The five dreams escrita por Yasmin


Capítulo 17
Saudade


Notas iniciais do capítulo

Oi, amores....
Feliz Natalll...Era pra eu ter vindo mais cedo, porém, eu estava comendo.. rssrsrsrs
Espero que gostem.
Bjs



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— Nunca mais diga isso entendeu... Nunca mais...

 Confesso que o estado aterrorizado de Kantiss me assustava, nunca imaginei que a veria dessa maneira, é sempre tão alegre e falante. Realmente não consigo entender o motivo de seu surto. E isso me deixa completamente preocupado, mas ainda assim, a abraço apertado quando escuto ela repetir que os pais estão mortos e que ela deveria estar também.

E ouvir isso, fez meu peito doer, doer tanto que não me importei com todo o resto, só peço que não repita essa frase. Toco seu lábio com meu polegar e intensifico nosso abraço. Ela não recua apenas se entrega, segundos depois sinto a tensão do corpo dela evadir-se.

 — Vamos pra casa, ok? — Digo quando o barulho irritante de buzinas se torna ensurdecedor e um policial rodoviário, bate em nossa janela indagando se está tudo bem. Então, me lembro de que estamos bloqueando todo o trafego da rodovia e principalmente estagnados, no trecho mais perigoso dessa rota. Ou melhor, no mesmo local do acidente de Sabrina. — Já estamos saindo — Rapidamente, trocamos os assentos e eu assumo a direção, enquanto dirijo, ela mantem o olhar vago. Está perdida nos seus pensamentos. Nos medos eu realmente não sei o que pensar de tudo isso. Por que ela não sincera comigo, assim como fui desde o início. Sei que escondi algumas coisas. Mas, fiz porque era tudo tão complicado e bem, o que ocultei dela não passava de uma mentira.

Assim que chego à via costeira da cidade ela, pela primeira vez diz algo, mas só pede que eu a leve para casa. Faço isso, e quando chegamos à sua casa, ela e Maia entram primeiro, deixando Ruffus e eu mais atrás.

— Kantiss, abra a porta, por favor! – Ela veio direto para o quarto e se trancou no banheiro. E eu não sou o único preocupado com seu comportamento. Maia também está nervosa. Latindo, impaciente. Sei que as duas são muito ligadas. Elas parecem cuidar uma da outra e somente agora consigo reunir as palavras que repetiu durante o surto.

Meus pais estão mortos!

Minha mente retorna na conversa que tivemos semanas atrás e indaguei o que ela fazia neste fim de mundo?

Recomeçar...

Essa foi sua resposta. Ela precisou encontrar um lugar no mundo. Ela precisou se isolar do mundo para aplacar sua dor. Então, agora consigo entender, o porquê, desde o princípio, nós nos entendemos tão bem. Tínhamos. Temos tanto em comum.

         É evidente pra mim e pra qualquer outro, que estou apaixonado por ela. No entanto agora, sabendo disso, entendo porque meu desejo de cuida-la, protege-la, se intensifica cada vez mais. É como se nossa história já estivesse escrita. Fosse quem fosse nos uniu.

— Eu estou aqui – digo rente a porta – Não vou embora. Vou ficar aqui. – Ela não responde, apenas consigo ouvir o barulho do chuveiro misturado com os latidos de Maia. – Calma garota – afago seu pelo e ela me olha como se pedisse minha ajuda com a dona. – Katniss, por favor, está me assustando. Abra a porta! – Mexo na maçaneta e depois de alguns segundo ela a abre.

— Estava no banho – saí enrolada em uma toalha, com rosto inchado e olhos vermelhos.

         – Você me assustou – Novamente abraço ela que apenas sussurra um pedido de desculpas. – Deixa que te ajudo – pego a toalha de suas mãos, enxugo seu cabelo e depois a ajudo se vestir.

         – Obrigada – diz com um mexer de lábios depois que a cubro com o lençol e sussurra um “boa noite” virando para o outro lado da cama.

         Durante a madrugada, fiquei parte da noite vigiando seu sono que não foi nada tranquilo. Ela rolava, falava demais e pensei que eram apenas pesadelos, mas quando toquei em sua pele, vi que eram delírios de febre. Suspeito de uma insolação devido ao passeio de barco que fizemos mais cedo, somando ao abalo emocional que contribuiu para isso. E tudo que pude fazer foi medica-la. Sempre tenho alguns remédios no carro, caso haja alguma emergência com minha mãe. Então, busquei um especifico para baixar a febre e continuei a noite em claro, pois de forma alguma eu dormiria tranquilo, não até ter certeza que a febre havia passado.

         Na manhã seguinte, depois de dormir por duas horas, acordei com os latidos de Maia e quando me levantei para fechar a janela, para que isso não atrapalhasse o sono de Katniss, avistei minha mãe se aproximando da casa.

— Aconteceu alguma coisa? – visto uma camisa, enquanto desço os degraus da varanda.

— Estão atrasados – Ela cobre os olhos do raio de sol – Cadê a Katniss? – olha para dentro da casa e eu, então me lembro de que as duas haviam combinado de ir à missa. E quando começo explicar que não poderá ir, minha namorada interrompe nossa conversa.

— Me desculpa, Evelin, eu perdi a hora – ela está com o nariz e olhos irritantemente vermelhos.

— Você está bem querida? – Minha mãe se aproxima e toca o rosto dela – Peeta, ela está queimando em febre... – ela nem espera minha fala e a leva para dentro da casa e enquanto Katniss resmunga algo sobre estar atrasada para levar a encomenda do padre Michel.

Minha mãe lhe prepara um chá de alho, o mesmo que ela nos dava quando pegávamos algum resfriado.

— Eu realmente preciso ir – Ela insiste no compromisso dizendo, que está atrasada para levar os coelhos na corrida da pascoa que acontecerá logo mais.

 Eu me ofereço para ir em seu lugar. Tento de tudo convence-la disso. Mas, a única que consegue alguma coisa é minha mãe.

— Será um prazer, querida. Darius e, eu buscaremos a encomenda e auxiliaremos o Michel.

— Não quero incomodar, Evelin. Talvez, seja cansativo para você – olha pra mim para que eu argumente o mesmo, pois está preocupada com as limitações de minha mãe, mas penso que talvez ela fizer algo diferente seja bom para sua saúde.

— Minha mãe tem razão, você não está em condições de ficar perto de tantas crianças, quer passar seu resfriado a elas? – digo isso, pois sei que será o único argumento que irá convencê-la, porque nem mesmo adoentada, ela não deixa de ser teimosa.

Ainda contrariada, ela tenta ao menos garantir que eu vá. Mas, lhe asseguro que minha mãe e Darius darão conta do trabalho sozinhos. Até porque ao é nem um bicho de sete cabeças organizarem a corrida de caça aos ovos na igreja. Lembro-me de quando criança, minha mãe e outras senhoras, organizar carinhosamente o evento que já virou tradição na cidade, recordo também de quando pequeno já ter participado. Era um dia alegre, primeiro acontecia à missa, depois um almoço coletivo no gramado em volta da igreja e por fim, a competição entra as crianças. Quem coletasse mais ovos ganhava os coelhos de brinde. Eu nunca ganhei, a agilidade e perspicácia da casa foram todos herdados por Sabrina. Lembro que ela ganhou umas quatro ou cinco vezes.  E quando fomos ver, tínhamos cinco coelhos pulando pela casa. Quer dizer, até o primeiro deles falecer, e ela fazer um majestoso funeral para ele na praia. E quando todos os outros se foram pela velhice, minha irmã domesticou um dos cavalos selvagens.

         Ela era tão ou quão espevitada como Katniss. Não consigo deixar de equipara-las, principalmente pelo amor entre os animais.

— Não seja bocó, Peeta, é só um cavalo!!! – foi o que ela disse quando tentou me convencer a montar um deles.

— Então por que não monta você? – Rebati jogando o frisbe na direção de Cato. Era domingo e estávamos como de costume, à toa na praia.

— É, vai lá menininho – Cato disse a provocando, ignorando o fato que nossa irmã adorava um desafio. E dizer isso, era o mesmo que riscar fosforo num chão coberto de gasolina.

— Cala boca seu idiota, eu não falei com você. – disse para ele e depois à mim: – Vamos, Peeta, juro que dessa vez não a levarei para casa, eu só quero cura-la – ela olhou para a égua albina – Não vê? Ela está machucada e eu posso ajudá-la – mostrou sua maleta de primeiro socorros. – Por favor! – Implorou para mim como se eu fosse o papai. Com certeza, se fosse ele aqui, ela já estaria bancando a veterinária graduada pelo Discovery Channel e colocando em pratica todos os macetes que aprende com eles.

— Hoje não, Sabrina – Neguei sem um pingo de disposição– E sei que depois de cura-la, vai sim leva-la para casa. E depois eu que vou ter que me entender com o papai...Estou fora – arremessei o frisbe longe o suficiente, fazendo com que Cato se distanciasse de nós.

— Eu posso ajudar – inesperadamente Gale se ofereceu – É só uma égua.

— Não, obrigada – Negou timidamente a proposta dele, pois apesar de sermos muito amigos na época e ele frequentar nossa casa diariamente os dois não tinham muito contato. Pois minha irmã era muito isolada. Estava sempre no meio dos outros animais. Não gostava de ficar no meio de gente. – Por favor, irmãozinho – Virou-se para mim novamente e  eu recusei porque estava cansado. Na noite anterior Cato, Gale e eu, tínhamos ido num lual organizado pela filha do prefeito. Havíamos bebido. Amanhecemos o dia na rua. E como castigo, meus pais nos proibiram de dormir... Estávamos mortos em vida, e para piorar, nosso castigo era acompanhar Sabrina, enquanto ela estava na praia.

— Então eu vou sozinha e você sabe... Que o papai não vai gostar nada quando souber que você me deixou sozinha nas terras do velho Dick – ela bateu o pé na areia e correu até eu perde-la de vista... Confesso que me preocupei com ela, lá e casa tínhamos regras. Que era: Apenas cuidarmos uns dos outros. Principalmente, Sabrina que era a caçula. Qualquer coisa que acontecia com ela, era um Deus nos acuda ainda mais se estávamos cientes de suas loucuras e não havíamos feito nada para impedir.

— A ultima vez quem a aturou fui eu, então é sua vez – Cato se aproximou ofegante e deitou na toalha que nossa irmã havia forrado no chão antes de ter a brilhante ideia de querer domesticar outro animal. Eu bufei indignado, sentindo uma horrível dor de cabeça.

— Eu nunca te peço nada, cara – virei-me para Gale e disse isso. Ele já havia se oferecido e bem... Naquele momento ele era o mais capacitado de nós três. Pois apesar de que ter nos acompanhado na festa, não havia bebido, já que combinamos que dirigiria na volta...

Sem ao menos questionar, Gale foi atrás dela. E horas mais tarde os dois retornaram na companhia da égua que tinha inúmeros esparadrapos pregados na pata. E minha irmã estava feliz pelo feito, bem como parecia feliz por ter ganhado um novo amigo, pois além de domar uma égua albina, eu vi meu melhor amigo, dia após dia conquistar a confiança de Sabrina.

Admito que naquele tempo eu não desconfiei de nada, jamais imaginei que ele nutria interesses por nossa caçula. De fato, ela era muito bonita, se parecia muito com minha mãe. Alta, cabelos loiros e longos, olhos marcantes e azuis. E principalmente: Ela tinha uma alma pura. Uma doçura que depois dela só enxerguei em Katniss.

E por me sentir culpado, eu já havia desejado para mim, tudo o que Katniss falou. Até mesmo, de forma egoísta, desumana, praguejei, por ter salvado a garota.

Mas, e Katniss, o quanto ela era culpada para desejar isso? Desejar estar morta nos lugar dos pais. Mesmo não querendo tocar em suas feridas eu precisava descobrir: O porquê do surto. Por que mentiu. O porquê ela está aqui.

Depois que minha mãe se foi incumbida daquela tarefa. Katniss e eu ficamos sozinhos, mas não toquei no assunto, apenas cuidei dela o dia todo. E no final da tarde, nos deitamos para repor o sono.

Algumas horas mais tarde, quando acordei, vi seu lado da cama vazio. E enquanto a procurava pela casa, avistei uma caixa de madeira sobre o sofá e dentro dela continha diversas fotografias de um casal e duas meninas. A mais velha que aparentava ter uns onze anos, possui os mesmos traços da Katniss e, a outra menina um pouco mais nova era cópia da mulher.

Deixei os objetos onde estavam e retornei a sua procura. Sua casa de veraneio não era tão grande como a minha, mas ainda assim, havia cômodos demais para uma pessoa sozinha. Sinceramente, eu puxo em minha memoria, e não me lembro de ter visto essa arquitetura por aqui quando era mais novo. Só fui percebê-la anos depois. Ou mais exatamente, quando retornei a frequentar cidade.

— Você é tão teimosa quanto uma garota que conheci. – digo me aproximando, quando a encontro do lado de fora da casa, observando o mar.

— Queria que eu ficasse deitada dia todo? – ela me abraça e sinto que sua pele não está mais febril. No entanto sei que a maresia não irá fazer bem, então, retorno para dentro da casa e busco uma manta para cobrir seus ombros – E que garota? – Ela pergunta ainda de um jeito desanimado e, eu abaixo pegando um dos cristais de areia e arremesso no mar, que devido ao forte vento, criam ondas gigantescas.

— Sabrina, minha irmã – Respondo olhando diretamente para ela que olha por cima dos meus ombros e se abaixa pegando uma cesta que eu não havia notado.

— Jura? – Ela caminha na direção dos cavalos selvagens e eu a acompanho. Nossos cães trotam logo atrás.

— Juro – respondi pegando as rodelas de cenoura e jogando num canto que Katniss cobriu com plástico. – Ela também tinha uma fixação por esses malditos cavalos.

— Que bom, que antes de mim, alguém tinha clemencia com eles, já que os outros moradores temem por sua presença. Inclusive você...

— Eu não gosto deles, porque são selvagens...

— Selvagens ou não, são animais como qualquer outro.

— Diz isso porque é veterinária... é obrigada a gostar deles. Se não fosse por isso, também teria medo.  Aliás, sempre quis exercer essa profissão? –Peguei as fatias de maçã e joguei para um cavalo negro que se aproximava.

— Não... – Katniss parou o que fazia e prendeu seu olhar no meu. – Depois do ensino médio, eu fiquei um bom tempo sem saber o que faria da minha vida... – Suspirou – Só quando o prazo que meu padrinho me deu estava expirando, decidi ir para faculdade.

— E por que veterinária?

Antes de responder ela olhou para cesta vazia e depois se sentou nas ervas daninha. Fiz o mesmo e ajeitei a manta que escorregava de seus ombros.

— Minha irmã. — Ela me olhou — Se ela estivesse aqui, seria essa profissão que ela iria exercer... Mas... Ela também se foi naquela droga de acidente que eu causei... — novamente vi lagrimas saindo dos seus olhos – Você não sabe a saudade esmagadora que sinto todos os dias, Peeta. Somente alguém que passou o mesmo consegue saber...

Eu queria dizer a ela que tinha ideia do que estava dizendo. Mas, não tinha direito de comparar minha dor com a dela, que ao contrário de mim, havia perdido a todos...


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