Sociedade dos Corvos escrita por Raquel Barros


Capítulo 26
Capítulo Vinte e Cinco - Gwen


Notas iniciais do capítulo

Eu pretendia que esse fosse um capitulo Caleb, mas sei lá. Meu coração estaconfuso sobre ele e Gwen. Só espero que esse comentário não seja um spoiler kkk.



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Bonnie é muito legal. Ela me levou para conhecer Onyx para mim distrair. Meus pais também estavam se esforçando para que eu sempre estivesse ocupada, me sentisse útil e esquecesse o Caleb que não fez nenhum bem para mim. Ainda doía e uma parte de mim sentia que eu era um caco, nem um pouco digna.

As manhãs eu passeava como loba pelas florestas ao redor. Por algum motivo estava ficando cada vez mais cansativo me transformar. E mais difícil, como se o botão de ligar a forma de lobo estivesse emperrando. Possivelmente as causas são psicológicas. Em uma dessas voltas vi meu pai conversando com dois homens altos. Um deles era ruivo. Imediatamente tive a sensação de estar morrendo. Respirei fundo e imediatamente me acalmei. Não tinha o cheiro de Caleb. Na verdade, não tinha um cheiro conhecido.

Antes que eu saísse, os dois homens olham para mim. O ruivo era já um senhor com aparentes cinquenta e tantos anos. Tinha rugas e fios cinzas. Parecia uma versão mais velha do meu pai. Ao lado dele tinha um jovem da minha faixa etária, com cabelos castanhos acobreado, quase um ruivo, olhos de cores diferentes, franziu o cenho imediatamente ao me ver. Mal educado.

—Essa é sua outra filha.

Afirma o senhor. Meu pai suspira. Ele parecia ligeiramente impaciente. Cam raramente parece impaciente.

—Gwen, troque-se e venha cumprimentar seu avô.

Pede meu pai. Fico surpresa. O velho é o famigerado vô que nunca conheci? Me transformo em humana e visto um vestido rosa que coloquei por perto. Vou para dentro da casa. Meus pais e os convidados estavam no jardim interno, onde tinham posto uma mesa. Sento ao lado.

—Achei que seria mais alta.

Comenta Marvel, meu avô, para Cam. Meu pai levanta a sobrancelha. Eles não tinham um relacionamento muito bom.

—A Lucy é muito alta, achei que essa seria também.

—Gwen dormia tarde.

Explica minha mãe. Pego um pedaço de bolo. Por que ele está a citar a Lucy? A última pessoa de quem eu quero ouvir falar. A penúltima na verdade. Se esse senhor falar do Caleb, não sei nem o que posso fazer. Já chorei tanto nos últimos dias que tenho até dor de cabeça com a possibilidade de chorar novamente.

—E vocês estão animados com o novo neto?

—Estaria mais animado se Lucy tivesse ao menos nos avisado. Não mandado mensagem por aquele outro.

—Ouvi dizer que estava enrolada com o pai do filho de Lucy, o Caleb. É verdade?

Pergunta o senhor Marvel virando-se para mim. Velho fofoqueiro. Fecho a cara imediatamente. É isso que dar ouvi o burro do coração. Só o que me faltava.

—Para de enrolar e fala logo o que você quer.

Corta o meu pai, tentando ser respeitoso e falhando miseravelmente. Eles não se dão bem mesmo. Marvel parecia indignado quando perguntou:

—Isso é jeito de tratar seu pai?

—Se fosse antigamente, eu nem falaria com você.

—Eu sei que você vai cuidar de mim na velhice. Vou pedir um favor: cuida desse pirralho para mim.

Pede Marvel apontando para o moço ao lado dele. Esse dava aula de silêncio. O moço de cabelo castanho olha para Marvel com as sobrancelhas franzidas e depois para o meu pai, que estava com a maior cara de mau gosto que já o vi fazer.

—Acho melhor não.

Diz o rapaz, com uma sensatez que eu invejei. Se eu fosse sensata desse jeito não tinha me envolvido com Caleb. Meu pai pergunta com um toque de despeito:

—Você arranjou outro filho?

—Não, ele é bisneto mesmo. E você sabe como sou. Uma pessoa animada, cheia de vida, aventureira... E esse moço só tem corpo de novo, mentalmente é mais velho do que eu.

—Não é muito difícil aparentemente.

Resmunga minha mãe baixinho como se ninguém a conseguisse ouvir aqui. E todos realmente fingem que não ouviram. Meu pai franzi a sobrancelha e interroga:

—Você quer que eu cuide de alguém que nunca vi na vida?E esse rapaz não é adulto?

—Sim, mas custa alguma coisa ele receber algum auxílio enquanto não termina a faculdade? É só um quartinho no canto.

—Na verdade, custa.

Responde o moço. Ele também estava desgostoso com a ideia. Meu pai concorda:

—E eu tenho uma filha dentro de casa, não faz sentido colocar um estranho de procedência duvidosa.

—É neto de seu irmão mais velho, não tem procedência duvidosa.

—E eu não tenho interesse na sua filha. Parece um zumbi.

Retruca o moço. Ele está de que lado mesmo? E realmente estou parecendo um zumbi, então a ofensa tem um terço do peso. Respondo apática;

—Obrigada.

—Viu?!

—E por que o pai dele não cuida dele?

Continua a interrogar Cam. Aparentemente ele não acreditava muito no que o moço disse. Eu acreditaria. Parecia verdade. Apesar de eu já ter me enganado antes. Marvel responde:

—Morreu recentemente.

—Estou ouvindo agora.

Suspira Cam, diminuindo o ímpeto do "não" para um "talvez". Marvel continua:

—Descobri recentemente. A mãe dele também morreu.

—Meus pêsames.

Diz minha mãe, com o coração amolecido. O estranho responde:

—Obrigado.

—O que você acha?

Pergunta meu pai a minha mãe. Ela sorri ao responder:

—Acho que podemos dar um quarto.

—E você Gwen?

Pergunta a mim. Dou de ombros e respondo:

—Não me importo.

—Bonnie?

—Também não.

Concorda a tia. Meu pai suspira e conclui:

—Ele pode ficar, mas vou expulsa-lo se não seguir as regras da casa.

—Qual é seu nome?

Pergunta minha mãe, com seu melhor sorriso simpático. O convidado responde:

—Fenrir Lupus.

—É melhor se comportar.

Diz meu pai com um tom de ameaça. Fenrir responde:

—Pretendo estudar, arrumar um emprego, e começar a pagar o NSS o mais rápido possível e me aposentar antes dos cem anos. Não tenho tempo para fazer mais nada.

—Eu também quero! Por que eu não fiz isso?

Digo em voz alta, indignada com minha burrice. Se eu tivesse ocupada não tinha me envolvido com o Caleb. Eu acho que não. Meu pai ofendidissimo responde:

—Não foi por falta de opção, de aviso e de dinheiro.

—Nunca é tarde para começar.

Minha mãe responde dando um olhar noventa e nove para ele:

—Quero fazer faculdade.

Afirmo como se tivesse achado um novo rumo para minha vida. De certo modo, eu achei. Vou estudar, arrumar um emprego... Fazer alguma coisa da minha vida. Minha mãe espreme os olhos e interroga:

—Qual?

—Sei lá, só quero fazer uma.

Respondo como uma tinta. A cara do meu pai dizia algo como: minha filha está perdendo QI só de respirar. Meu consolo é que ele possivelmente só pensou. Caryn pacientemente responde:

—Escolha primeiro.

—E você pode trabalhar como guarda florestal.

Complementa Cam controlando a expressão. Minha mãe sorrir e concorda:

—Negocios da família.

—Como se candidata?

Pergunta Fenrir como um lobo faminto atrás de uma presa. Minha mãe responde:

—Manda um currículo. Tem que ser um Wolf, você é um?

—Sou um Wolf.

—Tem uma alcatéia?

Interroga Cam. Isso é só para oficializar. Fenrir tem cheiro de um Wolf, mas está perto do Marvel pode ter influenciado o cheiro dele. O moço responde:

—Não.

—Então você é um lobo solitário.

Comento sem maldades. Fenrir confirma:

—Sim, igual a você.

—Não, não, não. Não sou não.

Nego como se minha vida dependesse disso. Olho para meu pai e sinto a verdade me dando uma rasteira. Ele confirma:

—É sim.

—Está de brincadeira comigo?

Questiono não querendo admitir a verdade. Novamente a resposta do meu pai me faz querer me encolher e chorar:

—Não.

—Vontade de matar o Caleb.

Fungo de coração estraçalhado. Então aquela sensação que tive de conexão com Caleb e o silêncio nos últimos dias era realmente por que eu mudei de alcatéia. E como rompi com Caleb, rompi a alcatéia. Meu pai dar de ombros:

—Fazer o que, né?

—Fazer o quê? Fazer o quê? Sou uma loba de alcatéia. Como vou sobreviver sem uma alcatéia? Pai me socorre.

Surto de leve. Cam suspira e mais suavemente responde:

—A vida adulta chega para todo mundo.

—Mas eu não estou preparada para minha.

Respondo segurando o choro. Minha vida realmente deu uma volta de ponta cabeça. Fenrir resmunga com a sobrancelha pontuando:

—Patetica.

—Eu sei.

Eu choro de verdade agora. Esse idiota. Vou morrer desidratada. Uso o lenço de papel para assoar o nariz. Fenrir pareceu imediatamente arrependido. Ele suaviza o tom e me diz:

—Você não deveria deixar um estranho te chamar de patética.

—Eu sou patética.

Repito com o nariz todo entupido, em um ápice de tontisse, ao chorar na frente de um estranho. O que está acontecendo comigo?

Fenrir franze as sobrancelhas, suspira e pede:

—Repete comigo: vai cuidar da sua vida.

—Vai cuidar da sua vida.

Repito fungando. Só quero parar de pagar vexame.

—Isso aí, toma um pãozinho.

O moço dar uns tapinhas na minha cabeça gentilmente e coloca um pãozinho na minha mão. 

Marvel, o avô, rir da nossa cara:

—Nossa Fenrir, fez uma garota chorar no primeiro encontro.

—Ela ia chorar de qualquer forma.

Retruca Fenrir. Pior que é verdade. Não digo nada, só dou mordidinhas no meu pão em paz. Possivelmente ainda estou com cara de filhote abandonado, por que Fenrir me dá seu pedaço de bolo quando termino o pão:

—Toma um bolo, vai! Come.

Pego uma garfada desconfiada. Até parece que um pedaço de bolo vai me consolar. Fenrir como se tivesse lido minha mente diz:

—As coisas vão melhorar.

—Vão?

—Sim.

Não sei o porquê, mas alguma parte do meu coração acreditou sinceramente nesse estranho. Sou trouxa mesmo. Tsk.

 


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