Vermelho em sete atos escrita por Yuki Max


Capítulo 5
Ato 5 – Vermelho como bochechas coradas


Notas iniciais do capítulo

Olá,

quinto capítulo! *.*
Obrigada a quem está lendo.

beijo, beijo, =*
Yuki



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Ato cinco – Vermelho como bochechas coradas



O apito pegou-o de surpresa, forçando-o a recuar um passo e involuntariamente desencaixar a chave que acabara de forçar contra a maçaneta da porta de seu apartamento. Bufou sonoramente. Não fora o mais fácil dos trabalhos pescar o chaveiro em seu bolso e meter na fechadura quando seus dedos tremiam pela forçosa corrida e pelo que ele não hesitava reconhecer como raiva. Graças ao apito ao qual agora juntavam-se vibrações teria que, novamente, submeter-se à vergonha de repetidas vezes forçar a chave contra o ferro sem acertar o encaixe.

Não deu-se ao trabalho de espiar o visor do pequeno celular firmemente apertado entre seus dedos. Não importava quem o chamasse, certamente merecia dele a raiva que arrepiava-lhe os pelos. Não dedicou-se, também, a educadamente atender a ligação, limitando-se a pressionar o botão e alocar o aparelho em sua orelha direita, apoiando-o com o ombro, ambas as mãos ainda a trabalhar na tentativa de encaixar a chave.

– Nii-san.

O baque surto do aparelho ao encontrar o chão passou desapercebido por Heiwajima Shizuo, plenamente ensurdecido pelas batidas intensas de seu já anteriormente agitado coração. Dentre todas as vozes que possivelmente soariam do auto-falante de seu aparelho, aquela era a menos provável. Esqueceu-se imediatamente da porta à sua frente, da fechadura arranhada pelas repetidas tentativas de invasão, da corrida até ali, do fio preso ao dedo mindinho de sua mão esquerda e do cheiro que invadia sem sua permissão cada célula de seu corpo.

– Kasuka. – sussurrou ao abaixar-se com pressa para apanhar o aparelho – Kasuka – ditou uma segunda vez, mais firme, ao encaixar mais uma vez o celular em sua orelha, desta vez preso com atenção por sua mão direita.

– Nii-san. Tudo bem? – a voz apática, desinteressada, não condizia em nada com o sorriso aberto que instalou-se no rosto do homem mais forte de Ikebukuro. Sorriso que pertencia, inteiramente, a Heiwajima Kasuka.

– Tudo certo. Você? Muito ocupado com trabalho? – encaixou um cigarro entre os lábios ainda abertos pelo sorriso e, relaxadamente, voltou à rua, recostando-se a uma loja de portas já fechadas. Os óculos de sol foram desleixadamente encaixados na gola de sua camisa, inúteis diante do já posto astro.

– O de sempre.

O guarda-costas não era desacostumado às respostas evasivas do irmão nem ao silêncio que normalmente preenchia as poucas ligações trocadas. Não pode evitar, entretanto, esquecer-se do cigarro a queimar em sua mão e franzir em confusão os lábios. Confusão que, lentamente, assumiu traços de preocupação e curiosidade. Sondou sua mente atrás de alguma razão para que Kasuka o procurasse e conteve o impulso de pressioná-lo para que dissesse o que queria. Em exato oposto ao irmão mais velho, pressões nunca funcionavam com o Heiwajima mais novo, ele manteria-se quieto por tanto tempo quando julgasse necessário.

– Seu amigo me ligou. – ouviu-o, por fim, dizer. Calando-se novamente como se a informação bastasse.

– Amigo?

– Kishitani Shinra, o médico.

O esquecido cigarro em suas mãos encontrou fim entre seus dedos em um gesto raivoso. O destino do pequeno aparelho em sua mão direita teria sido, certamente, o mesmo, fosse outra pessoa do outro lado da linha.

– Te contou?

– Sim.

O novo silêncio, diferente do anterior, foi recebido com prazer pelo ex-barman. Não tinha quaisquer intenções de falar sobre aquele assunto, ainda que com seu irmão mais novo. Deixou um bufar alto escapar de seus lábios. A ligação, que tão efetivamente o fizera esquecer-se do fio que agora cobria com o que estranhamente julgava zelo a queimadura causada pelo cigarro em seus dedos, era agora a responsável por fazê-lo novamente ciente de seu problema. Uma vez consciente, não pode continuar a evita-lo. A fio a pesar-lhe como algemas. O cheiro. A presença. A aproximação. Tornou-se impossível afastar a imagem de Orihara Izaya, seu pior inimigo, de seus pensamentos.

– Sempre estranhei... – o sobressalto foi inevitável, esquecera-se por momentos que ainda mantinha o irmão do outro lado da linha – ...como você é capaz de sentir quando ele está aí. Mesmo sendo você, não é comum.... E só com ele. Você sabe quem está do outro lado da linha, né, Nii-san? Sei que sabe. Por isso correu do médico.

“Do que está falando?”, “Conhece a lenda do fio?”, “De quem está falando?”, “Como sabe que sei quando ele está por perto?”, “Shinra te contou tudo?”, “Contou do cheiro?”, “Você acredita em mim?”, “Como pode vomitar assim que sabe de tudo?”, “Você não entende nada, Kasuka!”. Os pensamentos corriam desestruturados, rápidos, difusos por sua mente. As respostas, entretanto, permaneceram presas à sua garganta, incapazes de alcançarem articulação.

– Se está confuso... – continuou o irmão – ...É só procurar por ele. Você sabe onde achar... Se não der certo, procure por mim. Também sabe onde me achar.

O homem mais forte de Ikebukuro certamente riria se em situação que não aquela. Riria pelo absurdo. Riria pelo conselho e pela origem dele. E riria, finalmente, e desta vez um riso de felicidade, pelo apoio recebido.

Maneou a cabeça ignorando que não podia ser visto. Mesmo se soubesse, entretanto, não entregaria resposta além daquela. Resposta que, estranhamente, pareceu ser o suficiente para o rapaz do outro lado da linha que, contrariando as expectativas, suspirou um riso.

– Muitos adorariam poder ver... você é sortudo, Nii-san.

Um riso nasal, de deboche, escapou-lhe antes que pudesse contê-lo. Conhecia o irmão o suficiente para saber que não havia ironia em sua declaração, era inevitável, entretanto, ouvi-la desta forma.

Não despediu-se. Sabia que a conversa acabara. Kasuka também o sabia. Despedidas eram desnecessárias. Ou, ao menos, foi no que acreditou até ouvir o que julgou um “talvez um empurrão...” escapar do alto-falante momentos antes de pressionar o botão para encerrar a ligação. Normalmente retornaria, invadido pela culpa de interromper o irmão. Não naquele momento, entretanto. Não quando sentia Izaya tão próximo a seu apartamento. Não quando o fio agitava-se como nunca, desfazendo seus nós, criando novos, enrolando-se nele, puxando-o, incitando-o, provocando-o.

Aceitaria o conselho. Procuraria por Izaya. E sabia, sem dúvidas, exatamente onde encontrá-lo.






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Notas finais do capítulo

Olá de novo, ^^

Espero que tenham gostado!
até amanhã com o penúltimo capítulo!


beijo, beijo, =*
Yuki



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