Once Upon A Supernatural Time escrita por Jiinga


Capítulo 5
Baba Yaga




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— Storybrooke –

David empurrou Merida para dentro da cela na delegacia e trancou a porta atrás dela.

— Isso fica comigo. – ele ergueu o arco dela no ar, e depois colocou-o sobre a mesa de xerife.

— Você não pode me manter aqui! – exclamou Merida – Eu não fiz nada de errado!

— Você conspirou com uma bruxa que estava sendo caçada e colocou a vida de todos nós em risco.

Merida agarrou as grades da cela.

— Ela não é má, David! Ela ajudou minha família várias vezes, e ia me levar pra casa!

— Você foi iludida, Merida. Não podemos te culpar por isso, mas por causa dessa ilusão você se voltou contra nós e até lutou contra mim, então não podemos te deixar livre. Pelo menos não até a Emma dar um veredito, ela é a xerife.

Merida bufou. A última coisa que ela queria era depender de Emma Swan para alguma coisa. David respirou fundo e começou a se afastar.

— Ela não é má, David. Ela não é má.

— Dunbroch, cerca de trezentos anos atrás –

Rowena estava quase desistindo quando avistou a pequena cabana no meio das árvores. Com muita dificuldade, ela ergueu mais uma vez a barra do vestido e caminhou até lá. Bateu três vezes na porta, pois foi tudo que conseguiu. Estava prestes a se deixar cair no chão quando a porta se abriu, revelando um velhinho corcunda e enrugado.

— Ajuda. – foi tudo que a bruxa conseguiu dizer. Ela não bebia água há dias, e sua boca parecia o deserto do Saara.

O velho se moveu o mais rápido que sua idade permitia e lhe trouxe uma garrafa de água. Rowena bebeu até a última gota, deixando um fio d’água escorrer por seu pescoço enquanto isso.

— Você está bem? – peguntou o homem. Ele tinha um sotaque russo muito forte. Rowena negou com a cabeça. – Entre, vamos sentar. Você parece faminta.

Floresta Encantada, hoje -

Eles haviam comprado dois mustangues numa vila próxima ao castelo, com o dinheiro da família de Belle. Os French estavam todos em Storybrooke, então ela achou que tinha todo o direito de usar o dinheiro da família como bem quisesse.

Belle apoiou o pé numa raiz subiu habilidosamente em seu cavalo e olhou para Sam.

— Vamos?

— ... Claro. – respondeu Sam, e olhou novamente para o cavalo em sua frente. Ele examinou o animal, tentando adivinhar por onde deveria subir.

— O que está esperando? – perguntou Belle.

— Eu... bem...

— ... Você não sabe cavalgar! – exclamou ela com um sorriso travesso.

— Eu já cavalguei uma vez, mas... tinha uma sela... e eu não sei se fiz isso muito bem...

Belle revirou os olhos.

— Você pode subir no meu, se quiser. Vai ser mais fácil, eu posso deixá-lo parado. Use aquela raiz como apoio.

Sam sorriu, envergonhado, e fez o que Belle mandou. Usando a raiz como apoio, ele se impulsionou para cima e passou a perna direita em volta do cavalo, sentando-se atrás da garota. Ele quase caiu, mas segurou os ombros dela e endireitou-se sobre o cavalo.

— Ok. Ok, acho que podemos ir.

Belle riu.

— Quem diria que um caçador não saberia montar um cavalo sem cela.

— Nós preferimos carros como meio de locomoção, ok?

Ela revirou os olhos.

— Segure minha cintura.

Sam a obedeceu novamente, e os dois dispararam floresta adentro.

— Dunbroch –

Rowena desceu de seu almofariz assim que avistou a pequena casa na clareira, e aproximou-se da entrada. A porta estava velha e gasta, mas a maçaneta de dentes ainda estava intacta. Com um pouco de força, ela conseguiu abri-la.

A poeira imediatamente invadiu suas narinas. Aquele lugar estava uma bagunça desde que Red havia ido embora. Aquela maldita asiática metida a heroína, primeiro havia interferido em seus planos com Merida, depois havia roubado sua empregada e segurança.

Apesar da poeira, a bruxa se deixou cair em uma das cadeiras, e as imagens de seu passado vieram à tona.

— Dunbroch, cerca de trezentos anos atrás –

Rowena estava morando na casa do velho há mais de um mês já. O nome dele era Sadko, um ex-músico muito carinhoso que a havia acolhido sem saber quem ela era o se importar com seu passado. Ele falava numa língua parecida com o russo, assim como os moradores do vilarejo mais próximo, mas era fluente em inglês o suficiente para falar com Rowena.

A bruxa havia decidido esconder sua identidade. Dissera que havia sido expulsa de casa pelo marido e vagado pela floresta sem rumo até encontrar a casa de Sadko. Ela temia que se ele soubesse que ela vinha de outro mundo, e que era uma bruxa, ele a expulsaria, e ela ficaria sozinha mais uma vez.

— Rowena, eu vou até a cidade encontrar alguém para consertar essas goteiras. – anunciou Sadko, numa manhã nublada. Havia chovido muito nos últimos dias, e a pequena casa de pedra  estava repleta de goteiras que inundavam todo o chão. Rowena havia pensado em consertá-las, mas isso acabaria com seu disfarce.

— Não quer que eu vá?

— Não se preocupe, querida. Me cansa ficar parado assim. Preciso andar um pouco para o sangue fluir.

— Tudo bem, então, mas tome cuidado.

Assim que Sadko se foi, ela passou a limpar a casa. Em sua vida Londrina, a bruxa nunca aceitaria fazer os afazeres domésticos, muito menos no lugar de outra pessoa. Mas ali, ela se sentia uma pessoa nova. Sadko havia sido tão bom com ela, e ela só queria retribuir. Estava cansada de viver às custas do ódio, usando as pessoas para conseguir o que queria.

Rowena se distraiu com esses pensamentos, e num deslize, derrubou algo no chão. Um barulho de cerâmica quebrando encheu a casa, e ela olhou para o chão, assustada. Mesmo que tivesse virado dezenas de cacos, Rowena reconheceu a estátua de São Nicolau que Sadko amava tanto.

Desesperada, ela largou a vassoura e se ajoelhou no chão, pegando os cacos nas mãos. Como ela havia sido tão distraída? Havia quebrado a coisa que o velho mais amava na casa. Ela precisava fazer algo para resolver aquilo.

Um feitiço consertaria a estátua rapidamente, mas ela não podia usar magia. Não ali, não naquele mundo, não em sua vida nova. Por outro lado, ela não podia magoar Sadko. Além do mais, ele havia saído, ela poderia completar o feitiço antes que ele voltasse.

Rapidamente, Rowena procurou os ingredientes necessários para fazer uma trouxa de feitiço. Assim que o fez, colocou a trouxa em meio aos cacos e murmurou as palavras certas. Em segundos, eles se ergueram no ar e retomaram a forma inicial, e a trouxa ficou escondida dentro da estátua. No segundo seguinte, a porta se abriu, e Rowena ergueu-se imediatamente.

— Rowena, está tudo bem? – perguntou Sadko, entrando na casa ao lado de um homem alto e gordo que mal cabia ali dentro.

— E-está sim, Sadko. Sua estátua caiu, mas eu peguei-a a tempo. – ela estendeu a estátua para o velho, que a pegou com cuidado.

— Graças a São Nicolau. Não consigo imaginar o que aconteceria comigo se perdesse essa belezinha. – ele abraçou a estátua e pôs-se a explicar ao rapaz sobre as goteiras no idioma local.

Durante alguns minutos, o rapaz estudou o teto enquanto Rowena e Sadko – ainda abraçando a estátua – o observavam. E então o velho começou a tossir.

Rowena não ligou, a princípio, mas logo a tosse começou a ficar preocupante, e ela se virou. Sadko segurava o peito com força e estava curvado para frente, tossindo sangue.

— Sadko! – ela correu até ele – Sadko! O que está acontecendo? – ela bateu nas costas dele, e o velho derrubou a estátua de São Nicolau, que se espatifou mais uma vez, revelando a trouxa de feitiço.

— O que... você fez? – murmurou ele, e então caiu de lado no chão.

— Sadko! SADKO! – Rowena chacoalhou-o, mas não houve resposta.

As lágrimas começaram a escorrer dos olhos da bruxa quando ela percebeu que o velho havia morrido, porque ela sabia que havia sido culpa dela. Seus feitiços sempre vinham com um preço, mas ela não imaginara que a trouxa de feitiço o afetaria só por estar tão perto. Ela ergueu os olhos na direção do rapaz das goteiras, que a encarava boquiaberto.

— Yaga. – murmurou ele. Ela sabia o que aquela palavra significava. Bruxa. – Baba Yaga! – ele gritou, e moveu-se na direção da porta.

— Espere! – exclamou Rowena, mas era tarde demais. O rapaz desapareceu no meio da floresta, repetindo “Baba Yaga” enquanto corria, e ela foi deixada para trás com o corpo de Sadko.

— Storybrooke –

Dean estava no cais, com os braços apoiados no parapeito de madeira, quando Henry se aproximou.

— Ei. – disse Henry, e imitou a pose de Dean.

— O que você tá fazendo aqui, garoto? Sua mãe me mandou ficar longe de você.

— Eu gosto de pensar que você só apontou aquela arma pra mim porque não tinha escolha, e que não ia atirar de verdade.

Dean riu de leve.

— Então, você tem alguma outra ideia para trazer meu irmão de volta?

Henry negou com a cabeça.

— Não importa o que faremos, precisamos da ajuda da minha mãe. Ela é a Salvadora.

— Que lance é esse de Salvadora, afinal? – Dean virou-se para ele, e Henry fez o mesmo.

— Alguns anos atrás, essa cidade estava amaldiçoada pela minha outra mãe, a Regina. Todos os moradores da Floresta Encantada estavam congelados no tempo, vivendo as vidas que a Regina tinha criado pra eles, sem lembrar quem realmente eram. Eles ficaram assim por vinte e oito anos, até que a Emma veio pra cá, e quando ela passou a acreditar nessa história, a maldição se quebrou.

— Uau isso parece mesmo uma... salvação...

— Ela fez outras coisas também, salvou a cidade várias vezes... Mas aí aconteceu uma coisa... Ela perdeu uma pessoa muito importante...

— Seu pai? – Dean ergueu uma sobrancelha, e Henry negou com a cabeça.

— Meu pai morreu também, mas faz mais tempo. Ela perdeu o amor verdadeiro dela, o Capitão Gancho.

— O Capitão Gancho?! Ele é um mocinho nessa história?

— Não, ele é um vilão. Mas aqui nós damos uma segunda chance a todo mundo. – Henry parecia muito sério sobre o que estava dizendo, e Dean quase não conseguia mais levar aquela conversa como uma ilusão de criança.

— Então o que aconteceu com o... Capitão Gancho?

— Ele foi possuído por um espírito das trevas, e a Emma teve que matá-lo pra salvar todos nós.

Dean ficou sem palavras. Ele se lembrou do momento em que teve a chance de matar Sam, quando parecia impossível resistir à marca de Cain, e de como não teve forças para fazer aquilo. Só de imaginar o que Emma havia passado ao matar o homem que amava para proteger a cidade... Ele até que entendia porque ela havia acabado daquele jeito.

Mas tinha uma outra coisa em que os Winchesters eram bons além de caçar monstros e acabarem mortos: trazer pessoas de volta à vida.

— Garoto, acho que pensei numa forma de convencer sua mãe a nos ajudar.

O rosto de Henry iluminou-se.

— Sério?

Dean tirou as chaves do bolso e abriu a porta do Impala.

— Entra aí. Vamos falar com ela.

Henry correu até o carro e sentou-se no banco de passageiro. Dean deu partida e começou a dirigir na direção da casa de Emma.

— Precisamos de um nome pra nossa operação. – disse Henry.

— Operação?

— É, a operação pra trazer o Sam de volta. Precisamos de um nome de animal.

Dean olhou para os pergaminhos que ainda estavam jogados próximo ao freio de mão. Os pergaminhos que Crowley havia dado quando meteu-os naquela situação.

— Operação Alce. – Dean sorriu.

— Legal! Gostei dessa.

— Dunbroch, cerca de trezentos anos atrás –

Era noite, mas estava claro na pequena casa de pedra. O motivo eram as tochas que se aproximavam pela floresta junto à multidão enfurecida que gritava pedindo pela morte da “Baba Yaga”.

Rowena apoiou as costas na parede e deslizou até estar sentada no chão. Estava tudo tão bem até aquela manhã, como ela havia deixado as coisas chegarem àquele ponto tão rápido? Ela só queria esquecer tudo e começar uma vida nova, mas seu passado continuava a assombrá-la.

Os gritos se aproximaram, e ela quase podia sentir o calor das tochas. O que poderia fazer? O rapaz da goteira sabia que a morte de Sadko havia sido culpa dela, não havia como mentir. Ela poderia pedir desculpas, mas não achava que faria alguma diferença.

Só havia uma coisa a fazer. Se seu passado bateria na porta sempre que ela tentasse  fugir, talvez fosse melhor parar de correr e aceitá-lo.

Rowena se levantou e puxou as mangas do vestido para cima. Ela caminhou até a porta e a abriu com um estrondo. A multidão enlouquecida parou imediatamente.

Ela ergueu as mãos na direção do povo do vilarejo e todas as tochas se apagaram, deixando-os no escuro. Eles hesitaram. Rowena gesticulou novamente na direção da multidão, e todas as ferramentas que eles usavam como arma se quebraram sozinhas.  Dessa vez, houve alguns gritos de medo.

“Isso”, pensou Rowena, e ergueu as mãos mais uma vez. As pessoas gritaram e começaram a correr de volta na direção da floresta.

— Isso! Corram! – ela exclamou – Eu sou a Baba Yaga! Não ousem me perturbar mais!

— Storybrooke, hoje –

— O que você está fazendo aqui? – exclamou Emma, quando Dean entrou de repente em seu quarto. Ela logo percebeu Henry ao lado dele – Eu te mandei ficar longe do meu filho.

— Madame, acho que seu filho não me deixaria ficar longe dele nem se eu tentasse. E acho que você vai querer ouvir o que eu tenho a dizer. – disse Dean, e Emma levantou as sobrancelhas – O Henry me contou o que aconteceu com o seu namorado. E pra sua sorte, eu sou a melhor pessoa pra te ajudar.

Emma arregalou os olhos.

— O que você quer dizer?

— Você me ajuda a trazer meu irmão de volta da Floresta Encantada, e eu te ajudo a trazer o Capitão Gancho de volta do mundo dos mortos.

— E como exatamente você pretende fazer isso?

— Bem, Emma, digamos que trazer as pessoas de volta à vida faz parte de ser um Winchester. – ele estendeu a mão para ela.

— Bem, Dean... Então você acaba de ganhar uma Salvadora. – ela apertou a mão dele, e os dois sorriram confiantes.


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