Sunshine escrita por Downpour


Capítulo 7
Capítulo 7 - Trouble




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Capítulo 7 - Trouble

“Porque há uma ameaça embaixo em minha cama,

você pode ver a silhueta dele?”

Halsey, Trouble.

 

Foi muito constrangedor conhecer os irmãos de Edmundo, e estar no meio deles fazia com que eu me sentisse uma intrusa em assuntos de família, mas eu evitava ao extremo me sentir assim. O dia inteiro ouvi diversos narnianos me elogiando, me dizendo que eu era uma ótima pessoa, dizendo que eu salvaria Nárnia de Jadis. Mas ambos sabíamos que ele estavam muito mais do que precipitados, eu não era toda aquela coisa. Meu passado era uma prova viva daquilo, e o mesmo era um fantasma que me perseguiria para onde quer que eu fosse. Era como uma cicatriz que nunca fosse sair do meu corpo, uma tatuagem, eu estava marcada para sempre. Esta era outra coisa que eu temia mais do que tudo, mas por fora, como sempre, eu fingia que nada me afetava. Era sempre assim, nunca tinha mudado, e eu duvidava muito que um dia fosse mudar.

Acho que Susana Pevensie foi a que menos gostou de mim dos quatro irmãos, Lúcia me tratou gentilmente, Pedro falou poucas palavras entretanto foi amigável, já Susana foi fria e me olhava desconfiada. Eu já sabia o que se passava na mente dela, ela pensava que eu estava junto da Feiticeira e poderia fazer algum mal para Edmundo, admito que se eu fosse qualquer um dos quatro irmãos eu também pensaria isso da minha pessoa.

Algo estava diferente naquela tarde, mas eu não queria comentar para não incomodar ninguém,então apenas fiquei pensativa em meu canto. Não podia deixar de sentir uma aproximação estranha do acampamento. Passei um bom tempo na floresta tentando recuperar meus poderes, agora já conseguia produzir chamas sem ter que desmaiar além de alguns feitiços básicos que eu tinha aprendido bem nova.

Resolvi também treinar com a espada, apesar de eu nunca ter precisado muito de uma espada, eu adorava lutar com uma. Só parei de treinar quando me vi extremamente cansada, e resolvi que era hora de me banhar e trocar de roupa.

Me banhei, e logo em seguida coloquei um vestido azul claro e sapatilhas pretas, deixei meu cabelo molhado solto cair sobre os meus ombros e segui até o acampamento.

Soltei uma exclamação de surpresa quando me deparei com servos da feiticeira no acampamento, me pus em posição de ataque, quando me deparei com a expressão séria de Aslan como se me dissesse para parar. Fiquei alguns momentos com as chamas acesas em minhas mãos, fuzilando Jadis com todo o ódio que eu sentia por ela. Senti meu corpo enrijecer por ter percebido que o tempo que passei focada em minha magia, me distraiu do acampamento, algo sério poderia ter acontecido e eu ficaria sem saber.

— Conversaremos a sós. — Jadis disse contragosto para Aslan, e entrou em uma tenda, enquanto todo o acampamento entrava em total silêncio.

Mas que raio…?

Olhei para os irmãos Pevensie de longe, como se exigindo uma explicação, mas eles pareciam estar tão confusos quanto eu.

— Com licença. — me aproximei de uma castor fêmea — A senhora saberia me dizer o que houve?

— Oh! — ela exclamou um tanto assombrada com a minha presença — Oh minha senhora, estou tão confusa, mas estou certa de que Jadis veio debater a posse que ela tinha sobre Edmundo. Ele é tudo o que a interessa, ela comentou que a senhorita está...Sem poderes. — ela disse a última parte da frase quase que cochichando procurando não me ofender.

— Oras, ela veio discutir a posse sob Edmundo? — franzi o cenho, nem por cima do meu cadáver.

— Sim, ela e Aslan conversaram sobre algo como a Magia Profunda… — ela disse pensativa — Aliás, chame-me de Sra. Castor, vossa alteza.

Dei um breve sorriso para ela, e acenei com a mão quando ela me chamou de alteza, tal tratamento não era necessário.

Suspirei, já tinha ouvido falar sobre a Magia Profunda, mas o meu conhecimento sobre era a mesma coisa que nada. Todo o meu conhecimento mágico se aplicava a Charn e não a Nárnia.

Algo em mim me dizia para não esperar nada muito bom daquela conversa, queria entrar naquela tenda e saber sobre o que tanto falavam. Aquilo me angustiava, eu e Edmundo estávamos salvos temporariamente, mas a preço de quê?

Não queria que mais ninguém se ferisse por minha culpa, eu não iria aguentar.

— Obrigada por me informar, aliás, me chame de Rose. — sorri para ela.

Quando finalmente saíram da tenda, pude ver um sorriso presunçoso no rosto de Jadis, seu olhar alternava entre o meu rosto pálido e os Pevensie. Aslan anunciou que ela tinha renunciado o sangue de Edmundo e que estava de saída, mas mesmo assim, aquelas palavras não conseguiram me trazer nenhum conforto.




(...)






Aquela noite todos os narnianos estavam em clima comemorativo, eu apenas estava sentada encostada numa árvore observando todos se animando, muitos comemoravam a minha volta, mas eu sinceramente não entendia o por quê. Que bem eu tinha feito para poder se juntar a eles?

Edmundo se sentou ao meu lado com um sorriso meio tímido.

— Você não me parece gostar muito de festividades, não? —  ele sorriu torto mostrando uma breve covinha em sua bochecha.

— Me sinto meio desconfortável com muitas pessoas ao meu redor. —  falei timidamente, sem tirar os meus olhos dos dele.

—  Quantos anos você tem? —  ele perguntou com um certo tom de curiosidade, e eu franzi a testa, sinceramente, eu tinha vivido tantos anos tanto presa em Nárnia com em Charn que não fazia a mínima ideia da minha idade.

— Uns poucos milhares...anos? —  me perguntei ainda em tom confuso e o moreno arregalou os olhos surpreso.

—  Tudo isso?!

—  Não é como se eu tivesse vivido, que nem vocês filhos de Adão vivem. — falei dando de ombros, sabendo que ele iria ficar confuso. Eu estava me abrindo com ele, se não tomasse cuidado, iria deixar escapar o meu passado em Charn, coisa que eu realmente não queria lembrar.

Preferia bater a cabeça numa pedra e ter amnésia do que me lembrar do que eu fiz, e do que fizeram comigo.

—  Como assim? —  ele perguntou ficando cada vez mais interessado na conversa.

—  Bem, eu passei boa parte da minha vida presa. —  falei tentando desviar o assunto, não era legal falar que você era uma criança problemática para alguém.

—  Oh, realmente. —  ele murmurou. — sinto muito por tocar neste assunto.

—  Sem problemas, —  dei de ombros. — o importante é que eu estou vivíssima. Deve ser por isso que eles tanto comemoram, e claro, porque você também está vivo. — dei um sorriso meigo, aliviada por Jadis desistir da ideia de matá-lo.

Edmundo deu um meio sorriso para mim e tocou no meu ombro, fazendo com que cada célula do meu corpo entrasse em choque com o seu toque tão macio e suave, existia algo para explicar o que eu sentia no momento?

— Bem, de qualquer modo, tudo vai ficar bem.

Eu sorri de verdade para ele.

—  Eu espero.

E foi aí que todo o momento embaraçoso começou, eu estava completamente vidrada nele, ele parecia me manter sobre algum feitiço, que fazia com que eu não tirasse meus olhos dele. Sua pele era tão macia, e eu sentia a necessidade de encostar meus lábios em sua bochecha. Seus olhos eram um castanho achocolatado, negros e profundo, que me faziam fitá-lo a todo momento, imaginando o que se passava em sua mente. Os cabelos eram lisos e negros, que caíam-lhe sobre os olhos, não podia negar que me via acariciando seus fios macios. Mas o que mais me chamavam a atenção eram seus lábios rosados entreabertos, na minha mente completamente iludida, estes esperavam pelos meus, para juntos serem um só.

Naturalmente, eu ficaria envergonhada, e pararia de ter pensamentos indevidos com ele como protagonista. Mas não foi bem do jeito que eu estava planejando, ele deu um sorriso bobo ao me encarar o que me fez meu coração acelerar.

—  Seus olhos, —  sussurrei colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, e corando furiosamente. — são tão lindos.

Edmundo deu um sorriso novamente com o que eu falei, e quando eu me dei conta, já estava na cor de um pimentão. Ele se aproveitou da situação, e tocou meu rosto, começando a acariciá-lo, arrepios de todas as direções fizeram meu corpo estremecer e minhas bochechas corarem.

—  Teus olhos também são lindos, eu poderia fitá-los a noite inteira.

Senti algo socar a minha barriga, como se meu eu interior desse um soco no ar de contentamento, eram as famosas borboletas no estômago. Pensar que Edmundo estava dirigindo aquelas palavras a minha pessoa, era algo inimaginável que acelerou meu coração a mil.

Ele continuava a afagar o meu rosto com o polegar, e eu apenas o olhava, vidrada  seu toque. Presa em seu feitiço.

Eu nunca tinha desejado beijar alguém tanto como naquele momento, eu estava ansiando por entrar em contato com ele, queria mais do que tudo quebrar a pequena distância entre nós.

— Parece que estão se divertindo. – Pedro comentou marotamente se aproximando de nós dois.

Senti o meu corpo entrar em choque com o que tinha acabado de acontecer.

Por Aslan, ele era uma criança!

Edmundo retirou sua mão do meu rosto, e todo aquele encanto foi quebrado me fazendo cair de cara com a realidade.

— Acho que ouvi Lúcia me chamar, com licença. – fiz uma reverência e me retirei quase que correndo dali.






~•~






“A voz suave ressoava pelo meu quarto.

 

‘Hush, little baby, don't say a word, Mama's going to buy you a mockingbird.’

 

Sentia meus olhos quase que pesarem enquanto ela cantava melodiosamente sua típica canção de ninar, me aninhei em seu colo enquanto ela afagava meus cabelos.

Resolvi cantar a canção em pequenos murmúrios junto dela.



‘And if that mockingbird don't sing, Mama's going to buy you a diamond ring.’

 

— Esta é a sua parte favorita. — ela sussurrou e eu acordei por completo.

— Eu quero cantar essa parte mamãe!




‘And if that diamond ring turns brass, Mama's going to buy you a looking glass.’




— Agora, você vai dormir meu amor. – ela sussurrou, – seu pai me espera lá embaixo.

— Mas ainda falta uma parte! — retruquei e ela sorriu amavelmente.

— Durma meu anjo.

Ela me colocou na cama, e saiu do quarto descendo as escadas apressada. Senti que algo estava errado, então desci as escadas e me sentei num degrau querendo ouvir a conversa dela e do meu pai.

— Eles estão vindo?

Meu pai suspirou pesadamente.

— Sim, temos que esconder Rose. — ele sussurrou.

— Ela vai matá-la Robert! – podia ouvir a voz dela falhar, e eu sabia que ela chorava.

Não tinha nada pior do que ouvir sua própria mãe chorar.

— Porque ela é a única que pode parar essa tirana. – ela soluçou.

A porta fez um estrondo.

— Estamos aqui a mando da Imperadora Jadis, abram. Isto é uma ordem!

Senti meu coração acelerar e a cabeça doer, eu estava entrando em pânico.

— Abram ou iremos matá-los!

— Não! — minha voz soou rouca e fora de tom, quando fui ver estava de frente para a porta.

Um dos homens me segurou forte, enquanto eu me debatia, a minha mãe chorava e meu pai sorria calmo.

— Vai ficar tudo bem. — ele sorria, e aquela foi a última vez que eu o vi.

Enfiaram uma espada em seu tórax, e eu gritei estridente.

— MEU PAI! NÃO POR FAVOR!

— Alguém faz essa pirralha calar a boca?

Minha mãe desatava a chorar, e antes que a matassem ela sorriu triste e murmurou:

— Nós sempre te amamos filha.

Uma espada atravessou seu corpo, e enquanto o sangue jorrava aos meus pés, meus pais jaziam mortos.”






~•~





— Rose? — Susana e Lúcia entraram na minha cabana preocupadas.

Eu me encolhi vulnerável enquanto chorava, me sentia horrível, não queria que ninguém me visse assim, então apenas cobri o meu rosto com as mãos enquanto eu tremia sem parar.

— Foi só um pesadelo, volte a dormir. — Susana deu um sorriso torto.

— Ok. — sussurrei com a voz tremida enquanto elas se retiravam.

Quando me vi sozinha, meu corpo tornou a tremer, só que mais descontrolado do que antes, era tão difícil de respirar. As lágrimas escorriam grossas pelo meu rosto, eu podia sentir o gosto de sal na minha boca.

Eu era tão poderosa e temida, mas de que adiantava todo aquele poder se eu não pude salvar aqueles que eu mais amava?

Me revirei até conseguir respirar direito, e depois muitos anos, tornei a cantar a música que minha mãe cantava, tentando dormir, me embolando com minhas próprias lágrimas e soluços.

Mal eu imaginava que o dia seguinte ia além de um pesadelo.

 


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Notas finais do capítulo

* o nome da música que a mãe da Rose canta se chama "hush little baby dont say a word"



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