Cálice de Dragão escrita por Neko D Lully


Capítulo 3
Seleção de Casas


Notas iniciais do capítulo

Yooo Mina-san~~~!

Primeira vez que não posto de madrugada Uhuuuu! Oh bem, vamos logo ao cap, por favor me ignorem (mas não as notas finais ;) )

Divirtam-se~~~!



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Seleção de casas

Pride piou em desgosto assim que chegaram a estação.

Provavelmente se encontrava incomodado pelos sons altos que ecoavam pela plataforma em que se encontravam, encolhendo-se mais e mais em suas madeixas ruivas como se seu cabelo pudesse ajudar em alguma coisa a abafar os diversos ruídos. Todavia, não podia deixar de se sentir nervosa cada vez que o pássaro tão raro se enfiava mais na curva de seu pescoço, não por temor a suas asas flamejantes, sabia perfeitamente bem que tais penas não lhe causariam dano, mas por não saber se os fios revoltados de seu cabelo poderiam embolar-se de forma irreparável no pássaro.

Nem mesmo queria imaginar a situação constrangedora que seria se caso, por ventura, tal fruto de sua imaginação chegasse a acontecer.

Respirou fundo, o cheiro de carvão queimado inundando seus pulmões provenientes da fumaça que era expelida pela chamativa chaminé do trem que se encontrava a sua frente. Uma enorme construção de metal cheia de janelas e compartimentos, preparado para levar todos seus ocupantes ao lugar onde passariam boa parte de seu ano. Provavelmente algum encantamento estava envolvido em seu funcionamento, mas inexperiente como era nesse assunto, não saberia dizer realmente se era verdade ou quais poderiam estar envolvidos.

Seja como for, ele era o motivo da total comoção que se mostrava ao seu redor. Mais um motivo do enfurecer borbulhante do pássaro em seu ombro.

Seus olhos deslizaram pela multidão, alguns rostos já conhecidos por serem, ou companheiros de seus irmãos ou simplesmente tê-los visto em outros anos quando acompanhou seus pais e irmãos para que embarcassem. Todavia, não eram nenhuma dessas pessoas que chamavam-lhe a devida atenção, mas sim a que se encontrava não muito distante, a conversar com seu pai, encobertos por um feitiço que não permitia que mais ninguém escutasse o que discutiam.

O rapaz que aparentava sua idade tinha um ar cansado, enquanto ouvia seu pai dizer vai se saber o que. Mãos nos bolsos das bermudas largas que usava por debaixo da longa vestimenta de bruxo que já estava posta, para economizar tempo, ao igual que ela. Parecia descontraído, os olhos encobertos pelas enormes madeixas negras desgrenhadas que mal alcançavam seus ombros, todavia, bastante grandes para um garoto. Suas botas negras remexiam o chão sob seus pés de forma entediada e repetitiva, mostrando todo o descaso que fazia para com o assunto tratado com o homem mais velho que tinha ao lado.

Reparou também que sua mãe também permanecia a encarar o rapaz pelos cantos dos olhos, desconfiada, enquanto tentava inutilmente arrumar seu cabelo que logo era revolvido pelo pequeno pássaro que tinha nos ombros. Ela estava nervosa, conseguia reparar por culpa de seus dedos trêmulos a tocar seu rosto uma vez ou outra. E bem, não poderia culpá-la por se sentir dessa maneira, mesmo que ela mesma estivesse nervosa por outros motivos e não pelo rapaz que agora sorria de forma marota para seu pai.

– Tem certeza que pegou tudo? - perguntou sua mãe, os olhos completamente focados em sua pessoa. Procurou apenas assentir com a cabeça, dando uma ligeira olhada para a enorme mala que estava depositada a seu lado. Roupas, utensílios, livros, tudo do que precisaria para passar o ano longe de casa. - Todas as roupas que precisava? Todos os livros? Varinha? E...

– Mãe, está parecendo a vovó. - reclamou, amuando um pouco com tais preocupações. Eles estavam se preparando desde muito tempo, sua mãe não se cansava de repetir o mesmo discurso de novo e de novo. Nem mesmo Albus e James, que já sabiam tudo o que precisavam desde os vários anos que já se aviam passado da mesma rotina, eram forçados a escutar aqueles mesmos discursos de sua mãe.

– Desculpe querida. Pareço mais nervosa do que você, não é? - um sorriso vacilante e a resposta já estava lá. Lily não poderia culpá-la, na verdade, se sentia feliz de ver que sua mãe não se encontrava em um estado melhor do que ela, e olha que já tinha passado pela mesma coisa com seus dois irmãos mais velhos. Talvez por ser a mais jovem a preocupação era um pouco maior. Por tal, tentou parecer confiante, estufando o peito e erguendo a cabeça da melhor maneira que conseguia. Sua mãe riu. - Lembre-se que se acontecer alguma coisa sempre pode nos enviar uma carta ou falar com seus irmãos.

– Eu sei, mãe.

– Prometa-me que vai ter cuidado. Principalmente com o... - ela não precisava completar a frase. Seus olhos escapando-se de forma fugaz para o lado indicava perfeitamente do que se referia. E por mais que compreendesse não conseguia se sentir da mesma forma. Sentia, por algum estranho motivo o qual não conseguia explicar, que não teria nenhum problema com seu novo acompanhante. Sentia-se confortável em sua presença, quase como se estivesse com algum parente ou até mesmo sozinha.

Mesmo assim, não poderia dizer isso a sua mãe, ela não entenderia se tentasse explicar. Por isso, era melhor responder apenas o que ela queria ouvir.

– Eu prometo.

– Ótimo. Agora vá para o trem antes que o perca, Rose já está a sua espera.

Não precisava olhar, era obvio que Rose se encontrava, já em seu uniforme, sobre seus pés nervosos perto da entrada do trem, apenas esperando que se aproximasse. James, Albus, Hugo e muitos outros já haviam se acomodado com seus companheiros e como elas eram novas não teriam ainda mais do que uma a outra. Os apitos do trem ressoavam continuamente, anunciando a partida e ela sabia que não poderia se demorar mais, sem contar o detalhe que teriam que se esforçar a encontrar um lugar em que poderiam ocupar.

Esperava que nem todos os vagões estivessem cheios.

Com um ultimo sorriso para sua mãe, um ultimo abraço e um ultimo beijo de despedida virou-se para finalmente aproximar-se da enorme locomotiva. Respirou fundo, engolindo o nervosismo que lhe travava a garganta e encarou duvidosa a enorme bagagem que tinha ao lado, não demorando muito para ver uma calosa mão segurando-a e erguendo-a sem quaisquer dificuldades.

O sorriso maroto que recebeu apenas ao erguer sua vista era o suficiente para mostrar que a bagagem não seria sua preocupação. Deveria seguir seu caminho apenas concentrando-se em manter seus nervos sob controle.

Passo a passo chegou até onde Rose estava, um sorriso nervoso em seus lábios mostrou que ela não se encontrava em melhores estados. Suas coisas foram facilmente postas no compartimento com a ajuda de seu companheiro e então adentraram no trem, caminhando pelas cabines a procura de uma que estivesse o suficientemente vazia para caber os três juntos. Todavia, para seu azar, haviam se atrasado de mais e a maior parte delas já estava abarrotada com os novos alunos ou com os mais velhos, com as raras exceções que apenas tinham espaço para uma ou duas pessoas.

Estavam prestes a desistir quando se depararam com um dos compartimentos mais isolados, a porta ligeiramente aberta e apenas uma pessoa dentro, com um livro em mãos e com um aspecto que só poderia ser dito como... Peculiar. Um cachorro branco do tamanho do que poderia ser um pastor alemão sentado sobre os bancos, balançando alegremente sua enorme calda e posando orgulhosamente com o estranho bigode que tinha abaixo do focinho.

Seu suposto dono era igualmente estranho. Pequeno, poderia ser facilmente confundido com uma criança de nove, oito anos. Cabelos curtos e desgrenhados amassados por debaixo de uma boina azul marinho bem escura, quase negra. Vestes simples, de trouxa pelo que viam, calções largos, quase acertando os tornozelos cheios de bolsos enormes e estufados, os pés pequenos ocupados por uma bota de couro rústica e desgastada que subiam até próximo o começo de sua canela, completando com uma blusa rasgada e amarrotada, botões brancos na frente destacando-se com o próprio azul manchado da veste de mangas compridas, todavia o comprimento encurtado até o umbigo, o qual permanecia a vista, por mais que a parte superior de sua bermuda chegasse muito próximo a ele. Era uma pessoa magra, muito magra, quase poderia dizer esquelética apesar das bochechas sardentas ligeiramente rosadas e rechonchudas. Pele bronzeadas, como se passasse o dia sob o sol escaldante enquanto os olhos, agora erguidos para que pudesse ver as pessoas que entravam, eram de um límpido azul com manchas verdes salpicadas aqui e ali, em um aspecto felino.

Um enorme sorriso surgiu em seu rosto quando encarou os recém chegados. Rose estremeceu ao seu lado enquanto Lily jurava ter visto aquela criança em algum lugar, aquele aspecto inocente não lhe era estranho.

Mas aquele sorriso... Aquele era capaz de reconhecer.

O sorriso do gato de Cheshire de Alice no País das Maravilhas.

– Hum... - começou, ainda um pouco duvidosa pelo choque do aspecto da pessoa que tinha sentada no canto mais distante do vagão, bem próximo a janela. - Podemos nos sentar? Os outros compartimentos estão cheios.

A garota, ou pelo menos parecia ser uma garota, fez um movimento com a mão, indicando que poderia se acomodar como bem entendessem.

O enorme cão, como se compreendesse o que estava a acontecer, saltou para o corredor do compartimento, espremendo-se próximo a sua dona, enquanto deitava sua cabeça em seu colo e choramingava ligeiramente. Ele farejou o ar, como se reconhecesse alguma coisa e então latiu feliz, sacolejando o rabo branco com tal alegria que quase acertou a perna de Rose sentada próximo a ele, forçando sua dona a acariciá-lo para que se aquietasse, com gestos simples em sua mão, como se falasse com o animal.

O trem sacolejou bem no momento em que se acomodaram, um apito ressoou mais forte e então começaram a se mover. O silêncio nunca deixando a cabine enquanto tentava ajeitar-se a presença um do outro, Lily tinha certeza que seu companheiro ao lado havia acabado de cair profundamente em seu sono, escorando desengonçado sobre a porta do compartimento.

Pelo menos ele parecia relaxado.

Pensando bem, quando ele não tinha uma aparência descontraída? Lily não saberia dizer, mas não era esse o assunto que lhe importava.

Seus olhos avaliaram a pequena garota no canto do compartimento, tranquilamente a acariciar a cabeça do cão albino enquanto lia vorazmente alguma coisa que deveria ser muito interessante em seu livro, carregando-o com apenas uma mão. Um pequeno sorriso estava desenhado em seu rosto, os pés sem encostar no chão, a cabeça do cão ainda sobre seu colo. Parecia tranquila, como se apreciasse uma boa musica em sua leitura, mesmo que não conseguisse ver nenhum aparelho auditivo em seus ouvidos.

O mais interessante foi que ela não havia soltado uma palavra desde que chegaram.

Pride piou novamente, escapulindo de entre as mexas de seu cabelo as quais havia se embolada e sacudiu as asas, como se as alongasse. Seu rosto permanentemente entediado observou onde estava naquele momento para então estufar as penas do peito e aconchegar-se mais no ombro que havia tomado conta como seu poleiro particular, soltando mais algumas notas melodiosas antes de finalmente se calar.

Os ombros da garota próxima a janela se moveram, como se estivesse a rir da manifestação da ave, todavia nenhum som escapava de sua boca. Lily a encarou, intrigada, tentando entender o que poderia ser tão engraçado. Entretanto, antes que pudesse abrir a boca para perguntar, a garota retirou de um de seus bolsos um pequeno caderno, um bloco de folhas brancas o qual ela folheou até finalmente parecer encontrar o que queria e anotar alguma coisa, a qual prontamente lhe mostrou.

Letras redondas, ligeiramente belas, todavia inseguras, trêmulas, como se ainda não fosse experiente em tal arte.

"Belo pássaro o que você tem, me faz lembrar de uma pessoa. Qual o nome dele?" estava escrito, o que levou a ruiva a acreditar que a garota ou definitivamente não queria falar ou ela não podia falar.

– Pride.

Novamente o lápis foi para o papel, rabiscando rapidamente sobre a folha e então o caderno foi novamente erguido na altura de seus olhos, possibilitando ver as próximas palavras ali escritas.

"Orgulho, em inglês, se não me engano. Um belo nome, realmente combina." um sorriso felino tinha tomado conta do rosto da garota, como se soubesse de algo que as duas outras meninas no compartimento não sabiam.

– Obrigada... Eu acho... - murmurou, um ligeiro rubor subindo por seu rosto enquanto inconscientemente acariciava as penas do peito da ave em seu ombro.

Aquela garota era um mistério, não poderia negar.

– Por que diz que o nome combina com a ave? - Rose se intrometeu, esquecendo completamente seu nervosismo e deixando espaço para sua enorme curiosidade que só conseguia bater com sua sede de conhecimento. Os olhos a brilhar de tal maneira que por um momento Lily ponderou se a garota próxima a janela não seria a mais normal do compartimento.

Novamente o lápis entrou em contato com as folhas do caderno.

"Além de seu jeito pomposo? Ele ficou a choramingar sobre o quão mal seus cabelos ruivos combinam com suas penas. Ele ainda reclama de não ter sido alimentado com biscoitos de boa qualidade, como ele merece."

Ó sim. Definitivamente aquele era um pássaro deveras orgulhoso.

– Como pode saber o que ele fala? Mágica? - Rose voltou a perguntar, entretanto a garota sorriu e negou, voltando a anotar em seu pequeno caderno.

"Tenho uma pequena capacidade que me ajuda a entender o que os animais falam. Não é exatamente magia, apesar de ser tão incrível quanto." um sorriso misterioso e o assunto parecia ter terminado por ali. A pequena garota não parecia muito disposta a informar que tipo de capacidade era aquela que possuía para lhe possibilitar tais coisas.

– Ah! Sinto muito, não nos apresentamos! - exclamou Rose, logo depois de alguns minutos de silêncio, o rosto rubro por tal detalhe importante. - Meu nome é Rose, Rose Weasley e essa é minha prima Lily, Lily Luna Potter. O rapaz dormindo é...

A garota negou, um novo sorriso gatuno desenhado nos lábios, os olhos cintilando com mais emoção do que Lily esperava ver. De forma fugaz ela encarou o rapaz e então voltou para as duas garotas com quem compartilhava a cabine. Lily não sabia como descrever a emoção que viu refletida no rosto moreno e sardento da garota de ar tão felino, mas era como se alguém tivesse acendido uma luz em seu interior e agora era resplandecia, deixando-a mais bela do que inicialmente se parecia.

O ar masculino e ligeiramente amargo, envelhecido com a vida, mesmo em idade tão jovem, havia desaparecido, deixando apenas uma garotinha, feliz. Simplesmente feliz.

"Meu nome é Blue. Em seu país deve ser escrito como Blue D. Kuroo. É um prazer."

Agora Lily compreendia porque ela vestia tanto azul, mesmo que fosse definitivamente estranho ver alguém com o mesmo nome dar cor com a qual se vestia, e mesmo assim era divertido. Aquela garota, tão misteriosa, tão quieta e silenciosa, parecia ser alguém legal, divertida talvez. Todavia, por algum motivo, novamente desconhecido, Lily sentia que a garota tinha mais cicatrizes do que poderia contar, muitas deles invisíveis aos olhos alheios.

Com um pequeno e singelo sorriso a garota se dirigiu a pequena bolsa a qual tinha acomodada a seu lado. Uma pequena mochila azul com manchas negras, de formato cilíndrico com um pequeno e bem escondido zíper na parte superior. Ela o abriu e retirou de dentro o que parecia uma caixa de madeira pequena, da onde retirou o que parecia ser um biscoito. Seu formato redondo e deformado, com ligeiras elevações aqui e ali, solido e poroso chamou a atenção do cão em seu colo, mas com um simples movimento de mão ele se aquietou novamente.

Seus olhos se encontraram, era como se pedisse permissão ao que estava pensando sem que precisasse dizer uma única palavra e Lily conseguiu entender, consentindo curiosa com o que a pequena garota estava pretendendo.

Devagar, esticando-se como podia, sem perturbar o cão em seu colo, a garota aproximou o biscoito do pássaro em seu ombro, pronta para entregá-lo com um enorme sorriso carinhoso em seu rosto, os olhos brilhando em nostalgia. Pride encarou, os olhos semicerrados, entediados, encararam com desconfiança a guloseima que tinha a sua frente, para em seguida dar uma rápida bicada, a qual arrancou pelo menos um terço do biscoito.

Assim que o pedaço foi jogado para dentro de sua garganta o pássaro ergueu a pequena garra, pegando o biscoito da pequena mão que lhe oferecia e então piou alegre, como em agradecimento pela guloseima que poderia agradar seu paladar exigente. A pequena apenas sorriu em agrado, maneando a cabeça em resposta para em seguida dar mais um desses biscoitos os quais pareciam encher a caixa a qual carregava para o enorme cão que permanecia deitado em seu colo, pacientemente esperando sua vez.

– Desculpa a pergunta, mas... - tomou coragem de abrir a boca, a voz ainda ligeiramente vacilante pela insegurança. Mas Lily havia conseguido o que queria e chamou a atenção da garota que agora concentrava-se em acariciar as orelhas do animal em seu colo. Os enormes olhos azulados encararam-na com atenção, esperando que prosseguisse. - Você por acaso não consegue falar?

Com um sorriso amargo a garota anotou novamente em seu caderno, erguendo-o para que pudesse ver a resposta logo em seguida.

"Tive problemas nas minhas cordas vocais quando era nova, desde então não consigo soltar um som."

– Desculpe.

Blue negou com a cabeça, mostrando que aquilo não lhe afetava mais. Provavelmente já havia escutado aquela pergunta outras vezes e Rose compreendeu que não seria educado nem aconselhável perguntar qual foi o problema que a pequena tivera. Seu olhar perdido em algum ponto distante da cabine já mostrava tudo.

O ar amargo havia retornado a suas feições.

– Hun hun... Bem, acredito que você é tão nova quanto nós em Hogwarts. Em qual casa você acredita que vai ser enviada? - Rose foi esperta, esquivando-se do assunto para abafar o constrangimento que tomou conta do lugar.

Por instantes Blue se manteve a pensar até que novamente ergueu seu caderno, a resposta já escrita nele.

"De acordo com o que me disseram e levando em base minha personalidade, acredito que vou acabar sendo mandada para Sonserina."

– É uma pena. - Rose amuou, parecia ter agradado da garota, e, assim como Lily, tinha certeza que acabaria em Grifinoria.

"Sendo sincera eu não compreendo para que dividir todos por sua personalidade. Eu acredito que, como seres humanos, temos as características de todas as casas. Dividir-nos com base nisso apenas aumentaria a discórdia e não a união. Agora, se me dão licença, tenho que trocar minhas vestes, acredito que, como tem uniformes, não posso me manter com minhas roupas atuais."

E sem mais nada a mostrar a garota se ergueu, esquivando-se do enorme cão que fez menção em segui-la, todavia ela o deteve com um movimento simples de mão, indicando que a esperasse na cabine. Acariciou-lhe a orelha e então partiu, sua pequena bolsa jogada sobre o ombro.

Lily desviou os olhos, ainda surpresa pelo que tinha lido, para o rapaz ainda dormido ao seu lado.

Foram exatamente as mesmas palavras, os mesmos pensamentos. Alguma coisa estava estranha em tudo aquilo, as atitudes da garota, seu jeito, assemelhava-se muito ao do rapaz ao seu lado, por mais que não conhecesse bem a nenhum dos dois para dizer isso com toda a certeza.

Alguma coisa em seu interior se inquietou e, com todos esses pensamentos em sua mente, dedicou-se apenas a esperar, acomodando-se em sua poltrona a esperar que finalmente chegassem a Hogwarts.

Seus anos lá poderiam estar prometendo diversas loucuras a mais.

Não tardou muito, deveria admitir. Aproximadamente uma hora mais tarde estava de frente para os enormes portões para o Grande Salão onde finalmente seriam selecionados para suas casas. Seu coração batia forte no peito, as mãos suavam frio e podia sentir um pequeno sorriso nervoso se formar em seus lábios. Estava ansiosa, nervosa, enjoada, eufórica, eram muitas emoções de uma só vez.

Uma respiração mais profunda, encarando o homem moreno a sua frente. Sua expressão firme e fechada passava calafrios, rugas aparecendo nas laterais de seus olhos, não tinha a aparência de alguém que costumava sorrir, cabelos curtos, alto, deveria chegar a um metro e noventa com facilidade, os olhos de um escuro castanho, tão penetrantes quanto os de uma águia prestes a atacar a presa.

Seus irmãos já haviam lhe falado sobre ele, o responsável da casa grifinoria. Ele havia substituído Mcgonagall depois que havia acendido ao posto de diretora. Era professor de Transfiguração e era muito bom no que fazia, todavia era severo, rigoroso, tudo o que se precisava em um vice-diretor e para que os alunos mais travesso o odiassem com todas as suas forças.

Lily faria questão de ficar o máximo possível fora de problemas, aquele homem não parecia muito amigável com aqueles que quebravam as regras.

As portas se abriram dando vista ao enorme salão com quatro alongadas mesas espalhadas em seu centro, comportando os alunos de cada casa. Mais a frente podia se ver a mesa dos professores, onde todos se reuniam a espera do anuncio dos novos alunos. Uma cadeira já os estava esperando, aliás, com o chapéu seletor tranquilamente posto sobre ele, cantando como todo o começo de ano. Fantasmas flutuavam de um canto a outro, às vezes conversando com alguns alunos, outros apenas cuidando de suas próprias pós-mortes. O teto enfeitiçado para aparentar o céu noturno do lado de fora, recheado de estrelas com algumas que outra nuvem a pairar aqui e ali. Velas iluminavam o resto do salão, flutuando sobre a cabeça de todos presentes ali.

Seu coração não poderia acelerar mais.

Uma cutucada em suas e logo um caderno apareceu ao seu lado, com a conhecida letra rabiscando as palavras:

"Todos conseguem ver os fantasmas?"

– Sim, por que?

"Todos mesmo? Sério?"

Assentiu novamente, estranhando o comportamento da pequena garota que espremia-se a suas costas. Todavia, não conseguiu fazer qualquer pergunta, os encantados olhos azuis manchados de verde deixaram-lhe completamente muda. Era quase como se ela estivesse extremamente encantada apenas com aquela simples informação.

Os nomes começaram a ser anunciados.

Um a um os estudantes caminhavam para frente, sentavam-se no banco com o pontudo e desgastado chapéu sobre suas cabeças que prontamente gritava a casa para a qual caminhariam. Como era de se esperar a pequena que se mantinha quase escondida em suas costas saltou quando anunciaram seu nome, ela parecia mais concentrada nos fantasmas que perambulavam de um lado para o outro pelo salão.

Blue saltitou pelo corredor até o banco onde deveria sentar-se, dedicou um afiado sorriso para o emburrado vice-diretor que bufou em resposta. Suas pernas ficaram elevadas quando acomodou-se na cadeira, o chapéu enorme sobre sua cabeça, forçando-a a tirar a boina que tanto apreciava.

– Hum... Essa sim é uma mente interessante. Vejo que não veio desse mundo, mocinha. - a voz do chapéu ecoava em sua cabeça, obrigando-a a sorrir ligeiramente em fascínio. - Curiosa, sua cede por saber é realmente considerável. E é esperta, apesar do que aparenta. Corajosa, não posso negar, o D em seu nome não me deixaria dizer o contrário.

– Sabe o que são os Ds? – aquilo sim a surpreendeu, os enormes olhos elevando-se para encarar a aba do chapéu em sua cabeça, que riu em divertimento.

Oh, sim! Não pense que são exclusivos do seu mundo. Existem muitas coisas que ainda não foram reveladas e não serei eu a lhe dar as respostas. - a pequena garota amuou, um pequeno beicinho formado em seus lábios formavam sua indignação. Ela sim queria saber. - O mais marcante é sua fidelidade, sim, você está apenas por culpa de tamanha lealdade para com aquele que lhe salvou a vida, eu posso ver. Mas não posso lhe enviar para Lufa-Lufa, não, sua personalidade mais marcante é seu jeito de manipular, enganar, poupa apenas poucos escolhidos de sua maldade, a teme também, eu posso ver. Sua crueldade, instinto vingativo deriva-se de um instinto superior em você, o qual você ainda é incapaz de controlar. Sinto muito, mas apenas posso lhe enviar para aquela casa.

– Sonserina!

O grito do chapéu reverberou por todo o lugar, assim como nas outras vezes e um pouco triste a garota se ergueu, saltando do banco e colocando delicadamente o chapéu de volta em seu lugar.

Desejo-lhe sorte em sua missão, pequena Nekomata.

Blue sorriu nervosamente, fez uma pequena reverencia ao chapéu e guiou-se a mesa a qual estava representada sua casa. Seus olhos vagaram para um silhueta distinta do outro lado do salão. Seus olhos também se depararam com as duas ruivas, que tristemente a encaravam direcionar-se para a casa inimiga da qual iriam parar. Acenou-lhes com um enorme sorriso, como se tentasse mostrar que aquilo não era o suficiente para quebrar uma possível amizade.

Lily não conseguiu evitar a tristeza que se apoderou de seu peito quando viu a pequena garota sentar-se com seus colegas de casa. Mesmo que tivesse sido avisada antes, manteve a esperança de que poderiam parar na mesma casa. Teve um sorriso triste quando a mesma lhe deu um aceno com a mão, o enorme sorriso típico do gato de Cheshire estampado em seu rosto, quase dividindo-o em dois.

Ela não parecia preocupada com a possibilidade de separação.

Com um salto ao anunciarem seu nome, deu passadas rápidas na direção do chapéu seltor, o coração batendo frenético em seu peito a cada passo que dava. Alguns olhares curiosos foram parar em sua pessoa, mas procurou ignorá-los, não precisava se sentir mais nervosa do que já se encontrava.

Sentou-se e prontamente o chapéu colocou-se a falar.

Mais uma da linhagem dos Potter. Espero profundamente que possa ter sua passagem tranquila por essas portas, minha cara, mas posso ver que, assim como seu pai, o que te espera pode não ser do seu agrado. - um calafrio passou por seu corpo e não dedicou-se a perguntar o que era, não queria saber. Estava com medo, pois sabia que era relacionado ao acontecimento no Beco Diagonal. - E assim como seus parentes essa casa é a que deve guiar-lhe em seus anos aqui.

– Grifinoria!

Com um suspiro cansado correu para seus irmãos que aplaudiam felizes junto a seus primos sua chegada a casa que tanto marcava a passagem dos membros de sua família.

Aquele ano aguardava mais surpresas do que ela poderia imaginar. E não era por culpa de um estranho visitante, ou de uma colega com um estranho sorriso gatuno ou seus pressentimentos constantes.

O que lhe aguardava poderia estar mais próximo do que poderia imaginar.


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Notas finais do capítulo

Capitulo fluiu rápido, e não acho que ficou tão ruim. Um pouco grande, talvez, mas acho que está bom.

O que acham?

Bem peço que deem uma olhada também na fanfic que me inspirou, por favor, onegai!

https://www.fanfiction.net/s/10407480/1/War-Mage

Ja na mina-san~~~!