Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 68
Finalmente A Última Peça


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas, quanto tempo. Aproveitei que tive um leve descanso da faculdade e vim postar. Já estava até com saudades desse drama que anda por aqui. Aproveitem ♥



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   Sem muita animação, fui ver minhas últimas aulas, e quando o último sinal bateu, fiz a coisa sensata e fui para casa. Não tinha porque ficar na escola sem nenhuma suspeita, e eu ainda estava evitando Lysandre.

   Ou pelo menos tentando. Não dei nem cinco passos direito para longe do portão da escola, quando ouvi a voz dele e logo em seguida senti seus dedos prendendo meu pulso. Respirei fundo, me virando por conta própria.

   – Eu realmente quero ir pra casa depois dessa derrota que eu chamei de dia.

   – Me escuta, ok? Pelo menos sobre esse caso da Iris. – Acho que ele percebeu que eu ainda não estava no humor para conversarmos sobre a palhaçada que eles fizeram com Ambre.

   – Armin disse que não ia mais mexer nisso hoje.

   – Não mexeu, propriamente dito. Ele tem monitorado a caixa de e-mails da Iris nesses últimos dias, e dessa vez o sujeito passou de qualquer limite.

   – Como assim?

   – Ele quer dinheiro. Quinhentos dólares, mais exatamente.

   – Só pode ser sacanagem. Ela deve estar se sentindo algum chefe de máfia. – Resmunguei, tirando a mochila das costas para pegar minha garrafa d’água. Eu precisava afogar aquele ódio dentro de mim.

   – Ela? – Lysandre inclinou a cabeça, ainda meio confuso.

   – Em resumo, o Armin leu o histórico de mensagens do tal carinha e concluiu que ele não tinha perfil pra ser chantagista, demorava pra responder, parecia não ser muito inteligente...Só que a gente tinha bloqueado a conta de uma garota da escola que era amiga em comum do cara.

   – Vocês acham que foi traição?

   – Provavelmente.

   – De toda forma, ele marcou o encontro essa noite.

   – Já? Essa garota tem alucinações, só pode. – Massageei as têmporas, todo o estresse começando a fazer minha cabeça latejar.

   – Eu acho que deveríamos acionar a polícia. É...

   – Não dá, Lys, a gente também não está limpo nessa história. O Armin principalmente está até o pescoço nesse buraco. A gente até tem provas contra essa pessoa, mas a gente nem sabe quem é. – Suspirei, chegando a conclusão que deveria ter me iluminado bem antes. – Eu vou falar com a Iris.

   – Você acha que é uma boa ideia?

   – Não dá mais pra agir pelas costas dela, Lys. E se ela me odiar depois, paciência, contanto que ela esteja bem. Bom, eu já vou, você quer me acompanhar?

   – Claro. – Ele hesitou em concordar, mas assim que o fez saiu andando quase mais rápido que eu. Chegamos em poucos minutos, o portão do prédio estava aberto. Mesmo assim, toquei o interfone da casa só para não pegá-la desprevenida. Sem resposta.

   – Iris. Iris. – Chamei depois de tocar a campainha três vezes e não ter resposta. Na quarta vez que recebi silêncio, tentei virar a maçaneta e ela girou. Empurrei a porta, vendo a sala vazia. – A porta simplesmente ficou aberta.

   – Não é normal.

   – Não. IRIS. – Dei um grito, mesmo assim o apartamento seguia silencioso. Lysandre tentou me segurar, dizendo que tínhamos que tomar cuidado, mas eu estava pouco ligando. Iris podia estar em algum perigo, perigo real.

   Olhei pela porta de vidro da varanda, tentando enxerga-la no banco do jardim, mas estava completamente vazio. Lysandre me confirmou que na cozinha também não tinha ninguém. Chequei os quartos e o banheiro, o coração já palpitando e prestes a sair pela boca.

   – Cadê ela, Lys? Droga, cadê qualquer um? – Resmunguei. Ele segurou meus ombros e falou de forma suave mas firme.

   – Vamos acha-la. Vamos olhar lá fora de novo, talvez ela esteja lá. – Segui-o até a varanda, e quando ouvi o soluço abafado, corri sem o menor receio. Iris estava escondida atrás da árvore, chorando enquanto abraçava seus joelhos.

   – Iris, ainda bem. Iris.

   – Oh, são vocês.

   – O que aconteceu? Seu portão e a porta estavam abertos, a gente se assustou... – Lysandre comentou, tentando não soar tão preocupado quanto eu claramente estava.

   – Eu estava meio abalada, devo ter me esquecido.

   – Iris, por favor... – Peguei suas mãos nas minhas e olhei para ela, tentando reconforta-la. – Se abre comigo, por favor. Eu já sei.

   E foi o que a Iris precisou para controlar o choro e tentar sorrir pra mim. Ela não sentiu raiva por ter sido investigada, ela se sentiu aliviada. Ela não estava sozinha mais naquele desespero.

   Mais calma, ela conseguiu se sentar no banco e tentou abrir espaço para mim e Lysandre. Me espremi entre ela e Lys e deixei ela contar o que tinha acontecido. Também confessei tudo que eu e Armin tínhamos feito, mas ela não se incomodou. O alívio ainda estava lá.

   – Eu...eu estava tão envergonhada. Eu quis falar pra minha mãe...mas eu tive medo, ela... – E voltou a soluçar.

   – Iris, o que importa é que a gente está aqui agora. E nós vamos com você hoje à noite. A gente vai ensinar pra essa criatura dos infernos com quem ela se meteu.

   – Ela não vai querer recomeçar. – Lys reforçou, passando o braço pela minha cintura. Olhei para ele, que fez menção de recuar, mas sorri e segurei o braço dele no lugar.

   – Obrigada. Eu não tenho ideia de onde arrumaria esse dinheiro e...

   – De lugar nenhum. Seu pesadelo vai acabar logo, eu prometo. – Ela concordou, sorrindo depois de secar as bochechas mais uma vez. Não tardei em voltar para casa. Deixamos Iris com a certeza de que não estava mais sozinha, e me separei de Lys ainda no parque. Eu precisava de uns momentos sozinha para digerir tudo aquilo.

   Mais uma vez, meus pais chegaram e jantei com eles. Dessa vez, fiz questão de escolher um pijama com calças e uma camiseta. Minha mãe falava algo sobre tia Ágatha, mas não consegui prestar atenção. O plano não demoraria mais.

   Dez horas, minha mãe subiu para seu quarto. Me desejou boa noite e foi dormir. Eu estava no computador, como normalmente, e disse que não demoraria a dormir também. Dez e quarenta, foi a vez do meu pai se recolher e encerrar o dia. Onze horas, eu já tinha preparado tudo para minha nova fuga. A cama parecia ocupada, o computador estava desligado no lugar de costume, tudo apagado. Peguei o casaco, enfiei as chaves no bolso com o maior cuidado, e como na noite da escola, copiei meus passos até o portão, vigiando para ver se alguém notava minha escapada. Nada.

   Fiquei por um tempo com um casal de adolescentes no ponto de ônibus ali perto. Perguntei Iris se ela já tinha saído, e ela me respondeu que ainda não. Realmente, o parque não era o lugar mais amigável durante a noite. Mesmo com os portões fechados e os ocasionais vigias, quem entrava não tinha a melhor das intenções. Quando ela finalmente avisou que estava saindo, já às onze e meia, me levantei e comecei a caminhar na direção do parque.  

   A presença de Lysandre dessa vez estava servindo de conforto. Eu talvez conseguisse me defender se precisasse, com o boxe e tudo, mas dependeria muito da pessoa. E se ela estaria jogando limpo. Então ter um homem, alto, por perto dava uma aliviada nos nervos. O vento entrava pelo meu casaco, me fazendo tremer um pouco.

   Pulei a grade depois de me certificar que não tinha nenhum vigia por perto. Há uns meses o parque ficava aberto, mas depois de um pessoal meio esquisito começar a se reunir ali, colocaram os vigias. E depois que alguém esqueceu o cachimbo de crack pra trás, foi o fator decisivo para fecharem os portões de vez. Pelo menos por um tempo, disse o prefeito.

   Já do lado de dentro, estremeci. Pelo visto tinha sido a primeira a chegar. Estremeci. Aquele tipo de situação não era muito tranquilizadora. Menos ainda com a voz quase do meu lado.

   – Anna?

   – Ai, Deus. Iris, minha nossa. – Cheguei a esbarrar na árvore que me escondia. Iris se desculpou, claramente tão atordoada quanto eu. Tentei me manter calma.

   – Lysandre ainda não chegou?

   – Não, ainda não. Já deve estar perto. Faltam 10 minutos. – Conferi no relógio. 11:49. Soltei o ar e tentei não demonstrar ansiedade. Iris já tinha sua própria carga naquele minuto.

   – Eu fico feliz de poder, sabe, ver de perto o que você me disse. Vocês parecem bem próximos.

   – Sim. Ele sempre é em quem eu confio um problema no primeiro instante. Até primeiro que o Nath, na verdade. – Ela concordou, prestes a adicionar algo, quando ouvimos um murmúrio. Ergui os olhos, mas não vi ninguém no escuro. E logo em seguida, o celular da Iris tocou. Ela empalideceu na mesma hora, puxando o aparelho do bolso.

   – Eu te disse pra vir sozinha, idiota. Mande sua amiga embora ou você vai encarar a pior das consequências. – Ela leu, a voz meio falhando. Resmunguei. – O que eu faço?

   – Respira. – Segurei o ombro dela, ainda sem localizar de onde a nojenta estava nos vendo. – Esconde em algum lugar, eu vou me afastar. Fica escondida, em algum momento ela vai sacar que não tem dinheiro. Quando ela tentar ir embora, me manda uma mensagem falando por qual portão ela saiu. Tudo bem?

   – E se ela não for embora? E se ela me atacar, ou...

   – Eu ainda vou estar aqui, Iris. Fica tranquila, eu não vou deixar nada te acontecer, beleza? Vai.

   Ela concordou, guardou o celular no bolso e fechou o rosto pra mim. Olhei para ela, meio confusa.

   – Vai embora. Você não tem nada pra fazer aqui, vai logo. Por favor, sai. – Ela falou, sem olhar realmente para mim. E ai eu entendi. Ela queria convencer a víbora de que eu realmente não estava por perto. Resmunguei e cedi, andando pela direção que eu tinha vindo. Olhei para trás, Iris pegou seu celular e foi se esconder numa outra árvore, mais perto da entrada.

   Pulei a grade de volta para fora do parque. Se eu queria apanhá-la quando saísse, era mais fácil não ter um portão no meu caminho. Fui para a rua do mercado, ali pertinho, esperando a mensagem da Iris. Meu coração martelava, e eu adoraria poder sentir a respiração de Lysandre contra minha nuca nesse momento. Mas ele não foi.

   Em cinco minutos, o celular vibrou. Peguei-o mais rápido que pude e li as notificações sem destravar a tela.

    “É o portão perto da lancho...”

    “Eu a ouvi resmungar, é me...”

    Podia ler o resto depois. Guardei o celular e corri o mais rápido que pude até o tal portão. Já estava ofegante. Peguei o celular correndo e li as mensagens direito, ainda tentando vigiar a área.

    “Eu a ouvi resmungar, é menina mesmo, acho que conheço a voz e parece estar sozinha.”

    Uma garota sozinha. Era isso, eu conseguia pegá-la. Se ela era da escola, as chances eram de que eu seria maior que ela, de toda forma. Eu era praticamente a mais alta das turmas do nosso turno, ou perto disso.

    Ergui a cabeça de novo e vi o vulto que acabava de pular a grade e tentava correr até uma das ruas menos iluminadas. Não dei mais nenhuma chance, com o celular ainda em mãos, corri na direção do vulto e me joguei na sombra que caminhava. Consegui agarrar uma mistura de tecido de blusa e cabelo. Cabelo comprido então.

    Puxei de uma vez, derrubando-a no chão e me jogando logo por cima. Ela começou a tentar me arranhar de todas as formas, e honestamente alguns ela até conseguiu. Meus braços tinham linhas ardidas, assim como uma no rosto. Eu tentei segurar seus braços pra finalmente poder iluminar o rosto da desgraçada, mas ela deu um grito e com toda sua força deu uma joelhada nas minhas costas. Me desequilibrei e ela aproveitou pra empurrar o braço que usei pra me apoiar, conseguindo sair debaixo de mim.

    Consegui segurar sua perna, mas ela se retorceu e se soltou, me xingando enquanto finalmente corria para longe. Ouvi um barulhinho metálico e, sentada no chão, usei a lanterna do meu celular. O brilho do brinco me fez apertar os olhos, mas o apanhei e desliguei a lanterna. Suspirei. Ao se soltar e me jogar no chão, ela fez com que eu batesse o joelho ainda dolorido do acidente do refeitório no chão de novo.

    – Anna, Anna. Minha nossa, tudo bem? Você a viu?

    – Ela deixou cair. – Falei ainda sem tirar os olhos de por onde a criatura tinha conseguido escapar. Iris olhava o brinco de argola entre meus dedos, com a expressão apavorada. Finalmente a encarei, abaixando o brinco e guardando-o no bolso. – Eu a pego amanhã.

    Fiquei de pé, bati a poeira da roupa e fiquei de pé. Ela concordou, ainda digerindo a informação. Segurei seu ombro e falei, tranquila. Eu estava realmente tranquila agora. Seria fácil coloca-la em seu devido lugar.

    – Pode descansar, Iris. Ela não vai fazer nada. Até amanhã.

    – Obrigada. – Ela falou em voz baixa e começou a ir para sua casa. Olhei o relógio. Meia noite e meia. Suspirei. Ainda poderia recuperar bem meu sono, naquela noite. Chequei se tinha tudo nos bolsos e finalmente voltei ao meu quarto.


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Notas finais do capítulo

Boa noite, amores ♥



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