Sunshine escrita por Downpour


Capítulo 4
Capítulo 4 - Weightless




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           Capítulo 4 - Weightless

"Isso pode ser tudo que sempre esperei

Isso pode ser tudo e eu não quero mais sonhar."

All Time Low, Weightless

 

Edmundo me observou chorar, silenciosamente, como se não soubesse exatamente como reagir ao ver uma garota chorar tão desesperadamente como eu chorava naquele momento.
            O garoto parecia estar preocupado comigo, mas como não sabia o que fazer permaneceu parado. Seus olhos escuros me fitavam enquanto eu me encolhia no chão. Ele abria e fechava a boca várias vezes, mas as palavras não saíam.
            Cada lágrima doía, pois era como se eu reconhecesse a minha derrota e a minha morte certa. Detestava o fato de que estava fraca demais para fazer alguma coisa, e que não poderia deixar Edmundo a salvo.

Para que a profecia se cumprisse, ele deveria estar junto dos irmãos dele, e era o meu dever ajuda-lo a encontrar sua família para lutarem ao lado deles.
            – Vamos antes que ela volte. – falei com dificuldade enquanto me levantava. Tinha cessado o meu choro, me sentia extremamente envergonhada por estar daquela maneira, tão miserável. Talvez fosse um aprendizado afinal, desde que tinha conquistado meu reino em Charn tinha me acostumado a viver com os melhores luxos possíveis.
            – Mas e as suas algemas? – ele gaguejou um pouco as palavras.
            Dei de ombros, se o sol tinha voltado para Nárnia, depois daquele inverno rigoroso, então aquilo significava que eu poderia tentar desenvolver meus poderes novamente.
            – É uma algema de gelo, – comentei olhando fixamente para mesma. – posso derrete-la agora que a neve se foi, ao menos, eu acho.
            Eu fixei meu olhar nas algemas e as direcionei para o Sol, se eu não conseguiria usar todos os meus poderes o Sol ajudaria.
            Isto era complicado pois o Sol de Charn – embora fosse grande e velho –, irradiava mais magia que o de Nárnia. Talvez porque em meu país boa parte da população usava magia, e quase se usa a magia do Sol, logicamente você precisa do Sol. Aqui a magia era diferente, eu estava muito curiosa com a magia deste lugar.
            Por um instante a algema brilhou, um tipo de feixe de luz dourado tão forte que me obrigou a fechar os olhos. Tinha a sensação de leves cosquinhas no meu pulso. Logo senti as barras de gelo de escorrerem pelo meu pulso e caírem no chão.
            – Você é uma feiticeira! – Edmundo deu dois passos para trás assustado, óbvio que ele teria esse tipo de reação, era um humano que nunca tinha tido contato com a magia até então.
            Dei um suspiro, esperando que ele me entendesse.

— Eddie, olhe, vamos atrás dos teus irmãos. Eu juro que não vou te fazer mal algum, depois, eu vou embora. Você nunca mais vai ouvir falar de mim. – eu falei séria e o garoto engoliu em seco.

            – Como eu posso acreditar em você? – indagou com desconfiança.
            – Porque tem uma profecia sobre nós. – falei e ele arregalou os olhos recuando mais ainda. Ótimo, Rose, você definitivamente não sabe lidar com humanos.— Esta profecia diz que você me tiraria das posses de Jadis, me salvando.
            – É, mas eu não te salvei. – estreitou os olhos, e eu pude perceber que aquele garoto estava longe de ser burro.
            – Exato, eu também não te salvei garoto.
            – Pare de me tratar como criança. – ele ralhou um tanto bravo, com as bochechas pálidas pegando fogo.
            – Eu tenho mais de trezentos anos, – exclamei já me irritando com a capacidade dele de me estressar. – você tem uns treze anos, consegue ver a diferença?
            Ele bufou cruzando os braços.
            – Você tem trezentos anos e continua com a aparência de uma menina! Uma bem irritante por sinal. 

Me controlei mentalmente para não rebater
            – Claro, eu sou imortal.
            Naquele momento eu não consegui entender o olhar de Edmundo, não sabia se era inveja, se era desapontamento comigo…
            – Desculpe pela minha grosseria, vamos recomeçar, eu sou Rose. – falei com um sorriso agradável, estendi a minha mão para ele. Queria evitar toda uma situação ruim com o garoto. Visto que ambos precisávamos da ajuda um do outro.
            Edmundo pareceu pensar por alguns minutos e então apertou a minha mão.
            – Certo. – ele murmurou. – Mas eu ainda estou algemado.
            Eu dei risada e ele apenas bufou.
            – Vamos lá então, – peguei os pulsos de Edmundo e passei a minha mão suavemente fazendo ele abaixar a cabeça envergonhado. Um feixe de luz dourada saiu das algemas e logo elas foram derretendo. – Pronto.
            Edmundo abriu os olhos e ergueu a cabeça.
            – Você ainda está segurando os meus pulsos. – disse com um pequeno sorriso. Abri e  fechei a minha boca, raciocinando lentamente, até soltar os pulsos do garoto.
            – Oh, me desculpe. – soltei os pulsos dele e desviei o olhar claramente envergonhada.
            Eu abracei o meu próprio corpo enquanto olhava em volta da floresta, não fazia a minima ideia de onde estávamos.
            – Como vamos chegar até os teus irmãos? – perguntei frustrada. – Nem sabemos ao menos onde estamos.
            Edmundo sorriu torto, como se também estivesse se esforçando para que nós dois não discutissemos nesse meio tempo.
            – Iremos dar um jeito, o importante é não ficarmos parado aqui na floresta. – Ele murmurou olhando em volta.
            – Por Aslan, só com muita sorte mesmo vamos achar eles. – eu murmurei choramingando.
            Ficamos em silêncio andando por qualquer direção, não podia ficar pior do que já estava. A minha sorte era de estar ensolarado, caso contrário ambos já estaríamos mortos e congelados. Mas como eu tinha prometido para ele que acharia seus irmãos, não iria vacilar com ele.
            Nós andamos muito, estava ficando cansada quando Edmundo anunciou que estava na hora de darmos uma pausa. Já estava escurecendo, e ficando frio.
            – Eddie, – eu o apelidei sem querer, – procure lenha, eu posso tentar fazer uma fogueira.
            – Boa ideia. – ele murmurou sumindo no meio da mata.
            – Não vá muito longe! – eu exclamei preocupada e pude ouvir ele rindo da minha preocupação. Cruzei meus braços por um momento, balançando a cabeça negativamente ao ver a reação dele.
            Olhei em volta pensando em algo que eu também pudesse fazer que fosse útil, e foi assim que eu percebi que a minha barriga roncava. Eu estava a horas sem comer, precisava me alimentar de alguma coisa, e Edmundo também.
            O problema era achar comida, ainda mais com o pôr do sol. Minha única opção era subir em árvores, algo que eu não sabia fazer muito bem. Ergui a minha cabeça e vi algumas maçãs em uma macieira bem alta, era suicídio subir lá, mas eu estava morrendo de fome.
            Comecei a subir na árvore, por mais que eu estivesse com vestido – trapo, diga-se de passagem –, era muito desagradável escalar o tronco. Segurei em um galho com força, o importante era não olhar pra baixo. Tentei pensar em qualquer feitiço que me ajudasse, mas nada vinha a minha cabeça.
            Eu não tinha escalado nem metade da árvore quando escorreguei, e tive que pular do tronco. Assim que alcancei o chão senti meus pés doerem, viver em Nárnia me fazia se sentir mais humana que eu me sentia antes. Dor, fazia muito tempo que eu não sentia dor. Porque em Charn eu estava tão acostumada a ter tudo o que eu quisesse, já em Nárnia, eu não tinha nada além da imortalidade.
            Suspirei e então foquei nas maçãs, o Sol fazia com que elas crescessem, se eu adiantasse o processo talvez algumas caíriam. Eu já estava cansada por não ter comido nada e usar muito meus poderes acabaria comigo,mas eu tinha que proteger Edmundo, depois do que a feiticeira tinha feito com ele…
            As maçãs que estavam verdes ficaram vermelhas e começaram a cair da árvore, quando me senti fraca e minha visão escureceu resolvi dar uma parada. Tinha pelo menos sete maçãs no chão.
            Sentei me apoiando na árvore sentindo o cansaço me abater, eu ainda teria que acender a fogueira. Pensar nisso doeu toda a minha cabeça, eu provavelmente desmaiaria de cansaço.
            Quando Edmundo chegou com a lenha eu lhe dei uma maçã, comi outra maçã e expliquei para o garoto o por quê de que eu iria desmaiar. Usei o resto de Sol que tinha para me dar forças e eu poder fazer fogo brotar na lenha.
            Novamente o forte feixe de luz dourado fez Edmundo colocar a mão sobre os olhos, assim que o sol ia sumindo a fogueira ia se acendendo. Minha visão começou a ficar turva enquanto meu corpo doía, e minha última visão naquele dia foi de Edmundo me segurando enquanto eu desmaiava, e foi ai que eu percebi, a magia tinha um limite em Nárnia.


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