Já se passaram cinco anos desde que vi o Menino-Dragão pela ultima vez... Não conta para ninguém, mas estou com saudade dele. Eu queria poder mandar cartas; eu sei escrever, o problema é não ter correios por aqui.

Nesse tempo, alguma coisa mudou em mim, eu sorrio mais, dou menos foras nas pessoas, mas sem mudar de personalidade; continuo um pouco desconfiada e com pouca paciência, a diferença é que lidou com as coisas de forma mais amena. Até fiquei amiga do Perna-de-Peixe.

Para ser sincera, não mudou muita coisa desde que o Soluço foi embora, a única diferença é que quando um dragão aparece, é festa. Eu continuo sendo a líder do nosso grupinho e continuo treinando com o machado... Mas ainda assim, ele faz falta. Pra mim e pro pai dele que toda noite fica sentado no quintal esperando seus dois filhos e o sobrinho; – O Dazbogur morreu, lembra? – Stóico até deixou o quarto dos três intocável. Já eu esperava por eles sempre que podia, manhã, tarde e noite. Lógico que eu estava esperando o Soluço, mas admito que senti falta do Olavo e do Melequento.

Eu passava horas no sol ou sombra para poder esperar, eu estava começando a ter – Ugh! – esperanças. O que para mim é difícil.

E assim, foi mais um dia de espera.

— Astrid! – Ouvi uma voz me chamando. Brenda, uma garota muito chata que vivia com inveja de mim, e seu grupinho. – Vai ficar ai esperando aquele Menino-Dragão? – Mesmo sem responder, elas continuaram implicando. – Ele não vai voltar, por que voltaria? Vai ver ele arranjou um caso com uma dragão fêmea e cansou de você.

Não aguentei:

— Você não sabe nada sobre dragões! Eu sei o suficiente pra saber que é mentira.

— Oh, ela fica esperando o príncipe encantado voltar... – As amigas dela riram feito hienas. – Na boa, por que ele estaria contando os minutos para voltar pros seus braços? Você o tratou como se ele não fosse nada, dava um gelo total nele, ameaçava, xingava... Eu posso continuar. – Ela disse isso contando nos dedos. Deu uma raiva! Tive que responder.

— Algum dia você ainda vai ficar verde...

— Por quê? – Brenda franziu a testa.

Abri um sorriso triunfante.

— Por inveja. – Brenda tomou um susto. – Eu saquei a tua. Você tem inveja porque eu tenho alguém que gosta de mim e você tem... Nada.

Vi o rosto dela ficar mais vermelho que nem um tomate e sair batendo o pé, bufando. Ri um pouco, mas não pude deixar de pensar no que ela falou. E se ele não me esperou. E se ele...

“Nem vem!”— Gritei mentalmente. Sorri pra não chorar e falei em voz alta para poder acreditar.

— Ele não faria isso, ele é diferente dos outros. Fica tranquila.

Dizendo isso, fui tentar me acalmar indo até o desfiladeiro, porém quando eu estava no meio do caminho, notei uma correria louca onde era a casa do Soluço; as pessoas corriam até lá tão contentes que eu não tive dúvida. Fui atropelando quem estivesse na frente e consegui chegar. Encontrei o Melequento primeiro, foi fácil identifica-lo, ele não mudou um nada, só um bigodinho ridículo, mas fiquei feliz vendo ele.

—... E que tal aquela garota lá da floresta? Ela gostou de você. – Um cara mais velho, cabelos pretos compridos e barba rala falava com ele. Deu para ver que nosso amigo sentia vergonha.

— Ela não é meu tipo.

— E a morena cantora?

— Não! Se eu quiser... – Finalmente me viram acenando e chamando. Melequento sorriu e foi me abraçar, e acho que ele ainda gosta de mim porque ficou vermelho, o de barba também veio, mas eu estranhei.

— Quem é você?

Uma risada familiar.

— Cinco anos e você esqueceu-se de mim? – Ainda não tinha entendido. Ele percebeu e finalmente falou. – Sou o Olavo, dragão negro, irmão mais velho do Soluço, isso te lembra de alguma coisa?

— Ai, meus Deuses, desculpa! – Ri e o abracei. – E o Soluço, cadê? – Quando falei isso, o Melequento ficou cabisbaixo igual quando tentei fugir com seu primo. Mordi os lábios com vergonha e pena.

— Ele tá lá. - Olavo indicou a direção de maneira teatral, não entendi o porquê até ver um garoto igual ao que ele era a cinco anos, mas de cabelo castanho. Meu coração acelerou e eu mal podia respirar. Fui chegando perto, demorou para ele me perceber ali, mas quando me olhou ficou tão surpreso quanto eu, me olhava como se eu fosse uma aparição. E igual a uma idiota, perguntei:

— Você é o Soluço?

Ele ficou me olhando como quem não falava a minha língua. Fiquei com medo de que fosse outra pessoa, mas ai ele me puxou e me deu um beijo. Eu reconheci aquele beijo, tinha um zelo, uma ternura que só uma pessoa tem.

— É você sim... – Ri que nem uma retardada, mas ele não ligou. Também riu.

— É claro que sou eu, senhorita. Voltei pra casa. – Soluço me beijou de novo. Senti-me tão feliz. Se isso é um sonho, eu não quero acordar.

— Senti sua falta. – Sussurrei para ter certeza que só ele ouviria.

— Também senti a sua. – Ele respondeu sorrindo. – Tenho uma pessoa pra te apresentar.

— Quem? – Perguntei enciumada.

— O novo eu! – Ele riu e me jogou para trás me dando outro beijo; nem nos importamos com quem estava olhando, com plateia ou sem, era um momento só nosso!