Vitória só teve tempo de também vestir-se e foi atrás da menina, em seu quarto. Luíza chorava, sentada à cama.

— Vá embora, por favor!

— Não, eu não posso deixar de explicar...

— Explicar o quê? Que você é uma mulher que eu mal conheço? Que usa, que engana as pessoas?

— Você não teria feito o mesmo? Por amor? Diga que não e eu saio agora, como você quer!

Luíza soluçava, mas respirou fundo. Não pode responder por algum tempo e permaneceu olhando para Vitória, que só esperava alguma palavra.

— Se fosse só o adultério...mas não...eu descubro a todo momento coisas novas a seu respeito, coisas que destroem a imagem que eu fiz de você, da mulher por quem eu me apaixonei...eu estou tão confusa...minha cabeça dói! Luíza começou a chorar ainda mais.

— Eu não tenho culpa se você idealizou alguém que eu não sou. Eu também não te culpo por estar me julgando. Eu sabia, eu sempre soube que te afastar de mim seria a melhor escolha, mas você insistiu...

— Há algo mais que eu deva saber sobre seu passado, condessa?

— Por favor, minha menina, não me trate assim , eu não suportaria...Vitória tentou se aproximar da jovem, que afastou-se .- Não! Não há nada mais! Agora está em suas mãos...só você pode me dizer se ainda sou digna do seu amor...

— Por favor...não me peça nada hoje, agora! Me deixe sozinha!

Vitória, antes de sair, sentiu que precisava ainda lhe dizer algo.

— Eu a amo, Luíza. Você é o frescor da minha vida. Eu faria qualquer coisa por você!

— O quê? Você mentiria por mim? Enganaria?

— Já não estamos fazendo isso? Ou você contou aos seus pais sobre nós? Às suas amigas?

Luíza a olhou profundamente, percebendo que havia certa racionalidade no que dizia.

— Eu não estou conseguindo pensar...eu preciso ficar sozinha...

Vitória saiu, cabisbaixa, e a jovem jogou-se na cama aos prantos.

Luíza não pode dormir o resto da noite. Amanheceu e ela ainda estava envolvida em tudo que Vitória havia lhe confessado até então. O passado daquela mulher, ao mesmo tempo que lhe causava despontamento, a seduzia de forma inexplicável. Ela não era a condessa dos primeiros dias, mas definitivamente, era a mesma do retrato, altiva e maravilhosamente misteriosa. Por amor ela havia traído, trazido o filho de outro homem para que o marido lhe desse seu nome sem que ele nem desconfiasse...e escondera o filho doente de todos por vergonha...Não, não era virtuosa. Mas tinha coragem. A mesma coragem que teve de viver um amor nesta altura de sua vida. A menina pensou no que a condessa havia lhe dito...também ela estava mentindo às pessoas que mais lhe importavam por amor. Seria tão mais virtuosa assim?

Após o café, bateu à porta do quarto de Vitória. Zilda ainda estava no quarto, servindo a senhora.

— Bom dia, condessa! Eu posso entrar?

— Claro, Luíza. Entre! Zilda, deixe-nos a sós!

Vitória dirigiu-lhe um olhar de desprezo enquanto a governanta saía.

— Espera que eu lhe peça perdão?

— Espero que tenha ponderado as coisas.

— Seria muito mais fácil se eu conseguisse deixar de te amar...tão mais fácil...eu penso, penso, e daí, sou como que arrastada pra esse quarto. Não consigo ficar longe de você. É simples assim!

— Eu sei que fiz coisas das quais muitas pessoas não se orgulhariam...mas não me arrependo. Faria tudo de novo!

— Pensei: se soubesse do que sei agora, no dia que te conheci, se teria me apaixonado da mesma forma...

— Teria?

— Desesperadamente!

Luíza tomou o rosto da amada, passando-lhe as mãos pela nuca e trazendo sua boca ao encontro de seus lábios.

— Terá que fazer melhor para me afastar de você, se esse é seu plano.

Enquanto Vitória, sorrindo, tentava dizer alguma coisa, Luíza a beijava, impedindo qualquer palavra.

— Se fosse embora, iria atrás de você, não me importa que seus pais ficassem sabendo, as pessoas aqui, ninguém...

— Não vai ser preciso! Não irei a lugar algum!