A música tinha parado.

– Mãe... O que a senhora está fazendo aqui?

Aquela mulher em trajes roxos olhou ao redor com sua cabeça tão alta quanto uma divindade. Ela tinha uma pele muito clara, cabelos acobreados majestosos presos em um luxuoso aparato abaixo de sua coroa.

Seus olhos eram puro fogo e cintilavam de verdade como um.

Era uma mulher linda realmente.

Ela tinha acabado de entrar pelo salão logo após Cleo lhe indica-la. Alguns guardas entraram com ela e formavam dali até onde os olhos não podiam mais ver pela mansão, um tapete de guerra.

May se manteve parada em frente aquela senhora, no entanto, a uma distância segura. Mais nervosa do que nunca se lembrou de já ter estado.

– Princesa de Krasfgar. Faça jus ao seu título pelo menos uma vez e se dê o mínimo de respeito. Eu vim leva-la para casa. Você está voltando comigo. Chega dessa estupidez, isso acaba hoje.

– Meu relacionamento com o Liam não é uma estupidez. – May disse ainda sem se mover.

– Seu o quê...? Isso não é um relacionamento, princesa tola. Com quem? Liam...

Então todos se viraram, inclusive a rainha com uma frieza e segurança no seu rosto se virou parecendo deslizar pelo salão, que abriu espaço deixando sua visão cair sobre a grande mesa do outro lado do cômodo.

Onde Liam e VK estavam sentados sobre ela com Pone. E Liam o esfregava no rosto do garoto que brigava tentando sair debaixo dele e o loiro só ria.

– Esse. – A rainha constatou então.

VK se sentou direito ficando instantaneamente tenso ao ver a atenção sobre ele daquele novo ser que entrou no salão. Liam ainda olhava para a criança, mas foi deixando sua risada esvair e transformando-a em um daqueles seus belos e audaciosos sorrisos, que puxou lindamente o canto de seus lábios quando olhou para a mulher nas vestimentas roxas.

Ela era linda, foi o seu primeiro pensamento.

Então ele entregou o filhote para o menino segurar.

– Vossa majestade... – No entanto, quem falou foi Lucio, o melhor amigo de May, amigo de infância. Que na verdade era um rei, de uma realeza importantíssima, ele governava com maestria já há algum tempo, uma ampla e antiga porção de regiões no universo, sendo que Krasfgar se incluía em suas jurisdições. A família de May sempre teve um enorme respeito e estima por ele.

Desta forma, ele veio intervir. Porque de fato, ele sempre interveria, por May.

– Eu agradeço sua intenção, Julian. Mas nem eu, nem a May, precisamos de sua ajuda por aqui hoje. De qualquer forma, muito obrigado. Você sabe que sou grato a você por muitas coisas... – Liam o cortou e disse se aproximando de onde Lucios tinha se colocado. – Rainha de Krasfgar eu fico feliz em ver que aceitou meu convite.

Dizendo isso, Liam se virou para a rainha informalmente, coçando seu rosto parecendo pensativo.

Então ele deu alguns passos na direção dela e seu exército, assim como a própria rainha se tornaram rígidos pela primeira vez ali dentro. O loiro a encarava e sua presença, parecia por si só nesse momento, empurrar a pele deles de forma com que se sentissem esmagados...

Parecia quase como se o ar ao redor se tornasse rarefeito.

– Posso ver que a senhora gostaria que nos curvássemos... – Ele olhava em seus olhos que chamuscavam ainda como tochas reais por dentro. – Eu não teria nenhum problema em me curvar para alguém como Vossa Majestade.
"Se me pedisse por isso. – Então ele completou como um desafio.

Eles se encararam por um tempo, a mulher não disse nada. Seu olhar congelado nele, somente liberando fagulhas em sua postura endurecida e programada.

– Pois é, é uma boa decisão. Nos tratarmos informalmente... Considerando que a senhora já possui uma marcação e, caso, dissesse algo assim, algum Ninfú aqui presente, poderia interpretar errado e fazer algo contra uma tão ilustre presença.
"E afinal, a senhora é minha convidada... E alguém importante para a May. Isso iria perturba-la. – Liam encarou MaySteel, que permanecia em sua pose decidida e séria, assim como a rainha no meio de todos.

Os três faziam um triangulo, envolto por guardas. Ninfús e realeza... Alguns não reais também afinal.

Os olhavam com atenção. Tensão.

No entanto, não era exatamente o que se podia dizer dos Ninfús por ali... Na verdade, Ren por exemplo, continuou pintando Luna. Quando a garota ia se virar, ele a lembrou novamente de não se mover, continuando sua atividade relaxante. Não iria deixar que algo assim o interrompesse, obviamente.

Muitos outros Ninfús por ali reviravam os olhos inclusive. Enquanto o restante só assistia, como a um espetáculo, arranjando um local confortável para esperar.

– E por você ser importante para ela. Assim como... Esse cara. – Liam apontou para Lucios se virando para ele. – Vocês estão aqui hoje. Porque o que eu tenho a dizer, eu gostaria que estivesse claro para todos vocês.
"Assim como para as outras pessoas por aqui, pessoas importantes para mim.

E foi a vez que ele riu baixo emitindo um pequeno volume de ar de seus pulmões, antes de que continuasse:

– O Neo me perguntou porque eu me importo. Eu não sei se quero saber responder. Talvez eu só queira ser humano quanto a isso e fazer disso uma família.

"Vocês são pessoas que eu me importei em conhece-las e acreditem, eu conheço profundamente cada um de vocês, seus medos, suas motivações, suas aflições, seus sonhos... – Ele andou ao redor e olhou para Alla parada ali ao lado, mais tensa do que deveria. Mas ela estava era preocupada, preocupada com ele. Ele apenas sorriu quanto a isso.

Liam então olhou para o Ren sentado no sofá, o garoto frio só estalou a língua e revirou os olhos discretamente, da mesma forma que abriu um sorriso que sabia que quem importava veria.

Liam acenou para si mesmo, ainda sorrindo.

– Alguns que pude aprender coisas enquanto tentava ensinar algo.

Então ele se aproximou da mesa de alguns Ninfús, onde inclusive seus dois primeiros alunos estavam. Eles não tiveram nenhuma grande expressão, Liam também não, mas eles estavam interessados naquilo e Liam não precisava de movimentos deles para saber disso. Na verdade a fala é uma linguagem tão primitiva, Ninfús nunca precisaram dela para se comunicar, só o fazem porque convivem com humanos, que precisam dela...

O loiro continuou:

– Eu apenas passei a me preocupar com eles e eles simplesmente retribuíram. Eles começaram a se importar comigo mesmo quando eu não preciso disso, mesmo quando eles não poderiam ou não deveriam...

"Essas pessoas que se tornaram importantes na minha vida, não pelo sangue. O que não tira nenhum do seu mérito Brother! – Ele apontou para Neo ao fundo, que com seus pés sobre a mesa digitava informalmente em uma tela de seu celular, sem ter parado ou sequer ter olhado para o seu gêmeo uma única vez, desde que essa rainha entrou. – Mas você sabe disso... – Liam disse em suspiro mudo, abrindo um sorriso convencido em seu rosto, por um momento curto como uma provocação direta a sua cópia.

– Mas são pessoas que aceitaram construir algo comigo e passaram a verdadeiramente me pertencer. Me fizeram pertencer a algo novo também. Algo que eu posso convencionalmente chamar de família. E eu gosto de chamar de família...

Dona Elsa o olhava, assim como toda sua família em uma grande tensão, Liam olhou para a senhora de áurea e rosto bondoso e lhe deu um leve, mas verdadeiro sorriso. Aquilo tinha um significado tranquilizante, quase como se mostrasse que ele simplesmente estaria com ela.

– Ninfus normalmente não gostam de se envolver com todas essas emoções conflitantes por diversos motivos...

"Mas eu acho que é uma parte do mundo, que independente de ser certo ou não, bom ou não, merece ser vivida, experimentada. E é realmente divertida. Não tiro a necessidade de um certo controle em tudo isso.

"Muitas vezes humanos não tem e não conseguem se regular por conta própria, ultrapassam o bom, colidem e geram grandes estragos por ai...

Seu olhar passou pela rainha algumas vezes. Até se voltar ao seu público.

– Mas se permitir a ser humano um pouco, nem que seja em pequenas coisas, é algo incrível que apesar de todo o além que você pode aprender com isso. É algo que simplesmente faz as coisas por aqui mais... Bonitas, dão sentidos mais leves aos seus dias... E talvez ignorar isso, os faz esquecer o motivo pelo qual eles existem. Eu não me arrependo de ter feito nada disso, porque vocês são pessoas fantásticas que me permitiram conhece-las e ter tempos fantásticos... Pessoas que pude ouvir suas conversas... E passar um tempo ao seu lado...

"Obrigado por isso... Por confiarem em mim e se permitiram fazer parte disso.

"Considerando então que minha família está aqui, pessoas que se importam comigo e que eu me importo que saibam...

"Assim como a família da May.

"Gostaria de fazer um pedido, algo que vai aumentar a família de todos nós. – O rapaz sorria. – Gostaria de pedir... – Liam foi para o centro, se aproximando da divina princesa, mística diriam. De beleza indescritível. O loiro pegou a mão dela e lhe abriu um curto sorriso, era algo encorajador e ao mesmo tempo provocante, fez o corpo da garota se arrepiar. – MaySteel, aceita ser minha? Garota, namorada, mulher... Princesa. Não me importo. Só quero que você seja minha. Porque a mim, você já tem... Você sabe, há muito tempo, amor.

Ela o olhava sem reação, no alto, um encantamento sobrenatural percorrendo sua mente ao encarar aquele rapaz loiro a sua frente, a personificação da perfeição. E somente tudo que ela precisava para viver. Nada mais, nada além e nem uma gota a menos.

Ele então se ajoelhou a sua frente.

– Isso ajuda? Eu preciso da sua resposta.

MaySteel só o abraçou com lágrimas nos olhos. Liam se levantou retribuindo o abraço e, em seus braços, a garota sentia que enfim podia respirar.

– Você disse que eu nunca tinha lhe dado um anel. – Ele replicou se afastando dela e tirando uma caixa transparente de seu jeans. – Você quer?

Ele abriu para ela ver, havia uma incrível pedra da cor dos olhos da garota.

– Liam, você não tem que me perguntar nada disso. E isso você sabe. A única coisa que eu preciso é você. E é um orgulho para mim fazer parte da sua família. – Um sorriso inestimável se abriu no rosto da menina enquanto ela olhava ao redor. – Eu nem acredito ainda que eu posso. De qualquer forma, essas pessoas, querem competir comigo, quem gosta mais de você. E eu não vou permitir isso! – Ela levantou a voz de forma controlada, digna de uma verdadeira realeza, com exceção que aquilo era um tipo de brincadeira que não era esperado de alguém real.

Então ela sorriu de volta a todos e parou seu olhar sobre o Liam. A garota respirou fundo, deixando seu sorriso mais genuíno no rosto antes de continuar endurecendo sua expressão como sabia fazer de forma controlada e se virando para a rainha.

"Vossa Majestade, eu entendo minha responsabilidade com Krasfgar. Acredite, eu aprendi sobre isso durante minha vida inteira. Eu daria minha vida por Krasfgar. Eu amo aquele lugar. Mas eu não faria isso porque você acha melhor assim. Não faria isso porque vocês pensam ser o melhor jeito. Nesse momento eu não estou indo a lugar nenhum. E eu gostaria muito que vocês pudessem entender isso. Vocês, meus pais.

A rainha não se moveu e nem tentou rebater nada do casal, mas com certeza ela não concordava.

May disse aquilo porque era seu real desejo, mesmo que ela soubesse que isso não iria nunca acontecer.

Krasfgar é um local de tradições e riquezas inimagináveis. MaySteel, última princesa Krasfgar, a mais pura de sua raça. Que com tanto esforço tiveram para preservar. Ela deveria estar em Krasfgar agora, fazendo o que seus pais dizem e representando tudo de melhor que existe naquela expansiva região.

Eles já tinham feito coisas horríveis para mantê-la lá, mas mesmo a rainha Krasfgar, não seria egocêntrica o bastante para achar que podia fazer algo ali.

– Saibam que a família de vocês aumentou, eu espero que vocês me recebam bem, porque eu já adoro cada um de vocês. E eu sei que vocês já gostam de mim, mesmo que um pouquinho.

Liam riu de May.

– Então sim Li, é óbvio que eu quero esse anel aí.

O loiro antes, sem poder se conter mais, colocou a mão próxima de sua nuca e puxando para um beijo apaixonado, onde a garota se entregou instantaneamente ao toque do rapaz. Liam então se afastou, e ela sorriu para ele sem graça pela forma como ele lhe afetava tão rápido, mesmo na frente de todos, ela mordeu o lábio olhando ao redor não ligando realmente no fim.

Liam retirou o anel daquela pequena caixa e pegou a mão com dedos lindamente delicados da princesa. Com um movimento lento colocou no dedo dela. Enquanto dizia:

– Ah, e rainha. – Disse chamando atenção da mulher ainda ali parada olhando para eles com o mesmo olhar endurecido desde o início. – Isso entre eu e a May. Isso. Sempre foi um relacionamento.