chegar aqui e apareceu em alguns noticiários na televisão. New York está preocupada com a “Vingadora louca”.

— Você é bem informado para um cara cego.

— Eu sou cego, não surdo.

Wanda soltou uma risada abafada e, assim que conseguiu se sentar na cama, colocou a coberta de lado e viu um de seus cortes com pontos. Logo encarou seu braço esquerdo e viu que ele também tinha pontos, e passou os dedos pela sua cintura e por sua bochecha, que arderam com o toque, porém estavam cicatrizando.

— Você também sabe dar pontos, Matt Murdock? — A garota indagou de forma irônica.

— Ah, isso não fui eu. — Ele comentou enquanto andava para fora do quarto. — Uma amiga estava de mudança, mas me devia um favor. — Após alguns minutos de silêncio, Wanda se levantou e Matt bufou. — Eu disse para não se esforçar.

— Deixe-me adivinhar: você ouviu meus passos? — A Maximoff ironizou e ele assentiu. — Então é verdade o que dizem: quando se perde um sentido, todos os outros se aguçam.

— Por aí. — Ele encerrou o assunto e fez sinal com a cabeça para que ela o seguisse. Ao chegarem na cozinha, o Murdock tirou a jarra da cafeteira e, pegando duas xícaras que estavam sobre o balcão americano, levou tudo até a pequena mesa de duas cadeiras que tinha. — Café?

— Por que está sendo gentil comigo? Digo, você mesmo falou que eu sou uma foragida. — Ela questionou enquanto assentia com a cabeça, porém logo se lembrou de que ele não podia vê-la concordar. — E sim, eu quero um café.

— Em nenhum momento falei que tenho algo contra foragidos. — Zombou ele, colocando café nas xícaras e empurrando uma para ela. Depois, puxou uma cadeira e se sentou. — Sem contar que o noticiário não falou nada sobre você ser perseguida por um grupo.

— Uma organização. — Corrigiu Wanda, se sentando na cadeira a frente dele enquanto soltava um gemido de desconforto: seus machucados ainda doíam. — Hydra; corte uma cabeça, duas nascerão no lugar.

— Já ouvi falar. Eles estavam envolvidos em todo o escândalo sobre a tal S.H.I.E.L.D., as pessoas não paravam de falar sobre isso e muita gente procurava meios de processar essas organizações. — Matt deu um longo gole em seu café. — E por qual razão estão atrás de você?

— Já ouviu sobre Ultron? — A Maximoff perguntou e o Murdock concordou. — Eu estava lá quando tudo aconteceu, eu era um experimento da Hydra. Mas Ultron matou alguém muito importante para mim, e agora querem que eu seja a próxima a morrer. Ou que eu me entregue, mas isso está fora de cogitação.

— Um experimento do tipo “com poderes”. — Matt falou, se lembrando do que falavam sobre ela nas notícias. — Você não é uma maluca descontrolada que solta raios das mãos, não é?

— Só a segunda parte. — Ela riu e tomou um gole de seu café, enquanto ele sorriu de canto. — É isso que as pessoas pensam de mim?

— A maioria. — Falou Murdock. — Mas quem morreu nesse processo?

— Meu irmão. — Wanda suspirou de forma pesada. — Ele era um experimento também. Com ele morto, me torno o “último” milagre da Hydra, e eles precisam de mim para produzir outros.

— Meus sentimentos por ele. — Matt tinha um semblante triste.

— Obrigada. — Ambos ficaram no silêncio enquanto tomavam tranquilamente seus cafés, até que a curiosidade voltou a invadir os pensamentos de Wanda. — Você já enxergou alguma vez?

— As pessoas sempre perguntam isso. — O Murdock riu e pegou a jarra, enchendo sua xícara com mais café. — Sim, quando eu era criança.

— E como você parou de enxergar? — Havia interesse no tom da Maximoff, e mesmo não muito seguro de conversar sobre a própria vida, Matt decidiu respondê-la.

— Um caminhão radioativo ia atingir um velho senhor. Eu era uma criança e adorava ler quadrinhos de super-heróis. Dá para deduzir o que aconteceu a partir daí. — O tom dele era indiferente. Pausou para dar mais um gole em seu café e continuou. — Bom, é melhor que a morte.

— É... — Wanda deu o último gole do café que estava em sua xícara, encarando Matt Murdock com atenção e fascínio, pensando no quão cheio de segredos aquele homem era.

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DUAS SEMANAS DEPOIS

O homem já não aguentava mais usar a gravata vermelha e apertada que sempre tinha que usar quando estava no tribunal. Desceu as escadarias apoiado em sua companheira de forma apressada, enquanto suor escorria de sua testa.

— Para que tanta pressa, Matt? — Karen questionou. — A gravata está tão apertada assim?

— Não só a gravata. — O Murdock entregou as pastas na mão da loira. — Não via a hora do julgamento acabar, eu... estou com um mal pressentimento. — Respondeu ele.

Ouvindo passos, o cego se virou para ver seu amigo Foggy descer as escadarias com um sorriso no rosto.

— A cliente está satisfeita e, bom, ela quer ter uma conversa “particular” com você, Matt. — O Nelson sorria com malícia e tinha um tom sugestivo. — Se deu bem, hein? Ela é uma... — Karen olhou para ele de forma autoritária e nervosa. — Pessoa... Muito bacana. — Ele sorriu maroto e a loira bufou.

— Você sabe que eu estou de olho em outra pessoa. — Matt folgou a gravata e respirou fundo enquanto sorria. — E é com ela que estou preocupado, tenho que voltar logo.

— O amor pegou Matt Murdock... A garota te amarrou em tão pouco tempo? — Karen brincou.

— Talvez. — Sorrindo, ele jogou a gravata em cima de Foggy. — E agora eu tenho que ir. Levem tudo para o escritório.

Com passos apertados, o Murdock foi obrigado a se apoiar em sua muleta até sair da presença das pessoas e chegar nas ruas mais vazias que levavam para seu apartamento. Seu coração estava apertado, com uma sensação de insegurança.

Wanda Maximoff já estava morando em seu apartamento há duas semanas, enquanto procurava um emprego para juntar dinheiro para sair dali e procurar o caminho de volta para a sede dos Novos Vingadores. Porém, ainda que não tivesse comentado com a moça, Matt observava, há exatas duas semanas, homens estranhos rondando a frente do apartamento. E, em um deles, o demônio de Hell’s Kitchen havia notado uma tatuagem no pescoço com o símbolo da Hydra, o que resultou em uma preocupação enorme.

Acima de tudo, não queria comentar nada com Wanda; ela se desesperaria, talvez até sumisse para não dar trabalho, e ele não queria que ela fosse para longe e corresse perigo de vida. Infelizmente, por mais que evitasse sair de seu apartamento, Matt Murdock era advogado: e, consequentemente, tinha que frequentar tribunais ao lado de seus clientes e companheiros de trabalho.

Chegando na rua de seu apartamento, sentiu seu coração parar por alguns segundos; o grito de uma mulher de dentro do edifício ecoou por toda a rua, e o rapaz logo reconheceu a voz de Wanda Maximoff.

*

Quando trancou a porta do banheiro, a primeira coisa que a Maximoff conseguiu fazer foi uma barreira mágica em torno da porta, para proteger a porta dos agentes que a caçavam pela casa. Tudo tinha acontecido rápido demais para ela: em uma hora, ela estava sentada no sofá do apartamento de Matt Murdock; no outro, agentes da Hydra arrombavam a porta enquanto ela gritava. Agora, ela estava sentada no chão do banheiro com os dedos entre os cabelos, desesperada enquanto pensava no que fazer.

Por mais que tivesse se recuperado, a única coisa que Wanda sabia fazer era usar seus poderes: o que não a favorecia muito, já que havia uma grande tropa da Hydra esperando por ela e seria difícil dar conta de todos aqueles imundos sem se esgotar. E a pior coisa era saber que Matt poderia chegar a qualquer momento da audiência e encontrar o apartamento recheado com inimigos.

Pensa, Wanda, pensa, era o que a feiticeira falava mentalmente para si mesma quando ouviu barulhos de tiros ecoando contra a porta do banheiro onde estava. Sentiu dores percorrerem o seu corpo enquanto tentava manter sua barreira em pé, mas era quase impossível com a tamanha dor que percorria suas veias quando as balas atingiam a porta. Antes que cedesse e se entregasse, tudo silenciou e Wanda respirou fundo: de repente, os tiros voltaram, mas não eram disparados contra a porta.

Criando coragem, Wanda abriu a porta pronta para acabar com quem aparecesse a sua frente e se deparou com as luzes apagadas e vários agentes atirando contra as sombras. Matt, ela pensou. Respirando fundo, a garota se escondeu nas sombras e, sorrateiramente, foi até um agente forte, alto e bem armado, balançando seus dedos em um feitiço e prendendo o homem em uma ilusão, fazendo com que ele atirasse contra os próprios amigos de agência.

Ganhando tempo, o Murdock saiu das sombras e abateu alguns agentes, chamando a atenção do resto do grupo para ele e dando vantagem para Wanda, que chegou por trás de mais dois agentes e os enfeitiçou da mesma forma, os fazendo atirar contra os próprios colegas. Matt acertou mais dois, enquanto a Maximoff lançou seus raios contra três que corriam em sua direção.

Um homem alto correu na direção de Matt e o justiceiro desviou, fazendo o agente dar de cara com Wanda Maximoff que, com um sorriso confiante, lançou seus raios vermelhos contra ele.

Olhando em volta, ambos perceberam que os agentes finalmente tinham chegado no fim. Murdock caminhou até os interruptores de luz e as acendeu, encarando mais de vinte homens caídos e espalhados por todo o seu apartamento. A morena arfou de cansaço e sua expressão se tornou desespero.

— Como eu pude deixar tudo isso acontecer? — Ela falava baixinho para si mesma, porém era altura o suficiente para que o demônio de Hell’s Kitchen a escutasse. — Não importa onde eu esteja, eles me acham... — A garota apoiou uma das mãos na parede mais próxima que viu.

— Wanda... — Matt andou até ela, mas ela fez sinal com a outra mão para que ele recuasse.

— Desculpe, Matt. — O tom dela era sombrio e triste ao mesmo tempo, como uma sinfonia fúnebre. — Isso é tudo culpa minha.

— Não. — Ele falou e se aproximou dela mesmo assim, fazendo ela levantar a cabeça para encará-lo. — Pare com isso.

Os olhos de Wanda percorreram os óculos escuros do Murdock.

— Você não deve se culpar por esse tipo de coisa. — Ele se mantinha sério. — Se eles só sabem infernizar a vida daqueles que fazem o bem, deixe. É como diz o velho ditado: o bem sempre encontra uma forma de derrotar o mal, ainda que demore.

O Murdock sentiu, de repente, as mãos da Maximoff o envolvendo em um abraço apertado; o mesmo correspondeu, a apertando forte contra seu corpo e afagando os cabelos da mesma.

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UMA SEMANA DEPOIS

— Mais rápido. — Matt instruiu a garota, que socava com força um saco de pancadas improvisado pelo cego. — Você tem coordenação motora, mas precisa ganhar agilidade.

— Sim senhor. — Ela zombou, rindo enquanto socava os sacos ainda mais rápido.

— Mais postura. — Murdock repousou suas duas mãos na cintura de Wanda, ajeitando sua postura enquanto o corpo da garota se tornou tenso com o toque.

Wanda o encarou por alguns segundos quando ele retirou suas mãos da garota, porém logo voltou a socar de forma mais ágil o saco de areia.

— Esse é o caminho. — Matt comentou, a incentivando.

Depois de mais algumas horas treinando, a noite começou a cair, e ambos acharam melhor descansar. Wanda estava cada vez mais animada com os treinamentos que recebia de Matt desde o incidente no apartamento – ainda que os problemas com a vizinha sobre “barulhos de tiros e gritos no meio da noite” estressassem os dois.

Entrando no banheiro, Matt Murdock se despiu e deixou que a água quente escorresse por suas costas de forma relaxante. Wanda Maximoff andava pelo quarto enquanto esperava o homem sair do chuveiro para que ela entrasse, por mais que ela considerasse a ideia de entrar com ele lá dentro. Ela já era atraída por ele desde que, durante as duas primeiras semanas, conhecera o homem que ele era: um advogado que estava começando bem, um justiceiro nas horas em que Hell’s Kitchen precisava e um grande homem de caráter o tempo todo.

Quando o justiceiro saiu do banheiro, com o peitoral de fora e a calça preta de sempre, a primeira coisa que a Maximoff fizera fora suspirar.

— Você já pode ir. — Comentou ele, de forma desajeitada enquanto caminhava para mais perto dela.

— Tudo bem. — Wanda respondeu, indo na direção do rapaz. No momento em que passava ao lado dele, parou um instante e o encarou. O mesmo estava com a cabeça baixa, respirando fundo. Quando ela foi dar mais um passo para caminhar em direção ao banheiro, a mão firme do Murdock segurou seu pulso, a fazendo voltar e ficar com o rosto próximo do dele. E ela não precisou esperar muito para que o homem levantasse a cabeça, colocasse uma das mãos quentes sobre a nuca dela e selasse seus lábios.

Mas ela queria mais.

A Maximoff envolveu uma de suas mãos na cintura do rapaz, enquanto o guiava até a cama. Quando estava perto o suficiente, a mulher o empurrou, fazendo o moreno cair sentado na cama. Wanda sentou no colo do rapaz e deslizou suas mãos sobre a barriga dele, o excitando; o mesmo direcionou seus lábios para o pescoço da feiticeira, o beijando de forma selvagem e dando leves mordiscadas, fazendo-a arfar enquanto as mãos dele a traziam para mais perto.

A morena encaminhou suas mãos para a borda de sua camiseta, fazendo Matt dar espaço para que ela tirasse a vestimenta e ficasse apenas de sutiã. Mordendo um lábio, ela entrelaçou as pernas na cintura dele enquanto o mesmo levantava e virava com ela, a jogando na cama e logo ficando por cima. Ele trilhou um caminho de beijos, começando no canto da boca e descendo para os seios, enquanto ela gemia de prazer. Enquanto procurava o fecho do sutiã de Wanda, ela pensava no quão prazerosa aquela noite seria para ambos.

*

Quando ele abriu os olhos, os raios da luz do sol fizeram sua vista doer um pouco. Se virou para o lado e se viu sozinho na cama, logo levantando e vestindo sua calça preta, caminhando até a cozinha. Encontrou a Maximoff vestindo uma de suas camisas enquanto passava o café na cafeteira do Murdock. Ao vê-lo, ela sorriu animada.

— Me desculpe. — Ela falou rindo e ele ficou sem entender. — Você já viu seu pescoço? — Quando ela falou, Matt soltou um suspiro contente ao lembrar da última noite.

— Eu acho que seria impossível. — Ele brincou, logo fazendo com que Wanda se tocasse do que havia dito.

— Desculpe, as vezes eu esqueço desse pequeno detalhe sobre sua falta de visão. — A morena sorriu e encheu duas xícaras com café, pegando uma e levando até o rapaz. Ao pegá-la, o Murdock colocou a xícara sobre a mesa e pegou Wanda pela cintura, a beijando de forma prazerosa enquanto a conduzia até o balcão. A mesma se sentou ali enquanto ele a beijava, as mãos dele apertando sua cintura com força. Separando seus lábios dos dele, ela sorriu. — Você vai sentir muito a minha falta quando eu for embora, Matt Murdock.

— Vamos torcer para que você nunca vá, então. — Ele zombou, colocando uma de suas mãos entre os fios morenos da garota e a beijando novamente de forma suave.

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UMA SEMANA DEPOIS

Quando a intensidade da tempestade aumentou, Wanda olhou para trás preocupada. Andava normalmente pelas ruas de Hell’s Kitchen, mas a sensação de estar sendo perseguida nunca a abandonava.

— Relaxe. — Matt comentou, levando uma das mãos até o ombro da garota e o massageando. — Estamos quase no apartamento.

— É isso o que me preocupa. — Ela comentou. — A rua está simplesmente vazia, Matt. Seus vizinhos, os vizinhos dos seus vizinhos, quase todo mundo está viajando. É janeiro, férias e...

Dito e feito, ambos viraram a esquina do apartamento e deram de cara com vários agentes da Hydra, armados até os dentes. Olhando para trás, Wanda viu mais agentes saindo de todos os cantos, os cercando. A feiticeira logo colocou as mãos em posição de combate, enquanto o Murdock colou suas costas nas da garota.

— Pronta? — Ele questionou.

— Sempre pronta.

Wanda correu para o lado de dentro da rua, enquanto Matt ficou com os homens que os cercaram. Ágil, a feiticeira usava fortes golpes de magia contra seus inimigos, porém ela usava o treinamento do Murdock para alguns casos. Ao derrubar mais um homem, Wanda deu de cara com o mesmo agente grande, moreno e musculoso, com as mesmas correntes assassinas.

— Olá de novo, bruxinha. Pelo visto trouxe seu namoradinho. — Ele zombou e ela lançou magia contra o rapaz, que desviou facilmente, a deixando surpresa. — Não foi só você que andou treinando.

Ele deu um salto para trás, preparando suas correntes e lançando a primeira contra a garota, que desviou com facilidade. Enquanto ela batalhava contra o homem, Matt sentiu um aperto no peito e, após derrubar outro agente, encarou a feiticeira. O homem jogou sua outra corrente, e a Maximoff saltou por cima. Mas aquele agente já conhecia os movimentos da garota. Fazendo um golpe surpreendente, o moreno girou e lançou as duas correntes contra Wanda de uma vez.

Ela não pôde evitar: conseguira desviar por pouco da primeira, mas urrou de dor quando a segunda passou por sua cintura, onde a foice ficou cravada. Maldoso, o agente puxou a corrente cravada na garota com força, a arrancando da feiticeira e a fazendo cair de joelhos. Não satisfeito, ele jogou mais uma corrente contra ela, fazendo um corte profundo em sua barriga.

— Wanda! — O Murdock correu para ela, acertando dois chutes rápidos no agente e lhe dando um soco por último, fazendo ele cair e perder a consciência. Se virou para a amada e sentiu cheiro de sangue.

A Maximoff estava perdendo seu sangue rápido e se sentia fraca, enquanto sua pele ficava pálida. Matt se abaixou e a pegou em seus braços, a deitando em seu colo e se sentando no chão com ela. A chuva caia sobre ambos.

— Não... — Ele repetia para si mesmo. — Calma, aguente firme.

— Está tudo bem. — Ela sussurrou sorrindo. — Há momentos em nossas vidas que não se podem prever ou evitar que aconteçam, eles simplesmente acontecem... no meu caso, não foi bem assim. Eu já sabia que meu destino estava traçado e sabia como tudo acabaria; só havia um modo de viver, e eu me perguntava todos os dias como eu iria morrer no meio daquela caçada... eis aqui a resposta. — Ela falou e viu lágrimas escorrendo do rosto do Murdock, enquanto sentia a força querer lhe deixar. — Está tudo bem.

O agente moreno recobrou a consciência e, com dificuldade, começou a se levantar.

— Estou com meu irmão agora. — Wanda sussurrou, passando uma de suas mãos na bochecha do rapaz. — Você vai sentir muito minha falta quando eu for embora, Matt Murdock.

Quando ela deixou sua mão cair, Matt urrou o mais alto que seus pulmões suportaram, até que ouviu os risos do agente da Hydra.

— Se você tirou a vida dela... — O justiceiro falava pausadamente. — Só para ter minha atenção... você conseguiu. E eu te caçar até o inferno.

— Estarei te esperando lá, demônio de Hell’s Kitchen. — O agente sorriu maldoso e saiu, acompanhando dos agentes que estavam conscientes.

Matt continuou ali, sentado, encarando a amada morta em seus braços, enquanto a tempestade molhava seus cabelos.

~/~

UM DIA DEPOIS

Uma leve garoa caía no cemitério, enquanto o melancólico e fúnebre enterro de Wanda Maximoff acontecia. Todos estavam presentes: Vingadores, agentes da S.H.I.E.L.D. e, por fim, Matt Murdock.

— Você fez isso! — Clint gritava enquanto era segurado por Steve e Natasha. — Você a matou, você deixou isso acontecer seu filho da mãe! A culpa é sua! Você não a protegeu!

Cada palavra doía em Matt mais do que se Clint Barton estivesse socando sua cara por repetidas vezes.

— Wanda não se agradaria disso, Clint. — Steve falou, fazendo Barton parar de tentar ir para cima do Murdock.

Após o enterro, todos foram embora, exceto o homem que a havia amado. Encarou o túmulo da Maximoff, logo ao lado do túmulo do irmão, Pietro.

Wanda Maximoff

1992 – 2016

Adorada irmã e heroína.

Pietro Maximoff

1992 – 2015

Adorado irmão e herói.

— Descanse em paz, Wanda. — Matt falou com a voz falha e rouca.

Deixando o cemitério, a primeira coisa que fez foi pegar um táxi em direção ao aeroporto. A única coisa que vinha em sua mente era o rosto do infeliz agente que havia matado Wanda Maximoff – do homem que tinha lhe tirado de sua amada. Quando chegou, passou pela catraca com suas malas e se dirigiu ao avião.

Se sentou, colocou sua mala de rodinhas sob o porta-malas e colocou a bolsa menor em seu colo enquanto esticava seu corpo no banco do avião. Abriu o zíper da bolsa e viu seu uniforme de Demolidor.

— Eu estou chegando, e eu vou vingá-la. — Ele sussurrou para si mesmo.


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Notas finais do capítulo

E foi isso, amores, espero ver vocês nos comentários.
Kisses S2