Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 59
Curtindo A Noite Mais Uma Vez


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas ♥ Eu ia pedir desculpas pelo atraso, mas ngm aguenta mais ler isso. Enfim, meu semestre já está acabando, logo tudo se acalma. E esse capítulo era pra ter saído semana passada, mas o site não atualizou a fic de jeito nenhum e é isso ai. Boa leitura ♥



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Ter Lysandre de volta foi como um sonho. Quando finalmente consegui me desprender daquele abraço tão gostoso, sequei o rosto e apontei para a escola.

— Você deveria descansar mais. – Comentei, finalmente vendo a minha mochila e me abaixando para apanhá-la. Ele aproveitou a chance e pôs uma mão na minha cabeça. – Eu tenho aula.

— Só devo voltar semana que vem. O médico ainda quer fazer alguns últimos exames.

— Faz ele muito bem. Onde já se viu, viajar a noite só para pedir desculpas...?

— Eu precisava, Anna. Eu sei que eu te machuquei, mas eu juro que vou te recompensar...

— Ei. – Pus a mão no peito dele, reparando como a dele instintivamente foi para cima da minha. Sorri. – O que me machucou foi te ver todo estropiado no chão. Aquele dia, só de te ver vivo...Eu sabia que ia passar.

— Eu nunca vou te deixar. – O sinal tocou. Sorri de novo, sentindo o aperto firme em minha mão antes de ele me soltar. – Vai para a aula, podemos nos falar depois.

Concordei, um pouco receosa de lhe dar as costas e de repente ele sumir feito fumaça. Não sumiu. Quando abri a porta do corredor, ele ainda estava lá, sorrindo para mim. Ah, nada podia estragar aquele dia.

E não estragou mesmo. Rosalya ficou chocada em saber que Lysandre estava de volta na cidade, mas quase deu uma festa no refeitório. As meninas também ficaram satisfeitas com a notícia. Inclusive Bia. Ela não estava exatamente na nossa mesa, mas tomou um lugar isolado ali perto.

Na sexta feira, dois dias depois, eu fiquei chocada em ver os dois músicos parados no corredor, num daqueles abraços amigáveis de homens onde eles simplesmente passam um braço pelas costas do outro. Sorri.

— Bom dia. Lys, o que está fazendo aqui?

— Bela recepção. – Castiel debochou, sem soltar o amigo. Revirei os olhos, esticando a mão para ele.

— Bala.

— Quem te disse que eu tenho?

— Um passarinho que viu você fumando no porão. – Ele resmungou, derrotado e enfiou a mão no bolso para pegar a tal bala. Agradeci, esperando Lysandre me responder.

— O médico me liberou, disse que o resto dos hematomas vai sumir em casa. Decidi não perder mais tempo.

— A escola sentiu sua falta. Não está com calor nesse casaco? – Perguntei, me abanando. Ele deu de ombros, como se não estivesse mais que 20 graus ali. Nem Castiel estava de jaqueta. – Você não é desse mundo. Temos laboratório agora, devíamos ir.

Subimos para a aula da Delanay, eu já sofrendo em antecipação por ter que usar o jaleco. Estava muito quente. Fui para meu lugar perto de Melody, esperando para a tortura da próxima hora. A professora também não gostava muito do calor, ou pelo menos da falta de atenção dos alunos gerada por ele.

— Vamos, só mais um pouco. Quanto mais rápido acabarem, mais cedo irão embora.

Melody e eu seguimos o conselho da professora. Ficamos o mais focadas possível e logo acabamos a prática. Delanay nos deixou sair. Alexy e Iris logo nos seguiram, conversando super animados. Até estranhei a empolgação de Iris.

— Eu animo, total, mas a gente precisa de um lugar. Oi, amore.

— Oi, Al. Ei, Iris, como vai?

— Bom dia, Anna.

— Qual era o assunto? – Questionei, fazendo aquela cara para Alexy que logo fez ele sorrir. A cara de “por que eu não sou a primeira a saber?”

— Iris e eu achamos que seria uma boa ideia fazermos uma festa. Sabe, aproveitar esse calor dos infernos e sairmos, curtirmos um pouco. A gente só não tem aonde fazer nossa reunião.

— Vão chamar a turma toda?

— Bem... – Iris olhou para mim, esperando eu falar alguém que não merecia ir no nosso encontro. – Ambre e as amigas provavelmente não, mas...Bia?

— A gente chama ela? Ela não é bem nossa amiga... – Alexy me encarou, como se fosse eu quem estivesse decidindo.

— Olha, eu acho melhor a gente chama-la. A Peggy e eu falamos com ela que ela tinha outras opções de amizade, e simplesmente cortá-la agora seria meio cruel.

— E a Mel conversa com ela, sozinha ela não ficaria. – Iris reforçou. Concordei.

— Vamos parar de decidir quem vai antes de saber para onde a gente vai. A minha casa está fora de cogitação, é a noite do pôquer da minha mãe. Ela não abre mão.

— Sua mãe joga? Que incrível.

— Não sei se lá em casa teríamos espaço, mas posso ver se minha mãe pode liberar. – Iris falou, meio receosa. Estranhei. Ela geralmente estava sempre tão disposta a ajudar. Talvez fosse só por envolver a mãe e o irmão dela também. – Só não sei se ela nos deixaria sozinhos.

— Ora, vamos chama-la pra festa então.

— Ou o que? Prendemos ela no armário.

— Fica tudo bem se deixarmos a fresta da porta para ela respirar.

Ela riu, meio sem graça e eu cutuquei ele nas costelas. Ele parou e retomou o assunto.

— Vamos fazer assim. Ligue para sua mãe e pergunta se pode ser Iris, eu e a Anna vamos informar os outros assim que você der o ok.

Ela concordou e, na mesma hora, pegou seu celular. Ele vibrou umas três vezes antes de ela, meio na pressa, deslizar as notificações e começar a digitar o telefone. Puxei Alexy para dar um pouco de privacidade para minha amiga, e para conversar com ele também.

— Reparou que ela ficou meio receosa?

— Você achou? Estranhei foi ela correndo para apagar a notificação. Aposto que é namorado secreto.

— Al, para.

— Ela deixou, gente. Amanhã à noite. Só que cada um vai ter que levar algo.

— Claro, Iris, não vamos te dar prejuízo. Então, quem vai? Rosa, obviamente, nós três, as meninas...

— Vamos chamar os meninos? Seu irmão vai querer ir.

— É verdade que ele sempre fica emburrado quando eu saio sem ele. A gente pode chamar alguns. Armin e Kentin...

— O Castiel. – Iris comentou, sorrindo. Era verdade que os dois se davam bem. Eu achava chocante, mas nunca consegui descobrir algo que me ajudasse a lidar com ele.

— Nath e Lys? Parece ser todo mundo que a gente convive.

— Verdade. Bom, por mim está de bom tamanho. Quem chama quem? Você fala com os dois, Anna?

— Claro, eu sou quem mais conversa mesmo. Alguém mais? Priya e Bia.

— Eu chamo as meninas, Iris fala com o Castiel, por favor. Só você para convencê-lo se ele der piti.

E nos dividimos. Fui direto para o grêmio, checando o horário. Palpite correto, lá estava ele, juntando seu material e olhando o celular. Dei um abraço nele por trás, fazendo-o olhar por cima do ombro meio confuso.

— Ah, oi linda. Bom dia.

— Vamos fazer uma festa na Iris amanhã. Seria legal se você fosse.

— Festa? Alguma causa especial?

— Uma reunião entre amigos?

— Justo. Claro, eu vou com você.

— Ah, obrigada. Bem, recado dado, parto para o próximo destinatário?

— Que seria?

— Lys, Bia e Priya. Se vir algum dos três...

— Eu aviso que está procurando por eles. – Deixei-o sozinho e fui caçar meus outros amigos. Achei Bia facilmente, no pátio, enviando mensagens no celular. Cutuquei seu ombro, acordando-a.

— Ah, oi.

— Bia, vamos fazer uma festa amanhã, na casa da Iris. Seria legal se você pudesse ir.

— Ah, amanhã? Bom, é que eu já vou sair com o Sammy...vamos ver a banda do irmão dele.

— Ah, tudo bem. Vamos ter outras chances. – Eu ia me afastar, mas acabei perguntando antes de virar o corpo. – Como ele está?

— Bem. Obrigada.

— Bom, eu preciso ir. Tchau. – Acenei meio travada e deixei o pátio. Priya me mandou uma mensagem falando que Alexy já tinha a informado do evento, então só faltava Lys. Parei no corredor entre os vestiários e o vi parado no banco do vestiário masculino. Fui devagar até ele e passei os braços pelos seus ombros, de pé atrás dele.

— Olá.

— Algum motivo para se isolar assim? – Questionei, soltando-o e indo para seu lado no banco.

— Não, só estava lendo. – Ele me mostrou seu bloco de notas, o que eu tinha levado para ele. – Agora eu reconheço tudo nele como algo meu.

— Que ótimo. Vamos fazer uma festa amanhã na casa da Iris. Eu sei que não é bem sua praia, mas eu ia amar se você fosse.

— Realmente, não faz meu estilo. – Ele deu um sorrisinho, como se estivesse se desculpando. Claro que eu não o forçaria a ir, mas que seria maravilhoso, seria. – Mas se vai te fazer sorrir assim, eu faço um esforço.

— Obrigada. Não quero que fique desconfortável, mas tenho certeza que vai se enturmar. Acho que Castiel deve ir.

— Estão chamando todos os garotos também?

— Não, é só para os amigos mesmo. Alexy, Armin, Kentin, você, Castiel e Nath. E as meninas.

— Me tranquiliza saber que não vai ser uma multidão.

— Eu também não iria se fosse. Bom, vou procurar Iris para falar quem já confirmou comigo. Te vejo mais tarde?

— Claro. Se quiser me esperar na saída. – Concordei, deixando-o com seu adorado bloquinho. Vê-lo daquele jeito fazia meu coração bater mais forte dentro de mim. Era como ele deveria estar sempre, não numa cama de hospital.

Falei com Iris assim que a encontrei no corredor, animada por ter conseguido a casa. Alexy não demorou a criar um grupo para podermos trocarmos mensagens e todo mundo ficar informado. Tínhamos marcado às 9 na casa da Iris, no dia seguinte.

Esperei por Lysandre na porta da escola, mas ele me mandou uma mensagem dizendo que Leigh tinha lhe pedido algo. Não me importei e voltei sozinha para casa, com as músicas mais românticas nos meus fones. Ter Lysandre de volta estava me deixando nas nuvens, e eu nem estava tão interessada em disfarçar.

A parte ruim de chegar em casa seria enfrentar as duas feras. Eles estavam no sofá, discutindo algo sobre um artigo de revista, quando limpei a garganta e me sentei na poltrona oposta. Os dois me olharam, finalmente me notando ali.

— Ah, querida, já voltou. Como foi seu dia? – Minha mãe fechou a revista e passou a me dar toda sua atenção. Meu pai se endireitou no seu lugar.

— Foi bom. Eu queria pedir algo, na verdade.

— Lá vem. – Meu pai comentou, meio ríspido. Bom, eu já estava encarando os leões mesmo.

— Minha turma vai fazer uma festa amanhã, e eu queria muito ir. Vai ser na casa da Iris, vai começar às nove e o Nathaniel vai estar lá.

— Era pra eu ficar tranquilo?

— Não seja assim, meu bem. Bom, eu confio em você, mas como você vai voltar?

— Eu arrumo carona, a própria Rosa deve ligar para os pais.

— Vai ter bebida?

— Não sei. – Resposta errada. Meu pai fechou a cara, e minha mãe também ficou receosa. – Mas eu não bebo, vocês sabem disso. E com certeza vai ficar tudo sob controle, mesmo que eu ache que ninguém pensou nisso.

— Hum, tudo bem. Espero que ninguém leve nada.

— Então, tenho permissão?

— E que horas você pretende voltar, mocinha? Meia noite?

— Pai, meia noite nem chegou todo mundo direito. Três.

— Três? São seis horas de festa, ficou louca?

— Vamos, Phil, sua filha merece um voto de confiança. Apesar de todos os vacilos.

— Três está fora de cogitação, Lucia.

— Então faça disso duas.

— Uma e não se discute mais.

— Pai, por favor... – Eu evitava usar a voz manhosa com meu pai, mas ele estava usando armamento pesado. Pelos primeiros dois minutos ele me enfrentou, mas no terceiro ele suspirou.

— Duas. Mas é para estar em casa às duas, entendeu?

— O senhor é o melhor pai do mundo. – Agradeci, abraçando-o. Ele ainda estava emburrado, mas aceitou o carinho. Peguei minha mochila e, depois de agradecer uma última vez, subi para o meu quarto.

Com a parte da permissão resolvida, eu voltei ao grupo para ver o que cada um levaria. Fiquei de levar as bebidas, o que me pareceu mais fácil. Agora faltava a roupa. No outro grupo, onde só tínhamos as meninas e Alexy, estávamos discutindo os figurinos. Rosa mandou a gente ir como se fosse para a balada. Achei estranho, mas percebi que todo mundo parecia a favor, só para tirarmos umas fotos bonitas. Ou seja, ela me esfolaria se eu aparecesse de calça ou short.

   – Parece que eu vou visitar o namorado da minha amiga. – Suspirei, pegando minha carteira e checando meu cofre para ver como andavam minhas economias. Minha mãe tinha me dado um dinheirinho extra como mimo outro dia, então provavelmente daria.

   – Posso saber com qual intuito? – Tomei um susto com a figura magra na porta, os braços cruzados na pose costumeira.

   – Ai, mãe. Eu vou comprar umas roupinhas novas.

   – Eu só preciso te arrumar uma festa para você querer se arrumar? Vamos na balada todo dia.

   – Para de drama, ficar amiga de Rosalya já mudou muita coisa nesse aspecto.

   – Ainda bem. – Fazer compras estava longe de ser meu hobby preferido, mas atualmente eu gostava mais de me arrumar. Talvez fosse só pelo jeito que eu percebia Lysandre me olhando no que seria uma forma discreta.

   Bem, aproveitei a chance e o horário e fui na loja de roupas. Rosa não estava lá, o que por um certo lado me acalmava. Eu sentia que podia realmente escolher só pelo meu gosto, sem intervenções fashionistas nem nada. Leigh esperava paciente no balcão, surpreendentemente, fazendo um jogo de caça-palavras.

   – Leigh, alguma chance de ter um modelo desses um pouco maior? 

   – Ele é mais justo mesmo.

   – Eu sei, é comprimento que me assusta mesmo. Sabe como é?

   – As longas pernas de senhorita Anna. Sei. Eu vou checar, só um minuto.

   Sorri, agradecida. Será que pelo menos pro irmão, Lysandre tinha falado de mim? Quero dizer, eu sei que eu ainda não tinha exatamente revogado o pedido de deixar nossa relação baixa, mas ele não tinha gostado muito da ideia. Talvez, dentro de casa, fosse a chance dele de se abrir.

   – Aqui, experimenta e vê se serve. Quer que eu procure alguns acessórios enquanto isso?

   – Bom, quem sou eu para negar a ajuda do maior criador dessa cidade? Obrigada, Leigh. – Ele riu e foi caçar um par de sapatos e uns brincos que combinassem. Enquanto isso, fui eu para dentro da cabine me vestir.

   O vestido deveras era justo, mas eu tinha gostado de como tinha me servido. Nem a barriguinha saliente estava marcada, o que já ganhou uns dez pontos no meu coração. Ele voltou com uns brincos e uma pulseirinha lindos, fora os saltos. A bolsa ele deixou para me mostrar no balcão, e eu achei interessante, já que teria que levar celular e as chaves de casa.

   – Ok, são... 220.

   – Sinto cheiro de desconto?

   – Eu cobrei metade dos brincos e da pulseira. Presente amigo.

   – Muitíssimo obrigada. Aqui. – Ele aceitou o dinheiro e me entregou minha amada sacola, me desejando um bom fim de semana.

   Com tudo pronto, eu fui jantar com meus pais e aproveitar para mostrar que eu teria juízo. Uma vez na vida, eu tinha que ter. No dia seguinte, eu acordei e fui arrumar eu quarto para deixar tudo arrumado antes de sair. Além disso, eu ainda tinha que comprar as bebidas.

   Iris pediu a gente pra chegar um pouquinho antes. Parecia que era para arrumar a casa, mas pelo que eu entendi a mãe dela queria dar uma checada nos rostinhos supostamente conhecidos. Concordei.

   Lá para as três da tarde começou o ritual. Eu acordei de uma soneca pós-almoço e fui tomar um banho demorado. Lavei o cabelo, chequei se minhas pernas estavam lisinhas, passei uns dois sabonetes diferentes só pelo cheiro. Pulei dentro da roupa, pegando minha maleta de maquiagem. Há muito tempo eu não me ocupava em fazer uma maquiagem dentro de casa.

   Fui pelo básico mesmo. Como as fotos provavelmente só seriam tiradas mais tarde, quando alguma delas lembrasse, a maquiagem escura não seria problema. E ainda estaria inteira quando chegasse a hora. Passei um lápis preto com a sombra azul escuro e rímel, muito rímel. Apesar do rosa no vestido, fui no batom vermelho mesmo, escuro.

   O cabelo solto, já seco e penteado, a maquiagem que me deixou, modéstia a parte, linda de morrer e o vestido maravilhoso. Tinha combinação melhor? O celular vibrou, já eram quase sete. Mensagem de Lysandre.

   “Eu e Rosa já estamos chegando.”

   Na noite anterior, antes de dormir, eu tinha pensado em juntar o útil ao agradável e o chamei para comprar as coisas juntos, Rosalya só serviria para disfarçar que éramos um casal caso alguém passasse no mesmo mercado.

   Juntei minhas chaves e o celular na bolsa e desci as escadas depois de apagar a luz. As duas figuras iam aparecendo ao fim da rua, contra o brilho laranja do fim da tarde. Sorri, batendo o portão atrás de mim.

   – Minha nossa, para. – Rosalya ficou boquiaberta. Sorri, dando uma meia volta tímida. – Obra do Leigh, não é?

   – Sim, senhora. Vamos, eu já falei com a Iris que a gente chegaria logo.

   Os dois concordaram e fomos até o mercado perto de casa. Aproveitei a caminhada curta para estudar a aparência do meu namorado. Rosalya também estava linda, com um vestido tubinho preto e o cabelo solto, mas Lysandre...Ele parecia nem ter feito esforço, e ainda assim meu coração estava tão descompassado que eu fiquei com medo de desmaiar no meio da festa.

   “Concentra, Anna, alguém pode acabar vindo para cá também.”

   Passei pela porta do mercado e fui direto para a seção de bebidas. Rosa foi checar uns salgadinhos sem falar nada. Assim que eu parei de frente para a estante com as caixas de suco, eu senti a pressão do corpo alto contra o meu.

   E que se dane minha concentração.

   – Você está linda. – Ai, Deus ia me levar. Aquela voz grave no meu ouvido e a explosão que estava no meu peito. Era demais.

   – Você também. – Um arrepio percorreu meu corpo inteiro quando ele deu uma mordiscada no meu lóbulo antes de me puxar para um canto mais isolado da loja e me tascar um beijão. Daqueles bem apaixonantes dele.

   Eu já estava sentindo o ar faltando, quando alguém limpou a garganta para chamar nossa atenção. Rosalya segurava seus salgadinhos no braço, e a mão na cintura. Lysandre deu um passo para trás e eu arrumei meu cabelo.

   – Controle, amigos. Se a ideia é ser discreto, vocês estão falhando. Muito.

   – Foi mal. – Resmunguei, indo pegar o suco para irmos logo. Ouvi ela falar mais alguma coisa com Lysandre, mas nem me dei ao trabalho de escutar direito. Depois de pagarmos tudo e eu checar se meu batom ainda estava só na minha boca, finalmente seguimos na direção da casa da Iris, pela orientação que Rosa nos dava.

   – E chegamos. – Ela comentou, tocando um dos interfones. Iris atendeu e logo nos deixou entrar.

   – Ei, gente. Bem vindos. Ah, podem deixar isso na cozinha, eu já vou organizar. – Entramos e fomos para a cozinha. A mãe dela estava acabando de arrumar a louça no armário, sorrindo quando nos viu.

   – Oh, boa noite. Como vocês estão?

   – Bem, obrigada. Posso abrir sua geladeira? – Mostrei o suco e ela mesma se ofereceu para guardar. Agradeci. Ela chamou Iris.

   – Iris, vou sair com seu irmão. Juízo, entenderam?

   Ela concordou e se despediu da mãe com um beijo. Thomas me deu um aceno da sala, me elogiando logo m seguida. Sorri, acenando de volta.

   – Obrigada. Boa noite. – Eles saíram e Iris aproveitou a ausência dos outros para mostrar a casa. Era bem simples, mas o espaço era bom considerando que só tinha os três ali.

   Era tudo arrumado e arejado, bem daquele jeitinho Iris que ela tinha puxado da mãe. Por último ela nos mostrou seu quarto e eu fiquei pasma. Era tudo uma gracinha. A colcha no beliche, as paredes num tom arroxeado, uma mais escura simulando algo como um céu estrelado.

   – Seu quarto é uma gracinha.

   – Obrigada. Bem, eu só preciso acabar de arrumar a sala e trocar de roupa.

   – Pois vai se arrumar, eu e a Anna arrumamos a sala. – Rosa ofereceu, depois de dar uma boa conferida na roupa que Iris usaria. Ela tinha separado uma saia justa com um top verde. Fiquei com medo de estar super arrumada, mas ela pegou os saltos de dentro da caixa e eu aliviei um pouco.

   Aos poucos, o pessoal chegou. Priya com Violette, Melody, Alexy e Armin, Kentin e Nathaniel, até Castiel. Juro que duvidei um pouco que ele aparecesse, mas parecia até bem animado. Eu tinha aprendido que o Castiel só prendia o cabelo em duas situações. Quando ele queria se concentrar ou quando queria se arrumar.

   – Ei, princesa. – Nathaniel apareceu atrás de mim depois de alguns minutos de festa oficialmente começada, me dando um abraço por trás enquanto eu conversava com a Violette, que usava um vestidinho rodado cinza que era uma gracinha.

   – Ei, lindo.

   – Falando em beleza, você está deslumbrante.

   – Ora, muito obrigada. Você sempre está, não tem graça te elogiar.

   Dei uma olhada de soslaio para o sofá onde Castiel estava com Lysandre e vi uma leve irritação em seu rosto. Ignorei e encerrei meu assunto com Violette. Uns dois minutos depois, Alexy e Rosa começaram a reclamar que estavam entediados. Conversa a parte, eles queriam fazer algo. E esse algo era brincar de esconde-esconde.

   – Vocês estão de sacanagem, né? – Comentei, simplesmente por preguiça.

   – Claro que não. Tem bastante espaço aqui. Fora o lado de fora. – Alexy comentou, apontando para o jardim. Por ser no térreo, Iris tinha acesso a um pedaço de jardim. Era considerado área comum, mas ela falou que quase ninguém aparecia ali.

   – Mesmo assim. – Armin segurou meu cabelo e deu aquele sorriso cínico dele, antes de soltar o tipo de frase que lhe ganharia um soco no rosto. Para não dizer outro lugar.

   – A gente sempre pode aproveitar o esconderijo e se pegar.

   – Cala a boca, Armin. – Empurrei ele para longe. Hoje ele parecia particularmente afetivo comigo. Nathaniel veio ao meu socorro e o segurou longe de mim. – Bom, quem procura então?

   – Eu. – Iris se apressou em responder. – E eu só concordo se os quartos estiverem fora.

   Acabou que Iris e Violette ficaram de procurar todo mundo, enquanto o resto se escondia. Meu plano era me enfiar no primeiro canto, sem fazer muito esforço, mas em todo lugar que eu ia, tinha alguém. Castiel me enxotou da cozinha, Kentin e Armin já estavam no banheiro, sala cheia. Eu já ia desistir, quando esbarrei na porta de Iris. Ela tinha pedido para ficarmos fora, e eu não ia entrar, mas Lysandre passou por mim meio apressado e eu acabei abrindo a porta. E quase caindo, mas como nem aconteceu não pareceu importante.

   – Ela está vindo. – Ele me puxou para dentro com ele e, no desespero, tanto pelo jogo quanto por estarmos num lugar proibido, entramos no armário dela. Bom, ele era inteiramente aberto, então simplesmente rezei para ela não entrar. Ou pelo menos não acender a luz.

   Estava tentando relaxar, sentindo a textura do casaco de Lysandre, quando o computador dela apitou. Uma, duas, três vezes. Depois mais umas três vezes e calou. Não seria estranho receber tantas mensagens, mesmo que os nossos outros amigos estivessem sabendo da festa. O problema foi quando ela entrou no quarto e foi direto ao computador, meio pálida.

   Lysandre me segurava contra si, evitando que eu tentasse ver qualquer coisa. Fechei os olhos, esperando ela ir embora. O silêncio seguinte me incomodou mais do que os murmúrios dela para si mesma.

   – Tem alguém...

   – Iris, cadê você? – Rosalya chamou. – Acaba logo isso, eu estou ficando com fome.

   – Já vou. – E saiu do quarto. Soltei o ar, assustada. Ele me soltou e quis sair de lá logo, mesmo que a gente perdesse. Nenhum de nós entendeu muito bem a situação, mas a expressão no rosto da Iris...Tinha algo errado. Muito errado. Engoli a vontade de ler as mensagens e sai do quarto. Quando a gente achou que já tinha se livrado, ela saiu do quarto do irmão e apontou o dedo na nossa cara.

   – Iris.

   – O que eu falei sobre os quartos? Inferno, vocês não escutam nada?

   – Desculpa, a gente entrou em pânico e...

   – Iris, a gente não queria. Desculpa.

   Ela respirou fundo umas duas vezes e enfiou a mão no bolso da saia, tirou o celular e olhou algo. Por fim ela só soltou um suspiro e deu de ombros. Ainda assim, ela parecia bem irritada.

   – Tudo bem. Só falta a Priya. Se a virem, estamos todos com fome.

   Pedi licença para ir ao banheiro e senti o olhar dela me seguindo até eu fechar a porta. Respirei fundo. Que porra tinha sido essa? Em um minuto ela estava um amor e depois parecia que tinha sido possuída. E eu tinha certeza que eram aquelas mensagens. Eu já tinha visto Iris com o celular antes, ela nunca tinha tanta pressa.

   Deixei o cômodo e voltei ao convívio geral. Priya tinha decidido se entregar, depois que Iris declarou derrota. Ela tinha arrumado um jeito de subir na árvore do quintal, mesmo com a roupa de tecido fino. Nós todos aplaudimos sua sagacidade, mas não durou muito. A gente só queria muito comer.

   Enquanto eu acabava de ajudar Violette a pôr a mesa, eu escutei Melody discutindo em voz alta com os rapazes e Iris. O que eles tinham arrumado? Rosa mandou eu ir checar, enquanto ela continuava seu assunto com os gêmeos. Passei pela porta e vi Melody, bastante exaltada.

   – Algo acontecendo?

   – Sua amiga é surtada, só isso. – Castiel resmungou, escorado na pedra da pia. Iris tentava acalmá-la, mas nada surtia efeito.

   – Vocês são loucos. A gente nem tem idade pra isso. Eu vou embora.

   – O que foi, Castiel?

   – A Iris e eu achamos que o pessoal estava meio travado, então decidimos fazer um ponche com o suco. A dona da casa nos arrumou uma garrafa de rum, mas ai sua amiguinha secretária enlouqueceu.

   – Para de me chamar de doida. Os errados são vocês. Vocês todos, até o Nathaniel.

   – Por que eles querem beber? Mel, a gente não é maior de idade propriamente dito, mas a gente já tem plena noção dos nossos atos.

   – Você concorda?

   – Se eles querem e a dona da festa não se incomoda. Eu só não vou beber, não gosto. Mas cada um toma a decisão que quiser.

   – Eu não acredito. – Depois de resmungar mais um pouco, eu e Iris a convencemos a não ir embora. Pelo menos ela quis ficar até o final, mas deixou bem claro que se alguém começasse a ficar tonto, ela não ia ajudar.

   Solucionada a questão, acabamos de organizar tudo. Enquanto eu pegava uns copos, percebi que minha pulseira tinha sumido. Pensei no banheiro e fui checar. Kentin estava inspecionando a pia no maior cuidado.

   – Você está bem? – Ele tomou um leve susto, mas concordou com a cabeça.

   – Eu perdi uma das minhas lentes. Saco.

   – Ah...Ah, minha pulseira. – Depois de recolocar o acessório, olhei para a pia. Parecia ter algo diferente dentro da pia. Apontei-o. – Quase caindo no ralo.

   – Oh, obrigado. – Depois de um certo custo para coloca-la de volta, depois de lavar, ele piscou um pouco, tentando ajeitá-la.

   – Parece desconfortável.

   – Depois que você acostuma nunca mais quer saber de óculos. Só quando começa a arder. Bem, valeu.

   – Nada. A pizza já deve estar quente, vamos? – Ele concordou e esperou eu sair para vir atrás de mim.

   Depois da nossa refeição em grupo, com todos os tipos de assunto, Priya quis usar seu prêmio e escolheu nossa próxima brincadeira. Jogo da garrafa. Iris foi caçar uma garrafa na cozinha, enquanto a gente se acomodava na varanda. Fiquei perto de Alexy e Nathaniel, bebericando do copo dele de vez em quando. Tinha bem pouco rum, mas Melody parecia ter visto o fim do mundo.

   – Pois bem, quem começa? – Iris questionou. Priya se prontificou e girou a garrafa sem a menor preocupação. Alexy.

   – Lá vem. Verdade.

   – Qual das meninas você namoraria se fosse hétero?

   – Nossa, que direta ela. Bom, acho que a Rosa. Se ela fosse solteira. Além de ser um mulherão, é a que teria mais experiência, e a gente já se dá super bem. Ela é minha melhor amiga.

   – Eu não sei se eu fico ofendida pelo fora hipotético ou pelo rebaixamento na categoria amizade. – Resmunguei. Ele riu e me deu um abraço.

   – Você é minha irmãzinha, flor, desculpa, mas não ia rolar. Ainda mais que meu irmão me mataria.

   – Ainda bem que você tem juízo. – O outro resmungou, sorrindo em seguida. – Vai, sua vez.

   Parou no Nathaniel. Ele acabou de tomar seu ponche e pediu desafio. Talvez o pouco de álcool tivesse dado um pouco de coragem a mais. Alexy o olhou de cima a baixo antes de soltar.

   – Tira sua blusa.

   – Sério? Só isso?

   – Só? – Meu amigo ficou pasmo e eu comecei a rir. Nathaniel olhou no fundo do meu olho com aquela cara de quem me mataria se eu falasse qualquer coisa. Ficou de pé, e sem a menor hesitação, puxou o suéter azul.

   Foi até meio cômico. Eu já tinha visto ele com muito menos, e sinceramente eu sabia que ele tinha aquele físico. Já o resto das meninas pareciam não ter muita ideia. Até Alexy ficou lá, boquiaberto.

   – Pode parar o show, senão ninguém vai conseguir falar. – Falei, dando um tapinha em sua barriga. Ele riu e segurou minha mão, tomando seu lugar de novo e vestindo a blusa.

   – Minha vez? – E rodou. Parou na Priya. Ela deu de ombros e pediu desafio, confiante. Ele olhou para o alto, pensando um tempo, e soltou. – Okay, dê um beijo na pessoa do seu lado.

   – Nath... – Eu ia argumentar que ela estava entre Violette e Iris, mas ela mesma percebeu e falou antes que eu pudesse.

   – Tudo bem por mim. Eu imagino que a Violette surtaria, mas se a Iris estiver disposta...

   – Eu, eu não...É...

   – Se não quiser ela pode escolher quem quiser, Iris, relaxa. – Ele se apressou em se desculpar. Alexy olhou na cara da estrangeira e soltou, sem o menor tato.

   – Você é lésbica?

   – Não. Não necessariamente. Eu só não vejo tanta importância em gênero. Se eu gosto de uma pessoa e quero beijá-la, não é o que ela tem entre as pernas que vai me impedir.

   – Faz sentido. – Ele resmungou, pegando o copo e tomando um gole. Iris pensou um pouco e acabou cedendo. Claro que ninguém poderia tirar foto nem nada. O que acontecesse ali, morria ali.

   Priya com certeza sabia o que ela estava fazendo. Enquanto Iris ainda estava um pouco envergonhada pela situação, Priya se aproximou confiante e segurou o cabelo da ruiva com a ponta dos dedos, se inclinando de um jeito bem sensual. Olhei para os meninos, só por curiosidade. Lysandre parecia pouco afetado, enquanto Nathaniel tentava disfarçar seu leve interesse. Cutuquei-o nas costelas e ele prendeu minha mão por baixo do seu braço, segurando o riso envergonhado. Já Castiel e Armin, aqueles dois não se davam nem ao trabalho de disfarçar que estavam adorando o show.

   – Pronto, queridas, o jogo continua. – Alexy resmungou depois de alguns segundos. Iris estava toda vermelha, enquanto Priya só arrumou seu cabelo e girou a garrafa. E se a sorte não era a minha.

   – Anna.

   – Manda o que você quiser.

   – Olha ela, corajosa. – O Alexy riu alto.

   – Cala a boca, embuste. Priya, por favor.

   – Bom, eu te dou o mesmo desafio que o Nathaniel me deu. Só que em respeito à sexualidade do Alexy, sua única opção é seu amigo.

   – Eu nasci para assistir essa cena. – Rosalya falou, ignorando meu mal estar total. Bem, era Nathaniel, para mim estava longe de ser um problema. Quantas vezes a gente já não tinha fingido estar junto só para ver no que dava? A questão é que na frente da Melody e, principalmente, do Lysandre, meu coração deu uma tropeçada.

   – Você vem sempre aqui, gata? – Ele murmurou, me dando uma piscadinha. Tentei não rir, mas mesmo tensa ele tinha dado um jeito. Ai, maldito. Eu já conseguia ver Lysandre, bem de frente pra nós dois, assistindo cheio de raiva. Sejamos honestos, se tem alguém ciumento entre todos nós, era ele.

   – Vamos lá, para de enrolar. – Alexy me cutucou. Suspirei. Já que não tinha jeito, que fosse. Ninguém tinha dado para trás, eu fugir agora daria na cara que tinha algo que me impedia.

   Tirei meu cabelo da reta e fui, sem medo. Nathaniel estava na outra ponta, aparentemente, tão pronto quanto eu. Confesso que foi meio estranho. Claro que ele ser meu melhor amigo tinha seu peso, mas o estranho foi a sensação mesmo. Ele não se segurou nem um segundo. Eu nem tinha encostado nele direito e senti a língua dele entrando na minha boca. Ok, aquilo seria um pouco pior de resolver.

   – Uhhhh, arrasou. – Soltei-me de Nathaniel assim que Alexy deu o berro. Ajeitei o cabelo de novo, por puro nervosismo. Vi Lysandre resmungar algo parecido com licença e deixar a varanda, praticamente fumegando. Engoli em seco. Droga. – Anda, gira.

   Girei a garrafa, e depois que ela parou apontada para o Kentin, nem esperei para ouvir o que ele pediria. Pedi licença e disse que ia ver se estava tudo bem com o Lysandre. Iris comentou que Castiel deveria ter ido, mas o garoto nem abanou o rabo.

   – Lys. – Chamei por ele, vendo o vulto escuro contra a árvore de onde eu via o balanço feito com o sofá. Ele não me respondeu, enquanto eu fazia meu caminho, tomando o cuidado de não me espatifar. Andar de salto na grama era péssimo. – Ei, Lys.

   Ele estava literalmente tremendo de raiva. E fazia sentido, não acho que qualquer cara ficaria de boa vendo a namorada dando um beijo daqueles em outro cara. Eu queria pedir para ele olhar para mim, mas não me senti no direito de pedir nada.

   – Fala alguma coisa, por favor.

   – Ele te beijou. Ele realmente te beijou.

   – Lys, calma, foi...

   – Eu tenho que ser muito idiota pra não ter reparado antes. É claro que ele gosta de você. Ele sabe tudo de maravilhoso que você é, como ele não ia gostar?

   – Lys, é só um jogo.

   – Porra nenhuma! Jogo, eu não ligo pra essa merda. Ele mesmo falou que a Priya só tinha que se sentir confortável, você era exceção? Ele queria te beijar sim, merda. – Ver Lysandre xingar já era bem chocante, com aquela expressão então ficava umas dez vezes mais assustador.

   – Para de me olhar assim, por favor.

   – Você gostou?

   – O que?

   – Eu te perguntei se gostou, caramba.

   – O que interessa? Lys, ele é meu amigo, a gente fica confortável um com o outro. Não é culpa só dele. Olha, eu vou deixar você pensar, era isso que você queria no começo da história. Eu vou ver se alguém vai embora e vou pegar carona.

   Eu já estava começando a vencer o caminho gramado de volta, quando ele me chamou e passou os braços ao meu redor, todo encurvado para conseguir esconder o rosto no meu pescoço. Suspirei.

   – Me desculpa. Desculpa, de verdade. – Soltei um pouco o abraço dele, o que o fez erguer o rosto, mas só me virei para ficar de frente para ele. – Eu não fiquei com raiva de você. É só que...te ver daquele jeito com outro cara, foi igual tomar uma facada no peito.

   – Eu te asseguro que a facada no peito é pior. – Ele deu uma risadinha, e eu, sorrindo igual bobinha junto, fechei o espaço entre a gente e dei um beijo nele. Naquele minuto, eu só queria que ele soubesse que Nathaniel não era e nunca seria um problema entre nós. Nenhum cara seria. Eu gostava dele, e era dele quem eu queria aqueles beijos. Nem mesmo se alguém nos visse lá dentro, eu me preocuparia.

   – Eu devia falar com ele, só para...

   – Não, você e eu também, deveríamos ir para casa. Esquece ele. Ele provavelmente sabe, de qualquer forma.

   – Alguém contou para ele?

   – Não, mas ele sabe até do meu ciclo menstrual. Não tem nada sobre mim que ele não descubra.

   – Essa informação também não me deixa muito feliz. Tem certeza que quer ir?

   – Por favor. – Deitei a cabeça no peito dele e sorri. – Seu coração parece uma bateria.

   – Eu estava nervoso, me desculpa.

   – Está tudo bem. Eu vou pensar mais na próxima vez. – A gente acabou tendo que se soltar para poder voltar para dentro. A varanda estava vazia de novo. Na sala, o pessoal já estava se arrumando para ir embora, todo mundo em silêncio.

   – Bom, vamos embora? Lys, seu irmão deve vir logo. – Rosalya comentou. Ela ia me oferecer carona, mas vi Nathaniel na ponta do sofá, me esperando. Sorri, agradecida. Lysandre não ia ficar exatamente feliz, mas ele entenderia depois.

   – Eu vou com o Nath, Rosa. Eu combinei de rachar o táxi com ele.

   – Ah, sim. Bom, boa noite. Manda mensagem quando chegar. – Ela me deu um abraço e puxou Lysandre pela manga. Ele sorriu para mim e foi. Andei até Nathaniel, vendo-o girar o celular.

   – Vamos? – Perguntei, fazendo-o ficar de pé num pulo.

   – É, já está tarde. Quase duas.

   – Bem na hora, para mim. Vem.

   Sem falar muito, ele chamou o táxi e ficamos esperando no portão da Iris. Eu cruzei os braços, sentindo a brisa fria contra meu rosto quente. Tanta coisa tinha acontecido em tão pouco tempo.

   – Lysandre estava bem?

   – Hum? Ah, sim, foi só um mal estar passageiro.

   – Que bom.

   O táxi finalmente chegou e nós entramos no carro. Ele fez questão de me deixar em casa antes de ir para a dele. Deixei uma nota de dez com ele, sem dar tempo de resposta e agradeci a companhia, batendo a porta e subindo pro meu apartamento.

   Um descanso mais do que merecido era o que eu mais queria agora.         


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Notas finais do capítulo

Não me matar, por favor ♥
PS. Eu estou relendo a fic, anotando umas coisas pra revisar, e só agora eu vi que esqueci um pedaço enorme de início de capítulo. Deve ter ficado bem confuso, me perdoem. Arrumei agora (dps de tempos kk, sempre revisem suas histórias moçada)