Relatos de uma sociedade em crise. escrita por Lu Jackson


Capítulo 1
Assédio.


Notas iniciais do capítulo

Só quero lembrar que esse capitulo é baseado em fatos, absolutamente nada foi inventado.
Os nomes foram modificados para preservar a identidade e privacidade das vítimas.

Deixe sua opinião sobre o assunto, espero que goste do texto.



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Bem, essa seria a história de uma garota normal e com uma vida perfeita, mas eu estaria mentindo se dissesse que essa é a verdadeira história. A verdade é a seguinte: vivemos num mundo hipócrita que se baseai em estereótipos irracionais para tomar atitudes estupidas.

Eu era apenas uma garotinha de seis anos quando sofri meu primeiro assedio. Fui violentada por um parente meu, meu avô paterno. Incesto, pedofilia. É isso que faz o mundo ser um lugar tão evoluído, não é?!

Para mim aquilo era apenas uma brincadeira (ele afirmava que era só isso) e apenas com oitos anos que eu fui descobrir que aquilo na verdade era crime, parei já com aquela "brincadeira" e mesmo com o seu papo furado ("Por que você não quer mais brincar? Não gosta mais de mim, é?") eu me afastei.

Senti tanta vergonha de mim mesma, peguei uma mania de tomar vários banhos no dia apenas para tentar restaurar um pouco de minha dignidade. Aos nove anos contei tudo para minha mãe e ela me aconselhou a nunca mencionar isso a ninguém, de certa forma eu compreendo ela (minha mãe não quis me expor e fazer com que olhasse diferente ou torto para mim).

Os anos foram passando, atualmente tenho quatorze anos e já presenciei cenas que mostram o quão machista o mundo é. Velhos tarados lançando sorrisinhos, (tem uma diferença gritante entre um doce velhinho lançando um sorriso meigo e um tarado lançando sorrisinhos maliciosos) taxistas, mototaxistas, carinhas que trabalham em mercados, pedreiros, caminhoneiros, jovenzinhos que se acham os top (sem querer generalizar, só estou falando do que já presenciei) todos eles são tão sem noção.

Nenhuma mulher independente da idade vai querer ouvir coisas como “Nossa que gata”, “Que gostosa”, “Nossa que bundão você tem! ”.

Eu cansei disso! Acho que todas estamos cansadas. Não sou uma miss universo, fico com pena das garotas com o corpo com mais curvas que o meu (se está difícil para mim imagina para elas!)

Não desejo a ninguém ser chamada de feia afinal todos somos bonitos de nosso jeito, mas também não desejo a ninguém certos “elogios” e cantadas baratas.

Minha melhor amiga e eu tivemos já aturamos uma cantadinha barata (no momento eu não consegui processar nada e minha melhor amiga ficou com o trabalho de dar uma lição nos babacas).

Após falar umas poucas e boas eles foram embora rindo feito hienas, achei inadmissível, mas fazer o que? Eles eram os populares da escola, se achavam os donos do mundo e não tinham a menor vergonha na cara (falavam mal das garotas e diziam o quanto eram estupidas, retardadas e coisas do gênero).

E não foi apenas isso que eu e minha amiga fomos obrigadas a aturar. Um carinha do segundo ano do ensino médio ficou perseguindo ela e mandando seus amiguinhos falarem que ele estava afim dela.

Megan (esse não é o nome dela, é apenas um nome qualquer que irei usar para me referir a minha amiga) foi classificada como a garota com as maiores “tetas” e uma amiga já levantou minha blusa na frente de um garoto só para mostrar o que todos já sabem (meus quadris largos).

Acho que pelo menos uma vez na vida uma garota ou garoto já sofreu assedio. Isso é coisa séria, mas muitos tratam o assunto como se fosse apenas uma coisa sem importância.

E não importa o modo que estamos vestidas, eu adoro usar calças jeans e quando uso roupas curtas fico desconfortável (me sinto vulgar e exposta). A roupa não deveria ser um problema, eu deveria me sentir bem em usar um short e uma regata ou top Copper em um dia quente (eu já disse que amo usar calças, mas tem dias que simplesmente que o tempo não coopera e que temos que usar uma roupa mais fresquinha).

A irmã de Megan já foi assediada também. Ela é linda e possui um corpo cheio de curvas e por isso certa vez um homem de meia idade ficou lambendo um picolé e olhando para ela de forma maliciosa e sugestiva. Em outro momento ela teve que parar de andar em certa rua, pois um cara ficou perseguindo ela e tentando adiciona-la no facebook.

Não adianta tentar escapar, até mesmo inocentes crianças passam por isso. Não existe idade especifica, já li casos de chocar qualquer um (nem crianças de quatro anos escapam!)

E não, eu não gosto disso. Não quero que um pré-adolescente ou adolescente se achem no direto de bater no meu traseiro, de me tocar ou de ficar fazendo comentários indesejados. Ninguém merece passar por esse constrangimento enorme, ninguém merece deixar de comprar tal roupa por considerar vulgar demais (mesmo sendo apenas um short comportado).

As pessoas merecem respeito, mas pelo visto isso é pedir demais mesmo estando em pleno século vinte e um!

Quando alguém passa por isso acaba muitas vezes guardando para ele mesmo por vergonha de si mesmo ou do que vão de dizer. Por muito tempo eu pensei que a culpa fosse minha, mas após ser assediada por um pedreiro no ano passado (eu estava fazendo arrecadações para um projeto escolar e adivinha só.

Eu estava uniformizada com minha calça e blusa do colégio) eu percebi que a culpa não era minha. Muitos resolvem guardar essas histórias em segredo. É humilhante, nojento, degradante... deu para entender que é difícil admitir isso.

Muitas vezes escondemos o que passamos e dificilmente alguém acredita no que dissermos. Denunciar é recomendável. Confesso que eu devia ter feito isso, mas nem sempre uma garotinha de seis ou quatorze anos é corajosa o suficiente para contar ao mundo o abuso que sofreu.

Se você apoia essa barbaridade (o assédio) desejo que alguém bata no seu traseiro, te faça cantadas estupidas, te encare como se você fosse mercadoria e não um ser humano, te persiga ou tente te tocar. Só assim você irá saber como eu e várias outras pessoas nos sentimos em relação a tudo isso.


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