Eletric Heart escrita por Vlk Moura


Capítulo 9
Capítulo 9




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Sentei no meio fio esperando a minha carona que jurei que nunca mais iria pegar. Mindy chegou buzinando e me fazendo querer pifar sua moto. Montei no garupa, coloquei o capacete e me segurei quando ela acelerou. Estacionou longe do local da festa, desceu arrumou a saia e a meia calça rasgada, ela usava uma camiseta de banda, estava linda daquele jeito. Ela em analisou e soltou um assobio.

    - Há alguns dias eu nunca poderia pensar em te ver assim, agora que vejo não acredito – ela abraçou meu pescoço - Não sei quem você quer conquistar, mas essa noite é sua.

     Entramos no local e foi como atravessar um portal, vários jovens dançavam com bebidas nas mãos. Outros conversavam e  alguns apenas curtiam o momento e eu me encontrava com esse grupo, fora as drogas, porque muitos ali já nem estavam nesse planeta mais. Tentei entender como essas festas poderiam ser legais. Mindy me entregou um copo.

       - Sem álcool, experimentei. - ela falou bebendo o próprio copo - Não vou te embebedar na sua primeira noite, seu pai me mataria.

       Eu ri. Há alguns anos eu nunca poderia imaginar vê-la em uma festa como essa e agora era ela quem me arrastava, tenho de parabenizar Dave, ele converteu essa menina.

      - Opa, opa, o que temos aqui? Agnes! - Dave me olhou surpreso - Não sabia que você curtia esse tipo de festa.

      - Nem eu sabia – falei rindo, ele se balançava no ritmo, era algo engraçado de acompanhar.

       Mindy começou a se mexer, pegou meus braços e me obrigou a seguir seu ritmo, em minutos estavamos os três nos balançando no que as pessoas costumam chamar de dança, eu realmente estava gostando daquilo, mas não tinha certeza se era da festa ou de apenas estar um momento com meus amigos. Eu odiava as roupas que usava, um vestido preto e meia calça com toda a certeza não foram criados para eu usar, mas eu aceitava o fato de que eram legais e como Mindy falou parecia agradar muitos que dançavam me olhando de uma forma que descrita por Dave significava "Olha, irei te atacar se continuar me encarando dessa forma".

      Fui pegar um pouco mais de bebida, enchi um copo com cerveja, meu pai iria me matar, mas eu queria curtir, não sabia quanto tempo aquela vida sem dor de cabeça iria durar, no ritmo que eu seguia iria durar até o dia seguinte quando eu acordasse com ressaca. Mas eu não estava ligando. Fui voltando segurando três copos, algumas pessoas esbarravam e eu precisava de cuidado para estabilizar meus pés e voltar a seguir para a pista.

     - Agnes? -olhei quem chamou e estava junto dos meus amigos.

     - Você bebê? - Richie perguntou observando os copos. Entreguei um para Dave e outro para Mindy.

     - É o que vamos descobrir – falei bebendo a cerveja e fazendo careta, era horrível, mas continuei bebendo, não façam isso. Não bebam antes de estarem realmente preparados para isso ou pelo menos até ser legal. - Onde está o Virgil? - perguntei gritando ao pé do ouvido dele.

      - Foi pegar algumas bebidas.

      - Alguém já falou que parecem um casal? – ele riu e confirmou e se juntou a nós dançando e logo me substituiu no posto de pessoa mais desengonçada.

      Virgil se juntou a nós e pela primeira vez me permiti beber, eu queria aquilo, por alguma razão. Depois de tanto beber e dançar, avisei que iria me afastar um pouco da confusão para pegar um ar, eu estava começando a ficar bêbada e eu não queria isso. Subi em um container, sentei ali no alto e fiquei observando a festa, nossa, se alguém descobrisse que sou filha do Batman e que estou bêbada isso daria uma ótima notícia. Ri sozinha, ouvi um baque ao meu lado, transformei o celular no robô, eu sabia que ele não podia fazer muito, mas isso me deixava o minimo possível mais segura.

      - Ah, é você - falei aliviada em ver Dave subindo, ele riu - Você já está?

      - Não. Agradeço viver com a  Mindy e ela me submeter a um tratamento etílico quando perde algum caso – eu ri com ele, mas não tinha certeza de que aquilo tinha graça. - Como se sente?

      - Bêbada, pelo menos, um pouco bêbada - eu ri sozinha - Mas é bom, estar saindo com vocês e curtindo.

       - Não vai pensar dessa forma amanhã - olhamos quem falou, Virgil se jogava – Vai estar com uma dor terrível.

       - Nada com que eu não possa lidar – me joguei deitada naquele lugar imundo.

       - Certo, estou sobrando – Dave falou, eu o olhei sem entender – Espero que a Mindy não tenha bebido meu copo.

        Virgil e eu nos olhamos sem entender e depois olhamos a pista de dança. Me perguntei como era voltar ao local de um acidente seu depois de algum tempo. Eu nunca retornei ao prédio em que minha mãe fora morta e nem tinha vontade de ir até lá. Estremeci, ele me observou.

       - Como você está? - ele perguntou de uma forma que me pareceu aleatória.

       - Meio tonta – eu soltei um riso que o fez rir – Mas bem.

      Uma confusão começou na pista, olhamos alarmados, sem perceber transformei o celular, olhei Virgil, ele analisou a pista com cuidado, me perguntei quando eu iria sair sem atrair perigo para as pessoas. Procurei por Mindy e Dave, não os encontrei, busquei por Richie e mais uma vez não encontrei, eu teria de correr dali com Virgil...

       Onde ele se meteu?

       Ouvi uma explosão, olhei para  a pista um cara que soltava fogo pela mão lançava bolas de fogo na direção de todos, olhei em volta, talvez todos tivessem celular, olhei o robô no meu ombro, tapei meu ouvido e fiz tudo começar a apitar, mas em conjunto se tornou algo ensurdecedor e pude ver muitos caindo desacordado. O que ateava fogo em tudo pareceu me ver no alto, pegou impulso com as chamas e estava chegando perto de mim quando foi atingido, olhei quem caia sobre ele. Mindy.

      Ela me olhou e gritou para que eu corresse, ela foi jogada para o lado, logo Dave surgiu e acertou o cara, eu os assisti por alguns momentos até encontrar um bom lugar para me esconder, eu não queria sair dali sem eles. Comecei a pensar no que eu poderia fazer, os aparelhos de som tinham ficado para trás, olhei o chip que o Doutor Palmer tinha me fornecido, olhei o aparelho e para Dave que era lançado contra um container. Mindy se jogava contra o homem e o enchia de pancadas.

      - Mindy! - gritei, ela se afastou quando uma das mãos do meu robô de mixagem atingiu o homem, ela me olhou enquanto levantava Dave – Consegue carregá-lo? - perguntei ainda concentrada e acertando o homem.

     - Consigo, assim que eu o deixar a salvo, volto. - confirmei.

     Ela saiu tropeçando com o corpo do Dave, meu robô parecia bom contra o homem até que ele se levantou tão quente que derreteu os aparelhos, trouxe o chip de volta para mim e corri.

      - Consegue fazer alguma ligação útil? - olhei o robô no meu ombro, mas dele apenas se ouvia "O aparelho encontrasse fora da área de cobertura" - Que ótimo! - gritei e senti algo quente se aproximar, abaixei me jogando ao chão.

      Me virei para encarar o homem ele sorria vitorioso quando foi atingido por uma enorme mancha verde que cortou o ar, fiquei estática, olhei o robô no ombro ele se escondia atrás do meu cabelo e não parecia pronto para uma luta que iria derretê-lo. Um risco roxo cortou o ar e foi até o outro, os dois juntos renderam o meta-humano que tentava se soltar deles.

     - Pode deixar que eu cuido dele – Gear falou e me olhou, sorriu de leve.

     - Tem certeza? Eu posso te ajudar... - Gear já tinha levantado voo carregando o esquentadinho.

     Me sentei aliviada, Super Choque se aproximou e esticou a mão.

    - Acho que meu álcool já evaporou – comentei rindo. - Você é bem pontual.

    - E você é cheia de surpresas, caçadora de heróis – eu sorri – O que foi aquilo com os aparelhos de som?

    - Um truque novo – sorri – Gostou? - mostrei a ele meu robô que queria continuar escondido, ele olhou e sorriu largo. - Não estou no seu nível ou no do Gear, mas logo quero poder estar com vocês.

     - Esse mundo é muito perigoso – dei de ombros.

     - Já estou me acostumando – peguei meu robô de volta e o transformei em celular novamente – Espero encontrar sinal para ligar para meu pai.

      Saí andando, acenei para ele quando eu saia do lugar. Andei um pouco mais pelo ambiente escuro quando a mancha roxa pousou a minha frente.

      - Parece que perdeu sua carona – confirmei desapontada com Mindy, não deve demorar tanto para esconder um corpo e voltar, ainda mais de moto – Aceita uma nova?

     - Não é mais tão nova – sorri e aceitei.

     Ele voou pela cidade que a noite ficava linda com as luzes das ruas acesas indicando os caminhos, alguns poucos carros e alguns prédios iluminando determinados pontos. Ele ficou bem alto apenas flutuando.

     - Além do Gear, você tem outros amigos? - criei coragem para ficar ao seu, lado, o olhei com medo de desequilibrar.

     - Tenho alguns – ele me olhou e sorriu, um riso bonito. Aproveitei para observá-lo e tentar ligar os traços com alguém conhecido, mas eu começava a desistir de fazê-lo, tê-lo como segredo parecia tornar essa amizade mais divertida, assim eu nunca sabia quando ele iria aparecer ou se estava por perto, uma graça que perdera em relação ao Superman e ao meu pai que basta eu olhar uma lista de presentes de determinado local que sei que logo pode aparecer um herói.

    - Eles sabem dos seus poderes? - ele ficou quieto, o olhei.

    - Alguns sabem e os seus?

    - Apenas a Mindy – sorri para ele – o Dave – eu sabia que ele conhecia os dois – meu pai e você - ele sorriu.

    - Seu pai? - confirmei - Você diz o...

    - Batman – ele ficou tenso e relaxou segundos depois, o olhei - Você deve ter desconfiado aquele dia – ele confirmou – Mas eu e ele não temos uma relação muito afetiva, na verdade, é bem mais complicado do que isso. Meu pai, o que realmente me criou, não sabe que não sou filha dele – o olhei – Nem sei porque estou te contando isso, desculpa.

    - Somos amigos, não somos? - confirmei - Então não tem problema me contar seus problemas – sorri.

     Eu estava de frente para ele com meus olhos bem focados nos dele, um vento soprou fazendo o disco mexer, eu o agarrei, senti seu peito vibrar com o riso, o olhei, ele me olhou, senti minhas bochechas corarem, ele sorriu e aproximou o rosto do meu, eu sentia sua respiração quando um alarme soou, olhamos os dois na direção do som, ele me olhou e eu sorria pronta para ir à ação. Ele me segurou e nos guiou até o local.

     - Fique aqui. - ele falou me deixando de frente ao local roubado e voou atrás dos bandidos. Fiz o robô voltar ao normal, eu tinha sinal.

      - Onde raios você se meteu? - Mindy gritou - Não vai me dizer que... Argh, vou socar aquele maldito.

       - O Dave ficou bem? E você?

       - Apenas algumas... – o robô acionou a câmera, olhei alguém se aproximar por trás, desviei do ataque e o acertei nas costas. - Ag?

       - Posso te ligar depois? - desliguei sem ouvir a resposta.

       Acertei um chute na pessoa que eu não tinha certeza de ser alguém que eu conhecia ou um bandido. Depois de derrubá-lo sentei sobre suas costas e transformei o celular de modo a poder prendê-lo. Fiquei ali sentada, retornei a ligação para Mindy.

      - Pronto. - falei.

      - O que aconteceu?

      - Suspeito de ter prendido meu primeiro bandido – um grito do outro lado da linha - está tudo bem, já o imobilizei e... - Super Choque se aproximou, acenei para ele e me levantei do bandido que tentou se levantar recebendo uma pesada nas costas.

      - Acho que você pegou seu primeiro bandido – ele falou sorrindo e observando o que prendia o homem, fiz o robô voltar a sua forma de robô normal e o coloquei em meu ombro novamente, o homem se levantou e foi correr, mas Super Choque o envolveu com estática e o fez flutuar, não me cansava de ver isso. - Se importa de ir comigo prendê-los e depois ir para casa? - neguei.

      Realmente não me importava, eu queria poder passar mais tempo com ele e eu estava animada demais por ter rendido meu primeiro bandido, não queria que essa adrenalina sumisse do meu sangue. Levamos os três bandidos (ele pegou dois e eu um) para a cadeia, o chefe de polícia já o conhecia e foi até que simpático comigo. Prendeu os bandidos e nos agradeceu.

      Super Choque voou comigo para casa.

      - Sei que está animada por ter prendido seu primeiro bandido, mas não saia por ai buscando perigo.

      - Não sou nem louca – falei rindo – Obrigada, por hoje.

      - Eu fiz meu trabalho – neguei, ele pareceu não entender.

      - A vista da cidade – ele sorriu – Foi lindo.

      Ouvimos um barulho na escada, olhei minha porta preocupada e quando olhei a janela ele já tinha voado. Fechei o vidro e a cortina, troquei de roupa e me joguei na cama exausta. Eu ainda ia ouvir muito de Mindy por tê-la feito voltar sem ter uma Agnes a ser resgatada, mas eu não ligava, eu estava alegre com o que tinha ocorrido, estava alegre com o Super Choque.


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