Eu estava distraída.

Meu coração virou uma bagunça de um minuto para o outro simplesmente por estar distraída com uma listinha de compras. Graças a pouco mais de meia dúzia de itens, quase fui atingida em cheio por uma placa de sinalização.

Irônico, não? A invicta Ladybug derrotada por uma coisa dessas; uma simples plaquinha sinalizadora. Todavia, isso não aconteceu.

Chat Noir apareceu com um timing perfeito, me pegou no colo e saltou para longe da calçada. Minha compras quase foram todas para o chão, o que não seria nada legal – e bem esquisito de explicar para minha mãe.

— Droga! — Chat praguejou, protegendo-nos de uma espécie de raio púrpura que aparentemente tentava incinerá-lo (ou seja lá qual fosse o efeito deste poder maligno) ao entrar em uma passagem estreita que havia ali perto. Ótimo, problemas à vista. — Está tudo bem, Marinette?

Acenei positivamente com a cabeça, mas não tivemos tempo para conversas: a parede foi detonada, quase pegando o braço dele de raspão – e minhas pernas também, diga-se de passagem. O momento heroico dele me protegendo com seu corpo seria perfeito e tal, se a patinha no anel dele não tivesse desaparecendo naquele momento.

Eu sei que não deveria, até por que, ‘Marinette’ não deveria saber o que acontece quando a patinha brilhante do anel desaparece... Mas, eu não queria saber quem ele era de verdade. Eu não deveria.

Só que a curiosidade falou mais alto. Abri meus olhos só um pouquinho, enquanto minha consciência gritava que aquilo era injusto e errado...

Uma silhueta conhecida.

O susto foi tão grande que acabei por arregalar os olhos, chocada. Ainda segurando o meu corpo com firmeza, aqueles cabelos loiros... Os olhos, a boca... Era o Adrien.

O meu Adrien.

Sinal vermelho. Sinal vermelho. Tikky tentou sair da minha bolsa, provavelmente para tentar me alertar de alguma coisa. Entretanto, eu a empurrei de volta para lá. Eu estava confusa demais para raciocinar decentemente.

E nós tínhamos um akuma solto, causando pânico e muitos problemas.

— Marinette! — Adrien chamou-me mais de uma vez, com uma expressão meio desesperada. Óbvio. Alguém havia acabado de descobrir sua identidade secreta... O que estou sentindo agora não deve chegar nem perto do que está se passando pela cabeça dele. — Por favor! Prometa que não vai contar a ninguém!

Sua voz, mesmo carregada de urgência, ainda era gentil... Meu Deus... Reaja, Marinette!

Tudo que pude fazer foi acenar positivamente com a cabeça. O kwami dele estava em seu ombro, reclamando e chamando-o de descuidado. Em seguida, começou a murmurar, pedindo queijo para reabastecer suas forças. Rir, correr, chorar de nervoso... O que fazer? Antes de qualquer coisa, precisava sumir dali e me transformar em Ladybug, afinal, Paris ainda estava em perigo e não poderia esperar que meu cérebro voltasse a funcionar corretamente.

Chame de coincidência, ironia, acaso ou o que quer que seja... Mas eu tinha queijo em meio as minhas compras que continuavam milagrosamente intactas. Meio travada, agindo de maneira bem idiota, consegui entregar um pedaço pro serzinho que lembrava muito um gato.

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, aproveitei quando ele se distraiu com o kwami – Plagg, foi como Adrien o chamou – e fugi dali.

O mais rápido que minhas pernas permitiam. Sem agradecer. Sem conseguir dizer uma única palavra.

Céus... Eu sou indiscutivelmente uma grande idiota.