Vermelho em sete atos escrita por Yuki Max


Capítulo 4
Ato 4 - Vermelho como a capa do livro velho


Notas iniciais do capítulo

Olá, *.*

tudo bem?
Capítulo 4 se apresentando...
Obrigada por estar lendo! =D


=*
Yuki



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Ato quatro - Vermelho como a capa do livro velho



– Fio vermelho do destino ou akai ito, como popularmente tornou-se conhecida no Japão, é uma lenda de origem chinesa que conta que pessoas destinadas a se amar são unidas por um fio vermelh-

– Cala a boca, Shinra, eu sei ler, droga! Me dá essa merda!

Mesmo que, com um torcer de cenho e certa relutância, Shinra tenha entregue o pesado livro às mãos estendidas de Heiwajima Shizuo, era inegável que na agressiva e imperativa voz havia muito mais de ansiedade do que da expressada raiva. Ansiedade que tremia os dedos e os endurecia aos redor da moldura da capa que, mesmo dura como apenas as de livro antigos o são, cedia sem resistência sob seus dedos, deixando-se marcar por eles em profundos vincos. Ansiedade que tanto tinha de estranho prazer, estranha gratidão que começara a correr por seu corpo, da ponta do dedo preso pelo laço vermelho à ponta dos pés a remexerem-se apertados dentro dos sapatos sociais, a partir do momento no qual Celty voltara do cômodo mais afastado, onde escondia-se o escritório do médico clandestino, com um pesado livro nos braços e o palmtop a informar que encontrara nele informações sobre a lenda após vê-la em uma série de TV, lenda que tanto condizia com o relato de Shizuo.

A breve discussão sobre a procedência do livro e os inúmeros marcadores espalhados pelas páginas foi perdida pelo homem mais forte de Ikebukuro, que apenas passou os olhos pelo título do livro (“Lendas e Mitos ao redor do mundo”) antes de abri-lo e recomeçar a leitura que Shinra interrompera instantes antes.

“... na lenda original uniam-se os amantes por fio atado aos tornozelos, ao disseminar-se e alcançar outros territórios, a fábula sofreu modificações. No Japão popularizou-se a crença da união através do fio vermelho preso aos dedos mindinhos. Apesar das variações, manteve-se inalterada a essência da lenda: o fio vermelho, invisível aos olhos, é capaz de alongar-se quando distantes os amantes ou contrair-se quando próximos, torcer-se pelos percalços e atar-se em nós pelos desencontros e desentendimentos, mas nunca romper-se. Segundo a lenda, mesmo que a única possibilidade de completude amorosa esteja no encontro com a ponto oposta ao fio, a existência do fio não garante a união.”.

A página virou-se uma, duas vezes entre os dedos enrijecidos antes que os olhos castanhos-mel desistissem de procurar pela continuação do verbete. Passou-os rapidamente mais uma vez pelas letras apenas para garantir a si mesmo que entendera tudo o que lera. Garantia inútil, infundada, as retinas mel a correrem as palavras não eram capazes de verdadeiramente vê-las.

O inspiração lenta liberou a respiração que permanecera suspensa durante toda a leitura, seus pulmões, entretanto, pareciam incapazes de absorver oxigênio o bastante para eliminar de seu corpo a estranha sensação de falta de ar. Falta de ar que, contrariamente, não parecia afetar sua cabeça, aérea, vazia, como se flutuasse em todos os ventos que recusavam-se a circular em seu corpo. Alheia ao peso de Shinra ao inclinar-se sobre seu braço para ler o livro em suas mãos. Alheia à crescente exaltação de Celty.

– Como nunca ouvi falar desta lenda antes? Você a viu em uma série, Celty, querida? E, Shizuo... é como você disse, não é?! Um laço no mindinho, fio vermelho com vários nós... É o mesmo, né?!

A negação escapou-lhe involuntária, dois breves acenos com a cabeça e um franzir discreto do cenho. Os olhos abriram-se brevemente em surpresa pela inesperada reação de seu corpo antes que um terceiro aceno, agora enfático, agora propositado, lançasse mechas de seus cabelos descoloridos sobre as rugas acima de suas sobrancelhas, agora intensas, agora crescentes, e seus lábios apertassem-se juntos em uma linha fina.

Ainda não entendia o que negava, mas compreendia perfeitamente que devia fazê-lo. Negar com todas as duas forças. Negar até que Shinra convencesse-se de que não havia fio algum. Até que Celty esquecesse lendas antigas em livros pesados. Negar até que ele mesmo se esquecesse da comparação traçada entre o fio atado a seu dedo e o rapaz que progressivamente sentia adentrar seu distrito. Até que o cheiro desaparecesse. Negar até que a sensação de proximidade não perturbasse. Até que pudesse não mais ver o exaltado fio vermelho desfazer alguns de seus nós e criar novos enquanto enrolava-se insistentemente em suas pernas e braços.

– Shizuo, como assim não é? Não era assim o que via?

– Não era. Não vi. – declarou, as palavras a rasgarem sua garganta seca.

– Sumiu, então? – ignorou Shinra, piscando repetidas vezes na direção do fio rubro que agora suspendia-se no ar como se tivesse puxada sua ponta oposta, aflição percorrendo cada célula de seu corpo – Você ainda tá vendo, Shizuo! Eu consigo perceber! – acusou-o.

– Cala a boca, Shinra! Cala a boca, só um pouco... – gritou em inapropriada súplica, os olhos correndo dos nós vermelhos em constante mudança para o semblantes agora confuso do médico clandestino, os lábios cerrados em evidente forçado silêncio.

As desculpas coçaram sua garganta, mas não foi difícil ignorá-las, não quando tantas outras vontades envolviam-no todo em coceiras e desconfortos. Ignorou-as, também, todas elas, assim como ignorou as tentativas de Celty de mostrar-lhe a tela de seu palmtop, recusando-se a encará-la diretamente ou receber os conselhos que provavelmente precisava desesperadamente. Era imprescindível fazer-se cego, surdo, intocável, se quisesse continuar em sua negação. E era imprescindível que continuasse com ela, mesmo que para isso precisasse assumir para si um pouco de insânia. Abraçaria com prazer a loucura se isso mantivesse longe de seus braços o invasivo fio vermelho.

– Cheira como ele.

O sussurro baixo escapou de sua garganta, ironicamente ignorando as resoluções do homem que resolvera ignorar tudo.

Heiwajima Shizuo teve tempo apenas de abrir seus olhos até os limites e observar um par de olhos acompanharem seu movimento antes de jogar-se apartamento afora em uma vergonhosa corrida desenfreada. Escadas abaixo. Quarteirões a frente. Quando finalmente cansou-se, a inspirações profundas provaram-lhe que não havia para onde correr. Não havia escapatória. Izaya estava em todos os lugares.






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Notas finais do capítulo

Olá de novo, *.*

tudo certo até aqui?
Se gostou, adoraria saber sua opinião sobre. Críticas são super bem vindas!

Até amanhã,
beijo, beijo, =*
Yuki



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