Espírito Verde escrita por Vaalas


Capítulo 1
Único — Os cabelos verdes de Kallier


Notas iniciais do capítulo

Se você resolveu dar uma chance a esta one/conto, seja bem-vindo(a). Espero que aproveite cada palavra e leve daqui algo com você, nem que seja um pensamento feliz :D
Boa leitura!

OBS: para evitar confusões, no começo é usado o pronome feminino para se referir à Kallier. Isso porque ele é umA árvore. No momento em que ele toma forma humana, passa a se usar o pronome masculino por sua forma ser de um rapaz.



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Kallier sentiu quando ele nasceu.

Não chegou a vê-lo porque não possuía olhos, tampouco pernas para mover-se, mas cada folha e cada energia de seu interior soube que uma nova vida havia chegado, perto o suficiente para que sua mais distante raiz pudesse sentir.

Centenas de anos haviam se passado desde que ela própria havia nascido, apenas uma pequena semente apanhada pelo vento, crescendo até tornar-se a mais alta e bela árvore daquela região.

Ainda que por muito houvesse vivido, nunca cansara de se surpreender com o poder da vida. Como era belo o choro de uma criança nascida: não pôde deixar de associá-lo ao gritar do vento em noites ruidosas.

...

Não custou muito ao Tempo. O futuro era uma gota de orvalho, pingando a cada segundo.

Kallier piscara os olhos uma única vez. Logo então percebeu como muito mudou.

Não notara que quatro anos já haviam se passado, pois mal teve tempo de inspirar o ar ao seu redor e logo a nova vida já andava, junto a seus chapéus de marinheiro e suas roupas de verão. Quatro anos era tão pouco tempo para ela quanto quatro horas eram para um homem adulto. Ela deu apenas um suspiro e o garoto já corria e falava, ativo como toda criança é.

Kallier teve vontade de sorrir, só então lembrou que não possuía nem boca nem lábios para fazê-lo.

Ainda assim, como era bonito o sorriso do garoto humano — curvado e comprido, como a lua minguante. E assim como a lua, o sorriso sumiu em muito pouco tempo. Ao menos, pouco tempo para uma árvore.

...

Ele chamava-se Colin e possuía olhos de amêndoa, dourados como âmbar. Os cabelos eram macios e cacheados como caracóis. Kallier gostava de suas sardas, mesmo que não tivesse olhos para enxergá-las, assim como gostava de sua voz, mesmo que não possuísse ouvidos para escutá-la. A presença de Colin ao pé de suas raízes era como a presença do sol, quente, visível ao mesmo tempo que não.

Queria tanto poder tocá-lo, uma vez que em breve ele já não estaria ali. Será que seria capaz de dar quarenta suspiros, antes que ele se fosse? Achava que não, mesmo que o pensamento soasse triste e solitário demais. As vidas humanas eram tão breves que ela mal podia aproveitar o ar que saía de seus pulmões.

O menino já tinha oito anos e muitas rugas entre as sobrancelhas. Kallier sentia a tristeza cravada em seu peito como alguém que deixa sabão escorrer aos olhos. Estava ali, machucando, mas ela não conseguia tirar de si.

Colin chorava e as folhas marrons de Kallier caíam lentamente aos seus pés, como lágrimas sendo levadas pelo vento.

...

Foi na primavera de um ano qualquer, talvez dois suspiros após o choro de Colin sobre suas raízes, que Kallier acordou no chão, com o céu sobre seu rosto, distante como costuma ser o céu. Olhou para as singelas folhas verdes, suas folhas, e se espantou ao constatar que estava de fato enxergando. Possuía olhos, verdes como a grama, que a tudo fitavam atentamente. Quanto tempo fazia desde a última vez que tomou sua forma espiritual?

Bem, não fazia tanto tempo assim, talvez um pouco mais de duzentos anos. O tempo estava lhe confundindo lentamente, uma vez que o tempo humano aos poucos lhe instigava a se aprofundar —, mas o tempo humano é curto e limitado, pouco abrangente — devia deixar de tentar entender e voltar a sua própria ideia de tempo.

Ergueu os dedos sobre o rosto, a pele clara e macia, diferente da rigidez da madeira. Seus cabelos eram curtos, verdes como folhas no ápice da primavera. Sentou-se sobre as raízes — as suas raízes —, coçando a cabeça. Sua forma de árvore continuava potente, alta e viva como sempre fora. Era só sua consciência natural que projetava-se sobre a forma de espírito, semelhante a imagem de um jovem humano. Que forma tomara da última vez? Um cervo ou uma raposa? Um coelho ou uma lebre? Foram tantas que a memória lhe escapava.

Perguntou-se o porquê de vir a esta forma tão de repente. Haveria algum encontro dos espíritos da floresta do qual não estava ciente?

— Você não deveria estar aqui.

Kallier virou-se, ainda sentado, na direção que viera a voz. Havia rugas demasiadas sérias no cenho de um garoto jovem demais. Os cabelos negros, os olhos amendoados. Sabia que era Colin.

— Desculpe-me, mas não posso sair daqui. — De fato não podia, não deveria abandonar suas raízes até que fosse chamado.

— Esta propriedade pertence à mim, não pode ficar. — o garoto cruzou os braços — Chamarei meu pai e ele ficará furioso.

Kallier apoiou as costas no tronco de sua árvore, cruzando as pernas e carregando um ar divertido. Era Colin quem estava à sua frente e agora ele tinha a chance de olhá-lo mais de perto. De fato, gostava de suas sardas.

— Entenda, eu realmente não posso sair daqui. Esta árvore é minha casa. Se eu me afastar, ela morrerá e as flores e brotos cairão muito antes de se abrirem. — contou — Sei mais do que ninguém que você não deseja isso.

Colin lhe fitou do outro lado da árvore por um tempo indeterminado, curto e frio. Havia uma mancha escura no lugar de suas sobrancelhas e um temperamento teimoso em seu olhar. Encarou Kallier de maneira desconfortante, desejando não ser o primeiro a desviar.

Mas era impossível, o espírito era confiante e possuía olhos intimidadores demais. Logo, não custou muito a Colin baixar a cabeça e sentar-se no chão, em silêncio, sem dirigir palavra alguma ao estranho rapaz de cabelos verdes ao seu lado.

O silêncio não era pesado e o corpo novo de Kallier lhe era curioso. Estudava o contorno do maxilar, a linha da clavícula e a macieis da grama sob os pés descalços. Distraiu-se o suficiente, até que Colin quebrou o silêncio.

— Eu venho a esta árvore quase todos os dias, sei que ela não é sua casa. — disse, concentrado em riscar nervoso sobre a folha do caderno que trouxera.

— Eu estava aqui todas essas vezes que você vinha — E nas vezes antes disso também, quis completar — Você apenas... Bem, não podia me ver.

— Acho que se tivesse um cara estranho de cabelo verde morando na minha árvore há mais de dez anos eu saberia.

Kallier concedeu-lhe um sorriso breve, passando os dedos sobre as largas raízes de sua árvore. Colin se pôs a desenhar, rabiscos escuros que o espírito tão bem conhecia. Sabia que seus desenhos correspondiam ao seu humor, sempre trágicos quando o garoto estava em seus piores dias, as lágrimas manchando as linhas já feitas.

Ali, no entanto, Colin parecia desenhar algo mais otimista, talvez algo de bom houvesse acontecido em casa.

— Não desenhas rostos tristes hoje. — Observou Kallier, inclinando-se — Que bom.

O garoto humano ergueu o rosto do desenho.

— Você é estranho. E ainda não sei seu nome.

— Meu nome é Kallier e conheço-o há bastante tempo, Colin. Você apenas não notou ainda.

Ele franziu o cenho.

— Kallier é um nome estranho.

— Só para os menos atentos. — ergueu os braços para o céu, o rosto manchado por um sorriso — Engraçado, sempre imaginei que ter um corpo humano seria divertido, mas até agora não encontro nada para fazer com ele.

— Não entendi. — confessou o menino.

— Não esperava que entendesse, afinal, você ainda não tem ideia de quem sou, não é?

Colin lançou-lhe um olhar irônico e pouco amistoso.

— Não conheço você. Nunca lhe vi em toda minha vida.

— Então acho que teremos tempo para nos conhecer — sorriu — estarei aqui amanhã novamente, e no dia depois desse e quem sabe depois deste outro também. Teremos todo tempo do mundo.

Kallier o conhecia bem o suficiente, sabia que havia tristeza em seus olhos e em seu coração, assim como sabia que gostava de desenhar e de escrever poesias melancólicas. Estava ali no primeiro suspiro de Colin e estaria ali também em seu último. O garoto, no entanto, pouco sabia sobre si, e se sabia, não associava.

O tempo era gracioso.

...

No dia seguinte Colin veio com uma maçã verde entre os dentes e um ar de surpresa em suas sobrancelhas.

— Você realmente está aqui de novo. — suspirou — Deveria ir embora.

— Mas se eu for — Kallier pegou uma folha verde, caída entre suas pernas — Quem ficaria para observar as flores virarem frutos?

Colin mastigou lentamente um pedaço de maçã. Fitava-o nos olhos, sem ousar desviar. No fim, acabou sorrindo curto e breve. Havia algo no ar daquele homem esquisito que lhe agradava.

— Você é mesmo um cara estranho.

Kallier não pôde evitar sorrir também, o garoto tinha certo efeito sobre ele.

— Diga-me, Colin, qual sua cor preferida?

O humano sentou-se ao seu lado, esticando as pernas.

— Preto, acho. Para quê quer saber?

O espírito ergueu sua mão e a pousou sobre a cabeça do mais baixo. Seus cabelos cacheados eram como nuvens sob sua palma.

— Disse que teríamos tempo para nos conhecermos melhor, pensei em começar desde agora. — contou-lhe.

— E qual é sua cor preferida, Kallier?

Algo no espírito se satisfez com a pergunta, seu humor subiu assim como seu sorriso.

— A cor do céu, gosto de olhá-la. — apontou para cima, através das folhas e galhos de sua árvore — É tão bonita, não acha?

Colin olhou para cima, mas apenas viu o que estava habituado a ver.

— A cor azul?

— Não, não é azul. É simplesmente a cor do céu.

O garoto cada vez entendia menos o rapaz de cabelos verdes.

...

No entanto, havia algo em Kallier que soava como uma melodia agradável. Talvez os dedos pálidos apontando para o céu ou tocando nas raízes da grande árvore, ou a voz meio doce e gentil, que soava como poesia. Havia também os cabelos estranhamente verdes e os olhos intensos que chegavam a perturbar.

Colin sonhou com ele nas primeiras semanas, e Kallier fazia questão de lhe dar sonhos agradáveis, esperando pacientemente pelo dia seguinte, e o depois desse, apenas para vê-lo novamente no fim da tarde.

E foi assim, simples e sutil como uma criança, que o jovem garoto humano viu na presença do espírito algo diferente e atrativo, meio perigoso e irritante.

Ele gostava da sensação. Ter um amigo era mesmo algo bom

...

­­­­­­­­­­­­­― Seu cabelo está diferente. ― comentou Colin certo dia, curioso. O céu acima de suas cabeças estava muito azul e muito vívido, sem nuvem alguma. ― Parece menos verde e mais loiro, no tom de mostarda. Acho que é comum a tinta se desgastar com o tempo, não é?

Kallier estava deitado ao seu lado, brincando com a grama. Pareceu tão curioso quanto o garoto, um tanto surpreso, ao puxar o próprio cabelo à frente dos olhos e sorrir, do jeito que só ele parecia capaz de fazer.

― É culpa da mudança de estações. ― esclareceu ― mas é um amarelo bonito, não acha? Particularmente prefiro os tons de verde da primavera e não gosto muito do chame vermelho do outono, mas gosto do amarelo do verão.

O espírito fitou o garoto ao seu lado, estudando os traços de seu rosto, a linha do nariz, o queixo anguloso e os olhos fundos, fechando-se em um momento raro de relaxamento. Kallier não entendia nada da beleza humana, mas julgava Colin um humano bonito. Ele sorria como a lua minguante, mesmo que não fosse um sorriso fácil.

― Gosto do inverno. É tudo cinza e opaco, neutro. ― contou ― Na primavera tudo brilha demais, verde demais, flores demais. No verão tudo é muito calor e não há sequer praias por perto para aproveitá-lo. E o outono é o pior de todos. Tudo morre no outono, ou pelo menos se prepara para morrer.

A mãe de Colin morrera em um outono, sete suspiros antes, mas Kallier não sentiu quando aconteceu ― não como quando sentiu o nascimento do garoto. Não tinha como saber.

Esboçou um leve sorriso tranquilo. No outono suas folhas cairiam em tons vermelhos, marrons e laranjas. Se perguntou se seu cabelo cairia também e o pensamento lhe rendeu uma risada.

― As folhas estão amarelas agora, como meu cabelo. ― observou, analisando as folhas da árvore ao vento ― Mal vejo a hora da primavera voltar.

...

— Você ficaria muito chateado se eu sumisse de repente, Colin?

Havia um céu meio perolado sobre suas cabeças e terra úmida sob seus corpos. Chovera no começo da tarde, mas isso não pareceu impedir Kallier de deitar-se na terra recém molhada e fitar o céu distante e pálido. Era o céu, de todo modo, e o espírito gostava dele independente do tom de azul. Do mais vivo ao mais sóbrio. O fazia pensar sobre coisas que não pensara antes.

Partir era uma delas, e Colin não gostou nem um pouco da pergunta.

— Claro que ficaria! — ergueu-se pelos cotovelos, o encarando. — Você não planeja fazer isso, planeja?

O mais velho apenas pintou um leve sorriso em seus lábios, não parecia preocupado. Kallier nunca parecia preocupado, na verdade. Seus olhos porém, não enganavam, a ideia de partir lhe era assombrosa também.

— Apenas achei que deveria lhe falar. Pode ser que precise partir em breve.

— Mas por quê? — o garoto indagou, se aproximando — Isso não é justo.

O espírito tentou não rir da reação do mais novo.

— Porque é meu dever, ora. Há coisas que preciso fazer bem, bem longe daqui. Não é nesse momento, mas será em breve. Achei que devia avisá-lo antes de acontecer.

— Mas para onde você vai? Não disse que precisava ficar aqui, na sua casa?

— Irei para uma reunião importante, Colin, é só nesse momento que posso sair de perto da árvore. Ela aguentará até meu retorno, não se preocupe. — explicou-lhe com um sorriso didático. Gostava de sentir o apego do garoto a si do mesmo modo que gostava de suas sardas. Eram bonitas e importantes.

— Mas e eu, Kal? Vou ficar sozinho.

O mais velho riu e sua mão instintivamente pousou sobre seus cabelos cacheados. Nuvens cheias e maciças sob sua palma.

— Você é jovem e o tempo é travesso. Vai entender em breve o que isso significa.

Era engraçado lembrar que Colin apenas era uma criança humana. Não possuía mais que dez suspiros.

...

Colin não percebeu quando se apegou demais a Kallier. Ir até a árvore passou de rotina para o momento mais esperado do dia — apressava-se para terminar suas tarefas e disparar para fora do quarto — Kallier lhe dava vontade de correr até o jardim todo dia sem atrasos, apenas para sentar ao seu lado e deixar seus dedos delicados afundarem em seus cabelos.

Mas as coisas mudam aos poucos, o tempo faz questão disso.

...

— Acho que meu pai vai pedir para os tutores aumentarem minhas tarefas. — comentou, cutucando uma pedra com um graveto torto. — Ele deve achar que não estão sendo rígidos como deveriam.

— E eles são rígidos com você? — perguntou Kallier, inclinando-se em sua direção.

Colin apenas assentiu levemente. A imagem alta e fria do pai vindo em sua mente. Apenas a lembrança de sua expressão desgastada fazia a do próprio garoto tornar-se um pouco mais amarga e distante.

— Às vezes gostaria de poder ficar aqui com você o tempo todo. Você vive aqui há meses, Kal! Tão despreocupado... Pergunto-me porque não posso ser assim.

Kallier deixou seus dedos se entrelaçarem nos cachos do garoto. Sentia sua dor e sua angústia: era aguda, fria e pesada demais para um coração tão jovem. Queria poder ajudá-lo, mas trazia notícias não tão boas — carregada pelo vento frio, pelos grãos de poeira mornos e pelas folhas secas do chão, veio a mensagem que vinha aguardando com certo temor: em breve seria hora de partir.

Mas o garoto não precisava saber disso agora.

— Nosso tempo será mais curto então, mas não deixe de fazer suas tarefas. — Colin lhe encarou e Kallier sorriu com graciosidade — Se deixar de fazê-las, haverá consequências, e o tempo se move a partir de causa e efeito.

— Sei disso. — respondeu-lhe — Não sou tolo.

— Somos todos um bando de tolos, Colin. Nem mesmo a imortalidade corrige isso.

...

Quando o dia chegou, o espírito não aguentou o peso de suas emoções.

Sentiu o que deveriam ser lágrimas — brotaram sutilmente em seus olhos como gotas quentes de chuva, e Kallier ergueu o rosto para o céu apenas para ter certeza de que não havia nuvens —, nunca teve lágrimas, pois nunca fora humano para chorar, mas a tristeza em seu peito era tão sincera que se perguntou porque não podiam as árvores chorar também.

O garoto lhe encarou por vários segundos, em silêncio e sem entender nada. Havia tanto o que desvendar do mistério que era Kallier. Tanto a entender e perguntar. Colin sentia sua inquietude dos últimos dias, certa mudança em sua seriedade. Conhecia-o há quase um ano e isso parecia-lhe o suficiente para solucionar suas diferentes facetas.

— Por que choras? — perguntou, quando julgou que silenciara o suficiente.

O espírito lhe sorriu.

— Ah, Colin... — acariciou seus cabelos, sua voz era triste — terei que partir... não sei por quanto tempo.

Algo no humano agitou-se e o fez ficar alerta, duro como uma estátua e tão vivo quanto um leão. Não parecia assustado no entanto, apenas tenso por algo que sabia que aconteceria uma hora ou outra.

— Mas já? Vai me deixar justo agora?

Kallier tocou-lhe as bochechas, erguendo seu rosto para fitá-lo diretamente. Os olhos do mais velho eram tão verdes que Colin não conseguiu desviar a atenção, encarou-os, perguntando-se se era o mesmo tom de verde que seus cabelos tinham no auge da primavera.

— Não para sempre, criança, mas prometo voltar o quanto antes — tentou sorrir, afinal, possuía lábios para tal — Há tanta coisa que você não sabe sobre mim, Colin, tanta coisa que você nunca irá saber...

— Você precisa mesmo ir?

Kallier estreitou seus olhos por alguns segundos, assimilando a dor que o rosto triste da criança lhe causava. Não queria partir, não queria que aquele tempo acabasse, por mais inevitável que fosse. Sabia, no entanto, que não havia o que fazer.

Ele não era humano, afinal de contas. Nunca poderia ser.

Havia graciosidade em seus movimentos ao se afastar de Colin — e havia desespero em Colin ao vê-lo se afastar —, andando até sua árvore e erguendo-se na ponta dos pés. O humano observou seus dedos finos e delicados apanhando uma folha da árvore. Ela brilhou dourada ao tocar seus dedos, cheia de energia e poder.

— Olhe para esta folha, Colin. Vê como brilha? — perguntou o espírito, aproximando-se de novo.

O garoto ergueu os olhos, sincero, mas não menos triste.

— Vejo. — Kallier apanhou sua mão, relativamente menor que a dele própria, depositando ali a folha.

— Pois preste atenção no que direi. A folha irá continuar brilhando quando eu partir, mas de pouco em pouco, mesmo que você não note, o brilho sumirá. Quando apagar de vez e nada ser além de uma folha verde, estarei de volta aqui. — lhe contou, levantando-se. — Compreende, Colin?

O garoto olhou para a folha em suas mãos, brilhando em luz dourada. Não parecia custar muito para que apagasse de vez, o que lhe trouxe certo ânimo. Kallier voltaria rapidamente.

Permitiu-se sorrir. Sempre teve lábios para isso.

— Compreendo.

Mas Kallier não sorriu, apenas pousou a mão em seus cabelos de nuvens mais uma vez. Possuía lábios para sorrir, mas não era certo usá-los.

Ele sabia um pouco mais sobre o tempo do que o garoto humano.

...

O encontro entre os espíritos da floresta ocorreu muito além das montanhas do norte. Bem mais longe do que Kallier esperava. Traçara um longo caminho por campos e campinas, montes e montanhas. Juntou-se a outros espíritos familiares no percurso, desde árvores como ele até espíritos de rios e lagos, do subsolo, de vulcões. Custou-lhes noites, manhãs e tardes até enfim avistarem a bebida dourada e cintilante iluminando a noite de ceia. Nevava no dia, o chão era uma manta de lã tecida à mão e as árvores eram polvilhadas de açúcar.

Sentou-se à roda e bebeu do néctar e do vinho oferecido, enquanto o sol nascia e a lua surgia. Era noite, era dia, logo então já não nevava e já não era primavera. Era verão, mas logo deixava de ser. Foi Setembro por um tempo, mas não muito depois já era Abril e logo era Julho.

Kallier avistou Hinno em algum momento, o grande espírito da montanha, guardião não só dele como de todos os outros espíritos presentes. Escolhera a forma de javali — um enorme e nobre javali, digno de sua grandiosidade — para se apresentar durante a ceia que durava estações e estações, até então acabar.

A reunião teve fim em uma noite de outono e Kallier decidiu que era hora de retornar para casa. Colin o aguardava.

E ainda havia muitos sóis e luas até traçar o caminho de volta.

...

Haviam folhas marrons e laranjas por todo chão, como um carpete de cores escuras, e Kallier avistou sua forma de árvore não muito a frente. Estava nua, sem folhas alguma, os galhos secos. Havia sido atingida pelo outono severo e já não tinha tanto poder para resistir. Lembrou-se então de seus cabelos, puxando-os para frente. Estavam vermelhos como as folhas caídas ao chão, com saudade do verde da primavera que se fora há pouco.

Sorriu ao acariciar-lhe o tronco, tentando calcular quanto tempo teria antes que precisasse voltar à sua forma de árvore. Notou que o tempo não lhe era gentil em momento algum e que mais uma vez o futuro era uma gota de orvalho.

Mas acima de tudo, notou que não possuía tempo o suficiente.

Bem menos que um suspiro.

Colin precisava se apressar.

...

Mas Colin não veio, nem naquele dia, nem no dia depois desse. Passaram-se duas semanas, e Kallier já sentia-se fraco onde menos esperava. Seus olhos estavam embaçados e enganadores, enchendo-lhe de alucinações, suas pernas estavam frágeis como gravetos secos e seus braços dormentes e frios. Se esforçou, no entanto, para guardar toda a energia que podia para manter sua forma, desde os cabelos agora laranja até os lábios feitos para sorrir, porém sua pele já estava mais pálida e Kallier já não podia ver a cor do céu. Quando a cor do céu havia se tornado tão azul, e tão pouca cor do céu? Já não lhe soava tão belo, nem tão único.

E Colin não vinha. Os dias se passavam como raios e as noites eram ainda mais dolorosas, lentas e geladas, mas Colin não aparecia.

Temeu que houvesse esquecido.

...

Foi engraçado como Kallier entendeu o tempo humano. Estava tão próximo de seu fim, tão perto de nunca mais ver, nem sentir, nem ouvir Colin, que entendeu o tempo corrido que os humanos possuíam. Era desesperador sentir que sua vida escorrendo aos dedos, o tempo se tornando mais longo para causar a ilusão de algo aproveitado.

E era outono, estupidamente. Era outono e ele morria.

Três semanas eram milésimos de segundos entre um piscar de olhos para uma árvore. Mas Kallier não se sentia uma árvore. Cada minuto, hora e dia lhe pesava toneladas de ansiedade, e bastou chegar até a terceira semana para perder qualquer esperança.

Foi no fim da terceira semana que um carro entrou, estacionando no jardim. Era prateado, de janelas escuras e luzes amarelas, mais parecendo um soneto melancólico aos olhos embaçados de Kallier ou até mesmo uma peça pregada pela tolice de sua visão.

Passos se aproximaram e o ar de pulmões humanos sopraram perto. O espírito apenas precisou disso para estremecer.

— A luz da folha finalmente apagou — ouviu, pois ainda possuía ouvidos para tal. — Olá de novo, Kallier.

O espírito sentou-se mais ereto e apertou os olhos, não custando muito a avistar cabelos cacheados se movendo próximos, negros como o fio da morte, contrastando com o dourado que eram os olhos. Os olhos bastaram para sua visão focar novamente.

Piscou uma, duas, três vezes, rezando para o que tempo não lhe escapasse pelas brechas.

— Colin?

Ele sabia que era Colin. Conhecia bem os olhos e melhor ainda a sombra de suas sobrancelhas, tristes, porém maduras. O garoto estava tão alto quanto um poste e já não era garoto, não possuía a inocência na pele e nem a curiosidade nas rugas da testa. Havia à sua frente um homem adulto, alto e largo, com uma convicção fixada no olhar. Não parecia nada cético, no entanto.

— Você não mudou nada, nem um fio de cabelo. — afirmou, rindo de si próprio logo em seguida. ― Digo, os cabelos mudaram, lhe trazem um ar totalmente novo.

O rosto do espírito esquentou.

— Colin, me desculpe, demorei tanto... Você cresceu tanto...

Mas o Colin adulto parecia mais intrigado do que irritado. Carregava um traço encurvado na boca, brincando de ser sorriso.

— Você sempre foi tão estranho. Apenas não pensava que após quinze anos ainda seria o mesmo.

Kallier ainda possuía olhos e como árvores não choravam, chorou uma última vez.

— Eu vou ter que partir novamente, Colin. — sua voz era um sussurro fraco — Eu sinto muito...

Ergueu a sua mão esquerda, tocando os cabelos do homem à frente. Já não eram tão macios como antes, mas seus dedos não sentiam muita coisa. O tato era uma ideia distante.

— Muito breve? — indagou.

Kallier sentiu seus olhos embaçarem novamente, mas seus lábios ainda estavam intactos.

— Sim, — sorriu, vestindo uma máscara despreocupada. Era tudo o que podia fazer. —, sente-se aqui, vamos conversar uma última vez.

Colin sentou-se ao seu lado, olhando para frente. O silêncio reinou por alguns minutos, mas Kallier não achou um desperdício de tempo. Gostava do silêncio entre os dois, afinal, o humano sempre fora como uma luz por perto, sua presença bastava.

Viu a boca de Colin se abrindo e ansiou por escutar sua voz.

— Sabe, — começou ele — por alguns anos tentei me convencer de que você era fruto da minha cabeça. Algo como um amigo imaginário, criado para me ajudar num momento difícil. Bem, por um bom tempo eu consegui acreditar nisso.

— Sou um amigo imaginário que lhe segue até mesmo na vida adulta. — Kallier lhe direcionou o olhar, sorrindo. — O que o fez mudar de ideia?

— A folha dourada — contou, pondo a mão no bolso e tirando a folha. Estava verde, como se tivesse acabado de ser apanhada, mesmo sendo outono. —. Ela sempre esteve brilhando, até que apagou alguns dias atrás. Ignorei por algum tempo, mas resolvi vir até aqui para ter certeza. Moro na cidade agora, oitocentos quilômetros daqui.

O rosto de Kallier pareceu triste. Olhou em direção à casa, muitos metros à frente, grande como sempre fora. No entanto, parecia de fato abandonada. Havia trepadeiras descuidas crescendo em torno das janelas, ervas daninhas no jardim e telhas com problemas de manutenção.

— Muito mudou. O tempo sempre fez isso comigo, sabe. Cinco suspiros e então você cresceu. Mais dez e você já não estará aqui.

Sentiu os dedos de Colin em seu ombro.

— Posso lhe contar as coisas que mudou, se desejar ouvir.

Kallier assentiu, olhando nos olhos que mais pareciam tons borrados de dourado. Colin se aproximou mais e contou sua história. Falou que se formou em direito e viveu dois anos como advogado até o pai morrer, um ano atrás. Resolveu então largar a profissão e arriscar na arte, que era o que queria fazer desde cedo. Mudou-se para um apartamento menor que logo tornou-se um ateliê e tentava ganhar a vida disso, o mais feliz que estava há anos. O dinheiro era pouco, mas tentava não pensar nisso nem usar da sua herança, seria como se render aos caprichos e desejos do falecido pai.

Era melhor assim.

— Quando eu era menor tentava pensar sobre o que você era, ou o que fazia, mas sempre fui muito cético. Por um tempo achei que fosse um fantasma ou um anjo, mas depois resolvi assumir que fosse imaginário. Bem, acho que posso rir disso agora.

Kallier riu em seu lugar, feliz por ainda ter lábios para esticar.

— Algo mais mudou em você, além da altura, das rugas na sobrancelha e de tamanho ceticismo?

— Acho que sim, mas nada que lembre agora. E você, Kallier, o que mudou em todo esse tempo?

— Nada. Na minha concepção de tempo não lhe vejo há algumas semanas apenas.

Não disseram nada por um tempo, e o espírito se perguntava o que Colin pensava, tentando desvendar o segredo por trás de sua expressão dura. Foi então que o humano lhe encarou, meio triste, meio curioso.

— A minha cor favorita mudou, sabe. O tempo faz isso. Você faz isso também.

Kallier se ajeitou para ouvir o que o outro tinha a dizer. Virou o rosto para o lado, apoiou as mãos nas raízes de sua árvore e notou instantaneamente que estava partindo de novo. Seus dedos estavam marrons, duros, grudados à raiz que segurava como se fizessem parte dela. E de fato faziam.

Seu braço inteiro começou a enrijecer. Colin notou, abismado, mas o outro apenas se permitiu fitar a transformação, triste demais para reagir de outra forma.

— Estou partindo, mais uma vez. — comentou, fitando o chão.

Era tão injusto. Seu tronco inteiro já era raiz. O humano ao seu lado se agitou, agarrando o rosto do espírito entre suas mãos, temendo que ele sumisse bem ali.

— Kallier! Preste atenção! Minha cor preferida mudou. Já não é preto, nem cinza, nem azul e nem verde. — a respiração dele batia em seu rosto, e Kallier não tinha certeza se seus olhos já haviam partido — É a cor dos seus olhos, Kallier. Assim como o céu que não é apenas azul. Não é verde, são seus olhos.

O espírito sorriu, ergueu os lábios e deixou seus dentes surgirem. Atreveu-se a gargalhar, usou a voz o quanto pôde. Colin sorria para ele.

Mas não demorou muito, e logo a visão dele sumiu, junto de seus lábios e seus ouvidos. Já não sorriam. Tudo era sensação e o calor de sua presença em suas raízes.

...

Colin morava na cidade e pouco parava na sua antiga casa. Kallier sempre sabia quando ele se aproximava, uma vez a cada suspiro, para sentar-se aos pés de suas raízes como nos velhos tempos, um caderno de desenho em mãos. Se aquilo lhe inspirava ou apenas o deixava feliz, não sabia, mas se contentava com sua presença como sempre fizera.

Houve alguns suspiros em que Colin não apareceu na casa. Cinco, talvez. O tempo voltara a ser como antes, então Kallier já não sentia seu peso nem a dor dos sentimentos que seu corpo humano antes carregava. Isso tornava mais fácil as longas ausências do outro.

Árvores não choram, mas se chorassem Kallier teria o feito doze suspiros mais tarde, quando um Colin de cabelos grisalhos passou a habitar a casa em que nasceu, junto a seu único filho. O garoto tinha cabelos na cor de trigo e mais parecia um príncipe sem uma rainha. Kallier não tinha ideia do paradeiro da mãe da criança, mas não se importava muito. Colin lhe era o suficiente.

O Colin grisalho — que alguns tempos depois passou a ter manchas na pele e rugas demais no rosto — costumava passar as tardes próximo à Kallier, sentado aos seus pés, desenhando como costumava desenhar. O seu filho ia junto nos primeiros suspiros, sentava-se entre suas pernas e via-o traçar linhas e criar formas, no entanto, conforme crescia e os suspiros se passavam, Kallier acabava vendo-o menos e menos.

Mas Colin nunca parava de vir, e isso bastava. Bastaria por muito tempo ― ou nem tanto assim.

...

Não era outono quando o menino crescido morreu.

Ele veio a suspirar pela última vez no verão, e Kallier tinha certeza que chorava quando isso aconteceu, no meio da noite, por mais impossível que fosse o ato. Sempre soube, desde o momento em que viu seu primeiro suspiro, que estaria ali para o último ― e para o último de seu filho, e de seu neto, e de quantas outras gerações estivesse por vir ―, mas ainda era triste ver que enfim seus suspiros foram sentenciados, que o garoto dos cabelos de nuvem e olhar tristonho agora não pertencia àquele plano. Que o menino que o encontrou numa tarde de primavera pela primeira vez, dizendo que ele não devia estar ali, havia de fato ido embora. O mesmo menino que esperou por ele por muitas estações, agarrado à uma única folha brilhante.

Morto.

Kallier o amava tanto, mas tanto, que suas folhas caíram em pleno verão, como lágrimas de alguém em luto.

...

O filho de Colin o enterrou dez passos ao lado de Kallier, com uma lápide simples e sem muitos luxos. A cerimônia fora simples também, do jeito que ele próprio costumava ser quando era vivo. À frente de sua lápide foi plantado um salgueiro que não custou muito a crescer — Kallier o observava, silenciosamente, inspecionando e esperando para ver o que surgiria dali.

Levou muitos suspiros para descobrir, mas não era um problema.

O tempo era gracioso.

...

Foram necessárias centenas de anos, mas o dia chegou, e Kallier acordou novamente com o céu acima de sua cabeça, azul escuro com estrelas brilhantes como gotas de prata. Ergueu as mãos, atento aos sons do ambiente à sua volta, mas percebeu que não possuía nem dedos nem a pele lisa de um humano.

As folhas de suas árvores eram vermelhas, esperando para cair. Era outono novamente.

Pôs-se de pé sobre as quatro pernas, distraído e um pouco zonzo com o laranja de suas notáveis patas. Demorou um tempo até concluir que sua forma atual era de uma raposa, com pelo espesso e ruivo e patas delicadas e gentis. Não tivera a sorte de vir à forma na primavera — e lhe ocorreu então a lembrança de seus antigos cabelos, da cor das folhas, há muito, muito tempo. Tempo demais para lembrar.

Sabia que seus olhos se mantinham verdes intensos, o que lhe deixou um pouco mais seguro.

“Kallier?” escutou atrás de si.

Virou sua cabeça apenas o suficiente e fitou de canto de olho aquele que lhe chamava — já seria hora de partir? Era esse o chamado do vento? —, dando de cara com um lobo, enorme, de pelo castanho-avermelhado e patas pesadas.

Deu dois passos para trás, sereno. Sempre mantinha e nunca deixaria de manter a serenidade, mesmo sendo surpreendido por outro espírito um pouco depois de despertar.

O lobo continuou parado, fitando-o, até que andou em direção ao salgueiro e sentou-se nas patas de trás. O salgueiro de Colin ― disso ele não ousara esquecer, nem por um segundo. A lápide ainda estava ali, escura e coberta de folhas. Kallier se incomodou com alguém tão perto dela, parecia frágil com o decorrer dos séculos, temia que desmoronasse.

“Não deveria estar aqui.” Ditou, calmo “Deve aguardar pelo chamado no lugar onde pertence.”

O lobo inclinou a cabeça para o lado, notavelmente curioso.

“Não posso sair daqui, essa é minha casa”

A frase pegou o espírito desprevenido, mergulhado em uma sensação estranha, como um formigamento em suas lembranças. Aquilo lhe era estranhamente familiar, nostálgico e perigoso. Fez Kallier lembrar de detalhes nublados do passado, assim como o fez notar algo espantoso no lobo, algo que facilmente passaria despercebido.

Ali, enterrados como pedras preciosas no pelo cor de vinho, estavam dois olhos grandes, dourados como amêndoas, brilhantes e vivos.

“Continuo gostando da cor de seus olhos, Kallier” o lobo falou novamente. Estaria sorrindo se pudesse. “Nem o tempo mudou isso.”

Kallier sabia que raposas, assim como árvores, não sorriam. Eram parecidas nesse ponto. Se sorrissem, também poderiam chorar.

E, se pudesse, ele estaria fazendo ambas as coisas nesse momento.

Colin também.

FIM


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Notas finais do capítulo

Eu acabei desenvolvendo um carinho enorme por essa one (mesmo que a tenha odiado por um tempo igual) e espero que tenham gostado, mesmo que só um pouco, da história de Colin e Kallier.
Ficaria muito feliz se deixassem sua passagem aqui. Um "SOBREVIVI" já conta ahah! Com o tamanho dessa one, não duvido que alguém tenha morrido lá pela metade xP
Até mais!



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